O que é uma ekedi no candomblé, cargo que cantora Anitta possui


Artista publicou stories sobre o tema após ter sua religião associada a um rumor de que teria ‘raspado o cabelo’

Por João Pedro Malar
Atualização:
Anitta gravou stories em que revelou ter recebido comentários preconceituosos devido a sua religião Foto: YouTube / Reprodução

A cantora Anitta publicou uma série de stories na terça-feira, 10, em que negou os rumores de que teria “raspado o cabelo” devido a sua religião, o candomblé. Durante a gravação, a artista disse que era uma ekedi, e sugeriu que os seguidores pesquisassem sobre o termo e entendessem o que ele representa. Mas afinal, o que é uma ekedi?

Gracila Medeiros, ekedi em um terreiro de candomblé, explica que, dentro da religião, a palavra representa um cargo feminino, tido por mulheres que “não incorporam”, ou “entram em transe”, ou seja, não recebem um orixá, termo que abrange as divindades que compõem a religião. A palavra ekedi também pode ser encontrada escrita como equedi ou ekedji.

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“Quando se torna ekedi é porque algum orixá escolheu a gente para esse cargo”, explica ela. Essa escolha é chamado de “ato de suspender”, ou seja, a ekedi é suspensa por um determinado orixá. Para Gracila, as funções de uma ekedi podem ser resumidas por um verbo: cuidar, e uma ekedi ocupa um posto elevado na hierarquia da religião.

“Se algum orixá a escolheu, parte do pressuposto que ela cuidará desse orixá, será os olhos dele enquanto ele está em terra, e também cuida de todos os orixás que estão em terra”, explica ela. Além disso, a ekedi também cuida da própria casa, da preparação dos ritos e de alimentos e do bem-estar das pessoas que frequentam o local. “É mãe, literalmente”, explica Gracila.

Ekedi há dois anos, a socióloga conta que chegou a ter o cabelo raspado como parte do rito de iniciação, que termina quando “o orixá que escolhe traz você para o salão do terreiro e dá seu nome”. Entretanto, a raspagem do cabelo não é uma regra em todos os terreiros.

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“Não existe certo ou errado, existem modos diferentes de ver ou fazer a mesma coisa e de cultuar essas divindades”, explica Gracila. Ela observa que “as pessoas querem olhar para o candomblé como para outras religiões, que têm um livro guia”, mas o candomblé é baseado em tradição oral, o que leva a essas variações.

Gracila lembra que os orixás presentes no candomblé são “herdados da cultura africana. Quando os africanos foram arrancados [da África], trazidos à força [para a América], trouxeram sua religiosidade e suas divindades. O candomblé se reorganiza de maneiras diferentes”.

“Ser ekedi é um eterno aprendizado, para todo mundo. Não só dentro do terreiro, mas fora dele, aprender no cotidiano, os ritos, todo dia é um aprendizado novo, diferente, você vai crescendo”, conta ela. 

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Preconceito e representatividade

Além de negar os rumores que surgiram sobre ter raspado ou não seu cabelo, Anitta destacou que recebeu comentários ligando sua imagem a "rituais satânicos" e afirmando que ela estaria "inventando doença", mostrando o preconceito devido a sua religião.

“Todos nós sofremos, o tempo todo, em diferentes graus”, afirmou Gracila sobre o preconceito contra pessoas do candomblé. Ela comenta que não é uma exceção, e que já sofreu “perseguição religiosa no trabalho”.

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“É um trauma que carrego para toda vida. Não é [uma ação] velada, é bem incisiva”, afirma. Sobre a questão de raspar os cabelos, Gracila lembra que quando teve sua cabeça raspada surgiram questionamentos em seu ambiente de trabalho, com pessoas perguntando se ela estava com câncer.

A ekedi considera que é importante haver pessoas conhecidas que assumam seguir o candomblé, e que falem sobre o tema. “Toda representatividade é importante, quando alguém usa a mídia em favor de um grupo minoritário, comunidade, é muito bem-vindo. A pessoa tem influência, colocar a pessoa na mídia, pode ser usado para benefício do grupo”.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

Anitta gravou stories em que revelou ter recebido comentários preconceituosos devido a sua religião Foto: YouTube / Reprodução

A cantora Anitta publicou uma série de stories na terça-feira, 10, em que negou os rumores de que teria “raspado o cabelo” devido a sua religião, o candomblé. Durante a gravação, a artista disse que era uma ekedi, e sugeriu que os seguidores pesquisassem sobre o termo e entendessem o que ele representa. Mas afinal, o que é uma ekedi?

Gracila Medeiros, ekedi em um terreiro de candomblé, explica que, dentro da religião, a palavra representa um cargo feminino, tido por mulheres que “não incorporam”, ou “entram em transe”, ou seja, não recebem um orixá, termo que abrange as divindades que compõem a religião. A palavra ekedi também pode ser encontrada escrita como equedi ou ekedji.

“Quando se torna ekedi é porque algum orixá escolheu a gente para esse cargo”, explica ela. Essa escolha é chamado de “ato de suspender”, ou seja, a ekedi é suspensa por um determinado orixá. Para Gracila, as funções de uma ekedi podem ser resumidas por um verbo: cuidar, e uma ekedi ocupa um posto elevado na hierarquia da religião.

“Se algum orixá a escolheu, parte do pressuposto que ela cuidará desse orixá, será os olhos dele enquanto ele está em terra, e também cuida de todos os orixás que estão em terra”, explica ela. Além disso, a ekedi também cuida da própria casa, da preparação dos ritos e de alimentos e do bem-estar das pessoas que frequentam o local. “É mãe, literalmente”, explica Gracila.

Ekedi há dois anos, a socióloga conta que chegou a ter o cabelo raspado como parte do rito de iniciação, que termina quando “o orixá que escolhe traz você para o salão do terreiro e dá seu nome”. Entretanto, a raspagem do cabelo não é uma regra em todos os terreiros.

“Não existe certo ou errado, existem modos diferentes de ver ou fazer a mesma coisa e de cultuar essas divindades”, explica Gracila. Ela observa que “as pessoas querem olhar para o candomblé como para outras religiões, que têm um livro guia”, mas o candomblé é baseado em tradição oral, o que leva a essas variações.

Gracila lembra que os orixás presentes no candomblé são “herdados da cultura africana. Quando os africanos foram arrancados [da África], trazidos à força [para a América], trouxeram sua religiosidade e suas divindades. O candomblé se reorganiza de maneiras diferentes”.

“Ser ekedi é um eterno aprendizado, para todo mundo. Não só dentro do terreiro, mas fora dele, aprender no cotidiano, os ritos, todo dia é um aprendizado novo, diferente, você vai crescendo”, conta ela. 

Preconceito e representatividade

Além de negar os rumores que surgiram sobre ter raspado ou não seu cabelo, Anitta destacou que recebeu comentários ligando sua imagem a "rituais satânicos" e afirmando que ela estaria "inventando doença", mostrando o preconceito devido a sua religião.

“Todos nós sofremos, o tempo todo, em diferentes graus”, afirmou Gracila sobre o preconceito contra pessoas do candomblé. Ela comenta que não é uma exceção, e que já sofreu “perseguição religiosa no trabalho”.

“É um trauma que carrego para toda vida. Não é [uma ação] velada, é bem incisiva”, afirma. Sobre a questão de raspar os cabelos, Gracila lembra que quando teve sua cabeça raspada surgiram questionamentos em seu ambiente de trabalho, com pessoas perguntando se ela estava com câncer.

A ekedi considera que é importante haver pessoas conhecidas que assumam seguir o candomblé, e que falem sobre o tema. “Toda representatividade é importante, quando alguém usa a mídia em favor de um grupo minoritário, comunidade, é muito bem-vindo. A pessoa tem influência, colocar a pessoa na mídia, pode ser usado para benefício do grupo”.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

Anitta gravou stories em que revelou ter recebido comentários preconceituosos devido a sua religião Foto: YouTube / Reprodução

A cantora Anitta publicou uma série de stories na terça-feira, 10, em que negou os rumores de que teria “raspado o cabelo” devido a sua religião, o candomblé. Durante a gravação, a artista disse que era uma ekedi, e sugeriu que os seguidores pesquisassem sobre o termo e entendessem o que ele representa. Mas afinal, o que é uma ekedi?

Gracila Medeiros, ekedi em um terreiro de candomblé, explica que, dentro da religião, a palavra representa um cargo feminino, tido por mulheres que “não incorporam”, ou “entram em transe”, ou seja, não recebem um orixá, termo que abrange as divindades que compõem a religião. A palavra ekedi também pode ser encontrada escrita como equedi ou ekedji.

“Quando se torna ekedi é porque algum orixá escolheu a gente para esse cargo”, explica ela. Essa escolha é chamado de “ato de suspender”, ou seja, a ekedi é suspensa por um determinado orixá. Para Gracila, as funções de uma ekedi podem ser resumidas por um verbo: cuidar, e uma ekedi ocupa um posto elevado na hierarquia da religião.

“Se algum orixá a escolheu, parte do pressuposto que ela cuidará desse orixá, será os olhos dele enquanto ele está em terra, e também cuida de todos os orixás que estão em terra”, explica ela. Além disso, a ekedi também cuida da própria casa, da preparação dos ritos e de alimentos e do bem-estar das pessoas que frequentam o local. “É mãe, literalmente”, explica Gracila.

Ekedi há dois anos, a socióloga conta que chegou a ter o cabelo raspado como parte do rito de iniciação, que termina quando “o orixá que escolhe traz você para o salão do terreiro e dá seu nome”. Entretanto, a raspagem do cabelo não é uma regra em todos os terreiros.

“Não existe certo ou errado, existem modos diferentes de ver ou fazer a mesma coisa e de cultuar essas divindades”, explica Gracila. Ela observa que “as pessoas querem olhar para o candomblé como para outras religiões, que têm um livro guia”, mas o candomblé é baseado em tradição oral, o que leva a essas variações.

Gracila lembra que os orixás presentes no candomblé são “herdados da cultura africana. Quando os africanos foram arrancados [da África], trazidos à força [para a América], trouxeram sua religiosidade e suas divindades. O candomblé se reorganiza de maneiras diferentes”.

“Ser ekedi é um eterno aprendizado, para todo mundo. Não só dentro do terreiro, mas fora dele, aprender no cotidiano, os ritos, todo dia é um aprendizado novo, diferente, você vai crescendo”, conta ela. 

Preconceito e representatividade

Além de negar os rumores que surgiram sobre ter raspado ou não seu cabelo, Anitta destacou que recebeu comentários ligando sua imagem a "rituais satânicos" e afirmando que ela estaria "inventando doença", mostrando o preconceito devido a sua religião.

“Todos nós sofremos, o tempo todo, em diferentes graus”, afirmou Gracila sobre o preconceito contra pessoas do candomblé. Ela comenta que não é uma exceção, e que já sofreu “perseguição religiosa no trabalho”.

“É um trauma que carrego para toda vida. Não é [uma ação] velada, é bem incisiva”, afirma. Sobre a questão de raspar os cabelos, Gracila lembra que quando teve sua cabeça raspada surgiram questionamentos em seu ambiente de trabalho, com pessoas perguntando se ela estava com câncer.

A ekedi considera que é importante haver pessoas conhecidas que assumam seguir o candomblé, e que falem sobre o tema. “Toda representatividade é importante, quando alguém usa a mídia em favor de um grupo minoritário, comunidade, é muito bem-vindo. A pessoa tem influência, colocar a pessoa na mídia, pode ser usado para benefício do grupo”.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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