Grupo de agricultoras urbanas de São Miguel Paulista produz e vende alimentos, faz oficinas de horticultura, recebe visitantes para almoços e ainda fornece opções para eventos empresariais
Alface, cebola, salsinha, orégano, taioba, capuchinha, peixinho, ora pro nobis, pimentão, banana. Estes são só alguns dos alimentos produzidos de forma sustentável pela Associação Mulheres do Gau (Grupo de Agricultura Urbana), no Viveiro Escola União de Vila Nova, em São Miguel Paulista, na zona Leste de São Paulo. Localizada em uma área predominantemente urbana, a horta segue os princípios da agrofloresta e combina diferentes espécies no mesmo espaço. Essa diversidade, aliada a outras práticas de manejo agroflorestal, proporciona uma colheita abundante e constante.
Segundo a Coordenadora da Associação Mulheres do GAU, Vilma Martins de Oliveira: "São dois espaços, o pólo de alimentação saudável, onde a gente serve almoço, café e faz oficinas de culinária, sempre com foco na agroecologia, normalmente pro público vegano e vegetariano, e tem o pólo de educação ambiental, fazemos oficiais sobre panc (planta alimentícia não-convencional), ervas, compostagem e como cultivar os alimentos. A nossa produção vai pro CREN (Centro de Recuperação e Educação Nutricional) e tem um projeto de cestas básicas da Fundação Tide Setubal, que são doadas para algumas famílias e também vendemos pros moradores da comunidade", explica.
Conquista merecida
Dezesseis anos atrás, Conceição Brito Lisboa, uma das fundadora do grupo encontrou o terreno cheio de lixo: "Eu vim da Bahia, de Vitória da Conquista, meu pai tinha fazenda, com seis anos eu já peguei numa enxada, a gente plantava arroz, feijão, milho, fazia farinha de mandioca. Quando eu ia fazer dezesseis anos, vim pra São Paulo, trabalhei em casa de família, sem registro mesmo, cortei a mão, fiquei três meses internada e sem emprego. Casei e tive três filhos, quando fiquei viúva e os filhos começaram a sair de casa tive depressão. Aí comecei a trabalhar nesse terreno, que estava abandonado, comecei a trabalhar com a terra e melhorei, aqui era um lixão, nós sofremos muito no começo, aí fomos tirando o lixo devagar, começamos a plantar bananeira, começamos a vender a banana, aí começamos a plantar couve, almeirão, catalonha. Hoje a gente faz eventos, faz doces, quando eu vejo entrar gente aqui eu fico muito feliz, com o maior orgulho, eu abraço todo mundo", conta.
Economia solidária
Vilma complementa: "Eu estou nesse projeto há doze anos, trabalhando com agricultura urbana, antes eu trabalhava no comércio. Não tem nem comparação, porque antes eu era funcionária, agora a gente trabalha como cooperada, num grupo de economia solidária, então no final, todo mundo recebe a mesma coisa. Mas em um trabalho informal você tem que aprender a ter uma reserva porque em algum meses a gente faz muitos eventos pra empresas grandes, a gente faz coffee break e produz tudo: biscoitos, geleias, pão, bolo, sucos, mas em outros meses não tem quase nada. O terreno é do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) então a gente faz uma devolutiva pra comunidade, vendendo a um preço acessível", conclui.
Reconhecimento municipal
A Associação recebeu o Selo Sampa+Rural, uma plataforma da prefeitura de São Paulo, que visa agregar em um único ambiente informações sobre desenvolvimento rural sustentável, turismo, meio ambiente e alimentação saudável. Lá são disponibilizados dados sobre onde comprar produtos locais, quem são os agricultores da cidade e quem comercializa esses produtos. A iniciativa também dá dicas de atrações turísticas ligadas à natureza e turismo rural, mostrando as características ambientais e econômicas dessas regiões. Além disso, divulga iniciativas da sociedade civil e do poder público para tornar a cidade mais conectada às práticas sustentáveis.
Este post é parte da rede Conexão Solo Vivo, para saber mais sobre o movimento acesse @conexãosolovivo.
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