Por que histórias de crimes são tão fascinantes?


Sucesso do tema no entretenimento e na mídia é explicado pela psicologia

Por Luiza Pollo
A série 'Mindhunter' é um dos maisrecentes sucessos ao retratar a investigação psicológica. O psiquiatra Daniel Martins de Barros explica que um dos motivos para ficarmos tão 'viciados' em séries desse tipo é quenosso cérebro adora resolver problemas Foto: Patrick Harbron/Netflix

“Hae Min Lee, uma estudante do último ano do ensino médio, desapareceu um dia depois da aula em 1999 em Baltimore County, Maryland, nos Estados Unidos. Um mês depois, seu corpo foi encontrado em um parque. Ela havia sido estrangulada. O namorado da garota, Adnan Syed, de 17 anos, foi condenado à prisão perpétua pelo crime. O caso contra ele foi em grande parte baseado na história de uma testemunha, Jay, amigo de Adnan que afirma tê-lo ajudado a enterrar o corpo. Adnan sempre negou ter envolvimento na morte de Hae. Algumas pessoas acreditam que ele está dizendo a verdade. Muitas outras não.”

Se você se interessou por essa história, não está sozinho. O texto é a sinopse do premiado podcast Serial, de 2014, que em menos de dois meses alcançou 10 milhões de downloads – um recorde para o formato.

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Apesar de ser consumida como entretenimento, a história é real. Mas não precisa se sentir culpado; é normal se interessar pelos detalhes da resolução de um crime. “A curiosidade tem a ver com o crime que está dentro das pessoas, as questões instintivas que existem em todos nós. A maioria controla, não se deixa levar. Mas ele [o criminoso] espelha um pouco aqueles instintos que existem dentro de nós”, explica Alvino Augusto de Sá, psicólogo e professor de Criminologia no Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da USP.

Isso não quer dizer que sejamos criminosos em potencial, tranquiliza o psiquiatra Daniel Martins de Barros. “O criminoso mexe com a nossa condição. É um cara que faz o que quer e dá uma certa inveja, digamos assim. Ficamos curiosos com o que leva um sujeito a conseguir transgredir essa regra.”

E para o nosso alívio não é só o criminoso que causa identificação. Assistir a um investigador ou policial em ação também tem grande peso na fixação pelo crime. “Resolver problemas é uma atividade que traz prazer. Encontrar uma solução de um enigma, resolver um quebra-cabeça traz uma sensação de recompensa”, diz Barros. Portanto, aquelas histórias que envolvem mistério, dúvida, o ‘quem foi?’ podem ter esse resultado no nosso cérebro.

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Além da projeção nos personagens, assistir a filmes de terror, suspense ou a cenas ficcionais de crime nos coloca frente ao medo em um ambiente controlado, afirmam os especialistas. E, apesar de parecer contraditório, a psicologia defende que 'gostamos' de sentir medo. Parte do prazer vem da liberação da adrenalina nessas situações.

Scott Bonn, professor de criminologia na Drew University e autor do livro Why We Love Serial Killers (Por Que Amamos Assassinos em Série, em tradução livre) detalha em um artigo publicado na revista Time: “As pessoas recebem uma ‘descarga’ de adrenalina como uma recompensa ao testemunhar ações terríveis. A adrenalina é um hormônio que produz um efeito poderoso, estimulante e até viciante no cérebro.” 

Mas os especialistas pedem cuidado para não deixar a ficção interferir na forma como lidamos com a realidade. “A identificação com a vítima é um grande problema na Justiça”, diz Sá. “As pessoas que se identificam com a vítima querem vingança, forma-se um clamor público que alimenta o julgamento formal feito pelo Estado.” O psicólogo defende que o apoio à vítima precisa vir na forma de solidariedade, não de desejo de vingança.

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Além disso, vale lembrar que o entretenimento costuma idealizar as investigações. Barros explica que, no Brasil, psiquiatras e psicólogos costumam ajudar a identificar se há alguma questão psicológica que possa ter influência na Justiça. “Pode ser num crime, mas também num processo trabalhista, por exemplo. É uma coisa muito mais burocrática”, diz o psiquiatra.

Sá ainda inclui que, ao contrário do que costumamos ver no entretenimento, os casos de criminosos seriais não são os mais comuns, pelo menos aqui no País. “Eles atraem muita atenção, mas não é a realidade do Brasil. Eu não me disponho a aceitar orientar trabalhos de alunos que queiram se debruçar sobre isso. Um crime ou outro com esses requintes de crueldade ocupam tanto espaço e dão a impressão de ser comuns.” 

Portanto, desde que você se lembre de não deixar a ficção influenciar sua percepção da realidade, agora tem como justificar a dificuldade em parar a maratona de Mindhunter, CSI ou outro crime de sua preferência... 

A série 'Mindhunter' é um dos maisrecentes sucessos ao retratar a investigação psicológica. O psiquiatra Daniel Martins de Barros explica que um dos motivos para ficarmos tão 'viciados' em séries desse tipo é quenosso cérebro adora resolver problemas Foto: Patrick Harbron/Netflix

“Hae Min Lee, uma estudante do último ano do ensino médio, desapareceu um dia depois da aula em 1999 em Baltimore County, Maryland, nos Estados Unidos. Um mês depois, seu corpo foi encontrado em um parque. Ela havia sido estrangulada. O namorado da garota, Adnan Syed, de 17 anos, foi condenado à prisão perpétua pelo crime. O caso contra ele foi em grande parte baseado na história de uma testemunha, Jay, amigo de Adnan que afirma tê-lo ajudado a enterrar o corpo. Adnan sempre negou ter envolvimento na morte de Hae. Algumas pessoas acreditam que ele está dizendo a verdade. Muitas outras não.”

Se você se interessou por essa história, não está sozinho. O texto é a sinopse do premiado podcast Serial, de 2014, que em menos de dois meses alcançou 10 milhões de downloads – um recorde para o formato.

Apesar de ser consumida como entretenimento, a história é real. Mas não precisa se sentir culpado; é normal se interessar pelos detalhes da resolução de um crime. “A curiosidade tem a ver com o crime que está dentro das pessoas, as questões instintivas que existem em todos nós. A maioria controla, não se deixa levar. Mas ele [o criminoso] espelha um pouco aqueles instintos que existem dentro de nós”, explica Alvino Augusto de Sá, psicólogo e professor de Criminologia no Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da USP.

Isso não quer dizer que sejamos criminosos em potencial, tranquiliza o psiquiatra Daniel Martins de Barros. “O criminoso mexe com a nossa condição. É um cara que faz o que quer e dá uma certa inveja, digamos assim. Ficamos curiosos com o que leva um sujeito a conseguir transgredir essa regra.”

E para o nosso alívio não é só o criminoso que causa identificação. Assistir a um investigador ou policial em ação também tem grande peso na fixação pelo crime. “Resolver problemas é uma atividade que traz prazer. Encontrar uma solução de um enigma, resolver um quebra-cabeça traz uma sensação de recompensa”, diz Barros. Portanto, aquelas histórias que envolvem mistério, dúvida, o ‘quem foi?’ podem ter esse resultado no nosso cérebro.

Além da projeção nos personagens, assistir a filmes de terror, suspense ou a cenas ficcionais de crime nos coloca frente ao medo em um ambiente controlado, afirmam os especialistas. E, apesar de parecer contraditório, a psicologia defende que 'gostamos' de sentir medo. Parte do prazer vem da liberação da adrenalina nessas situações.

Scott Bonn, professor de criminologia na Drew University e autor do livro Why We Love Serial Killers (Por Que Amamos Assassinos em Série, em tradução livre) detalha em um artigo publicado na revista Time: “As pessoas recebem uma ‘descarga’ de adrenalina como uma recompensa ao testemunhar ações terríveis. A adrenalina é um hormônio que produz um efeito poderoso, estimulante e até viciante no cérebro.” 

Mas os especialistas pedem cuidado para não deixar a ficção interferir na forma como lidamos com a realidade. “A identificação com a vítima é um grande problema na Justiça”, diz Sá. “As pessoas que se identificam com a vítima querem vingança, forma-se um clamor público que alimenta o julgamento formal feito pelo Estado.” O psicólogo defende que o apoio à vítima precisa vir na forma de solidariedade, não de desejo de vingança.

Além disso, vale lembrar que o entretenimento costuma idealizar as investigações. Barros explica que, no Brasil, psiquiatras e psicólogos costumam ajudar a identificar se há alguma questão psicológica que possa ter influência na Justiça. “Pode ser num crime, mas também num processo trabalhista, por exemplo. É uma coisa muito mais burocrática”, diz o psiquiatra.

Sá ainda inclui que, ao contrário do que costumamos ver no entretenimento, os casos de criminosos seriais não são os mais comuns, pelo menos aqui no País. “Eles atraem muita atenção, mas não é a realidade do Brasil. Eu não me disponho a aceitar orientar trabalhos de alunos que queiram se debruçar sobre isso. Um crime ou outro com esses requintes de crueldade ocupam tanto espaço e dão a impressão de ser comuns.” 

Portanto, desde que você se lembre de não deixar a ficção influenciar sua percepção da realidade, agora tem como justificar a dificuldade em parar a maratona de Mindhunter, CSI ou outro crime de sua preferência... 

A série 'Mindhunter' é um dos maisrecentes sucessos ao retratar a investigação psicológica. O psiquiatra Daniel Martins de Barros explica que um dos motivos para ficarmos tão 'viciados' em séries desse tipo é quenosso cérebro adora resolver problemas Foto: Patrick Harbron/Netflix

“Hae Min Lee, uma estudante do último ano do ensino médio, desapareceu um dia depois da aula em 1999 em Baltimore County, Maryland, nos Estados Unidos. Um mês depois, seu corpo foi encontrado em um parque. Ela havia sido estrangulada. O namorado da garota, Adnan Syed, de 17 anos, foi condenado à prisão perpétua pelo crime. O caso contra ele foi em grande parte baseado na história de uma testemunha, Jay, amigo de Adnan que afirma tê-lo ajudado a enterrar o corpo. Adnan sempre negou ter envolvimento na morte de Hae. Algumas pessoas acreditam que ele está dizendo a verdade. Muitas outras não.”

Se você se interessou por essa história, não está sozinho. O texto é a sinopse do premiado podcast Serial, de 2014, que em menos de dois meses alcançou 10 milhões de downloads – um recorde para o formato.

Apesar de ser consumida como entretenimento, a história é real. Mas não precisa se sentir culpado; é normal se interessar pelos detalhes da resolução de um crime. “A curiosidade tem a ver com o crime que está dentro das pessoas, as questões instintivas que existem em todos nós. A maioria controla, não se deixa levar. Mas ele [o criminoso] espelha um pouco aqueles instintos que existem dentro de nós”, explica Alvino Augusto de Sá, psicólogo e professor de Criminologia no Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da USP.

Isso não quer dizer que sejamos criminosos em potencial, tranquiliza o psiquiatra Daniel Martins de Barros. “O criminoso mexe com a nossa condição. É um cara que faz o que quer e dá uma certa inveja, digamos assim. Ficamos curiosos com o que leva um sujeito a conseguir transgredir essa regra.”

E para o nosso alívio não é só o criminoso que causa identificação. Assistir a um investigador ou policial em ação também tem grande peso na fixação pelo crime. “Resolver problemas é uma atividade que traz prazer. Encontrar uma solução de um enigma, resolver um quebra-cabeça traz uma sensação de recompensa”, diz Barros. Portanto, aquelas histórias que envolvem mistério, dúvida, o ‘quem foi?’ podem ter esse resultado no nosso cérebro.

Além da projeção nos personagens, assistir a filmes de terror, suspense ou a cenas ficcionais de crime nos coloca frente ao medo em um ambiente controlado, afirmam os especialistas. E, apesar de parecer contraditório, a psicologia defende que 'gostamos' de sentir medo. Parte do prazer vem da liberação da adrenalina nessas situações.

Scott Bonn, professor de criminologia na Drew University e autor do livro Why We Love Serial Killers (Por Que Amamos Assassinos em Série, em tradução livre) detalha em um artigo publicado na revista Time: “As pessoas recebem uma ‘descarga’ de adrenalina como uma recompensa ao testemunhar ações terríveis. A adrenalina é um hormônio que produz um efeito poderoso, estimulante e até viciante no cérebro.” 

Mas os especialistas pedem cuidado para não deixar a ficção interferir na forma como lidamos com a realidade. “A identificação com a vítima é um grande problema na Justiça”, diz Sá. “As pessoas que se identificam com a vítima querem vingança, forma-se um clamor público que alimenta o julgamento formal feito pelo Estado.” O psicólogo defende que o apoio à vítima precisa vir na forma de solidariedade, não de desejo de vingança.

Além disso, vale lembrar que o entretenimento costuma idealizar as investigações. Barros explica que, no Brasil, psiquiatras e psicólogos costumam ajudar a identificar se há alguma questão psicológica que possa ter influência na Justiça. “Pode ser num crime, mas também num processo trabalhista, por exemplo. É uma coisa muito mais burocrática”, diz o psiquiatra.

Sá ainda inclui que, ao contrário do que costumamos ver no entretenimento, os casos de criminosos seriais não são os mais comuns, pelo menos aqui no País. “Eles atraem muita atenção, mas não é a realidade do Brasil. Eu não me disponho a aceitar orientar trabalhos de alunos que queiram se debruçar sobre isso. Um crime ou outro com esses requintes de crueldade ocupam tanto espaço e dão a impressão de ser comuns.” 

Portanto, desde que você se lembre de não deixar a ficção influenciar sua percepção da realidade, agora tem como justificar a dificuldade em parar a maratona de Mindhunter, CSI ou outro crime de sua preferência... 

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