'Escola também é lugar para discutir e entender sentimentos', diz educador


Caio Lo Bianco, do Laboratório de Inteligência de Vida, afirma que instituições 'sempre serão um espaço de conflito'; iniciativa visa reduzir índices de depressão, gravidez precoce e bullying

Por Caio Nascimento
Atualização:
Plataforma estimula alunos a discutir questões socioemocionais em sala de aula para trabalhar a autoestima e entender emoções como a raiva, o amor e a timidez. Foto: Divulgação / João Bittar / MEC

Escola não é mais só um lugar de aprender conteúdos para ir bem em provas. O modelo tem ficado ultrapassado com as novas discussões sobre a importância dos jovens expressarem e entenderem os sentimentos na educação, a fim de melhorar a forma como a criança lidará com os desafios que a vida vai lhe impor.

“O aluno não vai para a escola só para absorver o que o professor escreve na lousa. Ele vai como um ser humano completo, com problemas familiares, dúvidas e emoções”, explica o educador e economista pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) Caio Lo Bianco. “Hoje, um ótimo currículo não é necessariamente boas notas na faculdade ou no colégio. É também ser criativo, ter pensamento crítico e saber trabalhar em equipe. Isso se constrói desenvolvendo as habilidades socioemocionais”, completa.

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Bianco é um dos fundadores do Laboratório de Inteligência de Vida (LIV), um projeto do Grupo Eleva, do Rio de Janeiro, que impacta a rotina de por volta de 150 mil estudantes de cerca de 230 escolas brasileiras. O objetivo é incentivar as crianças e adolescentes a falarem sobre os sentimentos, trocando experiências sobre assuntos como amor, raiva, medo, vergonha e timidez. Segundo o professor, essa iniciativa permite uma redução no índice de depressão, gravidez precoce e suicídio, além de aumentar a performance acadêmica e diminuir o bullying.

“Boa parte da violência e do preconceito nas escolas vêm da falta de conhecimento sobre o outro. Há casos em que o aluno passa dez anos na turma sem conhecer direito a pessoa que senta ao lado dele. [Assim], não tem como conhecer e se sensibilizar com o seu semelhante”, explica Bianco.

A afirmação do especialista vai de encontro com uma pesquisa que a equipe do cantor Rubel realizou para o lançamento da música Colégio. O grupo conversou com mais de 100 adolescentes de escolas públicas e privadas do Brasil e identificou que os jovens queriam ser vistos e ouvidos. “Eles não sabiam com quem conversar. Nem com os pais, nem com os professores e nem mesmo com os outros alunos”, escreve o cantor na descrição do clipe musical.

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O vídeo mostra estudantes que externalizam suas dores no banheiro da escola e voltam para a sala de aula como se tudo estivesse bem, velando o problema emocional em torno da educação do País. Escondidos, jovens se cortam, fumam, fazem teste de gravidez e vivenciam a orientação sexual. Assista:

A atuação do LIV no emocional dos alunos

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O Laboratório de Inteligência de Vida é uma disciplina na grade curricular das escolas parceiras. Ao ser implementado, todos os professores são capacitados para atuar seguindo a filosofia do projeto. O objetivo é que as habilidades socioemocionais se tornem uma prioridade, transformando-se num pilar do colégio.

“Nós fazemos palestras e encontros com os pais. Temos que impactar a escola como um todo para que a comunidade entenda que as competências da nossa plataforma são tão importantes quanto os conteúdos tradicionais”, diz Bianco. Dessa forma, o LIV contempla todas as idades, respeitando as necessidades de cada faixa etária.

As crianças da educação infantil e do fundamental 1 entram em contato com personagens de músicas e contos vivenciados em sala de aula. “A ideia é que a partir disso os alunos consigam identificar quais são os sentimentos presentes nas histórias e como eles as relacionam com as próprias emoções”, explica.

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Manuela, do 2º ano da Escola Eleva, se recorda de uma dessas atividades lúdicas. O objetivo era mostrar a preocupação e o companheirismo que um colega deve ter com o outro. “O Geraldo estava bastante ansioso, mas a Gigi, que era irmã dele, estava nervosa, porque ela foi para uma escola nova que o Geraldo já conhecia. Então ele sentou ao lado dela e conversou com ela. O Geraldo teve muita empatia”, relata a garota.

No fundamental 2, os professores trabalham a diversidade da linguagem. Assim, o LIV criou uma série em vídeo na qual que estudantes entram numa jornada de autoconhecimento, companheirismo e trabalho em equipe.

Ao entrar no ensino médio, o projeto começa a trabalhar escolhas profissionais, as relações familiares e os padrões de beleza, que, muitas vezes, mexem com a autoestima dos adolescentes. Para isso, o LIV fez uma parceria com a youtuber Jout Jout, que criou vídeos relacionados aos temas.

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Assista aos depoimentos dos professores, pais e alunos:

De acordo com Caio Lo Bianco, a equipe do LIV ainda não tem parcerias com a rede pública, devido à maior burocracia dos órgãos governamentais, mas pretende se aproximar ainda neste ano.

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Cuidado socioemocional melhora a aprendizagem

Trabalhar as dificuldades com uma matéria ensinada pelo professor nem sempre é algo fácil para um aluno, principalmente quando ele não tem afinidade com o assunto. Assim, muitos ficam desestimulados ao encarar uma prova, um novo conteúdo ou uma lista de exercícios.

O Laboratório Inteligência de Vida analisa que essa barreira deve ser trabalhada no campo socioemocional. Bianco justifica isso relembrando uma pesquisa do professor e economista-chefe do Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros. Ele estudou os resultados do Brasil e da Argentina no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) e percebeu que os alunos brasileiros foram os que mais abandonaram as questões durante a prova em comparação com os do país vizinho.

“Isso mostra que a capacidade de ir até o final, de lidar com as dificuldades e tentar superá-las, precisa ser melhorada. Essa resiliência se constrói por meio de um trabalho emocional”, diz Bianco.

'Escola é um espaço de conflito e sempre será'

Segundo Bianco, é inevitável que o lado emocional dos alunos seja discutido na escola, uma vez que é impossível impedir que eles levem todo o histórico social e familiar para a sala de aula. “Escola é um espaço de conflito e sempre será, mas cabe à comunidade lidar com isso”, aponta.

O Estado brasileiro concorda com a afirmação do educador, tanto é que a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) prevê, em seu artigo 7º, que os currículos do ensino médio devem considerar os aspectos socioemocionais nas escolas.

No entanto, o especialista analisa que as escolas ainda não dão a devida atenção ao tema. “Ainda priorizam muito mais os conteúdos do que o espaço de diálogo. Portanto, trato emocional ainda é pouco estruturado. São projetos que não têm continuidade e não recebem a relevância que deveriam”, critica.

Vale ressaltar que ainda não há lei instituída frisando a importância de se trabalhar os sentimentos na educação infantil. Contudo, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que será implantada em 2020, prevê abordagens em torno dessa habilidade.

Discutir o socioemocional da juventude nas escolas pode trazer impactos positivos para a sociedade. Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, analisaram que a cada dólar (equivalente a R$ 3,71) que os governos investem em habilidades socioemocionais, há uma redução de 11 dólares (R$ 40,82) em gastos futuros com saúde, segurança pública e outros eixos sociais.

Espaço para falar e ouvir

Caio Lo Bianco explica que muitos jovens não têm espaço para expressar possíveis indícios de suicídios ou outros problemas emocionais. Com anos de experiência na área da educação, ele afirma que é comum escutar pais dizendo para os filhos que é besteira estar triste ou com medo de algo.

“Não tem como controlarmos nossos sentimentos, mas é possível aprendermos a lidar com eles. Não escolhemos se estamos tristes ou felizes. Então reprimir ou diminuir as emoções da criança a faz se sentir mal por entender desde cedo que ela não poderia estar assim”, orienta.

O jornalista e youtuber Marcos Piangers, conhecido como Pai Pop, diz em um vídeo que iniciativas do Laboratório de Inteligência de Vida permitem construir uma geração com voz, mais completa que a dos pais. Ele valoriza a importância de se falar sobre os sentimentos e como isso promove a união e o amor entre os pais e filhos. Assista:

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais.

Plataforma estimula alunos a discutir questões socioemocionais em sala de aula para trabalhar a autoestima e entender emoções como a raiva, o amor e a timidez. Foto: Divulgação / João Bittar / MEC

Escola não é mais só um lugar de aprender conteúdos para ir bem em provas. O modelo tem ficado ultrapassado com as novas discussões sobre a importância dos jovens expressarem e entenderem os sentimentos na educação, a fim de melhorar a forma como a criança lidará com os desafios que a vida vai lhe impor.

“O aluno não vai para a escola só para absorver o que o professor escreve na lousa. Ele vai como um ser humano completo, com problemas familiares, dúvidas e emoções”, explica o educador e economista pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) Caio Lo Bianco. “Hoje, um ótimo currículo não é necessariamente boas notas na faculdade ou no colégio. É também ser criativo, ter pensamento crítico e saber trabalhar em equipe. Isso se constrói desenvolvendo as habilidades socioemocionais”, completa.

Bianco é um dos fundadores do Laboratório de Inteligência de Vida (LIV), um projeto do Grupo Eleva, do Rio de Janeiro, que impacta a rotina de por volta de 150 mil estudantes de cerca de 230 escolas brasileiras. O objetivo é incentivar as crianças e adolescentes a falarem sobre os sentimentos, trocando experiências sobre assuntos como amor, raiva, medo, vergonha e timidez. Segundo o professor, essa iniciativa permite uma redução no índice de depressão, gravidez precoce e suicídio, além de aumentar a performance acadêmica e diminuir o bullying.

“Boa parte da violência e do preconceito nas escolas vêm da falta de conhecimento sobre o outro. Há casos em que o aluno passa dez anos na turma sem conhecer direito a pessoa que senta ao lado dele. [Assim], não tem como conhecer e se sensibilizar com o seu semelhante”, explica Bianco.

A afirmação do especialista vai de encontro com uma pesquisa que a equipe do cantor Rubel realizou para o lançamento da música Colégio. O grupo conversou com mais de 100 adolescentes de escolas públicas e privadas do Brasil e identificou que os jovens queriam ser vistos e ouvidos. “Eles não sabiam com quem conversar. Nem com os pais, nem com os professores e nem mesmo com os outros alunos”, escreve o cantor na descrição do clipe musical.

O vídeo mostra estudantes que externalizam suas dores no banheiro da escola e voltam para a sala de aula como se tudo estivesse bem, velando o problema emocional em torno da educação do País. Escondidos, jovens se cortam, fumam, fazem teste de gravidez e vivenciam a orientação sexual. Assista:

A atuação do LIV no emocional dos alunos

O Laboratório de Inteligência de Vida é uma disciplina na grade curricular das escolas parceiras. Ao ser implementado, todos os professores são capacitados para atuar seguindo a filosofia do projeto. O objetivo é que as habilidades socioemocionais se tornem uma prioridade, transformando-se num pilar do colégio.

“Nós fazemos palestras e encontros com os pais. Temos que impactar a escola como um todo para que a comunidade entenda que as competências da nossa plataforma são tão importantes quanto os conteúdos tradicionais”, diz Bianco. Dessa forma, o LIV contempla todas as idades, respeitando as necessidades de cada faixa etária.

As crianças da educação infantil e do fundamental 1 entram em contato com personagens de músicas e contos vivenciados em sala de aula. “A ideia é que a partir disso os alunos consigam identificar quais são os sentimentos presentes nas histórias e como eles as relacionam com as próprias emoções”, explica.

Manuela, do 2º ano da Escola Eleva, se recorda de uma dessas atividades lúdicas. O objetivo era mostrar a preocupação e o companheirismo que um colega deve ter com o outro. “O Geraldo estava bastante ansioso, mas a Gigi, que era irmã dele, estava nervosa, porque ela foi para uma escola nova que o Geraldo já conhecia. Então ele sentou ao lado dela e conversou com ela. O Geraldo teve muita empatia”, relata a garota.

No fundamental 2, os professores trabalham a diversidade da linguagem. Assim, o LIV criou uma série em vídeo na qual que estudantes entram numa jornada de autoconhecimento, companheirismo e trabalho em equipe.

Ao entrar no ensino médio, o projeto começa a trabalhar escolhas profissionais, as relações familiares e os padrões de beleza, que, muitas vezes, mexem com a autoestima dos adolescentes. Para isso, o LIV fez uma parceria com a youtuber Jout Jout, que criou vídeos relacionados aos temas.

Assista aos depoimentos dos professores, pais e alunos:

De acordo com Caio Lo Bianco, a equipe do LIV ainda não tem parcerias com a rede pública, devido à maior burocracia dos órgãos governamentais, mas pretende se aproximar ainda neste ano.

Cuidado socioemocional melhora a aprendizagem

Trabalhar as dificuldades com uma matéria ensinada pelo professor nem sempre é algo fácil para um aluno, principalmente quando ele não tem afinidade com o assunto. Assim, muitos ficam desestimulados ao encarar uma prova, um novo conteúdo ou uma lista de exercícios.

O Laboratório Inteligência de Vida analisa que essa barreira deve ser trabalhada no campo socioemocional. Bianco justifica isso relembrando uma pesquisa do professor e economista-chefe do Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros. Ele estudou os resultados do Brasil e da Argentina no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) e percebeu que os alunos brasileiros foram os que mais abandonaram as questões durante a prova em comparação com os do país vizinho.

“Isso mostra que a capacidade de ir até o final, de lidar com as dificuldades e tentar superá-las, precisa ser melhorada. Essa resiliência se constrói por meio de um trabalho emocional”, diz Bianco.

'Escola é um espaço de conflito e sempre será'

Segundo Bianco, é inevitável que o lado emocional dos alunos seja discutido na escola, uma vez que é impossível impedir que eles levem todo o histórico social e familiar para a sala de aula. “Escola é um espaço de conflito e sempre será, mas cabe à comunidade lidar com isso”, aponta.

O Estado brasileiro concorda com a afirmação do educador, tanto é que a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) prevê, em seu artigo 7º, que os currículos do ensino médio devem considerar os aspectos socioemocionais nas escolas.

No entanto, o especialista analisa que as escolas ainda não dão a devida atenção ao tema. “Ainda priorizam muito mais os conteúdos do que o espaço de diálogo. Portanto, trato emocional ainda é pouco estruturado. São projetos que não têm continuidade e não recebem a relevância que deveriam”, critica.

Vale ressaltar que ainda não há lei instituída frisando a importância de se trabalhar os sentimentos na educação infantil. Contudo, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que será implantada em 2020, prevê abordagens em torno dessa habilidade.

Discutir o socioemocional da juventude nas escolas pode trazer impactos positivos para a sociedade. Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, analisaram que a cada dólar (equivalente a R$ 3,71) que os governos investem em habilidades socioemocionais, há uma redução de 11 dólares (R$ 40,82) em gastos futuros com saúde, segurança pública e outros eixos sociais.

Espaço para falar e ouvir

Caio Lo Bianco explica que muitos jovens não têm espaço para expressar possíveis indícios de suicídios ou outros problemas emocionais. Com anos de experiência na área da educação, ele afirma que é comum escutar pais dizendo para os filhos que é besteira estar triste ou com medo de algo.

“Não tem como controlarmos nossos sentimentos, mas é possível aprendermos a lidar com eles. Não escolhemos se estamos tristes ou felizes. Então reprimir ou diminuir as emoções da criança a faz se sentir mal por entender desde cedo que ela não poderia estar assim”, orienta.

O jornalista e youtuber Marcos Piangers, conhecido como Pai Pop, diz em um vídeo que iniciativas do Laboratório de Inteligência de Vida permitem construir uma geração com voz, mais completa que a dos pais. Ele valoriza a importância de se falar sobre os sentimentos e como isso promove a união e o amor entre os pais e filhos. Assista:

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais.

Plataforma estimula alunos a discutir questões socioemocionais em sala de aula para trabalhar a autoestima e entender emoções como a raiva, o amor e a timidez. Foto: Divulgação / João Bittar / MEC

Escola não é mais só um lugar de aprender conteúdos para ir bem em provas. O modelo tem ficado ultrapassado com as novas discussões sobre a importância dos jovens expressarem e entenderem os sentimentos na educação, a fim de melhorar a forma como a criança lidará com os desafios que a vida vai lhe impor.

“O aluno não vai para a escola só para absorver o que o professor escreve na lousa. Ele vai como um ser humano completo, com problemas familiares, dúvidas e emoções”, explica o educador e economista pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) Caio Lo Bianco. “Hoje, um ótimo currículo não é necessariamente boas notas na faculdade ou no colégio. É também ser criativo, ter pensamento crítico e saber trabalhar em equipe. Isso se constrói desenvolvendo as habilidades socioemocionais”, completa.

Bianco é um dos fundadores do Laboratório de Inteligência de Vida (LIV), um projeto do Grupo Eleva, do Rio de Janeiro, que impacta a rotina de por volta de 150 mil estudantes de cerca de 230 escolas brasileiras. O objetivo é incentivar as crianças e adolescentes a falarem sobre os sentimentos, trocando experiências sobre assuntos como amor, raiva, medo, vergonha e timidez. Segundo o professor, essa iniciativa permite uma redução no índice de depressão, gravidez precoce e suicídio, além de aumentar a performance acadêmica e diminuir o bullying.

“Boa parte da violência e do preconceito nas escolas vêm da falta de conhecimento sobre o outro. Há casos em que o aluno passa dez anos na turma sem conhecer direito a pessoa que senta ao lado dele. [Assim], não tem como conhecer e se sensibilizar com o seu semelhante”, explica Bianco.

A afirmação do especialista vai de encontro com uma pesquisa que a equipe do cantor Rubel realizou para o lançamento da música Colégio. O grupo conversou com mais de 100 adolescentes de escolas públicas e privadas do Brasil e identificou que os jovens queriam ser vistos e ouvidos. “Eles não sabiam com quem conversar. Nem com os pais, nem com os professores e nem mesmo com os outros alunos”, escreve o cantor na descrição do clipe musical.

O vídeo mostra estudantes que externalizam suas dores no banheiro da escola e voltam para a sala de aula como se tudo estivesse bem, velando o problema emocional em torno da educação do País. Escondidos, jovens se cortam, fumam, fazem teste de gravidez e vivenciam a orientação sexual. Assista:

A atuação do LIV no emocional dos alunos

O Laboratório de Inteligência de Vida é uma disciplina na grade curricular das escolas parceiras. Ao ser implementado, todos os professores são capacitados para atuar seguindo a filosofia do projeto. O objetivo é que as habilidades socioemocionais se tornem uma prioridade, transformando-se num pilar do colégio.

“Nós fazemos palestras e encontros com os pais. Temos que impactar a escola como um todo para que a comunidade entenda que as competências da nossa plataforma são tão importantes quanto os conteúdos tradicionais”, diz Bianco. Dessa forma, o LIV contempla todas as idades, respeitando as necessidades de cada faixa etária.

As crianças da educação infantil e do fundamental 1 entram em contato com personagens de músicas e contos vivenciados em sala de aula. “A ideia é que a partir disso os alunos consigam identificar quais são os sentimentos presentes nas histórias e como eles as relacionam com as próprias emoções”, explica.

Manuela, do 2º ano da Escola Eleva, se recorda de uma dessas atividades lúdicas. O objetivo era mostrar a preocupação e o companheirismo que um colega deve ter com o outro. “O Geraldo estava bastante ansioso, mas a Gigi, que era irmã dele, estava nervosa, porque ela foi para uma escola nova que o Geraldo já conhecia. Então ele sentou ao lado dela e conversou com ela. O Geraldo teve muita empatia”, relata a garota.

No fundamental 2, os professores trabalham a diversidade da linguagem. Assim, o LIV criou uma série em vídeo na qual que estudantes entram numa jornada de autoconhecimento, companheirismo e trabalho em equipe.

Ao entrar no ensino médio, o projeto começa a trabalhar escolhas profissionais, as relações familiares e os padrões de beleza, que, muitas vezes, mexem com a autoestima dos adolescentes. Para isso, o LIV fez uma parceria com a youtuber Jout Jout, que criou vídeos relacionados aos temas.

Assista aos depoimentos dos professores, pais e alunos:

De acordo com Caio Lo Bianco, a equipe do LIV ainda não tem parcerias com a rede pública, devido à maior burocracia dos órgãos governamentais, mas pretende se aproximar ainda neste ano.

Cuidado socioemocional melhora a aprendizagem

Trabalhar as dificuldades com uma matéria ensinada pelo professor nem sempre é algo fácil para um aluno, principalmente quando ele não tem afinidade com o assunto. Assim, muitos ficam desestimulados ao encarar uma prova, um novo conteúdo ou uma lista de exercícios.

O Laboratório Inteligência de Vida analisa que essa barreira deve ser trabalhada no campo socioemocional. Bianco justifica isso relembrando uma pesquisa do professor e economista-chefe do Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros. Ele estudou os resultados do Brasil e da Argentina no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) e percebeu que os alunos brasileiros foram os que mais abandonaram as questões durante a prova em comparação com os do país vizinho.

“Isso mostra que a capacidade de ir até o final, de lidar com as dificuldades e tentar superá-las, precisa ser melhorada. Essa resiliência se constrói por meio de um trabalho emocional”, diz Bianco.

'Escola é um espaço de conflito e sempre será'

Segundo Bianco, é inevitável que o lado emocional dos alunos seja discutido na escola, uma vez que é impossível impedir que eles levem todo o histórico social e familiar para a sala de aula. “Escola é um espaço de conflito e sempre será, mas cabe à comunidade lidar com isso”, aponta.

O Estado brasileiro concorda com a afirmação do educador, tanto é que a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) prevê, em seu artigo 7º, que os currículos do ensino médio devem considerar os aspectos socioemocionais nas escolas.

No entanto, o especialista analisa que as escolas ainda não dão a devida atenção ao tema. “Ainda priorizam muito mais os conteúdos do que o espaço de diálogo. Portanto, trato emocional ainda é pouco estruturado. São projetos que não têm continuidade e não recebem a relevância que deveriam”, critica.

Vale ressaltar que ainda não há lei instituída frisando a importância de se trabalhar os sentimentos na educação infantil. Contudo, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que será implantada em 2020, prevê abordagens em torno dessa habilidade.

Discutir o socioemocional da juventude nas escolas pode trazer impactos positivos para a sociedade. Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, analisaram que a cada dólar (equivalente a R$ 3,71) que os governos investem em habilidades socioemocionais, há uma redução de 11 dólares (R$ 40,82) em gastos futuros com saúde, segurança pública e outros eixos sociais.

Espaço para falar e ouvir

Caio Lo Bianco explica que muitos jovens não têm espaço para expressar possíveis indícios de suicídios ou outros problemas emocionais. Com anos de experiência na área da educação, ele afirma que é comum escutar pais dizendo para os filhos que é besteira estar triste ou com medo de algo.

“Não tem como controlarmos nossos sentimentos, mas é possível aprendermos a lidar com eles. Não escolhemos se estamos tristes ou felizes. Então reprimir ou diminuir as emoções da criança a faz se sentir mal por entender desde cedo que ela não poderia estar assim”, orienta.

O jornalista e youtuber Marcos Piangers, conhecido como Pai Pop, diz em um vídeo que iniciativas do Laboratório de Inteligência de Vida permitem construir uma geração com voz, mais completa que a dos pais. Ele valoriza a importância de se falar sobre os sentimentos e como isso promove a união e o amor entre os pais e filhos. Assista:

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais.

Plataforma estimula alunos a discutir questões socioemocionais em sala de aula para trabalhar a autoestima e entender emoções como a raiva, o amor e a timidez. Foto: Divulgação / João Bittar / MEC

Escola não é mais só um lugar de aprender conteúdos para ir bem em provas. O modelo tem ficado ultrapassado com as novas discussões sobre a importância dos jovens expressarem e entenderem os sentimentos na educação, a fim de melhorar a forma como a criança lidará com os desafios que a vida vai lhe impor.

“O aluno não vai para a escola só para absorver o que o professor escreve na lousa. Ele vai como um ser humano completo, com problemas familiares, dúvidas e emoções”, explica o educador e economista pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) Caio Lo Bianco. “Hoje, um ótimo currículo não é necessariamente boas notas na faculdade ou no colégio. É também ser criativo, ter pensamento crítico e saber trabalhar em equipe. Isso se constrói desenvolvendo as habilidades socioemocionais”, completa.

Bianco é um dos fundadores do Laboratório de Inteligência de Vida (LIV), um projeto do Grupo Eleva, do Rio de Janeiro, que impacta a rotina de por volta de 150 mil estudantes de cerca de 230 escolas brasileiras. O objetivo é incentivar as crianças e adolescentes a falarem sobre os sentimentos, trocando experiências sobre assuntos como amor, raiva, medo, vergonha e timidez. Segundo o professor, essa iniciativa permite uma redução no índice de depressão, gravidez precoce e suicídio, além de aumentar a performance acadêmica e diminuir o bullying.

“Boa parte da violência e do preconceito nas escolas vêm da falta de conhecimento sobre o outro. Há casos em que o aluno passa dez anos na turma sem conhecer direito a pessoa que senta ao lado dele. [Assim], não tem como conhecer e se sensibilizar com o seu semelhante”, explica Bianco.

A afirmação do especialista vai de encontro com uma pesquisa que a equipe do cantor Rubel realizou para o lançamento da música Colégio. O grupo conversou com mais de 100 adolescentes de escolas públicas e privadas do Brasil e identificou que os jovens queriam ser vistos e ouvidos. “Eles não sabiam com quem conversar. Nem com os pais, nem com os professores e nem mesmo com os outros alunos”, escreve o cantor na descrição do clipe musical.

O vídeo mostra estudantes que externalizam suas dores no banheiro da escola e voltam para a sala de aula como se tudo estivesse bem, velando o problema emocional em torno da educação do País. Escondidos, jovens se cortam, fumam, fazem teste de gravidez e vivenciam a orientação sexual. Assista:

A atuação do LIV no emocional dos alunos

O Laboratório de Inteligência de Vida é uma disciplina na grade curricular das escolas parceiras. Ao ser implementado, todos os professores são capacitados para atuar seguindo a filosofia do projeto. O objetivo é que as habilidades socioemocionais se tornem uma prioridade, transformando-se num pilar do colégio.

“Nós fazemos palestras e encontros com os pais. Temos que impactar a escola como um todo para que a comunidade entenda que as competências da nossa plataforma são tão importantes quanto os conteúdos tradicionais”, diz Bianco. Dessa forma, o LIV contempla todas as idades, respeitando as necessidades de cada faixa etária.

As crianças da educação infantil e do fundamental 1 entram em contato com personagens de músicas e contos vivenciados em sala de aula. “A ideia é que a partir disso os alunos consigam identificar quais são os sentimentos presentes nas histórias e como eles as relacionam com as próprias emoções”, explica.

Manuela, do 2º ano da Escola Eleva, se recorda de uma dessas atividades lúdicas. O objetivo era mostrar a preocupação e o companheirismo que um colega deve ter com o outro. “O Geraldo estava bastante ansioso, mas a Gigi, que era irmã dele, estava nervosa, porque ela foi para uma escola nova que o Geraldo já conhecia. Então ele sentou ao lado dela e conversou com ela. O Geraldo teve muita empatia”, relata a garota.

No fundamental 2, os professores trabalham a diversidade da linguagem. Assim, o LIV criou uma série em vídeo na qual que estudantes entram numa jornada de autoconhecimento, companheirismo e trabalho em equipe.

Ao entrar no ensino médio, o projeto começa a trabalhar escolhas profissionais, as relações familiares e os padrões de beleza, que, muitas vezes, mexem com a autoestima dos adolescentes. Para isso, o LIV fez uma parceria com a youtuber Jout Jout, que criou vídeos relacionados aos temas.

Assista aos depoimentos dos professores, pais e alunos:

De acordo com Caio Lo Bianco, a equipe do LIV ainda não tem parcerias com a rede pública, devido à maior burocracia dos órgãos governamentais, mas pretende se aproximar ainda neste ano.

Cuidado socioemocional melhora a aprendizagem

Trabalhar as dificuldades com uma matéria ensinada pelo professor nem sempre é algo fácil para um aluno, principalmente quando ele não tem afinidade com o assunto. Assim, muitos ficam desestimulados ao encarar uma prova, um novo conteúdo ou uma lista de exercícios.

O Laboratório Inteligência de Vida analisa que essa barreira deve ser trabalhada no campo socioemocional. Bianco justifica isso relembrando uma pesquisa do professor e economista-chefe do Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros. Ele estudou os resultados do Brasil e da Argentina no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) e percebeu que os alunos brasileiros foram os que mais abandonaram as questões durante a prova em comparação com os do país vizinho.

“Isso mostra que a capacidade de ir até o final, de lidar com as dificuldades e tentar superá-las, precisa ser melhorada. Essa resiliência se constrói por meio de um trabalho emocional”, diz Bianco.

'Escola é um espaço de conflito e sempre será'

Segundo Bianco, é inevitável que o lado emocional dos alunos seja discutido na escola, uma vez que é impossível impedir que eles levem todo o histórico social e familiar para a sala de aula. “Escola é um espaço de conflito e sempre será, mas cabe à comunidade lidar com isso”, aponta.

O Estado brasileiro concorda com a afirmação do educador, tanto é que a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) prevê, em seu artigo 7º, que os currículos do ensino médio devem considerar os aspectos socioemocionais nas escolas.

No entanto, o especialista analisa que as escolas ainda não dão a devida atenção ao tema. “Ainda priorizam muito mais os conteúdos do que o espaço de diálogo. Portanto, trato emocional ainda é pouco estruturado. São projetos que não têm continuidade e não recebem a relevância que deveriam”, critica.

Vale ressaltar que ainda não há lei instituída frisando a importância de se trabalhar os sentimentos na educação infantil. Contudo, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que será implantada em 2020, prevê abordagens em torno dessa habilidade.

Discutir o socioemocional da juventude nas escolas pode trazer impactos positivos para a sociedade. Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, analisaram que a cada dólar (equivalente a R$ 3,71) que os governos investem em habilidades socioemocionais, há uma redução de 11 dólares (R$ 40,82) em gastos futuros com saúde, segurança pública e outros eixos sociais.

Espaço para falar e ouvir

Caio Lo Bianco explica que muitos jovens não têm espaço para expressar possíveis indícios de suicídios ou outros problemas emocionais. Com anos de experiência na área da educação, ele afirma que é comum escutar pais dizendo para os filhos que é besteira estar triste ou com medo de algo.

“Não tem como controlarmos nossos sentimentos, mas é possível aprendermos a lidar com eles. Não escolhemos se estamos tristes ou felizes. Então reprimir ou diminuir as emoções da criança a faz se sentir mal por entender desde cedo que ela não poderia estar assim”, orienta.

O jornalista e youtuber Marcos Piangers, conhecido como Pai Pop, diz em um vídeo que iniciativas do Laboratório de Inteligência de Vida permitem construir uma geração com voz, mais completa que a dos pais. Ele valoriza a importância de se falar sobre os sentimentos e como isso promove a união e o amor entre os pais e filhos. Assista:

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais.

Plataforma estimula alunos a discutir questões socioemocionais em sala de aula para trabalhar a autoestima e entender emoções como a raiva, o amor e a timidez. Foto: Divulgação / João Bittar / MEC

Escola não é mais só um lugar de aprender conteúdos para ir bem em provas. O modelo tem ficado ultrapassado com as novas discussões sobre a importância dos jovens expressarem e entenderem os sentimentos na educação, a fim de melhorar a forma como a criança lidará com os desafios que a vida vai lhe impor.

“O aluno não vai para a escola só para absorver o que o professor escreve na lousa. Ele vai como um ser humano completo, com problemas familiares, dúvidas e emoções”, explica o educador e economista pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) Caio Lo Bianco. “Hoje, um ótimo currículo não é necessariamente boas notas na faculdade ou no colégio. É também ser criativo, ter pensamento crítico e saber trabalhar em equipe. Isso se constrói desenvolvendo as habilidades socioemocionais”, completa.

Bianco é um dos fundadores do Laboratório de Inteligência de Vida (LIV), um projeto do Grupo Eleva, do Rio de Janeiro, que impacta a rotina de por volta de 150 mil estudantes de cerca de 230 escolas brasileiras. O objetivo é incentivar as crianças e adolescentes a falarem sobre os sentimentos, trocando experiências sobre assuntos como amor, raiva, medo, vergonha e timidez. Segundo o professor, essa iniciativa permite uma redução no índice de depressão, gravidez precoce e suicídio, além de aumentar a performance acadêmica e diminuir o bullying.

“Boa parte da violência e do preconceito nas escolas vêm da falta de conhecimento sobre o outro. Há casos em que o aluno passa dez anos na turma sem conhecer direito a pessoa que senta ao lado dele. [Assim], não tem como conhecer e se sensibilizar com o seu semelhante”, explica Bianco.

A afirmação do especialista vai de encontro com uma pesquisa que a equipe do cantor Rubel realizou para o lançamento da música Colégio. O grupo conversou com mais de 100 adolescentes de escolas públicas e privadas do Brasil e identificou que os jovens queriam ser vistos e ouvidos. “Eles não sabiam com quem conversar. Nem com os pais, nem com os professores e nem mesmo com os outros alunos”, escreve o cantor na descrição do clipe musical.

O vídeo mostra estudantes que externalizam suas dores no banheiro da escola e voltam para a sala de aula como se tudo estivesse bem, velando o problema emocional em torno da educação do País. Escondidos, jovens se cortam, fumam, fazem teste de gravidez e vivenciam a orientação sexual. Assista:

A atuação do LIV no emocional dos alunos

O Laboratório de Inteligência de Vida é uma disciplina na grade curricular das escolas parceiras. Ao ser implementado, todos os professores são capacitados para atuar seguindo a filosofia do projeto. O objetivo é que as habilidades socioemocionais se tornem uma prioridade, transformando-se num pilar do colégio.

“Nós fazemos palestras e encontros com os pais. Temos que impactar a escola como um todo para que a comunidade entenda que as competências da nossa plataforma são tão importantes quanto os conteúdos tradicionais”, diz Bianco. Dessa forma, o LIV contempla todas as idades, respeitando as necessidades de cada faixa etária.

As crianças da educação infantil e do fundamental 1 entram em contato com personagens de músicas e contos vivenciados em sala de aula. “A ideia é que a partir disso os alunos consigam identificar quais são os sentimentos presentes nas histórias e como eles as relacionam com as próprias emoções”, explica.

Manuela, do 2º ano da Escola Eleva, se recorda de uma dessas atividades lúdicas. O objetivo era mostrar a preocupação e o companheirismo que um colega deve ter com o outro. “O Geraldo estava bastante ansioso, mas a Gigi, que era irmã dele, estava nervosa, porque ela foi para uma escola nova que o Geraldo já conhecia. Então ele sentou ao lado dela e conversou com ela. O Geraldo teve muita empatia”, relata a garota.

No fundamental 2, os professores trabalham a diversidade da linguagem. Assim, o LIV criou uma série em vídeo na qual que estudantes entram numa jornada de autoconhecimento, companheirismo e trabalho em equipe.

Ao entrar no ensino médio, o projeto começa a trabalhar escolhas profissionais, as relações familiares e os padrões de beleza, que, muitas vezes, mexem com a autoestima dos adolescentes. Para isso, o LIV fez uma parceria com a youtuber Jout Jout, que criou vídeos relacionados aos temas.

Assista aos depoimentos dos professores, pais e alunos:

De acordo com Caio Lo Bianco, a equipe do LIV ainda não tem parcerias com a rede pública, devido à maior burocracia dos órgãos governamentais, mas pretende se aproximar ainda neste ano.

Cuidado socioemocional melhora a aprendizagem

Trabalhar as dificuldades com uma matéria ensinada pelo professor nem sempre é algo fácil para um aluno, principalmente quando ele não tem afinidade com o assunto. Assim, muitos ficam desestimulados ao encarar uma prova, um novo conteúdo ou uma lista de exercícios.

O Laboratório Inteligência de Vida analisa que essa barreira deve ser trabalhada no campo socioemocional. Bianco justifica isso relembrando uma pesquisa do professor e economista-chefe do Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros. Ele estudou os resultados do Brasil e da Argentina no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) e percebeu que os alunos brasileiros foram os que mais abandonaram as questões durante a prova em comparação com os do país vizinho.

“Isso mostra que a capacidade de ir até o final, de lidar com as dificuldades e tentar superá-las, precisa ser melhorada. Essa resiliência se constrói por meio de um trabalho emocional”, diz Bianco.

'Escola é um espaço de conflito e sempre será'

Segundo Bianco, é inevitável que o lado emocional dos alunos seja discutido na escola, uma vez que é impossível impedir que eles levem todo o histórico social e familiar para a sala de aula. “Escola é um espaço de conflito e sempre será, mas cabe à comunidade lidar com isso”, aponta.

O Estado brasileiro concorda com a afirmação do educador, tanto é que a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) prevê, em seu artigo 7º, que os currículos do ensino médio devem considerar os aspectos socioemocionais nas escolas.

No entanto, o especialista analisa que as escolas ainda não dão a devida atenção ao tema. “Ainda priorizam muito mais os conteúdos do que o espaço de diálogo. Portanto, trato emocional ainda é pouco estruturado. São projetos que não têm continuidade e não recebem a relevância que deveriam”, critica.

Vale ressaltar que ainda não há lei instituída frisando a importância de se trabalhar os sentimentos na educação infantil. Contudo, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que será implantada em 2020, prevê abordagens em torno dessa habilidade.

Discutir o socioemocional da juventude nas escolas pode trazer impactos positivos para a sociedade. Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, analisaram que a cada dólar (equivalente a R$ 3,71) que os governos investem em habilidades socioemocionais, há uma redução de 11 dólares (R$ 40,82) em gastos futuros com saúde, segurança pública e outros eixos sociais.

Espaço para falar e ouvir

Caio Lo Bianco explica que muitos jovens não têm espaço para expressar possíveis indícios de suicídios ou outros problemas emocionais. Com anos de experiência na área da educação, ele afirma que é comum escutar pais dizendo para os filhos que é besteira estar triste ou com medo de algo.

“Não tem como controlarmos nossos sentimentos, mas é possível aprendermos a lidar com eles. Não escolhemos se estamos tristes ou felizes. Então reprimir ou diminuir as emoções da criança a faz se sentir mal por entender desde cedo que ela não poderia estar assim”, orienta.

O jornalista e youtuber Marcos Piangers, conhecido como Pai Pop, diz em um vídeo que iniciativas do Laboratório de Inteligência de Vida permitem construir uma geração com voz, mais completa que a dos pais. Ele valoriza a importância de se falar sobre os sentimentos e como isso promove a união e o amor entre os pais e filhos. Assista:

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais.

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