Quantos políticos influentes solteiros você conhece? É difícil pensar em exemplos que vão além de Dilma Rousseff e Kassab. Desde 1985, a petista foi a única presidente eleita que não era casada quando assumiu o cargo.
Em séries americanas com temática política, é bastante explorado o papel da mulher durante eleições e, posteriormente, como primeira-dama durante o mandato de presidente ou governador. Em Scandal, por exemplo, Fitzgerald Grant e Mellie Grant vivem um casamento de fachada para angariar votos - e ela chega até a engravidar durante uma eleição. Já em House of Cards, Claire Underwood faz discursos calorosos para ajudar a eleger o marido Frank.
Mas, na vida real, será que as companheiras têm tanta importância assim na política? Depende. O E+ conversou com dois especialistas no assunto para entender como a composição familiar e a imagem da primeira-dama afetam desde a escolha dos gestores até a rotina de um cargo público.
Marco Antonio Teixeira, vice-coordenador da graduação em Administração Pública da Escola de Administração de Empresas da FGV São Paulo, afirma que estar casado já foi mais importante do que é hoje. "No passado era quase um requisito se apresentar como uma pessoa de família", explica. O professor afirma que era uma maneira de expor valores.
"Isso hoje talvez apareça em discursos de candidatos que tem uma posição mais conservadora", opina.
O mestre em Ciências Sociais e chefe do departamento de política da PUC-SP, Pedro Fassoni Arruda, concorda. Ele acredita que o cônjuge influencia muito pouco ou bastante a depender dos eleitores com quem se fala: "É importante pensar que os eleitores apresentam um modelo bastante heterogêneo. Em termos de Brasil, desde setores mais conservadores, que defendem a família tradicional, até aqueles que defendem outros modelos familiares, a união homoafetiva, sem filhos, e a tendência é que isso influencie menos a cada ano que passa".
Por outro lado, nos Estados Unidos é diferente. "Lá isso importa mais. Eles exploram muito isso nas campanhas eleitorais, todos os presidentes, senadores, governadores fazem pose de família perfeita junto com suas esposas e filhos, mostram que são pessoas comuns. As esposas ainda costumam passar uma imagem carismática, discursar em campanhas. Lá, isso pesa mais e, muitas vezes, escândalos familiares acabam enterrando a carreira de muitas pessoas", explica Arruda.
A imagem de primeira-dama 'decorativa', inclusive, variou muito ao longo da história recente do Brasil. Um exemplo é Ruth Cardoso, que era mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, importante antropóloga e professora universitária. Por conta de sua trajetória profissional, não ficou marcada por ser apenas companheira de um presidente e não costumava participar ativamente da vida política do marido.
Já Rosane Collor, mulher de Fernando Collor durante seu mandato de 1990 a 1992, teve um papel mais tradicional entre as primeiras-damas e ocupou cargos em órgãos assistencialistas do governo. Marcela Temer, a atual primeira-dama do País, também tem o mesmo papel - no ano passado, ela anunciou o programa Criança Feliz, cujo foco é acompanhar o desenvolvimento das crianças desde o nascimento até os primeiros anos da infância.
Teixeira avalia que, hoje, os tempos mudaram e as pessoas estão mais abertas para outras caracterizações de perfis dos candidatos. "A tendência é que as pessoas valorizem mais a capacidade de gestão e a capacidade que a pessoa tem de dar resposta aos problemas", pondera.
Tanto Arruda quanto Teixeira relembram que na corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo, em 2008, Marta Suplicy tentou explorar a sexualidade de Gilberto Kassab.
"Não deu certo e pegou mal para ela. O tiro saiu pela culatra. Cada vez mais, as pessoas acham que falar da vida pessoal dos candidatos é golpe baixo. Os eleitores estão cada vez menos preocupados com os relacionamentos, com a família dos candidatos", avalia o Arruda, mestre em Ciências Sociais.
Veja políticos que não eram casados quando assumiram o cargo: