Apesar de atos, campanhas e muita luta contra o assédio sexual, ele ainda faz parte da vida das mulheres. De acordo com pesquisa realizada pelo Think Olga em agosto de 2013, 99% das 7.762 mulheres que responderam ao questionário revelaram já terem sido assediadas.
A Lei 10.224/2001 define o assédio sexual como "o ato de constranger alguém com o intuito de obter vantagem sexual", prevalecendo-se de condição de superior hierárquico ou ascendência "inerentes ao emprego, cargo ou função", o que pode ocorrer na rua, no trabalho, na escola, em casa e nas universidades. Infelizmente, o ambiente acadêmico não é um porto seguro para as mulheres.
Engana-se quem pensa que o assédio vem apenas de outros alunos - não é difícil encontrar estudantes que já foram assediadas sexualmente por professores e funcionários das instituições em que estudam.
Um agravante do problema é que, na maioria das vezes, as alunas sentem receio de prestar queixa contra o assediador, com medo de ou serem prejudicadas ou não conseguirem resultados. A orientação das universidades é sempre procurar um responsável o mais rápido possível.
O assédio pode ocorrer pessoalmente, via telefone, e-mail, em público ou de forma privada, como exemplificam alguns dos relatos abaixo:
"Se alguma menina ia ao banheiro, ele parava de falar e olhava para a bunda da menina. Uma vez fui de calça legging e, quando dei a mão para cumprimentá-lo, ele me virou para ver a minha bunda", relata uma aluna da Universidade Anhembi Morumbi sobre seu professor. Clique aqui para ler o relato completo.
"Um dia, quando mandei um e-mail perguntando sobre meu TCC, ele me respondeu: 'Nossa, quer dizer que poderei admirar por mais seis meses a sinuosidade de suas curvas, a voluptuosidade dos seus lábios carnudos, o brilho sensual do seu olhar enigmático, a doce fragrância do seu perfume?'. Eu fiquei muito chocada com o conteúdo desse e-mail, em que ele escolheu palavras de conotação claramente sexual", relembra uma ex-aluna da Universidade de São Paulo (USP). Veja o relato completo aqui.
"Eu fui a um casamento no fim de semana e postei uma foto com a roupa, arrumada, no meu Facebook. Na semana seguinte encontrei esse professor na faculdade e ele falou: 'Nossa, Maria (nome fictício), se fosse seu marido não deixava você sair de casa. Porque com aquelas pernas que você tem, não é brincadeira, né meu", contou uma aluna da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Quer ler o relato completo? Clique aqui.
"Ele me mandou um site um dia e era um curso para aprender a fazer sexo tântrico. (...) Eu fiquei super assustada. Que intimidade esse cara tem para me mandar isso? Eu perguntei 'o que é isso?', e ele começou a me falar sobre sexo tântrico, como era interessante", relembra Andreia (nome fictício), ex-aluna da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP). Leia aqui o relato completo.
Outra aluna da ESPM afirma ter sofrido assédio no ambiente universitário: "Estava andando na rua e vi que um professor, com o qual eu tive aula no meu primeiro semestre estava em um bar atravessando a rua. Olhei e continuei andando, não tinha intimidade para ao menos acenar. (...) Quando voltei para casa, tinha uma mensagem dele no meu Facebook dizendo o seguinte: 'passa, reconhece, e nem dá oi?'. Na hora eu já saquei que tinha coisa estranha aí e respondi por educação: 'desculpa, professor, não vi mesmo, estou precisando de óculos hahahaha'. Ele disse: 'só perdoo se você vier tomar uma cerveja comigo da próxima vez'." Clique aqui para ler o relato completo.
Apesar de ter demorado alguns anos para perceber que foi assediada, Olívia (nome fictício), ex-aluna da Cásper Líbero, ouviu 'cantadas' do coordenador de seu curso. "Um dia, aleatoriamente, ele comentou, em nível de brincadeira, que tinha recebido boas fotos minhas, usando shortinhos bem curtos nos Jogos Universitários - na época a faculdade estava vendendo shortinhos personalizados para esses jogos, e eles eram de fato curtinhos. Entre outras 'gracinhas', essa foi a que mais me marcou." Veja a história completa.
O E+ entrou em contato com as universidades envolvidas. Com exceção da Cásper Líbero, que se recusou a se pronunciar sobre o assunto, todas as instituições afirmam que repudiam qualquer tipo de assédio.
Antônio Carlos Malheiros, pró-reitor para assuntos culturais e comunitários da PUC-SP, orienta as alunas a reportarem os casos o mais rápido possível. "Estamos em uma campanha muito grande para que não guardem o segredo. Se forem assediadas, rapidamente contem para nós o que está acontecendo para uma apuração rápida", alerta."Há um grupo formado pela professora Silvia Pimentel que cuida disso de uma maneira absolutamente específica".
Já a USP segue as diretrizes da USP Mulheres, e a representante do órgão, Eva Blay, diz que o jeito com o que a universidade trata o assédio mudou no último ano. "Primeiro, recuperamos todas as queixas que existiam. Houve uma mudança muito grande, a começar pelo próprio reitor, que, numa reunião com o conselho universitário, adotou a política de 'violência zero'. A USP não aceita mais nenhum tipo de violência, houve uma incorporação dessa nova ética. Agora, quando aparece um caso ou outro de assédio, isso é imediatamente denunciado, discutido, nada mais é escondido sob o tapete como era antigamente", explica.