‘Desafio Momo’ pode causar danos psíquicos para crianças; saiba como lidar com os filhos


Personagem que incita suicídio teria aparecido em vídeo infantil de slime no YouTube Kids; empresa pede que usuários façam denúncias

Por Camila Tuchlinski
Atualização:
A boneca Momo é uma escultura japonesa, apresentada em um evento em 2016, e que está sendo utilizada para produção de vídeo infantil que incita suicídio de crianças. Foto: Reprodução/Youtube

Você busca seus filhos na escola no fim do dia e, como de costume, os deixa navegar na internet rapidamente antes do jantar. Eles pretendem conferir um dos milhares de vídeos que existem sobre como fazer o slime perfeito no YouTube Kids. E aí se deparam com o chamado ‘desafio Momo’. O ‘jogo suicida’ funciona assim: pessoas desconhecidas se passam por Momo e entram em contato com crianças pelo WhatsApp. A boneca nada mais é do que uma obra de arte assustadora que retrata uma criatura metade mulher, metade pássaro, que foi exposta em 2016 em uma galeria japonesa de Tóquio.

A boneca Momo é uma escultura que tem olhos esbugalhados, pele pálida, um sorriso sinistro e patas de pássaro. Há quem diga que o desafio Momo é fake news, mas o E+ teve acesso ao vídeo, que já foi disseminado pelo WhatsApp e o rastreamento da origem se tornou praticamente impossível. Aline Damásio Benevides é mãe da pequena Alice, de apenas seis anos. Ela soube da Momo na semana passada e ficou desesperada. “Assim que Alice chegou da escolinha perguntei se ela conhecia. Ela disse que sim e que a Mari, coleguinha de sala, tinha medo e desenhou a Momo para ela saber como era”, relata. A mãe disse ao E+ que a filha encontrou outro personagem que agia da mesma forma na internet: “O que mais me assustou foi que ela disse que tem outro “bonequinho” mal, que faz a mesma coisa que a Momo, que manda fazer coisas ruins. Ela tentou me explicar como era, pedi para desenhar, perguntei aonde ela viu, disse que foi na internet, no YouTube, e que todas as amigas também conhecem esse outro. Perguntei às mães no grupo da escola, algumas disseram que os filhos também falaram desse outro, mas não viram”.

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A pequena Alice, de seis anos, que ficou assustada ao ver o vídeo da boneca Momo no YouTube Kids. Foto: Arquivo Pessoal

As consequências psíquicas para as crianças que assistirem ao vídeo infantil em que a boneca Momo aparece podem ser semelhantes a um Estresse Pós-Traumático, na avaliação da neuropsicóloga Gisele Calia. "Ou seja, as dificuldades que surgem após um forte trauma real como assalto, perda trágica de parentes, fortes traumas físicos (acidentes com mutilações), etc", alerta. Gisele Calia chama atenção para outros efeitos observados pelos pais. "Podem ocorrer insônia, enurese noturna, fobias generalizadas, medo de ir para a escola, de ficar sozinha, parar de brincar, regressões como voltar a chupar dedo, a pedir muito colo, ou reações depressivas, de agressividade, irritabilidade. Na criança, esse estresse é muito mais grave pois ela ainda confunde realidade e fantasia", afirma a neuropsicóloga. O psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos avalia a possibilidade de suicídio infantil. "A chance de uma criança se mutilar por causa da Momo ou porque recebeu as dicas dela é muito baixa. Porque o processo de automutilação e suicídio de uma criança e adolescente tem outras origens: desde um desarranjo de um mundo interno até uma falta de suporte integral do mundo externo", ressalta.

De acordo com pais, crianças tiveram acesso a vídeos da boneca Momo em plataformas digitais como YouTube e Whatsapp. Foto: Reprodução/ Youtube
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Professora em uma escola em Poços de Caldas, Minas Gerais, Luciana Aparecida de Moraes Corrêa já falou sobre o assunto com os dois filhos: Pedro, de 12 anos, e Manuela, de oito.

"Perguntei a eles se já tinham ouvido falar da boneca Momo e eles confirmaram. Então, expliquei que, se estiverem assistindo a algum vídeo e aparecer algo relacionado a Momo, devem desligar no ato. Não devem ouvir o que ela diz porque ensina coisas erradas e que não são do bem", conta. Luciana monitora, constantemente, as atividades dos filhos nas redes sociais.

Pedro, de 12 anos, e Manuela, de oito, são supervisionados constantemente pela mãe Luciana Aparecida de Moraes Corrêa durante a navegação na internet. Foto: Arquivo Pessoal
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Em 2017, o jogo Baleia Azul também assustou os pais do mundo inteiro. Tratava-se de uma corrente digital que foi associada a uma série de suicídios de jovens. Ana Paula Olinto e o marido conversam constantemente com os filhos sobre jogos online e suas consequências.  "Acreditamos que um bom diálogo, orientação, amor e sobretudo respeito pelo próximo é base para educarmos nossos filhos. Logo quando ficamos sabendo do jogo Baleia Azul já os chamamos para conversar sobre o desfecho que era o suicídio. Na época, tanto o meu filho mais velho como o mais novo ficaram munidos de respostas: 'Eu conheço, mas não vou jogar', 'Na escola todos conhecem esse jogo' e 'Você acha que um jogo vai nos levar ao suicídio?', enfatiza a jornalista Nesta última semana, os massacres de Suzano e da Nova Zelândia, foram temas abordados na casa de Ana Paula. "Meu filho mais novo, de 11 anos, recebeu todos os vídeos e fotos por um grupo de jogadores online. Nós o questionamos sobre as imagens e ele disse que eram muito fortes e tristes. Conversamos sobre o que leva um adolescente a praticar um crime: 'Mãe, eu jogo todos esses jogos. Isso faz parte de uma realidade virtual. Não é porque eu jogo que sou um assassino. Vocês acham que eu vou sair matando? Não tem nada a ver. Isso é um jogo', diz o Nicolas toda vez que falamos sobre a violência dos jogos", conta Ana Paula.

Surgimento da boneca Momo

Em julho do ano passado, a Unidade de Investigação de Delitos Informáticos do Estado de Tabasco, no México, afirmou que um perfil do WhatsApp usava uma foto de uma escultura japonesa e estava ameaçando pessoas. "Vários usuários disseram que, ao enviar uma mensagem à boneca Momo pelo celular, ela respondia com imagens violentas e agressivas. Há também quem afirme que ela respondeu as mensagens com ameaças", disse o órgão no Twitter.

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Como os pais devem agir com os filhos?

É recomendável que os pais acompanhem os vídeos infantis assistidos por seus filhos em plataformas digitais como o YouTube Kids e, principalmente, o Whatsapp, alerta o psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos. "A criança e o adolescente não podem ter autonomia para ver o material de internet sem supervisão. Você pode colocar filtros, ver os vídeos com as crianças e ter muito cuidado com o conteúdo do Whatsapp, porque lá é mais difícil de filtrar", diz. Além disso, conversar com o seu filho para descobrir o que ele sabe sobre o assunto parece ser uma boa saída. Fingir que o perigo não existe é o pior posicionamento. "Seja o exemplo e o supervisor permanente! A criança exposta sozinha à internet é o mesmo (ou pior) que aquelas que ficam abandonadas à sua própria sorte nas ruas, sem adultos confiáveis para mediar a realidade a que estão expostas", aconselha a neuropsicóloga Gisele Calia.

Com a palavra, o YouTube Brasil

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O YouTube Brasil comunicou nesta segunda-feira, 18, não ter encontrado nenhum vídeo que promova um ‘desafio Momo’ no YouTube Kids, plataforma com conteúdo infantil. A empresa pediu que os usuários denunciem qualquer conteúdo nocivo ou perigoso que apareça no site. Segundo a empresa, o YouTube Kids utiliza “uma mistura de filtros e comentários de utilizadores, além de revisores humanos, para que os vídeos no YouTube Kids sejam adequados a toda a família”.

A boneca Momo é uma escultura japonesa, apresentada em um evento em 2016, e que está sendo utilizada para produção de vídeo infantil que incita suicídio de crianças. Foto: Reprodução/Youtube

Você busca seus filhos na escola no fim do dia e, como de costume, os deixa navegar na internet rapidamente antes do jantar. Eles pretendem conferir um dos milhares de vídeos que existem sobre como fazer o slime perfeito no YouTube Kids. E aí se deparam com o chamado ‘desafio Momo’. O ‘jogo suicida’ funciona assim: pessoas desconhecidas se passam por Momo e entram em contato com crianças pelo WhatsApp. A boneca nada mais é do que uma obra de arte assustadora que retrata uma criatura metade mulher, metade pássaro, que foi exposta em 2016 em uma galeria japonesa de Tóquio.

A boneca Momo é uma escultura que tem olhos esbugalhados, pele pálida, um sorriso sinistro e patas de pássaro. Há quem diga que o desafio Momo é fake news, mas o E+ teve acesso ao vídeo, que já foi disseminado pelo WhatsApp e o rastreamento da origem se tornou praticamente impossível. Aline Damásio Benevides é mãe da pequena Alice, de apenas seis anos. Ela soube da Momo na semana passada e ficou desesperada. “Assim que Alice chegou da escolinha perguntei se ela conhecia. Ela disse que sim e que a Mari, coleguinha de sala, tinha medo e desenhou a Momo para ela saber como era”, relata. A mãe disse ao E+ que a filha encontrou outro personagem que agia da mesma forma na internet: “O que mais me assustou foi que ela disse que tem outro “bonequinho” mal, que faz a mesma coisa que a Momo, que manda fazer coisas ruins. Ela tentou me explicar como era, pedi para desenhar, perguntei aonde ela viu, disse que foi na internet, no YouTube, e que todas as amigas também conhecem esse outro. Perguntei às mães no grupo da escola, algumas disseram que os filhos também falaram desse outro, mas não viram”.

A pequena Alice, de seis anos, que ficou assustada ao ver o vídeo da boneca Momo no YouTube Kids. Foto: Arquivo Pessoal

As consequências psíquicas para as crianças que assistirem ao vídeo infantil em que a boneca Momo aparece podem ser semelhantes a um Estresse Pós-Traumático, na avaliação da neuropsicóloga Gisele Calia. "Ou seja, as dificuldades que surgem após um forte trauma real como assalto, perda trágica de parentes, fortes traumas físicos (acidentes com mutilações), etc", alerta. Gisele Calia chama atenção para outros efeitos observados pelos pais. "Podem ocorrer insônia, enurese noturna, fobias generalizadas, medo de ir para a escola, de ficar sozinha, parar de brincar, regressões como voltar a chupar dedo, a pedir muito colo, ou reações depressivas, de agressividade, irritabilidade. Na criança, esse estresse é muito mais grave pois ela ainda confunde realidade e fantasia", afirma a neuropsicóloga. O psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos avalia a possibilidade de suicídio infantil. "A chance de uma criança se mutilar por causa da Momo ou porque recebeu as dicas dela é muito baixa. Porque o processo de automutilação e suicídio de uma criança e adolescente tem outras origens: desde um desarranjo de um mundo interno até uma falta de suporte integral do mundo externo", ressalta.

De acordo com pais, crianças tiveram acesso a vídeos da boneca Momo em plataformas digitais como YouTube e Whatsapp. Foto: Reprodução/ Youtube

Professora em uma escola em Poços de Caldas, Minas Gerais, Luciana Aparecida de Moraes Corrêa já falou sobre o assunto com os dois filhos: Pedro, de 12 anos, e Manuela, de oito.

"Perguntei a eles se já tinham ouvido falar da boneca Momo e eles confirmaram. Então, expliquei que, se estiverem assistindo a algum vídeo e aparecer algo relacionado a Momo, devem desligar no ato. Não devem ouvir o que ela diz porque ensina coisas erradas e que não são do bem", conta. Luciana monitora, constantemente, as atividades dos filhos nas redes sociais.

Pedro, de 12 anos, e Manuela, de oito, são supervisionados constantemente pela mãe Luciana Aparecida de Moraes Corrêa durante a navegação na internet. Foto: Arquivo Pessoal

Em 2017, o jogo Baleia Azul também assustou os pais do mundo inteiro. Tratava-se de uma corrente digital que foi associada a uma série de suicídios de jovens. Ana Paula Olinto e o marido conversam constantemente com os filhos sobre jogos online e suas consequências.  "Acreditamos que um bom diálogo, orientação, amor e sobretudo respeito pelo próximo é base para educarmos nossos filhos. Logo quando ficamos sabendo do jogo Baleia Azul já os chamamos para conversar sobre o desfecho que era o suicídio. Na época, tanto o meu filho mais velho como o mais novo ficaram munidos de respostas: 'Eu conheço, mas não vou jogar', 'Na escola todos conhecem esse jogo' e 'Você acha que um jogo vai nos levar ao suicídio?', enfatiza a jornalista Nesta última semana, os massacres de Suzano e da Nova Zelândia, foram temas abordados na casa de Ana Paula. "Meu filho mais novo, de 11 anos, recebeu todos os vídeos e fotos por um grupo de jogadores online. Nós o questionamos sobre as imagens e ele disse que eram muito fortes e tristes. Conversamos sobre o que leva um adolescente a praticar um crime: 'Mãe, eu jogo todos esses jogos. Isso faz parte de uma realidade virtual. Não é porque eu jogo que sou um assassino. Vocês acham que eu vou sair matando? Não tem nada a ver. Isso é um jogo', diz o Nicolas toda vez que falamos sobre a violência dos jogos", conta Ana Paula.

Surgimento da boneca Momo

Em julho do ano passado, a Unidade de Investigação de Delitos Informáticos do Estado de Tabasco, no México, afirmou que um perfil do WhatsApp usava uma foto de uma escultura japonesa e estava ameaçando pessoas. "Vários usuários disseram que, ao enviar uma mensagem à boneca Momo pelo celular, ela respondia com imagens violentas e agressivas. Há também quem afirme que ela respondeu as mensagens com ameaças", disse o órgão no Twitter.

Como os pais devem agir com os filhos?

É recomendável que os pais acompanhem os vídeos infantis assistidos por seus filhos em plataformas digitais como o YouTube Kids e, principalmente, o Whatsapp, alerta o psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos. "A criança e o adolescente não podem ter autonomia para ver o material de internet sem supervisão. Você pode colocar filtros, ver os vídeos com as crianças e ter muito cuidado com o conteúdo do Whatsapp, porque lá é mais difícil de filtrar", diz. Além disso, conversar com o seu filho para descobrir o que ele sabe sobre o assunto parece ser uma boa saída. Fingir que o perigo não existe é o pior posicionamento. "Seja o exemplo e o supervisor permanente! A criança exposta sozinha à internet é o mesmo (ou pior) que aquelas que ficam abandonadas à sua própria sorte nas ruas, sem adultos confiáveis para mediar a realidade a que estão expostas", aconselha a neuropsicóloga Gisele Calia.

Com a palavra, o YouTube Brasil

O YouTube Brasil comunicou nesta segunda-feira, 18, não ter encontrado nenhum vídeo que promova um ‘desafio Momo’ no YouTube Kids, plataforma com conteúdo infantil. A empresa pediu que os usuários denunciem qualquer conteúdo nocivo ou perigoso que apareça no site. Segundo a empresa, o YouTube Kids utiliza “uma mistura de filtros e comentários de utilizadores, além de revisores humanos, para que os vídeos no YouTube Kids sejam adequados a toda a família”.

A boneca Momo é uma escultura japonesa, apresentada em um evento em 2016, e que está sendo utilizada para produção de vídeo infantil que incita suicídio de crianças. Foto: Reprodução/Youtube

Você busca seus filhos na escola no fim do dia e, como de costume, os deixa navegar na internet rapidamente antes do jantar. Eles pretendem conferir um dos milhares de vídeos que existem sobre como fazer o slime perfeito no YouTube Kids. E aí se deparam com o chamado ‘desafio Momo’. O ‘jogo suicida’ funciona assim: pessoas desconhecidas se passam por Momo e entram em contato com crianças pelo WhatsApp. A boneca nada mais é do que uma obra de arte assustadora que retrata uma criatura metade mulher, metade pássaro, que foi exposta em 2016 em uma galeria japonesa de Tóquio.

A boneca Momo é uma escultura que tem olhos esbugalhados, pele pálida, um sorriso sinistro e patas de pássaro. Há quem diga que o desafio Momo é fake news, mas o E+ teve acesso ao vídeo, que já foi disseminado pelo WhatsApp e o rastreamento da origem se tornou praticamente impossível. Aline Damásio Benevides é mãe da pequena Alice, de apenas seis anos. Ela soube da Momo na semana passada e ficou desesperada. “Assim que Alice chegou da escolinha perguntei se ela conhecia. Ela disse que sim e que a Mari, coleguinha de sala, tinha medo e desenhou a Momo para ela saber como era”, relata. A mãe disse ao E+ que a filha encontrou outro personagem que agia da mesma forma na internet: “O que mais me assustou foi que ela disse que tem outro “bonequinho” mal, que faz a mesma coisa que a Momo, que manda fazer coisas ruins. Ela tentou me explicar como era, pedi para desenhar, perguntei aonde ela viu, disse que foi na internet, no YouTube, e que todas as amigas também conhecem esse outro. Perguntei às mães no grupo da escola, algumas disseram que os filhos também falaram desse outro, mas não viram”.

A pequena Alice, de seis anos, que ficou assustada ao ver o vídeo da boneca Momo no YouTube Kids. Foto: Arquivo Pessoal

As consequências psíquicas para as crianças que assistirem ao vídeo infantil em que a boneca Momo aparece podem ser semelhantes a um Estresse Pós-Traumático, na avaliação da neuropsicóloga Gisele Calia. "Ou seja, as dificuldades que surgem após um forte trauma real como assalto, perda trágica de parentes, fortes traumas físicos (acidentes com mutilações), etc", alerta. Gisele Calia chama atenção para outros efeitos observados pelos pais. "Podem ocorrer insônia, enurese noturna, fobias generalizadas, medo de ir para a escola, de ficar sozinha, parar de brincar, regressões como voltar a chupar dedo, a pedir muito colo, ou reações depressivas, de agressividade, irritabilidade. Na criança, esse estresse é muito mais grave pois ela ainda confunde realidade e fantasia", afirma a neuropsicóloga. O psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos avalia a possibilidade de suicídio infantil. "A chance de uma criança se mutilar por causa da Momo ou porque recebeu as dicas dela é muito baixa. Porque o processo de automutilação e suicídio de uma criança e adolescente tem outras origens: desde um desarranjo de um mundo interno até uma falta de suporte integral do mundo externo", ressalta.

De acordo com pais, crianças tiveram acesso a vídeos da boneca Momo em plataformas digitais como YouTube e Whatsapp. Foto: Reprodução/ Youtube

Professora em uma escola em Poços de Caldas, Minas Gerais, Luciana Aparecida de Moraes Corrêa já falou sobre o assunto com os dois filhos: Pedro, de 12 anos, e Manuela, de oito.

"Perguntei a eles se já tinham ouvido falar da boneca Momo e eles confirmaram. Então, expliquei que, se estiverem assistindo a algum vídeo e aparecer algo relacionado a Momo, devem desligar no ato. Não devem ouvir o que ela diz porque ensina coisas erradas e que não são do bem", conta. Luciana monitora, constantemente, as atividades dos filhos nas redes sociais.

Pedro, de 12 anos, e Manuela, de oito, são supervisionados constantemente pela mãe Luciana Aparecida de Moraes Corrêa durante a navegação na internet. Foto: Arquivo Pessoal

Em 2017, o jogo Baleia Azul também assustou os pais do mundo inteiro. Tratava-se de uma corrente digital que foi associada a uma série de suicídios de jovens. Ana Paula Olinto e o marido conversam constantemente com os filhos sobre jogos online e suas consequências.  "Acreditamos que um bom diálogo, orientação, amor e sobretudo respeito pelo próximo é base para educarmos nossos filhos. Logo quando ficamos sabendo do jogo Baleia Azul já os chamamos para conversar sobre o desfecho que era o suicídio. Na época, tanto o meu filho mais velho como o mais novo ficaram munidos de respostas: 'Eu conheço, mas não vou jogar', 'Na escola todos conhecem esse jogo' e 'Você acha que um jogo vai nos levar ao suicídio?', enfatiza a jornalista Nesta última semana, os massacres de Suzano e da Nova Zelândia, foram temas abordados na casa de Ana Paula. "Meu filho mais novo, de 11 anos, recebeu todos os vídeos e fotos por um grupo de jogadores online. Nós o questionamos sobre as imagens e ele disse que eram muito fortes e tristes. Conversamos sobre o que leva um adolescente a praticar um crime: 'Mãe, eu jogo todos esses jogos. Isso faz parte de uma realidade virtual. Não é porque eu jogo que sou um assassino. Vocês acham que eu vou sair matando? Não tem nada a ver. Isso é um jogo', diz o Nicolas toda vez que falamos sobre a violência dos jogos", conta Ana Paula.

Surgimento da boneca Momo

Em julho do ano passado, a Unidade de Investigação de Delitos Informáticos do Estado de Tabasco, no México, afirmou que um perfil do WhatsApp usava uma foto de uma escultura japonesa e estava ameaçando pessoas. "Vários usuários disseram que, ao enviar uma mensagem à boneca Momo pelo celular, ela respondia com imagens violentas e agressivas. Há também quem afirme que ela respondeu as mensagens com ameaças", disse o órgão no Twitter.

Como os pais devem agir com os filhos?

É recomendável que os pais acompanhem os vídeos infantis assistidos por seus filhos em plataformas digitais como o YouTube Kids e, principalmente, o Whatsapp, alerta o psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos. "A criança e o adolescente não podem ter autonomia para ver o material de internet sem supervisão. Você pode colocar filtros, ver os vídeos com as crianças e ter muito cuidado com o conteúdo do Whatsapp, porque lá é mais difícil de filtrar", diz. Além disso, conversar com o seu filho para descobrir o que ele sabe sobre o assunto parece ser uma boa saída. Fingir que o perigo não existe é o pior posicionamento. "Seja o exemplo e o supervisor permanente! A criança exposta sozinha à internet é o mesmo (ou pior) que aquelas que ficam abandonadas à sua própria sorte nas ruas, sem adultos confiáveis para mediar a realidade a que estão expostas", aconselha a neuropsicóloga Gisele Calia.

Com a palavra, o YouTube Brasil

O YouTube Brasil comunicou nesta segunda-feira, 18, não ter encontrado nenhum vídeo que promova um ‘desafio Momo’ no YouTube Kids, plataforma com conteúdo infantil. A empresa pediu que os usuários denunciem qualquer conteúdo nocivo ou perigoso que apareça no site. Segundo a empresa, o YouTube Kids utiliza “uma mistura de filtros e comentários de utilizadores, além de revisores humanos, para que os vídeos no YouTube Kids sejam adequados a toda a família”.

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