Mesmo quem mora em cidade grande está sujeito a passar por situações adversas com aves. Em alguns casos, o pássaro entra em casa ou o gato traz como presente da caça. Mas há também momentos em que animais, como as pombas, se tornam um problema e um risco para saúde.
Quando há alguma emergência com um cachorro ou gato, sabemos como agir, mas e quando é com um pequeno ser de penas, você sabe o que deve fazer?
Segundo a médica veterinária Vanessa Ferraz, especialista em ortopedia e silvestres da clínica Strix, as ocorrências mais comuns são acidentes por captura de gatos, pássaros que batem no vidro, filhotes que caem do ninho e animais capturados por armadilhas como a cola pombo.
Apesar do nome, a cola na verdade é um gel, que pode ser comprado em agropecuárias ou lojas de ração. Há duas ou três marcas que fabricam esse produto. A principal função é afugentar pombos através de uma sensação desagradável nas patas desses animais, gerada pelo gel. Apesar das recomendações na embalagem do produto, muitas pessoas colocam muito gel no muro e em locais onde há outras espécies de aves. Assim, o gel se torna um prato cheio para causar acidentes.
Alexandre Andrade, diretor comercial da Colly Química, uma das marcas que fabrica esse tipo de gel, explica que esse produto deve ser usado com muita cautela e agregar a um manejo do local. "Não adianta colocar o gel e deixar resto de comida ou lixo exposto. O pombo é um rato de asas e comerá tudo o que encontrar" comenta Andrade.Este produto é liberado pela Anvisa, mas caso seja utilizado de forma incorreta ou capture e fira outras aves, poderá haver denuncia por crime ambiental, com aplicação de multa. Procuramos os responsáveis pelas outras marcas, mas não obtivemos resposta.
A médica veterinária Juliana Guilherme da Clínica Pet Care Itu é especialista em silvestres e já recebeu muitas aves machucadas, inclusive um gavião carijó (Rupornis magnirostris) capturado indevidamente pela cola pombo. A Dra Juliana explica que qualquer animal que for encontrado ferido deve ser levado imediatamente ao veterinário. No caso das aves, o melhor é colocar em uma caixa de papelão com pequenos furos, forrada com jornal, para minimizar o estresse do transporte.
Esse foi o procedimento adotado pela pessoa que resgatou o gavião, que estava colado ao muro. Ao chegar na clínica, a Dra Juliana observou que muitas penas estavam quebradas e havia muito produto grudado nas asas. Primeiramente, ela deu dois banhos com óleo mineral, para retirar toda a cola. O gavião já está em recuperação há dois meses, mas como as penas do rabo ainda estão quebradas, ele não consegue voar. Enquanto isso, ele está recebendo tratamento de rei, com carne recheada de cálcio e vitaminas.
A Dra Juliana explica que nenhuma espécie de aves deve comer só ração. É importante pesquisar qual a alimentação natural do animal e oferecer o mesmo que ele teria se estivesse solto. Os psitacídeos (periquitos, araras, calopsitas e papagaios) se alimentam de grãos e frutas. Já os passariformes (sabiá, agaporne, canário e muitos outros) devem comer larvas como fonte de proteína, além de frutas. "Muitas pessoas adquirem aves sem pesquisar. Já atendi um papagaio de um ano que era alimentado com arroz, feijão e bife. O fígado estava tão ruim que não chegaria nem aos cinco anos de idade. Foi preciso mudar toda a alimentação e explicar ao proprietário quais são os hábitos naturais da espécie" conta a veterinária especialista.
Quando devo levar meu animal de estimação ao veterinário?
Para evitar acidentes, a Dra Vanessa Ferraz, professora da Univrsidade Anhembi-Morumbi, ensina oito dicas:
1) Deixar distrações naturais para a ave, como galhos sem espinho, ou esconder alimentos dentro de embalagens de papelão.
2) Evitar brinquedos com corante e com partes de metal. O animal pode ingerir e se intoxicar.
3) Quando colocar água com açúcar ou néctar para beija-flor, trocar diariamente. Esse tipo de solução cria fungos e bactérias com facilidade.
4) Colocar frutas ou gaiola no alto, para dificultar acesso de gatos.
5) Evitar estressar o pássaro. Caso ele se debata tentando fugir, pode se ferir e até quebrar o bico.
6) Se for soltar a ave dentro de casa, verificar se não há nenhum tipo de perigo ou local em que ela possa se machucar.
7) Dar a alimentação indicada pelo veterinário. A desnutrição pode causar sérios problemas, como o crescimento exagerado do bico.
8) Se o animal apresentar qualquer alteração de comportamento, diarreia, vômito ou falta de apetite, levar ao veterinário especialista em silvestres.