Programas infantis resgatam cultura tradicional em plataformas tecnológicas


‘A Galinha Pintadinha’, ‘Sítio do Picapau Amarelo’ e ‘Detetives do Prédio Azul’ são exemplos de produções que trazem histórias antigas em roupagem moderna

Por Hyndara Freitas e Luiza Pollo
Galinha Pintadinha: maior canal infantil do YouTube brasileiro repaginou músicas infantis tradicionais na cultura brasileira, como 'Atirei o Pau no Gato' e 'Meu Pintinho Amarelinho'. Foto: Galinha Pintadinha/Bromélia Filmes/Divulgação

Na ponta dos dedos das crianças, os tablets e celulares já não parecem objetos fora de lugar. E quanto mais os pequenos ficam fascinados pela tecnologia, mais conteúdo infantil é produzido para essas plataformas. Mas pode ser um erro pensar que os programas atuais são muito diferentes dos de alguns anos atrás.

Produções como A Galinha Pintadinha, Detetives do Prédio Azul e novas versões do Sítio do Picapau Amarelo são alguns exemplos de programas que trazem histórias tradicionais para novas plataformas. “Claro que as crianças mudaram. Os bebês de um ano já mexem no celular, já sabem que tem que fazer o movimento na tela”, reconhece João Daniel Tikhomiroff, sócio-fundador da Mixer Films, que produz uma nova versão do Sítio do Picapau Amarelo exibida pela Tooncast e pelo Boomerang. “Mas, por outro lado, os valores culturais e mesmo emocionais das crianças não podem ser descartados. Há muitas crianças que se encantam com livros. Elas redescobriram o folhear, virar a página e ouvir histórias”, pondera.

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Paula Taborda dos Guaranys, diretora de conteúdo e programação do Gloob e Gloobinho, concorda. “Vejo um interesse da criança pelo conteúdo, independente de onde aquilo esteja.” Desde 2012, o canal produz conteúdo de seus programas exclusivo para a internet. Detetives do Prédio Azul, por exemplo, conta com episódios online, jogos e outras formas de interação. 

'Detetives do Prédio Azul'temconteúdo exclusivo para a internet, assim como outras produções do Gloob Foto: Cena de episódio web de 'Detetives do Prédio Azul'/Gloob

Mesmo assim, a produção não deixa histórias tradicionais de lado. O DPA já teve um episódio sobre a Semana de Arte de 1922, outro sobre a chegada dos portugueses ao Brasil e um outro que trazia o Curupira. “A gente trata da cultura brasileira em tudo que produz, apesar de sempre trazer apelo global. Chamo de ‘glocal’”, diz Paula, ressaltando que o canal exporta diversas produções para outros países, assim como a Mixer Films.

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Se o resgate de repertórios infantis se tornou preocupação para as produções televisivas recentemente, a Galinha Pintadinha nasceu, há dez anos, justamente com esse mote. Com mais de 8 milhões seguidores, o maior canal infantil do YouTube Brasil viu seu sucesso surgir a partir de videoclipes de músicas que marcaram diversas gerações de crianças, como Meu Pintinho Amarelinho, A Baratinha e Atirei o Pau no Gato. Apenas recentemente o canal apostou em uma minissérie que conta histórias diferentes a cada episódio.

Com letras – que, de tão intrínsecas à cultura brasileira, pouco se sabe sobre suas origens – combinadas a melodias mais modernas (como guitarras e baterias), a Galinha e seus amigos encenam e dançam em vídeos com cores primárias e alto contraste, encantando crianças de até quatro anos de idade.

Juliano Prado, roteirista e um dos fundadores da Bromélia Filmes (que produz a Galinha Pintadinha) ao lado de Marcos Lupurini, diz que o resgate dessas músicas tradicionais foi um processo não exatamente planejado. "A princípio, era uma questão de custo, porque as músicas de domínio público não iam custar nada", explica. Porém, a facilidade esbarrava no receio de que as músicas já haviam sido muito usadas, e poderia ficar cansativo. 

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'A criança também se encanta, não só com histórias modernas, mas também com histórias que são eternas. No Sítio [do Picapau Amarelo], por exemplo, a Emília continua tendo o encantamento para as crianças', diz João DanielTikhomiroff, sócio-fundador da Mixer Films Foto: Cena de 'Sítio do Picapau Amarelo'/Mixer Films

Depois de ponderarem, Lupurini e Prado decidiram começar o canal com as músicas mais tradicionais na infância das crianças brasileiras. "A gente reconheceu que elas têm um poder muito grande, há músicas que já estão por aí há meio século pelo menos, músicas poderosas que foram carregadas por gerações de avós, pais, e a gente fica orgulhoso porque se sente parte de uma corrente que a gente meio que sem querer conseguiu repaginar, modernizar as músicas e colocou nessa nova plataforma de mídia, que é o vídeo digital. A gente colocou o conteúdo nacional dentro de um mercado crescente que é a mudança desse comportamento", diz Prado.

O fundador acredita que esse resgate vem, principalmente, por conta da simplicidade de produção e saudosismo. "É uma coisa meio natural, as pessoas têm essa questão da saudade, principalmente quando os adultos têm filhos, eles querem repassar as histórias de vida. Eu, por exemplo, estou com 46 anos e já passei por algumas dessas etapas de saudosismo. E é justamente isso o que queremos passar para nosso público: que as crianças que crescerem com a gente queiram mostrar a Galinha Pintadinha para os filhos delas", completa. 

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A ideia é que, ao juntar as letras que já são parte do repertório brasileiro às novas mídias, a cultura musical se perpetue por gerações em vez de se perder em um mar de novidades. “A tecnologia está propiciando ter várias formas de ver as telas. São diversos instrumentos, gigantescos e minúsculos, e várias formas de acesso ao conteúdo. Isso é uma maneira mais poderosa de divulgação e distribuição”, reflete Tikhomiroff.

Galinha Pintadinha: maior canal infantil do YouTube brasileiro repaginou músicas infantis tradicionais na cultura brasileira, como 'Atirei o Pau no Gato' e 'Meu Pintinho Amarelinho'. Foto: Galinha Pintadinha/Bromélia Filmes/Divulgação

Na ponta dos dedos das crianças, os tablets e celulares já não parecem objetos fora de lugar. E quanto mais os pequenos ficam fascinados pela tecnologia, mais conteúdo infantil é produzido para essas plataformas. Mas pode ser um erro pensar que os programas atuais são muito diferentes dos de alguns anos atrás.

Produções como A Galinha Pintadinha, Detetives do Prédio Azul e novas versões do Sítio do Picapau Amarelo são alguns exemplos de programas que trazem histórias tradicionais para novas plataformas. “Claro que as crianças mudaram. Os bebês de um ano já mexem no celular, já sabem que tem que fazer o movimento na tela”, reconhece João Daniel Tikhomiroff, sócio-fundador da Mixer Films, que produz uma nova versão do Sítio do Picapau Amarelo exibida pela Tooncast e pelo Boomerang. “Mas, por outro lado, os valores culturais e mesmo emocionais das crianças não podem ser descartados. Há muitas crianças que se encantam com livros. Elas redescobriram o folhear, virar a página e ouvir histórias”, pondera.

Paula Taborda dos Guaranys, diretora de conteúdo e programação do Gloob e Gloobinho, concorda. “Vejo um interesse da criança pelo conteúdo, independente de onde aquilo esteja.” Desde 2012, o canal produz conteúdo de seus programas exclusivo para a internet. Detetives do Prédio Azul, por exemplo, conta com episódios online, jogos e outras formas de interação. 

'Detetives do Prédio Azul'temconteúdo exclusivo para a internet, assim como outras produções do Gloob Foto: Cena de episódio web de 'Detetives do Prédio Azul'/Gloob

Mesmo assim, a produção não deixa histórias tradicionais de lado. O DPA já teve um episódio sobre a Semana de Arte de 1922, outro sobre a chegada dos portugueses ao Brasil e um outro que trazia o Curupira. “A gente trata da cultura brasileira em tudo que produz, apesar de sempre trazer apelo global. Chamo de ‘glocal’”, diz Paula, ressaltando que o canal exporta diversas produções para outros países, assim como a Mixer Films.

Se o resgate de repertórios infantis se tornou preocupação para as produções televisivas recentemente, a Galinha Pintadinha nasceu, há dez anos, justamente com esse mote. Com mais de 8 milhões seguidores, o maior canal infantil do YouTube Brasil viu seu sucesso surgir a partir de videoclipes de músicas que marcaram diversas gerações de crianças, como Meu Pintinho Amarelinho, A Baratinha e Atirei o Pau no Gato. Apenas recentemente o canal apostou em uma minissérie que conta histórias diferentes a cada episódio.

Com letras – que, de tão intrínsecas à cultura brasileira, pouco se sabe sobre suas origens – combinadas a melodias mais modernas (como guitarras e baterias), a Galinha e seus amigos encenam e dançam em vídeos com cores primárias e alto contraste, encantando crianças de até quatro anos de idade.

Juliano Prado, roteirista e um dos fundadores da Bromélia Filmes (que produz a Galinha Pintadinha) ao lado de Marcos Lupurini, diz que o resgate dessas músicas tradicionais foi um processo não exatamente planejado. "A princípio, era uma questão de custo, porque as músicas de domínio público não iam custar nada", explica. Porém, a facilidade esbarrava no receio de que as músicas já haviam sido muito usadas, e poderia ficar cansativo. 

'A criança também se encanta, não só com histórias modernas, mas também com histórias que são eternas. No Sítio [do Picapau Amarelo], por exemplo, a Emília continua tendo o encantamento para as crianças', diz João DanielTikhomiroff, sócio-fundador da Mixer Films Foto: Cena de 'Sítio do Picapau Amarelo'/Mixer Films

Depois de ponderarem, Lupurini e Prado decidiram começar o canal com as músicas mais tradicionais na infância das crianças brasileiras. "A gente reconheceu que elas têm um poder muito grande, há músicas que já estão por aí há meio século pelo menos, músicas poderosas que foram carregadas por gerações de avós, pais, e a gente fica orgulhoso porque se sente parte de uma corrente que a gente meio que sem querer conseguiu repaginar, modernizar as músicas e colocou nessa nova plataforma de mídia, que é o vídeo digital. A gente colocou o conteúdo nacional dentro de um mercado crescente que é a mudança desse comportamento", diz Prado.

O fundador acredita que esse resgate vem, principalmente, por conta da simplicidade de produção e saudosismo. "É uma coisa meio natural, as pessoas têm essa questão da saudade, principalmente quando os adultos têm filhos, eles querem repassar as histórias de vida. Eu, por exemplo, estou com 46 anos e já passei por algumas dessas etapas de saudosismo. E é justamente isso o que queremos passar para nosso público: que as crianças que crescerem com a gente queiram mostrar a Galinha Pintadinha para os filhos delas", completa. 

A ideia é que, ao juntar as letras que já são parte do repertório brasileiro às novas mídias, a cultura musical se perpetue por gerações em vez de se perder em um mar de novidades. “A tecnologia está propiciando ter várias formas de ver as telas. São diversos instrumentos, gigantescos e minúsculos, e várias formas de acesso ao conteúdo. Isso é uma maneira mais poderosa de divulgação e distribuição”, reflete Tikhomiroff.

Galinha Pintadinha: maior canal infantil do YouTube brasileiro repaginou músicas infantis tradicionais na cultura brasileira, como 'Atirei o Pau no Gato' e 'Meu Pintinho Amarelinho'. Foto: Galinha Pintadinha/Bromélia Filmes/Divulgação

Na ponta dos dedos das crianças, os tablets e celulares já não parecem objetos fora de lugar. E quanto mais os pequenos ficam fascinados pela tecnologia, mais conteúdo infantil é produzido para essas plataformas. Mas pode ser um erro pensar que os programas atuais são muito diferentes dos de alguns anos atrás.

Produções como A Galinha Pintadinha, Detetives do Prédio Azul e novas versões do Sítio do Picapau Amarelo são alguns exemplos de programas que trazem histórias tradicionais para novas plataformas. “Claro que as crianças mudaram. Os bebês de um ano já mexem no celular, já sabem que tem que fazer o movimento na tela”, reconhece João Daniel Tikhomiroff, sócio-fundador da Mixer Films, que produz uma nova versão do Sítio do Picapau Amarelo exibida pela Tooncast e pelo Boomerang. “Mas, por outro lado, os valores culturais e mesmo emocionais das crianças não podem ser descartados. Há muitas crianças que se encantam com livros. Elas redescobriram o folhear, virar a página e ouvir histórias”, pondera.

Paula Taborda dos Guaranys, diretora de conteúdo e programação do Gloob e Gloobinho, concorda. “Vejo um interesse da criança pelo conteúdo, independente de onde aquilo esteja.” Desde 2012, o canal produz conteúdo de seus programas exclusivo para a internet. Detetives do Prédio Azul, por exemplo, conta com episódios online, jogos e outras formas de interação. 

'Detetives do Prédio Azul'temconteúdo exclusivo para a internet, assim como outras produções do Gloob Foto: Cena de episódio web de 'Detetives do Prédio Azul'/Gloob

Mesmo assim, a produção não deixa histórias tradicionais de lado. O DPA já teve um episódio sobre a Semana de Arte de 1922, outro sobre a chegada dos portugueses ao Brasil e um outro que trazia o Curupira. “A gente trata da cultura brasileira em tudo que produz, apesar de sempre trazer apelo global. Chamo de ‘glocal’”, diz Paula, ressaltando que o canal exporta diversas produções para outros países, assim como a Mixer Films.

Se o resgate de repertórios infantis se tornou preocupação para as produções televisivas recentemente, a Galinha Pintadinha nasceu, há dez anos, justamente com esse mote. Com mais de 8 milhões seguidores, o maior canal infantil do YouTube Brasil viu seu sucesso surgir a partir de videoclipes de músicas que marcaram diversas gerações de crianças, como Meu Pintinho Amarelinho, A Baratinha e Atirei o Pau no Gato. Apenas recentemente o canal apostou em uma minissérie que conta histórias diferentes a cada episódio.

Com letras – que, de tão intrínsecas à cultura brasileira, pouco se sabe sobre suas origens – combinadas a melodias mais modernas (como guitarras e baterias), a Galinha e seus amigos encenam e dançam em vídeos com cores primárias e alto contraste, encantando crianças de até quatro anos de idade.

Juliano Prado, roteirista e um dos fundadores da Bromélia Filmes (que produz a Galinha Pintadinha) ao lado de Marcos Lupurini, diz que o resgate dessas músicas tradicionais foi um processo não exatamente planejado. "A princípio, era uma questão de custo, porque as músicas de domínio público não iam custar nada", explica. Porém, a facilidade esbarrava no receio de que as músicas já haviam sido muito usadas, e poderia ficar cansativo. 

'A criança também se encanta, não só com histórias modernas, mas também com histórias que são eternas. No Sítio [do Picapau Amarelo], por exemplo, a Emília continua tendo o encantamento para as crianças', diz João DanielTikhomiroff, sócio-fundador da Mixer Films Foto: Cena de 'Sítio do Picapau Amarelo'/Mixer Films

Depois de ponderarem, Lupurini e Prado decidiram começar o canal com as músicas mais tradicionais na infância das crianças brasileiras. "A gente reconheceu que elas têm um poder muito grande, há músicas que já estão por aí há meio século pelo menos, músicas poderosas que foram carregadas por gerações de avós, pais, e a gente fica orgulhoso porque se sente parte de uma corrente que a gente meio que sem querer conseguiu repaginar, modernizar as músicas e colocou nessa nova plataforma de mídia, que é o vídeo digital. A gente colocou o conteúdo nacional dentro de um mercado crescente que é a mudança desse comportamento", diz Prado.

O fundador acredita que esse resgate vem, principalmente, por conta da simplicidade de produção e saudosismo. "É uma coisa meio natural, as pessoas têm essa questão da saudade, principalmente quando os adultos têm filhos, eles querem repassar as histórias de vida. Eu, por exemplo, estou com 46 anos e já passei por algumas dessas etapas de saudosismo. E é justamente isso o que queremos passar para nosso público: que as crianças que crescerem com a gente queiram mostrar a Galinha Pintadinha para os filhos delas", completa. 

A ideia é que, ao juntar as letras que já são parte do repertório brasileiro às novas mídias, a cultura musical se perpetue por gerações em vez de se perder em um mar de novidades. “A tecnologia está propiciando ter várias formas de ver as telas. São diversos instrumentos, gigantescos e minúsculos, e várias formas de acesso ao conteúdo. Isso é uma maneira mais poderosa de divulgação e distribuição”, reflete Tikhomiroff.

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