Perder o companheiro não é fácil em qualquer idade, sejam quais forem as circunstâncias. Pode ser algo repentino e totalmente inesperado – um ataque cardíaco fatal, um acidente de trânsito ou uma tragédia natural, como enchentes ou terremotos – ou pode ser demorado, resultado de uma doença progressiva que dá ao cônjuge semanas, meses, às vezes até anos para se preparar e presumivelmente se "ajustar" à eventual inevitabilidade.
Os psicólogos há tempos afirmam que, após um breve período de luto, muitas vezes intenso, a grande maioria dos viúvos se adapta bem, voltando ao trabalho, à rotina diária e ao estado de satisfação anterior depois de alguns meses, até um ano – é a consequência psicológica chamada "resiliência". Estudos realizados por George A. Bonanno e seus colegas na Universidade Columbia, bem como por outros, por exemplo, descobriram que 60% das pessoas que enviuvaram eram resilientes, ou seja, se mostravam satisfeitas com a vida e não estavam nem um pouco deprimidas.
Porém, novas pesquisas já consideram essa avaliação generalizada inadequada para descrever a consequência da perda de um cônjuge para muitas, se não para todas as pessoas – e sugerem a necessidade de meios mais eficazes e específicos de ajudar os enlutados a voltar ao estado anterior de bem-estar. Mesmo aquele que se considera bastante satisfeito pode estar tendo uma dificuldade considerável em outros aspectos que podem diminuir a qualidade de vida, como manter uma vida social satisfatória, render bem no trabalho ou saber quem pode ajudar quando necessário.
A fé judaica na qual fui educada oferece uma fonte de apoio desse tipo, especificando um período de luto que dá ao sobrevivente o tempo necessário de ajuste à nova normalidade. Ela estipula um período de visitas ao longo de uma semana – a Shivá – durante as quais amigos e parentes se reúnem com o enlutado para expressar condolências e compartilhar histórias do morto. Também estabelece um período de reajuste de um ano que inclui orações diárias e nenhuma tentativa de encontrar um novo parceiro.
De fato, meu pai, que obedeceu fielmente esse período ritualístico, parece ter se recuperado bem depois que minha mãe, que foi o amor de sua vida, morreu após uma batalha de um ano contra o câncer. Com dois filhos para sustentar e com que se preocupar, talvez tenha tido pouco tempo para um luto prolongado. Depois de um ano e meio de viuvez, aos 51, ele voltou a se casar com uma mulher adorável que se tornou nossa querida madrasta.
Entretanto, quando ele morreu de um ataque cardíaco repentino, vinte anos depois, ela não se saiu tão bem. Sentia-se profundamente solitária e parecia presa em uma existência limitada e relativamente tristonha. Só depois de sua morte é que percebemos que sua alegria de viver tinha sido abafada por uma depressão amena e conexões sociais limitadas após a morte do meu pai.
A nova pesquisa mostra que mesmo aqueles que expressam uma satisfação geral com a vida depois da perda do cônjuge geralmente passam por declínios significativos em aspectos específicos da saúde física, emocional e do bem-estar. Em outras palavras, sua resiliência não é uniforme em todas as dimensões que consideramos importantes. Basta ir um pouco mais a fundo e é bem provável que você descubra que o viúvo que parece feliz e bem-ajustado pode ter dificuldades consideráveis que não são aparentes ao observador casual.
A pesquisa foi conduzida por Frank J. Infurna e Suniya S. Luthar, psicólogos da Universidade Estadual do Arizona em Tempe, que se aproveitaram de um conjunto de dados único, reunido anualmente, durante treze anos na Austrália, a chamada Dinâmica de Trabalho e Renda Doméstica de Estudo Australiano, conduzida de 2001 a 2013 entre uma amostra representativa, em nível nacional, de australianos com mais de quinze anos, que responderam a uma combinação de entrevistas feitas pessoalmente/por telefone e questionários autocompletáveis.
Durante o estudo, 421 participantes perderam o cônjuge. Os psicólogos do Arizona analisaram cinco aspectos específicos para saber como se saíram em cada um dos cinco anos antes e cinco anos depois que enviuvaram – e descobriram que 66 por cento voltaram ao nível de satisfação pré-perda em até um ano, ao passo que os outros 34 por cento tiveram um declínio acentuado e não se recuperaram, mesmo cinco anos depois.
Em relação às respostas a perguntas sobre sentimentos positivos, do tipo "Você se sentia cheio de vida?", "Era calmo e se sentia em paz?", "Tinha bastante energia?", somente 26 por cento tinham voltado aos níveis anteriores; 74 por cento, que já tinham começado de um nível mais baixo antes da perda, caíram ainda mais com a morte e nunca se recuperaram totalmente.
Em relação a sentimentos negativos como "Você é uma pessoa nervosa?", "Já se sentiu tão para baixo a ponto de achar que nada poderia animá-lo?", "Já se sentiu esgotado?", somente 19 por cento se mostraram resilientes, nem melhor, nem pior que antes da perda.
Os participantes também deram informações a respeito da saúde em geral e se tinham problemas com as atividades do dia a dia, como carregar as compras, subir escadas, caminhar várias quadras, tomar banho e se vestir; 37 por cento se mostraram resilientes, mas os outros 63 já mostravam alguns problemas antes e só pioraram com o tempo. O funcionamento físico também caiu para 55 por cento, com apenas 29 mostrando resiliência.
Do grupo inteiro, apenas oito por cento dos enlutados se mostraram em boa forma em relação a todos os cinco indicadores analisado; vinte por cento, a nenhum.
Considerando-se que 92 por cento tiveram declínio em uma ou mais áreas de desempenho, os pesquisadores concluíram que é errado definir a resiliência "com base em um número limitado de resultados mensuráveis". E acrescentaram: "De fato, quem perde um cônjuge pode ter dificuldades além daquelas analisadas pelo estudo, como problemas no trabalho e um sentimento geral de solidão".
No fim, a conclusão mostrou diferenças gritantes em relação ao que se acredita, em termos gerais, sobre a resiliência da pessoa quando da perda do companheiro. Depende do aspecto da vida em questão.
Em entrevista, Infurna explica que o mais importante para a resiliência pós-luto é a vulnerabilidade ou proteção sentidas pelo cônjuge sobrevivente e o nível em que cada um funciona no dia a dia.
Ele e Luthar descrevem três fatores que a influenciam em termos gerais: 1) Conforto confiável – ter alguém em quem confiar ou com quem contar quando tiver problemas e poder obter ajuda quando necessário; 2) Conexão social – se a saúde física ou os problemas emocionais interferem nas atividades sociais como visitas a amigos e parentes e a interação social com vizinhos e grupos e 3) Desempenho diário – ter dificuldades com as atividades normais por causa de problemas emocionais como depressão ou ansiedade.
Baseados nos dados que obtiveram, os pesquisadores concluíram que "pode levar de dois a três anos, às vezes até mais, para alguém superar o luto e recuperar os níveis de funcionamento pré-perda".
E descobriram que o que mais ajuda é se manter socialmente conectado e engajado nas atividades diárias, sabendo para onde se voltar quando precisar de ajuda e consolo e recebendo apoio quando necessitar.