Gaslighting: Como identificar e se libertar de uma pessoa manipuladora?


Violência psicológica faz com que indivíduos questionem convicções e a própria sanidade mental

Por Camila Tuchlinski
O manipulador usa da violência psicológica para criar um clima de dependência emocional e desprezo pelas vítimas Foto: Pixabay/kaboompics

Se você se sente desprezado, diminuído ou ‘refém’ de um relacionamento, cuidado: pode estar sofrendo com um fenômeno chamado Gaslighting. Não é comum que vítimas de manipuladores acreditem que perderam as noções de realidade, pois são constantemente questionadas por parceiros amorosos, chefes, amigos ou até mesmo pessoas da família, como pais, irmãos, tios ou filhos.  A violência psicológica está nos detalhes quando, por exemplo, alguém faz ‘chantagem emocional’ para consolidar uma relação de dependência: "Você vai sair e me deixar sozinho aqui?", "Não acho justo você dar mais atenção para a sua família do que para mim, que te amo mais do que tudo", "Eu fiz tudo por você e não retribui do jeito que deveria".

Normalmente, as vítimas se sentem como que ‘pisando em ovos’ e são incapazes de sair dessa situação, chegando a colocar em xeque a própria sanidade mental. Não é raro também ouvirem que "estão imaginando coisas" ou que "estão loucas". O filme Gaslight, dirigido por George Cukor, baseado na peça teatral de Patrick Hamilton, retrata o termo pela primeira vez, em 1944. Protagonizado por Ingrid Bergman, a trama conta a história da jovem que é manipulada pelo marido, que diminuía a intensidade da iluminação a gás da casa onde viviam para fazê-la acreditar que estava enlouquecendo. Mas o conceito de manipulação dos sentidos da realidade só recebeu o nome de Gaslighting 15 anos depois.

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Como identificar uma pessoa manipuladora?

Olhando de fora, parece simples identificar um manipulador. Porém, quando estamos envolvidos em um relacionamento, essa tarefa é difícil. Uma situação bastante comum de prática de Gaslighting é notada em uma relação abusiva. O agressor normalmente busca provocar uma dependência da parceira para que ela se sinta impedida de fazer o que deseja. Outra forma é diminuir a autoestima da companheira para fazer acreditar que somente o parceiro irá aceitá-la.  Porém, a manipulação não acontece somente entre casais. De acordo com a americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental, o Gaslighting pode ocorrer na relação entre chefes e subordinados, pais e filhos (e vice-versa) ou outros familiares como irmãos, primos e tios. Com discursos de ódio ou desprezo, a intenção é desmoralizar a reputação do outro para conquistar um domínio emocional da situação.

A doutora e mestre em Aconselhamento de Saúde Mental pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, lançou o livro O Fenômeno Gaslighting, reunindo dezenas de casos reais praticados em ambiente familiar, entre amigos, no trabalho e até por figuras públicas em exercício de suas funções e defesa de seus interesses.  Apesar disso, Stephanie Moulton Sarkis garante que as vítimas podem resolver o problema de dependência do manipulador e se libertar. “É possível reconstruir a vida depois de se livrar de um manipulador. Você pode continuar a ter relacionamentos saudáveis ​​no futuro”, ressalta.

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A reportagem do Estadão entrevistou Stephanie Moulton Sarkis, que também é especialista em clínica de saúde mental e em aconselhamento de crianças e adolescentes na Associação Americana dos Conselheiros de Saúde Mental, mediadora da família certificada pela Suprema Corte da Flórida e fundadora do Instituto Sarkis. Ela também escreve para o blog Psychology Today e o jornal The Huffington Post.1 - Do que se trata o fenômeno Gaslighting? Gaslighting é uma forma de abuso emocional. O objetivo de uma pessoa que está praticando a manipulação é obter controle e poder sobre alguém. Ela faz uma pessoa questionar sua realidade.

2 - No seu livro, você aborda a questão também entre pessoas da família, pais com os filhos. Você poderia mencionar alguns outros exemplos em que o Gaslighting ocorre e as pessoas não percebem? Os pais que usam de manipulação podem identificar seus filhos como “bons” ou “maus”, sem nenhum meio-termo. Um dia, a criança A é a criança “boa” e a criança B é a criança “má”. No dia seguinte, o pai inverte os papéis. Pais ‘gaslighters’ usarão a culpa como uma forma de fazer com que os filhos façam coisas por eles, em vez de fazer um simples pedido de ajuda. Pais ‘gaslighters’ também costumam arruinar feriados e celebrações agindo mal e precisando ser o centro das atenções.

3 - Qual é o perfil psicológico daqueles que praticam o Gaslighting? Pessoas que praticam Gaslighting podem ter traços narcisistas ou sociopatas. Eles ganham uma sensação de satisfação ao controlar os outros. Seu humor pode depender de quanta atenção eles recebem dos outros. Eles nunca podem encontrar pessoas suficientes para preencher seu "vazio narcisista". Se você definir limites também com manipulação, eles podem reagir com "fúria narcisista".

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4 - Existem pessoas que são mais propensas a serem vítimas do comportamento? Se sim, você diria que são mais frágeis? Pessoas mais vulneráveis, como aquelas que estão sofrendo por uma perda, podem ser alvos de um ‘gaslighter’. Isso ocorre porque uma pessoa que está sofrendo pode estar em choque ou depressão e um manipulador verá essa pessoa como mais fácil de manipular por meio de fingimento de interesse e "bombardeio de amor". Uma “bomba de amor” é quando alguém exagera na quantidade de atenção e carinho que está dando a você no início de um relacionamento. Assim que o ‘gaslighter’ souber que o pegou, o abuso começa.

5 - Existe alguma forma de escapar dos manipuladores em potencial? Se sim, poderia nos dar algumas dicas? Se você está em um relacionamento com uma pessoa assim, é recomendável que considere deixá-la e bloquear os números de telefone e e-mails dela. Se você tem filhos com um manipulador, consulte um advogado de direito da família e considere fazer um plano detalhado de criação de filhos. Lembre-se de que, se você tentar sair da relação, o manipulador fará o que for preciso para que você fique. Isso é chamado de "pairar". O ‘gaslighter’ tem medo de perder seu “suprimento narcisista”, então, ele lhe dirá tudo o que achar que você deseja ouvir. Mas se você decidir permanecer no relacionamento, as promessas dele não serão cumpridas.

6 - A pessoa que pratica o Gaslighting tem noção do que faz? Como identificar se somos assim? Se uma pessoa cresceu com pais que eram manipuladores, ela pode perceber que está praticando os mesmos comportamentos em seus relacionamentos. Essa pessoa é mais propensa a buscar ajuda para seu comportamento, como por meio de aconselhamento. Outros manipuladores parecem estar conscientemente tentando ganhar poder e controle. Eles tendem a pensar que todo mundo tem um problema e que eles estão completamente bem. Este tipo de pessoa raramente procura ajuda

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O livro'O Fenômeno Gaslighting', escrito pela americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental Foto: Cultrix

O Gaslighting e a indústria cultural

O fenômeno da manipulação entre as pessoas também foi descrito em diversos produtos da indústria cultural, sobretudo no cinema. O Gaslighting é pano de fundo de filmes como A Garota do Trem, O Bebê de Rosemary, O Sorriso de Monalisa, Beleza Americana e O Desespero de Veronika Voss. Também é possível notar o sofrimento da vítima de um manipulador na série Jessica Jones, da Netflix, na qual a protagonista sofre constantemente pelas ações do ‘gaslighter’ Kilgrave.

O manipulador usa da violência psicológica para criar um clima de dependência emocional e desprezo pelas vítimas Foto: Pixabay/kaboompics

Se você se sente desprezado, diminuído ou ‘refém’ de um relacionamento, cuidado: pode estar sofrendo com um fenômeno chamado Gaslighting. Não é comum que vítimas de manipuladores acreditem que perderam as noções de realidade, pois são constantemente questionadas por parceiros amorosos, chefes, amigos ou até mesmo pessoas da família, como pais, irmãos, tios ou filhos.  A violência psicológica está nos detalhes quando, por exemplo, alguém faz ‘chantagem emocional’ para consolidar uma relação de dependência: "Você vai sair e me deixar sozinho aqui?", "Não acho justo você dar mais atenção para a sua família do que para mim, que te amo mais do que tudo", "Eu fiz tudo por você e não retribui do jeito que deveria".

Normalmente, as vítimas se sentem como que ‘pisando em ovos’ e são incapazes de sair dessa situação, chegando a colocar em xeque a própria sanidade mental. Não é raro também ouvirem que "estão imaginando coisas" ou que "estão loucas". O filme Gaslight, dirigido por George Cukor, baseado na peça teatral de Patrick Hamilton, retrata o termo pela primeira vez, em 1944. Protagonizado por Ingrid Bergman, a trama conta a história da jovem que é manipulada pelo marido, que diminuía a intensidade da iluminação a gás da casa onde viviam para fazê-la acreditar que estava enlouquecendo. Mas o conceito de manipulação dos sentidos da realidade só recebeu o nome de Gaslighting 15 anos depois.

Como identificar uma pessoa manipuladora?

Olhando de fora, parece simples identificar um manipulador. Porém, quando estamos envolvidos em um relacionamento, essa tarefa é difícil. Uma situação bastante comum de prática de Gaslighting é notada em uma relação abusiva. O agressor normalmente busca provocar uma dependência da parceira para que ela se sinta impedida de fazer o que deseja. Outra forma é diminuir a autoestima da companheira para fazer acreditar que somente o parceiro irá aceitá-la.  Porém, a manipulação não acontece somente entre casais. De acordo com a americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental, o Gaslighting pode ocorrer na relação entre chefes e subordinados, pais e filhos (e vice-versa) ou outros familiares como irmãos, primos e tios. Com discursos de ódio ou desprezo, a intenção é desmoralizar a reputação do outro para conquistar um domínio emocional da situação.

A doutora e mestre em Aconselhamento de Saúde Mental pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, lançou o livro O Fenômeno Gaslighting, reunindo dezenas de casos reais praticados em ambiente familiar, entre amigos, no trabalho e até por figuras públicas em exercício de suas funções e defesa de seus interesses.  Apesar disso, Stephanie Moulton Sarkis garante que as vítimas podem resolver o problema de dependência do manipulador e se libertar. “É possível reconstruir a vida depois de se livrar de um manipulador. Você pode continuar a ter relacionamentos saudáveis ​​no futuro”, ressalta.

A reportagem do Estadão entrevistou Stephanie Moulton Sarkis, que também é especialista em clínica de saúde mental e em aconselhamento de crianças e adolescentes na Associação Americana dos Conselheiros de Saúde Mental, mediadora da família certificada pela Suprema Corte da Flórida e fundadora do Instituto Sarkis. Ela também escreve para o blog Psychology Today e o jornal The Huffington Post.1 - Do que se trata o fenômeno Gaslighting? Gaslighting é uma forma de abuso emocional. O objetivo de uma pessoa que está praticando a manipulação é obter controle e poder sobre alguém. Ela faz uma pessoa questionar sua realidade.

2 - No seu livro, você aborda a questão também entre pessoas da família, pais com os filhos. Você poderia mencionar alguns outros exemplos em que o Gaslighting ocorre e as pessoas não percebem? Os pais que usam de manipulação podem identificar seus filhos como “bons” ou “maus”, sem nenhum meio-termo. Um dia, a criança A é a criança “boa” e a criança B é a criança “má”. No dia seguinte, o pai inverte os papéis. Pais ‘gaslighters’ usarão a culpa como uma forma de fazer com que os filhos façam coisas por eles, em vez de fazer um simples pedido de ajuda. Pais ‘gaslighters’ também costumam arruinar feriados e celebrações agindo mal e precisando ser o centro das atenções.

3 - Qual é o perfil psicológico daqueles que praticam o Gaslighting? Pessoas que praticam Gaslighting podem ter traços narcisistas ou sociopatas. Eles ganham uma sensação de satisfação ao controlar os outros. Seu humor pode depender de quanta atenção eles recebem dos outros. Eles nunca podem encontrar pessoas suficientes para preencher seu "vazio narcisista". Se você definir limites também com manipulação, eles podem reagir com "fúria narcisista".

4 - Existem pessoas que são mais propensas a serem vítimas do comportamento? Se sim, você diria que são mais frágeis? Pessoas mais vulneráveis, como aquelas que estão sofrendo por uma perda, podem ser alvos de um ‘gaslighter’. Isso ocorre porque uma pessoa que está sofrendo pode estar em choque ou depressão e um manipulador verá essa pessoa como mais fácil de manipular por meio de fingimento de interesse e "bombardeio de amor". Uma “bomba de amor” é quando alguém exagera na quantidade de atenção e carinho que está dando a você no início de um relacionamento. Assim que o ‘gaslighter’ souber que o pegou, o abuso começa.

5 - Existe alguma forma de escapar dos manipuladores em potencial? Se sim, poderia nos dar algumas dicas? Se você está em um relacionamento com uma pessoa assim, é recomendável que considere deixá-la e bloquear os números de telefone e e-mails dela. Se você tem filhos com um manipulador, consulte um advogado de direito da família e considere fazer um plano detalhado de criação de filhos. Lembre-se de que, se você tentar sair da relação, o manipulador fará o que for preciso para que você fique. Isso é chamado de "pairar". O ‘gaslighter’ tem medo de perder seu “suprimento narcisista”, então, ele lhe dirá tudo o que achar que você deseja ouvir. Mas se você decidir permanecer no relacionamento, as promessas dele não serão cumpridas.

6 - A pessoa que pratica o Gaslighting tem noção do que faz? Como identificar se somos assim? Se uma pessoa cresceu com pais que eram manipuladores, ela pode perceber que está praticando os mesmos comportamentos em seus relacionamentos. Essa pessoa é mais propensa a buscar ajuda para seu comportamento, como por meio de aconselhamento. Outros manipuladores parecem estar conscientemente tentando ganhar poder e controle. Eles tendem a pensar que todo mundo tem um problema e que eles estão completamente bem. Este tipo de pessoa raramente procura ajuda

O livro'O Fenômeno Gaslighting', escrito pela americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental Foto: Cultrix

O Gaslighting e a indústria cultural

O fenômeno da manipulação entre as pessoas também foi descrito em diversos produtos da indústria cultural, sobretudo no cinema. O Gaslighting é pano de fundo de filmes como A Garota do Trem, O Bebê de Rosemary, O Sorriso de Monalisa, Beleza Americana e O Desespero de Veronika Voss. Também é possível notar o sofrimento da vítima de um manipulador na série Jessica Jones, da Netflix, na qual a protagonista sofre constantemente pelas ações do ‘gaslighter’ Kilgrave.

O manipulador usa da violência psicológica para criar um clima de dependência emocional e desprezo pelas vítimas Foto: Pixabay/kaboompics

Se você se sente desprezado, diminuído ou ‘refém’ de um relacionamento, cuidado: pode estar sofrendo com um fenômeno chamado Gaslighting. Não é comum que vítimas de manipuladores acreditem que perderam as noções de realidade, pois são constantemente questionadas por parceiros amorosos, chefes, amigos ou até mesmo pessoas da família, como pais, irmãos, tios ou filhos.  A violência psicológica está nos detalhes quando, por exemplo, alguém faz ‘chantagem emocional’ para consolidar uma relação de dependência: "Você vai sair e me deixar sozinho aqui?", "Não acho justo você dar mais atenção para a sua família do que para mim, que te amo mais do que tudo", "Eu fiz tudo por você e não retribui do jeito que deveria".

Normalmente, as vítimas se sentem como que ‘pisando em ovos’ e são incapazes de sair dessa situação, chegando a colocar em xeque a própria sanidade mental. Não é raro também ouvirem que "estão imaginando coisas" ou que "estão loucas". O filme Gaslight, dirigido por George Cukor, baseado na peça teatral de Patrick Hamilton, retrata o termo pela primeira vez, em 1944. Protagonizado por Ingrid Bergman, a trama conta a história da jovem que é manipulada pelo marido, que diminuía a intensidade da iluminação a gás da casa onde viviam para fazê-la acreditar que estava enlouquecendo. Mas o conceito de manipulação dos sentidos da realidade só recebeu o nome de Gaslighting 15 anos depois.

Como identificar uma pessoa manipuladora?

Olhando de fora, parece simples identificar um manipulador. Porém, quando estamos envolvidos em um relacionamento, essa tarefa é difícil. Uma situação bastante comum de prática de Gaslighting é notada em uma relação abusiva. O agressor normalmente busca provocar uma dependência da parceira para que ela se sinta impedida de fazer o que deseja. Outra forma é diminuir a autoestima da companheira para fazer acreditar que somente o parceiro irá aceitá-la.  Porém, a manipulação não acontece somente entre casais. De acordo com a americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental, o Gaslighting pode ocorrer na relação entre chefes e subordinados, pais e filhos (e vice-versa) ou outros familiares como irmãos, primos e tios. Com discursos de ódio ou desprezo, a intenção é desmoralizar a reputação do outro para conquistar um domínio emocional da situação.

A doutora e mestre em Aconselhamento de Saúde Mental pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, lançou o livro O Fenômeno Gaslighting, reunindo dezenas de casos reais praticados em ambiente familiar, entre amigos, no trabalho e até por figuras públicas em exercício de suas funções e defesa de seus interesses.  Apesar disso, Stephanie Moulton Sarkis garante que as vítimas podem resolver o problema de dependência do manipulador e se libertar. “É possível reconstruir a vida depois de se livrar de um manipulador. Você pode continuar a ter relacionamentos saudáveis ​​no futuro”, ressalta.

A reportagem do Estadão entrevistou Stephanie Moulton Sarkis, que também é especialista em clínica de saúde mental e em aconselhamento de crianças e adolescentes na Associação Americana dos Conselheiros de Saúde Mental, mediadora da família certificada pela Suprema Corte da Flórida e fundadora do Instituto Sarkis. Ela também escreve para o blog Psychology Today e o jornal The Huffington Post.1 - Do que se trata o fenômeno Gaslighting? Gaslighting é uma forma de abuso emocional. O objetivo de uma pessoa que está praticando a manipulação é obter controle e poder sobre alguém. Ela faz uma pessoa questionar sua realidade.

2 - No seu livro, você aborda a questão também entre pessoas da família, pais com os filhos. Você poderia mencionar alguns outros exemplos em que o Gaslighting ocorre e as pessoas não percebem? Os pais que usam de manipulação podem identificar seus filhos como “bons” ou “maus”, sem nenhum meio-termo. Um dia, a criança A é a criança “boa” e a criança B é a criança “má”. No dia seguinte, o pai inverte os papéis. Pais ‘gaslighters’ usarão a culpa como uma forma de fazer com que os filhos façam coisas por eles, em vez de fazer um simples pedido de ajuda. Pais ‘gaslighters’ também costumam arruinar feriados e celebrações agindo mal e precisando ser o centro das atenções.

3 - Qual é o perfil psicológico daqueles que praticam o Gaslighting? Pessoas que praticam Gaslighting podem ter traços narcisistas ou sociopatas. Eles ganham uma sensação de satisfação ao controlar os outros. Seu humor pode depender de quanta atenção eles recebem dos outros. Eles nunca podem encontrar pessoas suficientes para preencher seu "vazio narcisista". Se você definir limites também com manipulação, eles podem reagir com "fúria narcisista".

4 - Existem pessoas que são mais propensas a serem vítimas do comportamento? Se sim, você diria que são mais frágeis? Pessoas mais vulneráveis, como aquelas que estão sofrendo por uma perda, podem ser alvos de um ‘gaslighter’. Isso ocorre porque uma pessoa que está sofrendo pode estar em choque ou depressão e um manipulador verá essa pessoa como mais fácil de manipular por meio de fingimento de interesse e "bombardeio de amor". Uma “bomba de amor” é quando alguém exagera na quantidade de atenção e carinho que está dando a você no início de um relacionamento. Assim que o ‘gaslighter’ souber que o pegou, o abuso começa.

5 - Existe alguma forma de escapar dos manipuladores em potencial? Se sim, poderia nos dar algumas dicas? Se você está em um relacionamento com uma pessoa assim, é recomendável que considere deixá-la e bloquear os números de telefone e e-mails dela. Se você tem filhos com um manipulador, consulte um advogado de direito da família e considere fazer um plano detalhado de criação de filhos. Lembre-se de que, se você tentar sair da relação, o manipulador fará o que for preciso para que você fique. Isso é chamado de "pairar". O ‘gaslighter’ tem medo de perder seu “suprimento narcisista”, então, ele lhe dirá tudo o que achar que você deseja ouvir. Mas se você decidir permanecer no relacionamento, as promessas dele não serão cumpridas.

6 - A pessoa que pratica o Gaslighting tem noção do que faz? Como identificar se somos assim? Se uma pessoa cresceu com pais que eram manipuladores, ela pode perceber que está praticando os mesmos comportamentos em seus relacionamentos. Essa pessoa é mais propensa a buscar ajuda para seu comportamento, como por meio de aconselhamento. Outros manipuladores parecem estar conscientemente tentando ganhar poder e controle. Eles tendem a pensar que todo mundo tem um problema e que eles estão completamente bem. Este tipo de pessoa raramente procura ajuda

O livro'O Fenômeno Gaslighting', escrito pela americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental Foto: Cultrix

O Gaslighting e a indústria cultural

O fenômeno da manipulação entre as pessoas também foi descrito em diversos produtos da indústria cultural, sobretudo no cinema. O Gaslighting é pano de fundo de filmes como A Garota do Trem, O Bebê de Rosemary, O Sorriso de Monalisa, Beleza Americana e O Desespero de Veronika Voss. Também é possível notar o sofrimento da vítima de um manipulador na série Jessica Jones, da Netflix, na qual a protagonista sofre constantemente pelas ações do ‘gaslighter’ Kilgrave.

O manipulador usa da violência psicológica para criar um clima de dependência emocional e desprezo pelas vítimas Foto: Pixabay/kaboompics

Se você se sente desprezado, diminuído ou ‘refém’ de um relacionamento, cuidado: pode estar sofrendo com um fenômeno chamado Gaslighting. Não é comum que vítimas de manipuladores acreditem que perderam as noções de realidade, pois são constantemente questionadas por parceiros amorosos, chefes, amigos ou até mesmo pessoas da família, como pais, irmãos, tios ou filhos.  A violência psicológica está nos detalhes quando, por exemplo, alguém faz ‘chantagem emocional’ para consolidar uma relação de dependência: "Você vai sair e me deixar sozinho aqui?", "Não acho justo você dar mais atenção para a sua família do que para mim, que te amo mais do que tudo", "Eu fiz tudo por você e não retribui do jeito que deveria".

Normalmente, as vítimas se sentem como que ‘pisando em ovos’ e são incapazes de sair dessa situação, chegando a colocar em xeque a própria sanidade mental. Não é raro também ouvirem que "estão imaginando coisas" ou que "estão loucas". O filme Gaslight, dirigido por George Cukor, baseado na peça teatral de Patrick Hamilton, retrata o termo pela primeira vez, em 1944. Protagonizado por Ingrid Bergman, a trama conta a história da jovem que é manipulada pelo marido, que diminuía a intensidade da iluminação a gás da casa onde viviam para fazê-la acreditar que estava enlouquecendo. Mas o conceito de manipulação dos sentidos da realidade só recebeu o nome de Gaslighting 15 anos depois.

Como identificar uma pessoa manipuladora?

Olhando de fora, parece simples identificar um manipulador. Porém, quando estamos envolvidos em um relacionamento, essa tarefa é difícil. Uma situação bastante comum de prática de Gaslighting é notada em uma relação abusiva. O agressor normalmente busca provocar uma dependência da parceira para que ela se sinta impedida de fazer o que deseja. Outra forma é diminuir a autoestima da companheira para fazer acreditar que somente o parceiro irá aceitá-la.  Porém, a manipulação não acontece somente entre casais. De acordo com a americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental, o Gaslighting pode ocorrer na relação entre chefes e subordinados, pais e filhos (e vice-versa) ou outros familiares como irmãos, primos e tios. Com discursos de ódio ou desprezo, a intenção é desmoralizar a reputação do outro para conquistar um domínio emocional da situação.

A doutora e mestre em Aconselhamento de Saúde Mental pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, lançou o livro O Fenômeno Gaslighting, reunindo dezenas de casos reais praticados em ambiente familiar, entre amigos, no trabalho e até por figuras públicas em exercício de suas funções e defesa de seus interesses.  Apesar disso, Stephanie Moulton Sarkis garante que as vítimas podem resolver o problema de dependência do manipulador e se libertar. “É possível reconstruir a vida depois de se livrar de um manipulador. Você pode continuar a ter relacionamentos saudáveis ​​no futuro”, ressalta.

A reportagem do Estadão entrevistou Stephanie Moulton Sarkis, que também é especialista em clínica de saúde mental e em aconselhamento de crianças e adolescentes na Associação Americana dos Conselheiros de Saúde Mental, mediadora da família certificada pela Suprema Corte da Flórida e fundadora do Instituto Sarkis. Ela também escreve para o blog Psychology Today e o jornal The Huffington Post.1 - Do que se trata o fenômeno Gaslighting? Gaslighting é uma forma de abuso emocional. O objetivo de uma pessoa que está praticando a manipulação é obter controle e poder sobre alguém. Ela faz uma pessoa questionar sua realidade.

2 - No seu livro, você aborda a questão também entre pessoas da família, pais com os filhos. Você poderia mencionar alguns outros exemplos em que o Gaslighting ocorre e as pessoas não percebem? Os pais que usam de manipulação podem identificar seus filhos como “bons” ou “maus”, sem nenhum meio-termo. Um dia, a criança A é a criança “boa” e a criança B é a criança “má”. No dia seguinte, o pai inverte os papéis. Pais ‘gaslighters’ usarão a culpa como uma forma de fazer com que os filhos façam coisas por eles, em vez de fazer um simples pedido de ajuda. Pais ‘gaslighters’ também costumam arruinar feriados e celebrações agindo mal e precisando ser o centro das atenções.

3 - Qual é o perfil psicológico daqueles que praticam o Gaslighting? Pessoas que praticam Gaslighting podem ter traços narcisistas ou sociopatas. Eles ganham uma sensação de satisfação ao controlar os outros. Seu humor pode depender de quanta atenção eles recebem dos outros. Eles nunca podem encontrar pessoas suficientes para preencher seu "vazio narcisista". Se você definir limites também com manipulação, eles podem reagir com "fúria narcisista".

4 - Existem pessoas que são mais propensas a serem vítimas do comportamento? Se sim, você diria que são mais frágeis? Pessoas mais vulneráveis, como aquelas que estão sofrendo por uma perda, podem ser alvos de um ‘gaslighter’. Isso ocorre porque uma pessoa que está sofrendo pode estar em choque ou depressão e um manipulador verá essa pessoa como mais fácil de manipular por meio de fingimento de interesse e "bombardeio de amor". Uma “bomba de amor” é quando alguém exagera na quantidade de atenção e carinho que está dando a você no início de um relacionamento. Assim que o ‘gaslighter’ souber que o pegou, o abuso começa.

5 - Existe alguma forma de escapar dos manipuladores em potencial? Se sim, poderia nos dar algumas dicas? Se você está em um relacionamento com uma pessoa assim, é recomendável que considere deixá-la e bloquear os números de telefone e e-mails dela. Se você tem filhos com um manipulador, consulte um advogado de direito da família e considere fazer um plano detalhado de criação de filhos. Lembre-se de que, se você tentar sair da relação, o manipulador fará o que for preciso para que você fique. Isso é chamado de "pairar". O ‘gaslighter’ tem medo de perder seu “suprimento narcisista”, então, ele lhe dirá tudo o que achar que você deseja ouvir. Mas se você decidir permanecer no relacionamento, as promessas dele não serão cumpridas.

6 - A pessoa que pratica o Gaslighting tem noção do que faz? Como identificar se somos assim? Se uma pessoa cresceu com pais que eram manipuladores, ela pode perceber que está praticando os mesmos comportamentos em seus relacionamentos. Essa pessoa é mais propensa a buscar ajuda para seu comportamento, como por meio de aconselhamento. Outros manipuladores parecem estar conscientemente tentando ganhar poder e controle. Eles tendem a pensar que todo mundo tem um problema e que eles estão completamente bem. Este tipo de pessoa raramente procura ajuda

O livro'O Fenômeno Gaslighting', escrito pela americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental Foto: Cultrix

O Gaslighting e a indústria cultural

O fenômeno da manipulação entre as pessoas também foi descrito em diversos produtos da indústria cultural, sobretudo no cinema. O Gaslighting é pano de fundo de filmes como A Garota do Trem, O Bebê de Rosemary, O Sorriso de Monalisa, Beleza Americana e O Desespero de Veronika Voss. Também é possível notar o sofrimento da vítima de um manipulador na série Jessica Jones, da Netflix, na qual a protagonista sofre constantemente pelas ações do ‘gaslighter’ Kilgrave.

O manipulador usa da violência psicológica para criar um clima de dependência emocional e desprezo pelas vítimas Foto: Pixabay/kaboompics

Se você se sente desprezado, diminuído ou ‘refém’ de um relacionamento, cuidado: pode estar sofrendo com um fenômeno chamado Gaslighting. Não é comum que vítimas de manipuladores acreditem que perderam as noções de realidade, pois são constantemente questionadas por parceiros amorosos, chefes, amigos ou até mesmo pessoas da família, como pais, irmãos, tios ou filhos.  A violência psicológica está nos detalhes quando, por exemplo, alguém faz ‘chantagem emocional’ para consolidar uma relação de dependência: "Você vai sair e me deixar sozinho aqui?", "Não acho justo você dar mais atenção para a sua família do que para mim, que te amo mais do que tudo", "Eu fiz tudo por você e não retribui do jeito que deveria".

Normalmente, as vítimas se sentem como que ‘pisando em ovos’ e são incapazes de sair dessa situação, chegando a colocar em xeque a própria sanidade mental. Não é raro também ouvirem que "estão imaginando coisas" ou que "estão loucas". O filme Gaslight, dirigido por George Cukor, baseado na peça teatral de Patrick Hamilton, retrata o termo pela primeira vez, em 1944. Protagonizado por Ingrid Bergman, a trama conta a história da jovem que é manipulada pelo marido, que diminuía a intensidade da iluminação a gás da casa onde viviam para fazê-la acreditar que estava enlouquecendo. Mas o conceito de manipulação dos sentidos da realidade só recebeu o nome de Gaslighting 15 anos depois.

Como identificar uma pessoa manipuladora?

Olhando de fora, parece simples identificar um manipulador. Porém, quando estamos envolvidos em um relacionamento, essa tarefa é difícil. Uma situação bastante comum de prática de Gaslighting é notada em uma relação abusiva. O agressor normalmente busca provocar uma dependência da parceira para que ela se sinta impedida de fazer o que deseja. Outra forma é diminuir a autoestima da companheira para fazer acreditar que somente o parceiro irá aceitá-la.  Porém, a manipulação não acontece somente entre casais. De acordo com a americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental, o Gaslighting pode ocorrer na relação entre chefes e subordinados, pais e filhos (e vice-versa) ou outros familiares como irmãos, primos e tios. Com discursos de ódio ou desprezo, a intenção é desmoralizar a reputação do outro para conquistar um domínio emocional da situação.

A doutora e mestre em Aconselhamento de Saúde Mental pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, lançou o livro O Fenômeno Gaslighting, reunindo dezenas de casos reais praticados em ambiente familiar, entre amigos, no trabalho e até por figuras públicas em exercício de suas funções e defesa de seus interesses.  Apesar disso, Stephanie Moulton Sarkis garante que as vítimas podem resolver o problema de dependência do manipulador e se libertar. “É possível reconstruir a vida depois de se livrar de um manipulador. Você pode continuar a ter relacionamentos saudáveis ​​no futuro”, ressalta.

A reportagem do Estadão entrevistou Stephanie Moulton Sarkis, que também é especialista em clínica de saúde mental e em aconselhamento de crianças e adolescentes na Associação Americana dos Conselheiros de Saúde Mental, mediadora da família certificada pela Suprema Corte da Flórida e fundadora do Instituto Sarkis. Ela também escreve para o blog Psychology Today e o jornal The Huffington Post.1 - Do que se trata o fenômeno Gaslighting? Gaslighting é uma forma de abuso emocional. O objetivo de uma pessoa que está praticando a manipulação é obter controle e poder sobre alguém. Ela faz uma pessoa questionar sua realidade.

2 - No seu livro, você aborda a questão também entre pessoas da família, pais com os filhos. Você poderia mencionar alguns outros exemplos em que o Gaslighting ocorre e as pessoas não percebem? Os pais que usam de manipulação podem identificar seus filhos como “bons” ou “maus”, sem nenhum meio-termo. Um dia, a criança A é a criança “boa” e a criança B é a criança “má”. No dia seguinte, o pai inverte os papéis. Pais ‘gaslighters’ usarão a culpa como uma forma de fazer com que os filhos façam coisas por eles, em vez de fazer um simples pedido de ajuda. Pais ‘gaslighters’ também costumam arruinar feriados e celebrações agindo mal e precisando ser o centro das atenções.

3 - Qual é o perfil psicológico daqueles que praticam o Gaslighting? Pessoas que praticam Gaslighting podem ter traços narcisistas ou sociopatas. Eles ganham uma sensação de satisfação ao controlar os outros. Seu humor pode depender de quanta atenção eles recebem dos outros. Eles nunca podem encontrar pessoas suficientes para preencher seu "vazio narcisista". Se você definir limites também com manipulação, eles podem reagir com "fúria narcisista".

4 - Existem pessoas que são mais propensas a serem vítimas do comportamento? Se sim, você diria que são mais frágeis? Pessoas mais vulneráveis, como aquelas que estão sofrendo por uma perda, podem ser alvos de um ‘gaslighter’. Isso ocorre porque uma pessoa que está sofrendo pode estar em choque ou depressão e um manipulador verá essa pessoa como mais fácil de manipular por meio de fingimento de interesse e "bombardeio de amor". Uma “bomba de amor” é quando alguém exagera na quantidade de atenção e carinho que está dando a você no início de um relacionamento. Assim que o ‘gaslighter’ souber que o pegou, o abuso começa.

5 - Existe alguma forma de escapar dos manipuladores em potencial? Se sim, poderia nos dar algumas dicas? Se você está em um relacionamento com uma pessoa assim, é recomendável que considere deixá-la e bloquear os números de telefone e e-mails dela. Se você tem filhos com um manipulador, consulte um advogado de direito da família e considere fazer um plano detalhado de criação de filhos. Lembre-se de que, se você tentar sair da relação, o manipulador fará o que for preciso para que você fique. Isso é chamado de "pairar". O ‘gaslighter’ tem medo de perder seu “suprimento narcisista”, então, ele lhe dirá tudo o que achar que você deseja ouvir. Mas se você decidir permanecer no relacionamento, as promessas dele não serão cumpridas.

6 - A pessoa que pratica o Gaslighting tem noção do que faz? Como identificar se somos assim? Se uma pessoa cresceu com pais que eram manipuladores, ela pode perceber que está praticando os mesmos comportamentos em seus relacionamentos. Essa pessoa é mais propensa a buscar ajuda para seu comportamento, como por meio de aconselhamento. Outros manipuladores parecem estar conscientemente tentando ganhar poder e controle. Eles tendem a pensar que todo mundo tem um problema e que eles estão completamente bem. Este tipo de pessoa raramente procura ajuda

O livro'O Fenômeno Gaslighting', escrito pela americana Stephanie Moulton Sarkis, especialista em comportamento e saúde mental Foto: Cultrix

O Gaslighting e a indústria cultural

O fenômeno da manipulação entre as pessoas também foi descrito em diversos produtos da indústria cultural, sobretudo no cinema. O Gaslighting é pano de fundo de filmes como A Garota do Trem, O Bebê de Rosemary, O Sorriso de Monalisa, Beleza Americana e O Desespero de Veronika Voss. Também é possível notar o sofrimento da vítima de um manipulador na série Jessica Jones, da Netflix, na qual a protagonista sofre constantemente pelas ações do ‘gaslighter’ Kilgrave.

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