Logo na primeira semana do BBB 24, o cantor Rodriguinho fez uma série de comentários sobre a aparência, o corpo e os hábitos alimentares de Yasmin Brunet. Em uma conversa com Nizam, o brother disse que o físico da modelo “já foi melhor” e que ela se descuidou. Para a própria participante, que confessou sofrer com compulsão alimentar, ele chegou a apelidá-la de “Yasmin comer”. O Estadão tentou contato com a equipe dele para um posicionamento, mas não teve retorno. Veja acima.
As atitudes do brother despertaram uma discussão na internet sobre pressão estética. “Esse bando de homem mal diagramado chamando a Yasmin Brunet de descuidada e velha mostra o quanto a pressão estética deixa os homens confortáveis em julgar qualquer uma de nós”, diz uma das críticas em um post que viralizou no X, antigo Twitter.
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O que é pressão estética?
O Estadão falou com a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia pela PUC-SP, para explicar o que é pressão estética e como ela afeta a confiança das mulheres. “É uma forma de violência simbólica sofrida pelas mulheres, sustentada por uma ideia de dominação masculina, oriunda de nossa sociedade patriarcal”, explicou a profissional.
No Brasil, o ideal de beleza para mulheres, por exemplo, é ser magra e ter um corpo bem definido. Contudo, o padrão costuma variar de acordo com cada país, cultura e até faixa etária. “Apesar de termos características físicas próprias, muitas de nós passamos a buscar determinados atributos para nos encaixarmos no padrão: peso, altura, cor dos olhos e dos cabelos, tamanho dos seios e muito mais”, completou.
Karen Vogel, psicóloga e professora na The School of Life, diz que a grande questão da pressão estética é o quanto ela afeta a vida de alguém. “A grande questão é até quanto a minha vida gira em torno dessa busca [pela beleza ideal]. Todos podemos ter vontade de estarmos com a aparência melhor, mas o quanto isso me preocupa ou o quanto isso interfere no meu dia a dia vai ditar se a questão está saudável ou não”, disse ao Estadão.
A pressão pelo corpo ideal é tão forte que uma pesquisa feita pela Dove e pela Nike, de 2023, mostrou que 45% das adolescentes estão abandonando o esporte por baixa confiança com seus corpos — uma taxa duas vezes maior do que os meninos. A taxa cai para 34% no Brasil. Em outros locais, como no Japão ou Reino Unido, esse valor sobe para 51% e 57%.
Como afeta a confiança das mulheres?
Vanessa ainda afirma que qualquer mulher é alvo do padrão estético, mas as que estão fora de um padrão de beleza definidos socialmente são mais suscetíveis ao preconceito e discriminação. “Todos podem ser alvo. Principalmente, aquelas pessoas que vivem da imagem. Essas são as que mais se sentem escravas do perfeccionismo. Acabam sendo vítimas da comparação”, completou.
A psicóloga diz que os padrões de beleza influenciam em uma busca excessiva para se igualar à idealização de um corpo. Isso, inclusive, pode afetar diretamente a saúde mental e a confiança da mulher. “Influi em determinados transtornos, como a depressão, bulimia, ansiedade social, transtorno dismórfico corporal, entre outros”, disse Vanessa.
Ela também listou outras consequências, como a baixa autoestima, insegurança, compulsão alimentar, anorexia e uma busca desenfreada por cirurgias plásticas. A Sociedade Internacional de Cirurgia Plática Estética (ISAPS – International Society of Aesthetic Plastic Surgery) divulgou, em 2023, a Pesquisa Global Anual sobre Procedimentos Estéticos/Cosméticos. Os resultados mostraram um aumento geral de 11,2% nos procedimentos feitos por cirurgiões plásticos em 2022.
Como lidar?
A melhor maneira de lidar com a pressão estética, segundo Vanessa, é trabalhar na autoestima e fazer psicoterapia. “Se aceitar, não se comparar, entender que somos seres humanos imperfeitos e procurar outros modelos de beleza. Evitar seguir padrões irreais nas mídias sociais e que te fazem mal e que pregam por coisas editadas. Fazer terapia para o autoconhecimento também ajuda no fortalecimento e no autocuidado”, finalizou.
Karen Vogel complementa e reflete sobre a confiança. “Quando eu me amo e estou contente comigo mesma, não preciso ficar preocupada se serei aceita ou não, porque eu me aceito. Dentro deste raciocínio, a pessoa que caiu na pressão pela estética deve observar como seria sua vida se o seu corpo fosse fora dos padrões. Você teria medo do que? E o que aconteceria se você não fosse aceito em determinado grupo?”, disse.
Para a psicóloga e professora da The School of Life, a pessoa confiante fica bem mesmo se alguém do mesmo grupo, por exemplo, tiver qualidades diferentes. “A confiança poderia vir desse lugar onde eu fico bem mesmo se o outro for mais preferido que eu, ou se o outro ganhou mais olhares do que eu, se o outro tem mais sucesso que eu. Esse olhar comparativo está muito presente nas pessoas que sentem a pressão pela estética”, completou.
Para finalizar, Karen relembrou ser possível se sentir bem mesmo sem ter um corpo padrão. Ainda, reforça a importância de conversar sobre assuntos delicados, como comportamentos alimentares, pressão estética, autoestima e insegurança — temas que estão sendo discutidos nas primeiras semanas do BBB.
“Esses assuntos são a grande oportunidade que esse BBB está nos oferecendo, de falarmos sobre essas questões abertamente porque atrás desse culto ao corpo, estão assuntos que, muitas vezes, não queremos mexer, temos vergonha, nos sentimos inadequados e a estética vem como uma forma de ‘camuflar’ tudo isso, para eu me esquivar e ir na academia malhar e deixar a minha insegurança para lá. Isso não é regra, claro, nem todos estão dentro deste padrão de esquiva, mas é necessário olhar e falarmos a respeito desses temas”, finalizou a profissional da saúde.