Todo mundo que tem um pet em casa teme que o animal fique doente repentinamente, seja pela ideia de perder o bicho de estimação ou, até mesmo, com os gastos excessivos que acabam surgindo.
É importante estar preparado para esta situação, mas, o que muitos tutores não sabem, é que simples ações podem fazer toda a diferença para trazer o máximo de conforto na hora que um pet adoece.
Para esclarecer esses pontos a consultora comportamental de cães e gatos e blogueira do Comportamento Animal no Emais, Luiza Cervenka, listou os dez erros mais comuns que os tutores de pets comentem quando o animal tem alguma doença. Confira:
Abandonar o tratamento
O primeiro erro apontado pela especialista é quando o tutor decide interromper ou abandonar ou tratamento, principalmente em situações mais graves ou terminais.
"Um erro comum é o tutor abandonar o tratamento, especialmente em doenças mais graves. Por exemplo, o pet está com uma doença terminal, mas ele ainda vai levar um tempo para morrer, mas o tutor, simplesmente, abandona qualquer tipo de tratamento. Hoje nós temos o cuidado paleativo, que é muito importante, tanto para o pet quanto para o tutor, que serve para minimizar a dor e para lidar com a possibilidade de um luto. É muito importante que não se desista do pet, que dê qualidade de vida para ele e bem-estar até o último segundo da vida dele", enfatiza a consultora.
Demonstrar emoção em excesso na presença do pet
Outro equívoco, segundo Luiza, é repassar ao pet a nossa instabilidade emocional diante da situação de doença.
"A alteração emocional dos tutores é muito lida pelos pets, só que normalmente os pets não conseguem compreender a motivação daquela alteração emocional. Por exemplo, um tutor que chora muito, que fica muito angustiado, e que demonstra isso ao pet, acabando passando essa angústia para o animal, porque o bicho acaba, muitas vezes, lendo o ambiente através das reações do tutor", afirma.
Contudo, a consultora faz uma ressalva: "Não que o tutor não possa chorar na frente do pet, mas ele precisa ter o mínimo de suporte emocional e conversar com esse pet para que isso seja compreendido senão, deixar o animal angustiado pode gerar uma imunossupressão, causando uma diminuição do potencial da resposta do sistema imunológico, e o pet ter uma piora", alerta Luiza.
Excesso de ações rotineiras que são negativas ao pet
De acordo com a especialista, práticas de rotina de um pet doente, como tomar injeções e ingerir medicações, que geralmente causam incômodo, quando feitas em excesso, podem trazer estresse ao animal.
"Idas constantes ao veterinário, aplicações de injeções e medicamentos, por exemplo, são atitudes que podem ser consideradas negativas, quando praticadas em excesso. O ideal é fazer uma dessensibilização, que é ensinar o pet a gostar ou se estressar o mínimo possível com essas rotinas referentes a quando ele está doente. Brigar com o pet também se inclui nesse grupo de interações negativas. Por exemplo, se o cachorro está com algum tipo de problema que ele não consegue controlar, como fazer urina e fezes pelo meio do caminho, ou se ele vomita em qualquer lugar, brigar com ele pode ser muito negativo", avisa Luiza.
Focar mais na doença do que na cura
Outra atitude errada, que tem mais a ver com a postura do tutor, do que uma prática de ação em si, é focar mais nos problemas da doença do que na cura para a debilidade.
"Muitas vezes o pet tem um problema e a gente leva muito tempo para descobrir a razão daquilo. O pet está vomitando, está com diarreia, mas faz todos os exames e não acusa nada. Quando a gente descobre aquela doença, por mais que seja uma doença horrorosa, a gente vibra por essa doença, ao invés de vibrar por uma cura", explica Luiza, que traz ainda outro ponto de vista sobre a questão.
"Também pode ser pelo fato de que muitas pessoas utilizam a doença do pet com uma forma de chamar a atenção. Posta nas redes sociais para chamar a atenção ou obter, até mesmo, dinheiro com vaquinhas on-line. Quando o pet melhora, muitas vezes, o tutor que tem esse comportamento, nem conta, porque prefere ficar naquele pesar que a situação da doença traz", opina a consultora.
Inibição do apetite do pet
Mais um problema grave quando o pet está debilitado são atitudes que os tutores tomam que acabam inibindo o apetite do animal, que é crucial para a melhora.
"A depender da doença, o tutor começa a ficar muito neurótico com limpeza, e com isso ele acaba utilizando alguns produtos com cheiros mais fortes que podem enjoar o pet, ou fazer com que ele não tenha tanta vontade de se alimentar, principalmente se a limpeza com esse produto mais forte for feita no local que o animal se alimenta ou no potinho de água e de comida", explica a blogueira.
"Outra possibilidade também é quando o cachorro fica doente, ele acaba tendo um odor mais forte e daí, para tentar inibir esse cheiro, os tutores acabam colocando muito perfume, dando mais banho, e isso também vai irritando e vai diminuindo o apetite do pet. Além disso aqueles perfuminhos de ambiente também interferem no apetite", alerta Luiza.
Outro ponto importante para não interfirir no apetite do animal é a mudança de rotina, segundo a especialista.
"Alguns pets não gostam de mudar a sua rotina, então se você muda a rotina, adicionando coisas alimentares novas, eles não gostam e isso pode inibir o apetite sim, principalmente com o cheio da alimentação nova", diz a consultora.
Negação da doença
Mais um erro grave e muito comum que os tutores de pet praticam é negar a doença do animal.
"Outro problema que é complicado é a negação. O pet fica doente e o tutor entra em negação e não aceita que o animal está doente. 'Eu não preciso fazer isso, o veterinário indicou isso mas não precisa, imagina vai curar'. A negação é algo muito preocupante porque a doença vai agravando", diz.
Presença de novos animais
Trazer novos animais para próximo do pet doente é outra atitude negativa que pode causar muito estresse ao bichinho doente.
"É muito comum que, com o receio da perda daquele animal, o tutor resolva adotar outro pet. Essa é uma das piores coisas que podem ser feitas, porque o pet já está com dificuldade de lidar com uma situação nova, que é a doença, e ele geralmente está idoso ou está debilitado, daí vem um pet novo, com muita energia, que provavelmente vai querer brincar. Para o pet doente é a pior coisa que pode acontecer. Sendo assim, o ideal é não ter nenhum tipo de novidade na rotina desse pet, principalmente com a introdução de qualquer ser novo, não só outros pets, mas também pessoas novas. Não é uma coisa que faz bem para ele", orienta a especialista.
Terceirizar os cuidados
Direcionar os cuidados com o pet doente a terceiros é outro erro grave, que pode causa estresse e angústia no animal.
"Alguns poucos tutores acabam não tendo condições emocionais de lidar com a possibilidade de morte ou com a doença do pet, e acabam terceirizando os cuidados para uma outra pessoa. Então, eles acabam se afastando dos pets de alguma forma e isso é muito ruim. Essa alternância entre antes, quando o pet era super apegado, e agora, na fase doente, o dono tenta se desapegar, ou o contrário, o pet antes era mais isolado, ficava no quintal, e agora, o tutor decide ficar o tempo todo com ele é um grande problema", afirma Luiza.
Tutor não busca ajuda
A especialista alerta também que, quando o tutor acredita que vai dar conta de cuidar do animal doente sozinho, ele pode acabar agravando a situação, tanto do pet quanto a dele próprio.
"Um dos erros que eu percebo é quando o tutor acha que ele é o super-herói que vai dar conta de tudo. E quando temos um pet que amamos muito, temos uma fragilidade, ficamos com uma dificuldade de lidar com várias questões. Quando o tutor não busca ajuda, seja um apoio psicológico, seja conversar com amigos para dividir isso, seja ter um suporte familiar, tanto em termos emocionais quanto financeiros, é um equívoco. Esse é um grande erro de simplesmente não pedir ajuda, de não permitir esse suporte. É muito importante ter uma rede de apoio para lidar com a situação. Muitos tutores negam isso, acham que vão dar conta sozinhos, mas não dão."
O pior erro de todos: Poupar o pet ao máximo
O erro mais grave, segundo a Luiza, é poupar o pet de sofrimento ou estresse quando o diagnóstico dele não pede isso.
"O maior erro é tentar poupar o pet ao máximo. Um exemplo, o cachorro não tem nenhum problema locomotor, e sim um problema renal, mas o tutor decide não passear mais com o pet ao ar livre para evitar estresse e para de manter a rotina de exercícios que o pet tinha, e o adestramento. Esse é o pior erro de todos", enfatiza a especialista.
"O pet tem uma necessidade de rotina, ele gosta, e se não há uma orientação do veterinário de suspender alguma atividade, não há motivos para a interrupção. Se o cachorro está acostumado a ter enriquecimento ambiental, através de dispositivos alimentares, isso deve ser continuado; se ele está acostumado a passear duas ou três vezes ao dia, isso deve continuar; se ele está acostumado a ir para a creche, isso deve continuar, a não ser que o médico veterinário instrua o contrário", finaliza.