MeowTalk: Aplicativo que promete ‘decifrar’ miados de gatos funciona?


Viral no TikTok, ferramenta surpreendeu por acertar ‘traduções’ da linguagem felina; especialista em comportamento animal explica o que torna isso possível

Por Sabrina Legramandi

Vez ou outra, quem é tutor de gatos, especialmente dos mais “tagarelas”, já sentiu vontade de entender os miados que pets expressam em diferentes momentos do dia.

De volume a intervalo de tempo, cada tentativa de estabelecer uma comunicação com seres humanos representa necessidades e sentimentos que aguçam a curiosidade daqueles que os ouvem e tentam decifrá-los.

Recentemente, um aplicativo que assegura ter êxito nessa missão viralizou no TikTok: é o MeowTalk. Na rede, usuários se surpreenderam com as traduções, que vão desde um “me alimente” até “preciso de carinho”.

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No site do MeowTalk, os desenvolvedores prometem ser o primeiro aplicativo capaz de decifrar a linguagem felina. “Nós estamos usando aprendizados de última geração e ciência de dados para ir além de apenas adivinhar e captar sons”, diz um trecho que explica sobre a tecnologia do aplicativo.

O uso da ferramenta é relativamente simples: basta cadastrar o gato com o nome, gênero e idade e gravar um miado. O MeowTalk disponibiliza, até mesmo, uma função para ser utilizada em celulares antigos, chamada modo MeowRoom, que dispensa que a gravação seja iniciada manualmente.

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Mas será mesmo que o aplicativo é capaz de cumprir o que promete? Segundo Carlos Alberts, pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em comportamento animal, é possível que o MeowTalk realmente “traduza” alguns miados.

“Da mesma maneira que nós podemos reconhecer a comunicação não-verbal entre humanos, temos o potencial de entender a comunicação entre outros animais. Partindo desse princípio, a gente pode dizer que é possível fazer o que o MeowTalk fala que faz”, explica Alberts.

O especialista argumenta que, se os humanos conseguiram desenvolver o polígrafo, que detecta algo tão complexo quanto a verdade e a mentira, linguagens mais simples, como a dos gatos, também podem ser decifradas. A chave para isso, segundo ele, é entender como os felinos se comunicam com seres humanos.

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Sinais da linguagem humana são diferentes - ou opostos - da linguagem felina

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Para entender a comunicação dos gatos, é preciso saber que, tanto animais quanto seres humanos, possuem a linguagem não-verbal. Segundo Carlos Alberts, 70% da comunicação de humanos se dá por gestos, expressões ou pela velocidade da fala.

“É por isso que, quando a gente chega em um país em que não sabemos a língua, conseguimos tomar um café ou beber água mesmo assim”, exemplifica. Assim como seres humanos decifram a linguagem não-verbal entre si, animais também se comunicam não-verbalmente com tutores.

Os sinais, porém, podem se diferenciar – e até se opor. Alberts conta que humanos tendem a abrir os olhos e levantar as sobrancelhas quando possuem alguma afeição por outros humanos. Quando queremos evitar ou demonstrar descontentamento, fechamos os olhos.

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Para os gatos, acontece exatamente o oposto: fechar os olhos demonstra confiança. “É por isso que ouvimos tantos casos de pessoas que não gostam de gatos e que, ao chegarem em uma casa, são as escolhidas pelos gatos para que eles pulem no colo”, explica.

O pesquisador pontua que felinos que possuem contato com seres humanos se esforçam para se comunicar com os tutores. É por esse motivo que gatos adultos miam.

Os gatos solitários – aqueles que vivem sem contato com outros gatos ou com humanos – não utilizam a vocalização, já que os miados são usados para que mãe e filhote se comuniquem entre si.

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“Os gatos sociais mantêm um repertório comunicativo de quando eram filhotes e permanecem filhotes pelo resto da vida, do ponto de vista cultural e comunicativo”, diz Alberts.

O “padrão” da linguagem felina é o que pode garantir que o MeowTalk traduza as vocalizações. Conforme o especialista, gatos de diferentes partes do mundo expressam disponibilidade sexual, agressão ou relação de amizade da mesma maneira.

O banco de dados presente no aplicativo, alimentado todas as vezes em que é utilizado, garante que os miados sejam cada vez mais decodificados. Mas as falhas de “tradução” podem esbarrar em linguagens específicas de cada família.

“Uma parte da linguagem é criada com a família. Isso acontece, por exemplo, quando o gato faz um miado e o dono acha ‘bonitinho’. O som é reforçado pelo carinho do tutor”, afirma o pesquisador.

Aplicativos que transformam a linguagem humana em miados ou que ‘traduzem’ latidos serão possíveis?

Desenvolvimento de aplicativos como o MeowTalk representa desejo humano de se comunicar melhor com animais Foto: Pexels/Cats Coming

Após o sucesso do MeowTalk, tutores demandaram um aplicativo que “traduzisse” a linguagem humana em miados ou que fizessem o mesmo com latidos. Carlos Alberts pontua, porém, que as duas alternativas serão mais difíceis de serem desenvolvidas.

Apesar de os cães serem cientificamente mais estudados que os gatos, o aspecto vocal é bem mais analisado em felinos. Decifrar latidos exigiria uma base científica maior para os cachorros.

Para transformar a linguagem humana em miados, o aspecto cultural torna a tarefa mais complexa. “Existe uma diferença muito grande de como as pessoas falam com seus animais, especialmente diferenças culturais”, pontua o especialista.

Porém, para Alberts, uma coisa é certa: o gesto de tentar entender o que os animais têm a nos dizer é uma atitude interessante e bonita. “Normalmente, nós somos um pouco egoístas e superiores e não estamos interessados em comunicar o que queremos a eles. Isso demonstra que esses animais realmente viraram parte da família”, finaliza.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Vez ou outra, quem é tutor de gatos, especialmente dos mais “tagarelas”, já sentiu vontade de entender os miados que pets expressam em diferentes momentos do dia.

De volume a intervalo de tempo, cada tentativa de estabelecer uma comunicação com seres humanos representa necessidades e sentimentos que aguçam a curiosidade daqueles que os ouvem e tentam decifrá-los.

Recentemente, um aplicativo que assegura ter êxito nessa missão viralizou no TikTok: é o MeowTalk. Na rede, usuários se surpreenderam com as traduções, que vão desde um “me alimente” até “preciso de carinho”.

No site do MeowTalk, os desenvolvedores prometem ser o primeiro aplicativo capaz de decifrar a linguagem felina. “Nós estamos usando aprendizados de última geração e ciência de dados para ir além de apenas adivinhar e captar sons”, diz um trecho que explica sobre a tecnologia do aplicativo.

O uso da ferramenta é relativamente simples: basta cadastrar o gato com o nome, gênero e idade e gravar um miado. O MeowTalk disponibiliza, até mesmo, uma função para ser utilizada em celulares antigos, chamada modo MeowRoom, que dispensa que a gravação seja iniciada manualmente.

Mas será mesmo que o aplicativo é capaz de cumprir o que promete? Segundo Carlos Alberts, pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em comportamento animal, é possível que o MeowTalk realmente “traduza” alguns miados.

“Da mesma maneira que nós podemos reconhecer a comunicação não-verbal entre humanos, temos o potencial de entender a comunicação entre outros animais. Partindo desse princípio, a gente pode dizer que é possível fazer o que o MeowTalk fala que faz”, explica Alberts.

O especialista argumenta que, se os humanos conseguiram desenvolver o polígrafo, que detecta algo tão complexo quanto a verdade e a mentira, linguagens mais simples, como a dos gatos, também podem ser decifradas. A chave para isso, segundo ele, é entender como os felinos se comunicam com seres humanos.

Sinais da linguagem humana são diferentes - ou opostos - da linguagem felina

Para entender a comunicação dos gatos, é preciso saber que, tanto animais quanto seres humanos, possuem a linguagem não-verbal. Segundo Carlos Alberts, 70% da comunicação de humanos se dá por gestos, expressões ou pela velocidade da fala.

“É por isso que, quando a gente chega em um país em que não sabemos a língua, conseguimos tomar um café ou beber água mesmo assim”, exemplifica. Assim como seres humanos decifram a linguagem não-verbal entre si, animais também se comunicam não-verbalmente com tutores.

Os sinais, porém, podem se diferenciar – e até se opor. Alberts conta que humanos tendem a abrir os olhos e levantar as sobrancelhas quando possuem alguma afeição por outros humanos. Quando queremos evitar ou demonstrar descontentamento, fechamos os olhos.

Para os gatos, acontece exatamente o oposto: fechar os olhos demonstra confiança. “É por isso que ouvimos tantos casos de pessoas que não gostam de gatos e que, ao chegarem em uma casa, são as escolhidas pelos gatos para que eles pulem no colo”, explica.

O pesquisador pontua que felinos que possuem contato com seres humanos se esforçam para se comunicar com os tutores. É por esse motivo que gatos adultos miam.

Os gatos solitários – aqueles que vivem sem contato com outros gatos ou com humanos – não utilizam a vocalização, já que os miados são usados para que mãe e filhote se comuniquem entre si.

“Os gatos sociais mantêm um repertório comunicativo de quando eram filhotes e permanecem filhotes pelo resto da vida, do ponto de vista cultural e comunicativo”, diz Alberts.

O “padrão” da linguagem felina é o que pode garantir que o MeowTalk traduza as vocalizações. Conforme o especialista, gatos de diferentes partes do mundo expressam disponibilidade sexual, agressão ou relação de amizade da mesma maneira.

O banco de dados presente no aplicativo, alimentado todas as vezes em que é utilizado, garante que os miados sejam cada vez mais decodificados. Mas as falhas de “tradução” podem esbarrar em linguagens específicas de cada família.

“Uma parte da linguagem é criada com a família. Isso acontece, por exemplo, quando o gato faz um miado e o dono acha ‘bonitinho’. O som é reforçado pelo carinho do tutor”, afirma o pesquisador.

Aplicativos que transformam a linguagem humana em miados ou que ‘traduzem’ latidos serão possíveis?

Desenvolvimento de aplicativos como o MeowTalk representa desejo humano de se comunicar melhor com animais Foto: Pexels/Cats Coming

Após o sucesso do MeowTalk, tutores demandaram um aplicativo que “traduzisse” a linguagem humana em miados ou que fizessem o mesmo com latidos. Carlos Alberts pontua, porém, que as duas alternativas serão mais difíceis de serem desenvolvidas.

Apesar de os cães serem cientificamente mais estudados que os gatos, o aspecto vocal é bem mais analisado em felinos. Decifrar latidos exigiria uma base científica maior para os cachorros.

Para transformar a linguagem humana em miados, o aspecto cultural torna a tarefa mais complexa. “Existe uma diferença muito grande de como as pessoas falam com seus animais, especialmente diferenças culturais”, pontua o especialista.

Porém, para Alberts, uma coisa é certa: o gesto de tentar entender o que os animais têm a nos dizer é uma atitude interessante e bonita. “Normalmente, nós somos um pouco egoístas e superiores e não estamos interessados em comunicar o que queremos a eles. Isso demonstra que esses animais realmente viraram parte da família”, finaliza.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Vez ou outra, quem é tutor de gatos, especialmente dos mais “tagarelas”, já sentiu vontade de entender os miados que pets expressam em diferentes momentos do dia.

De volume a intervalo de tempo, cada tentativa de estabelecer uma comunicação com seres humanos representa necessidades e sentimentos que aguçam a curiosidade daqueles que os ouvem e tentam decifrá-los.

Recentemente, um aplicativo que assegura ter êxito nessa missão viralizou no TikTok: é o MeowTalk. Na rede, usuários se surpreenderam com as traduções, que vão desde um “me alimente” até “preciso de carinho”.

No site do MeowTalk, os desenvolvedores prometem ser o primeiro aplicativo capaz de decifrar a linguagem felina. “Nós estamos usando aprendizados de última geração e ciência de dados para ir além de apenas adivinhar e captar sons”, diz um trecho que explica sobre a tecnologia do aplicativo.

O uso da ferramenta é relativamente simples: basta cadastrar o gato com o nome, gênero e idade e gravar um miado. O MeowTalk disponibiliza, até mesmo, uma função para ser utilizada em celulares antigos, chamada modo MeowRoom, que dispensa que a gravação seja iniciada manualmente.

Mas será mesmo que o aplicativo é capaz de cumprir o que promete? Segundo Carlos Alberts, pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em comportamento animal, é possível que o MeowTalk realmente “traduza” alguns miados.

“Da mesma maneira que nós podemos reconhecer a comunicação não-verbal entre humanos, temos o potencial de entender a comunicação entre outros animais. Partindo desse princípio, a gente pode dizer que é possível fazer o que o MeowTalk fala que faz”, explica Alberts.

O especialista argumenta que, se os humanos conseguiram desenvolver o polígrafo, que detecta algo tão complexo quanto a verdade e a mentira, linguagens mais simples, como a dos gatos, também podem ser decifradas. A chave para isso, segundo ele, é entender como os felinos se comunicam com seres humanos.

Sinais da linguagem humana são diferentes - ou opostos - da linguagem felina

Para entender a comunicação dos gatos, é preciso saber que, tanto animais quanto seres humanos, possuem a linguagem não-verbal. Segundo Carlos Alberts, 70% da comunicação de humanos se dá por gestos, expressões ou pela velocidade da fala.

“É por isso que, quando a gente chega em um país em que não sabemos a língua, conseguimos tomar um café ou beber água mesmo assim”, exemplifica. Assim como seres humanos decifram a linguagem não-verbal entre si, animais também se comunicam não-verbalmente com tutores.

Os sinais, porém, podem se diferenciar – e até se opor. Alberts conta que humanos tendem a abrir os olhos e levantar as sobrancelhas quando possuem alguma afeição por outros humanos. Quando queremos evitar ou demonstrar descontentamento, fechamos os olhos.

Para os gatos, acontece exatamente o oposto: fechar os olhos demonstra confiança. “É por isso que ouvimos tantos casos de pessoas que não gostam de gatos e que, ao chegarem em uma casa, são as escolhidas pelos gatos para que eles pulem no colo”, explica.

O pesquisador pontua que felinos que possuem contato com seres humanos se esforçam para se comunicar com os tutores. É por esse motivo que gatos adultos miam.

Os gatos solitários – aqueles que vivem sem contato com outros gatos ou com humanos – não utilizam a vocalização, já que os miados são usados para que mãe e filhote se comuniquem entre si.

“Os gatos sociais mantêm um repertório comunicativo de quando eram filhotes e permanecem filhotes pelo resto da vida, do ponto de vista cultural e comunicativo”, diz Alberts.

O “padrão” da linguagem felina é o que pode garantir que o MeowTalk traduza as vocalizações. Conforme o especialista, gatos de diferentes partes do mundo expressam disponibilidade sexual, agressão ou relação de amizade da mesma maneira.

O banco de dados presente no aplicativo, alimentado todas as vezes em que é utilizado, garante que os miados sejam cada vez mais decodificados. Mas as falhas de “tradução” podem esbarrar em linguagens específicas de cada família.

“Uma parte da linguagem é criada com a família. Isso acontece, por exemplo, quando o gato faz um miado e o dono acha ‘bonitinho’. O som é reforçado pelo carinho do tutor”, afirma o pesquisador.

Aplicativos que transformam a linguagem humana em miados ou que ‘traduzem’ latidos serão possíveis?

Desenvolvimento de aplicativos como o MeowTalk representa desejo humano de se comunicar melhor com animais Foto: Pexels/Cats Coming

Após o sucesso do MeowTalk, tutores demandaram um aplicativo que “traduzisse” a linguagem humana em miados ou que fizessem o mesmo com latidos. Carlos Alberts pontua, porém, que as duas alternativas serão mais difíceis de serem desenvolvidas.

Apesar de os cães serem cientificamente mais estudados que os gatos, o aspecto vocal é bem mais analisado em felinos. Decifrar latidos exigiria uma base científica maior para os cachorros.

Para transformar a linguagem humana em miados, o aspecto cultural torna a tarefa mais complexa. “Existe uma diferença muito grande de como as pessoas falam com seus animais, especialmente diferenças culturais”, pontua o especialista.

Porém, para Alberts, uma coisa é certa: o gesto de tentar entender o que os animais têm a nos dizer é uma atitude interessante e bonita. “Normalmente, nós somos um pouco egoístas e superiores e não estamos interessados em comunicar o que queremos a eles. Isso demonstra que esses animais realmente viraram parte da família”, finaliza.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Vez ou outra, quem é tutor de gatos, especialmente dos mais “tagarelas”, já sentiu vontade de entender os miados que pets expressam em diferentes momentos do dia.

De volume a intervalo de tempo, cada tentativa de estabelecer uma comunicação com seres humanos representa necessidades e sentimentos que aguçam a curiosidade daqueles que os ouvem e tentam decifrá-los.

Recentemente, um aplicativo que assegura ter êxito nessa missão viralizou no TikTok: é o MeowTalk. Na rede, usuários se surpreenderam com as traduções, que vão desde um “me alimente” até “preciso de carinho”.

No site do MeowTalk, os desenvolvedores prometem ser o primeiro aplicativo capaz de decifrar a linguagem felina. “Nós estamos usando aprendizados de última geração e ciência de dados para ir além de apenas adivinhar e captar sons”, diz um trecho que explica sobre a tecnologia do aplicativo.

O uso da ferramenta é relativamente simples: basta cadastrar o gato com o nome, gênero e idade e gravar um miado. O MeowTalk disponibiliza, até mesmo, uma função para ser utilizada em celulares antigos, chamada modo MeowRoom, que dispensa que a gravação seja iniciada manualmente.

Mas será mesmo que o aplicativo é capaz de cumprir o que promete? Segundo Carlos Alberts, pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em comportamento animal, é possível que o MeowTalk realmente “traduza” alguns miados.

“Da mesma maneira que nós podemos reconhecer a comunicação não-verbal entre humanos, temos o potencial de entender a comunicação entre outros animais. Partindo desse princípio, a gente pode dizer que é possível fazer o que o MeowTalk fala que faz”, explica Alberts.

O especialista argumenta que, se os humanos conseguiram desenvolver o polígrafo, que detecta algo tão complexo quanto a verdade e a mentira, linguagens mais simples, como a dos gatos, também podem ser decifradas. A chave para isso, segundo ele, é entender como os felinos se comunicam com seres humanos.

Sinais da linguagem humana são diferentes - ou opostos - da linguagem felina

Para entender a comunicação dos gatos, é preciso saber que, tanto animais quanto seres humanos, possuem a linguagem não-verbal. Segundo Carlos Alberts, 70% da comunicação de humanos se dá por gestos, expressões ou pela velocidade da fala.

“É por isso que, quando a gente chega em um país em que não sabemos a língua, conseguimos tomar um café ou beber água mesmo assim”, exemplifica. Assim como seres humanos decifram a linguagem não-verbal entre si, animais também se comunicam não-verbalmente com tutores.

Os sinais, porém, podem se diferenciar – e até se opor. Alberts conta que humanos tendem a abrir os olhos e levantar as sobrancelhas quando possuem alguma afeição por outros humanos. Quando queremos evitar ou demonstrar descontentamento, fechamos os olhos.

Para os gatos, acontece exatamente o oposto: fechar os olhos demonstra confiança. “É por isso que ouvimos tantos casos de pessoas que não gostam de gatos e que, ao chegarem em uma casa, são as escolhidas pelos gatos para que eles pulem no colo”, explica.

O pesquisador pontua que felinos que possuem contato com seres humanos se esforçam para se comunicar com os tutores. É por esse motivo que gatos adultos miam.

Os gatos solitários – aqueles que vivem sem contato com outros gatos ou com humanos – não utilizam a vocalização, já que os miados são usados para que mãe e filhote se comuniquem entre si.

“Os gatos sociais mantêm um repertório comunicativo de quando eram filhotes e permanecem filhotes pelo resto da vida, do ponto de vista cultural e comunicativo”, diz Alberts.

O “padrão” da linguagem felina é o que pode garantir que o MeowTalk traduza as vocalizações. Conforme o especialista, gatos de diferentes partes do mundo expressam disponibilidade sexual, agressão ou relação de amizade da mesma maneira.

O banco de dados presente no aplicativo, alimentado todas as vezes em que é utilizado, garante que os miados sejam cada vez mais decodificados. Mas as falhas de “tradução” podem esbarrar em linguagens específicas de cada família.

“Uma parte da linguagem é criada com a família. Isso acontece, por exemplo, quando o gato faz um miado e o dono acha ‘bonitinho’. O som é reforçado pelo carinho do tutor”, afirma o pesquisador.

Aplicativos que transformam a linguagem humana em miados ou que ‘traduzem’ latidos serão possíveis?

Desenvolvimento de aplicativos como o MeowTalk representa desejo humano de se comunicar melhor com animais Foto: Pexels/Cats Coming

Após o sucesso do MeowTalk, tutores demandaram um aplicativo que “traduzisse” a linguagem humana em miados ou que fizessem o mesmo com latidos. Carlos Alberts pontua, porém, que as duas alternativas serão mais difíceis de serem desenvolvidas.

Apesar de os cães serem cientificamente mais estudados que os gatos, o aspecto vocal é bem mais analisado em felinos. Decifrar latidos exigiria uma base científica maior para os cachorros.

Para transformar a linguagem humana em miados, o aspecto cultural torna a tarefa mais complexa. “Existe uma diferença muito grande de como as pessoas falam com seus animais, especialmente diferenças culturais”, pontua o especialista.

Porém, para Alberts, uma coisa é certa: o gesto de tentar entender o que os animais têm a nos dizer é uma atitude interessante e bonita. “Normalmente, nós somos um pouco egoístas e superiores e não estamos interessados em comunicar o que queremos a eles. Isso demonstra que esses animais realmente viraram parte da família”, finaliza.

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