Ivan Baron viralizou no TikTok com um vídeo, considerado “inocente” por ele, falando sobre a importância de usar máscaras inclusivas. O conteúdo, de julho do ano passado, alcançou mais de 600 mil visualizações, justamente por abordar de forma simplificada e descontraída, em apenas 15 segundos, um assunto pouco explorado.
Em entrevista ao Estadão, o influenciador nascido no Rio Grande do Norte contou que sua vida mudou bastante depois que ele postou o vídeo explicando que as máscaras com tecido transparente ajudam na leitura labial de pessoas com deficiência auditiva. “Não só em seguidores, mas também em mensagens que recebia de pessoas que não sabiam muito sobre o assunto. Saber que o meu conteúdo foi visto como de qualidade é ainda mais gratificante. Eu poderia investir em conteúdos virais, mas eu sinto a necessidade de promover a conscientização de forma leve e descontraída”, disse o jovem de 23 anos.
Porém, a relação de Ivan produzindo conteúdos para a internet começou muito antes, veio de um “espírito de professor” do jovem e de uma necessidade de se ver representado nas redes sociais.
O influencer da inclusão
Ainda criança, com apenas três anos de idade, ele foi acometido por uma grave infecção alimentar, que deixou sequelas: a paralisia cerebral. Isso também ocasionou deficiência física e mobilidade reduzida.
A condição não limitou o estudante de pedagogia que, em 2018, em meio a diversos movimentos sociais, se inspirou a trazer uma maior representatividade para pessoas com deficiência, promovendo debates sobre acessibilidade e educação inclusiva.
“Sem a educação inclusiva, eu não estaria aqui. Estudei a minha vida toda em salas de ensino regular, e eu sempre fui a única pessoa com deficiência na sala, isso só mudou na universidade. Se eu não estivesse naquele ambiente de ensino regular, estaria em um segregatório e não teria esse empoderamento na fase escolar”, afirmou Ivan.
Outro tema que o tiktoker trabalha é o capacitismo, uma forma de preconceito com pessoas com deficiência. Trata-se de uma pré-concepção sobre as capacidades que ela tem, a reduzindo a essa deficiência.
Não envolve apenas termos ofensivos, olhares de julgamento ou invasões de privacidade. O capacitismo está ligado à ausência de pessoas com deficiência em diversos espaços da sociedade.
“Segregar estudantes com deficiência é uma ideia totalmente capacitista, principalmente se você tiver alguma deficiência física ou intelectual, porque as pessoas sem deficiência não vão saber da nossa existência. Sem a diversidade a gente não evolui”, explica.
'Se a gente tem hater, é porque estamos furando a bolha'
Depois da grande repercussão que teve no ano passado, Ivan conta que recebeu muitas mensagens de ódio, porém, por serem comentários de desconhecidos, ele não se abalava tanto, só se preocupava com seus seguidores. “Pessoas que não tem foto no perfil comentando: ‘aleijadinho’, ‘fala que nem homem’, eu sei que isso gera gatilhos emocionais para pessoas com deficiência”, explica ele.
“Eu sempre tento ver o lado bom das coisas, por um lado gerava engajamento e os vídeos subiam. Por outro, essa questão do gatilho, eu não sabia se apagava os comentários ou não, mas eu não me importo. Se a gente tem hater é porque o nosso conteúdo está furando a bolha. Eu tento ao máximo chegar em mais pessoas e a consequência é que pode chegar em algumas capacitistas”, afirma.
Outra questão que Ivan teve que lidar depois da repercussão foi o capacitismo velado. O influencer relatou que também recebe comentários sugerindo que ele mude o assunto dos seus conteúdos.
“Eu pensava comigo mesmo: estou nas redes sociais para falar sobre isso, porque é muito pouco falado na internet. Mas, quando é um conteúdo que gera reflexão, incomoda as pessoas com capacitismo velado, porque elas não querem ver isso”, analisa o influencer.
'Não irei representar todas as pessoas com deficiência'
Atualmente, Ivan Baron tem mais de 120 mil seguidores no Tiktok, já palestrou em diversas escolas da rede pública e deixa uma mensagem para outras pessoas com deficiência que continuam na busca de conquistar espaços no debate público.
“Não se conformem de ver apenas o Ivan ou outra digital influencer. Eu falo isso porque não irei representar todas as pessoas com deficiência. Não posso falar de uma pessoa preta periférica, por exemplo. Então, quanto mais pessoas de diversos locais e diferentes corpos conquistarem esse espaço melhor é para fortalecer o nosso movimento”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais