TikTok permite alterações como afinar nariz, rosto e mudar tom da pele; Por que isso é um problema?


O uso da ferramenta não é avisado a outros usuários que consomem o vídeo; especialista explica os impactos em longo prazo

Por Sabrina Legramandi
Atualização:

“Posto, logo existo”. A máxima que tomou conta dos costumes da maioria das pessoas nos últimos anos atingiu com força o modo de se relacionar – com os outros e consigo – na era das redes sociais.

Durante a pandemia da covid-19, um novo aplicativo revolucionou novamente o jeito de utilizar a internet. O TikTok chegou com a proposta de vídeos de apenas um minuto e logo se tornou o aplicativo mais baixado do mundo em 2020, segundo dados divulgados pela rastreadora de mercado App Annie.

A questão, porém, foi que a difusão de padrões de beleza começou a ser alavancada em um movimento que já havia ganhado força na “rede vizinha”, o Instagram. Hoje, o TikTok também possui uma trend – nome dado às tendências do aplicativo – que mostra os padrões de beleza de diversas partes do mundo.

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Para se alcançar o padrão, clínicas de cirurgias plásticas viram uma explosão na procura por procedimentos estéticos com as redes sociais. O fato é que, muitas vezes, o padrão visto nos aplicativos pode ser irreal e criado por ferramentas que ficam “ocultas” nos vídeos.

No caso do TikTok, opções de afinar o rosto, o nariz, aumentar a boca e, até mesmo, alterar o tom da pele podem ser utilizadas com facilidade – em uma aba denominada “maquiagem” – e sem que os demais usuários sejam avisados sobre as alterações quando determinado vídeo é postado.

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O caso começou a ser discutido após um vídeo da influenciadora Jojoca viralizar na rede. Na postagem, Jojoca apareceu testando diversas alterações no rosto e falando sobre um filtro automático que “suaviza imperfeições” do rosto.

Apesar de haver a opção de desabilitar o filtro na opção “suave” – a influenciadora esclarece isso em um vídeo posterior –, o uso das alterações não é avisado aos outros usuários do aplicativo. No TikTok, apenas recursos da aba “efeitos” aparecem logo acima das legendas dos vídeos.

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Além de reforçar um padrão de beleza “europeizado” e racista, o problema esbarra em uma falsa ideia de que é possível alcançar um padrão “pleno” e de forma rápida.

“Com as redes sociais e a evolução e massificação das técnicas para embelezar, os padrões vendem mais do que nunca a ideia de que tudo é possível - no curto prazo - e de que qualquer um tem o direito de se transformar naquilo que quiser”, explica Denise Bernuzzi de Sant’Anna, professora da PUC-SP e autora de vários livros sobre história do corpo e das emoções.

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A viralização de um estilo de vida ‘perfeito’

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Outra trend que se tornou viral no TikTok envolve o conceito de “glow up”. A expressão se refere a adotar determinado padrão ou estilo de vida com o intuito de melhorar a aparência – na maioria das vezes, no período de um mês.

Para Denise, essa ideia de que simular uma vida de que se é “muito satisfeita consigo, saudável, poderosa e feliz” pode ter um impacto nas pessoas que buscam atingir esse “padrão de vida” a todo custo.

“O oposto estaria nas imagens daqueles que não gostam deles mesmos, estão tristes, insatisfeitos, frustrados, incertos, inseguros. Mas não há quem se sinta ou seja empoderada e satisfeita consigo 24 horas por dia. O padrão imperativo a ser perseguido é evidentemente irreal e, por isso, constantemente frustrante”, ressalta.

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A consequência de redes que apresentam pessoas apenas com filtros também esbarra em pessoas que não são reais. A pesquisadora conta que, na época das revistas de moda, os corpos, especialmente os femininos, já passavam por modificações, mas elas não se igualavam ao que pode ser feito hoje com tanta facilidade nas redes sociais.

“Acho que [o uso recorrente dos filtros] pode habituar o olhar: como se as imagens que o filtro proporciona fossem o que deve de fato existir no presencial”, diz.

Avisar quando usuários utilizam filtros faz diferença?

Redes como o Instagram avisam sobre o uso de filtros, mas mesmo assim constroem padrões de beleza. Foto: Pexels

O próprio TikTok e o Instagram avisam quando determinados filtros são utilizados pelo usuário. A diferença do aviso, conforme relata Denise, é apenas “formal”: os filtros ainda constroem imaginários sobre as aparências físicas, ainda mais se forem utilizados com tanta frequência.

“Diferente das maquiagens, o filtro não serve apenas para disfarçar, esconder, tapar e redesenhar traços do rosto. Ele modifica radicalmente volumes e formas do corpo inteiro”, explica a pesquisadora.

A autora ainda aponta um processo de “celebrização” provocado pelas redes sociais. Qualquer um pode se tornar uma celebridade ou um influenciador, basta seguir o padrão imposto pela internet.

“O embelezamento, que envolve desde as cirurgias plásticas até a alimentação e os cuidados com a saúde, é a maneira mais divulgada para a conquista dessa fábrica de celebridades efêmeras a qual muitos estão submetidos”, diz Denise.

Em longo prazo, as consequências impactam em uma busca desenfreada por algo que não faz parte da realidade, seja por quem influencia ou por quem é influenciado. “Será como dar água salgada a quem tem sede, a consequência é tornar-se insaciável e fragilizado”, finaliza.

O Estadão entrou em contato com o TikTok para esclarecer o uso das ferramentas que alteram o rosto, mas a rede social preferiu não se manifestar sobre o assunto.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

“Posto, logo existo”. A máxima que tomou conta dos costumes da maioria das pessoas nos últimos anos atingiu com força o modo de se relacionar – com os outros e consigo – na era das redes sociais.

Durante a pandemia da covid-19, um novo aplicativo revolucionou novamente o jeito de utilizar a internet. O TikTok chegou com a proposta de vídeos de apenas um minuto e logo se tornou o aplicativo mais baixado do mundo em 2020, segundo dados divulgados pela rastreadora de mercado App Annie.

A questão, porém, foi que a difusão de padrões de beleza começou a ser alavancada em um movimento que já havia ganhado força na “rede vizinha”, o Instagram. Hoje, o TikTok também possui uma trend – nome dado às tendências do aplicativo – que mostra os padrões de beleza de diversas partes do mundo.

Para se alcançar o padrão, clínicas de cirurgias plásticas viram uma explosão na procura por procedimentos estéticos com as redes sociais. O fato é que, muitas vezes, o padrão visto nos aplicativos pode ser irreal e criado por ferramentas que ficam “ocultas” nos vídeos.

No caso do TikTok, opções de afinar o rosto, o nariz, aumentar a boca e, até mesmo, alterar o tom da pele podem ser utilizadas com facilidade – em uma aba denominada “maquiagem” – e sem que os demais usuários sejam avisados sobre as alterações quando determinado vídeo é postado.

O caso começou a ser discutido após um vídeo da influenciadora Jojoca viralizar na rede. Na postagem, Jojoca apareceu testando diversas alterações no rosto e falando sobre um filtro automático que “suaviza imperfeições” do rosto.

Apesar de haver a opção de desabilitar o filtro na opção “suave” – a influenciadora esclarece isso em um vídeo posterior –, o uso das alterações não é avisado aos outros usuários do aplicativo. No TikTok, apenas recursos da aba “efeitos” aparecem logo acima das legendas dos vídeos.

Além de reforçar um padrão de beleza “europeizado” e racista, o problema esbarra em uma falsa ideia de que é possível alcançar um padrão “pleno” e de forma rápida.

“Com as redes sociais e a evolução e massificação das técnicas para embelezar, os padrões vendem mais do que nunca a ideia de que tudo é possível - no curto prazo - e de que qualquer um tem o direito de se transformar naquilo que quiser”, explica Denise Bernuzzi de Sant’Anna, professora da PUC-SP e autora de vários livros sobre história do corpo e das emoções.

A viralização de um estilo de vida ‘perfeito’

Outra trend que se tornou viral no TikTok envolve o conceito de “glow up”. A expressão se refere a adotar determinado padrão ou estilo de vida com o intuito de melhorar a aparência – na maioria das vezes, no período de um mês.

Para Denise, essa ideia de que simular uma vida de que se é “muito satisfeita consigo, saudável, poderosa e feliz” pode ter um impacto nas pessoas que buscam atingir esse “padrão de vida” a todo custo.

“O oposto estaria nas imagens daqueles que não gostam deles mesmos, estão tristes, insatisfeitos, frustrados, incertos, inseguros. Mas não há quem se sinta ou seja empoderada e satisfeita consigo 24 horas por dia. O padrão imperativo a ser perseguido é evidentemente irreal e, por isso, constantemente frustrante”, ressalta.

A consequência de redes que apresentam pessoas apenas com filtros também esbarra em pessoas que não são reais. A pesquisadora conta que, na época das revistas de moda, os corpos, especialmente os femininos, já passavam por modificações, mas elas não se igualavam ao que pode ser feito hoje com tanta facilidade nas redes sociais.

“Acho que [o uso recorrente dos filtros] pode habituar o olhar: como se as imagens que o filtro proporciona fossem o que deve de fato existir no presencial”, diz.

Avisar quando usuários utilizam filtros faz diferença?

Redes como o Instagram avisam sobre o uso de filtros, mas mesmo assim constroem padrões de beleza. Foto: Pexels

O próprio TikTok e o Instagram avisam quando determinados filtros são utilizados pelo usuário. A diferença do aviso, conforme relata Denise, é apenas “formal”: os filtros ainda constroem imaginários sobre as aparências físicas, ainda mais se forem utilizados com tanta frequência.

“Diferente das maquiagens, o filtro não serve apenas para disfarçar, esconder, tapar e redesenhar traços do rosto. Ele modifica radicalmente volumes e formas do corpo inteiro”, explica a pesquisadora.

A autora ainda aponta um processo de “celebrização” provocado pelas redes sociais. Qualquer um pode se tornar uma celebridade ou um influenciador, basta seguir o padrão imposto pela internet.

“O embelezamento, que envolve desde as cirurgias plásticas até a alimentação e os cuidados com a saúde, é a maneira mais divulgada para a conquista dessa fábrica de celebridades efêmeras a qual muitos estão submetidos”, diz Denise.

Em longo prazo, as consequências impactam em uma busca desenfreada por algo que não faz parte da realidade, seja por quem influencia ou por quem é influenciado. “Será como dar água salgada a quem tem sede, a consequência é tornar-se insaciável e fragilizado”, finaliza.

O Estadão entrou em contato com o TikTok para esclarecer o uso das ferramentas que alteram o rosto, mas a rede social preferiu não se manifestar sobre o assunto.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

“Posto, logo existo”. A máxima que tomou conta dos costumes da maioria das pessoas nos últimos anos atingiu com força o modo de se relacionar – com os outros e consigo – na era das redes sociais.

Durante a pandemia da covid-19, um novo aplicativo revolucionou novamente o jeito de utilizar a internet. O TikTok chegou com a proposta de vídeos de apenas um minuto e logo se tornou o aplicativo mais baixado do mundo em 2020, segundo dados divulgados pela rastreadora de mercado App Annie.

A questão, porém, foi que a difusão de padrões de beleza começou a ser alavancada em um movimento que já havia ganhado força na “rede vizinha”, o Instagram. Hoje, o TikTok também possui uma trend – nome dado às tendências do aplicativo – que mostra os padrões de beleza de diversas partes do mundo.

Para se alcançar o padrão, clínicas de cirurgias plásticas viram uma explosão na procura por procedimentos estéticos com as redes sociais. O fato é que, muitas vezes, o padrão visto nos aplicativos pode ser irreal e criado por ferramentas que ficam “ocultas” nos vídeos.

No caso do TikTok, opções de afinar o rosto, o nariz, aumentar a boca e, até mesmo, alterar o tom da pele podem ser utilizadas com facilidade – em uma aba denominada “maquiagem” – e sem que os demais usuários sejam avisados sobre as alterações quando determinado vídeo é postado.

O caso começou a ser discutido após um vídeo da influenciadora Jojoca viralizar na rede. Na postagem, Jojoca apareceu testando diversas alterações no rosto e falando sobre um filtro automático que “suaviza imperfeições” do rosto.

Apesar de haver a opção de desabilitar o filtro na opção “suave” – a influenciadora esclarece isso em um vídeo posterior –, o uso das alterações não é avisado aos outros usuários do aplicativo. No TikTok, apenas recursos da aba “efeitos” aparecem logo acima das legendas dos vídeos.

Além de reforçar um padrão de beleza “europeizado” e racista, o problema esbarra em uma falsa ideia de que é possível alcançar um padrão “pleno” e de forma rápida.

“Com as redes sociais e a evolução e massificação das técnicas para embelezar, os padrões vendem mais do que nunca a ideia de que tudo é possível - no curto prazo - e de que qualquer um tem o direito de se transformar naquilo que quiser”, explica Denise Bernuzzi de Sant’Anna, professora da PUC-SP e autora de vários livros sobre história do corpo e das emoções.

A viralização de um estilo de vida ‘perfeito’

Outra trend que se tornou viral no TikTok envolve o conceito de “glow up”. A expressão se refere a adotar determinado padrão ou estilo de vida com o intuito de melhorar a aparência – na maioria das vezes, no período de um mês.

Para Denise, essa ideia de que simular uma vida de que se é “muito satisfeita consigo, saudável, poderosa e feliz” pode ter um impacto nas pessoas que buscam atingir esse “padrão de vida” a todo custo.

“O oposto estaria nas imagens daqueles que não gostam deles mesmos, estão tristes, insatisfeitos, frustrados, incertos, inseguros. Mas não há quem se sinta ou seja empoderada e satisfeita consigo 24 horas por dia. O padrão imperativo a ser perseguido é evidentemente irreal e, por isso, constantemente frustrante”, ressalta.

A consequência de redes que apresentam pessoas apenas com filtros também esbarra em pessoas que não são reais. A pesquisadora conta que, na época das revistas de moda, os corpos, especialmente os femininos, já passavam por modificações, mas elas não se igualavam ao que pode ser feito hoje com tanta facilidade nas redes sociais.

“Acho que [o uso recorrente dos filtros] pode habituar o olhar: como se as imagens que o filtro proporciona fossem o que deve de fato existir no presencial”, diz.

Avisar quando usuários utilizam filtros faz diferença?

Redes como o Instagram avisam sobre o uso de filtros, mas mesmo assim constroem padrões de beleza. Foto: Pexels

O próprio TikTok e o Instagram avisam quando determinados filtros são utilizados pelo usuário. A diferença do aviso, conforme relata Denise, é apenas “formal”: os filtros ainda constroem imaginários sobre as aparências físicas, ainda mais se forem utilizados com tanta frequência.

“Diferente das maquiagens, o filtro não serve apenas para disfarçar, esconder, tapar e redesenhar traços do rosto. Ele modifica radicalmente volumes e formas do corpo inteiro”, explica a pesquisadora.

A autora ainda aponta um processo de “celebrização” provocado pelas redes sociais. Qualquer um pode se tornar uma celebridade ou um influenciador, basta seguir o padrão imposto pela internet.

“O embelezamento, que envolve desde as cirurgias plásticas até a alimentação e os cuidados com a saúde, é a maneira mais divulgada para a conquista dessa fábrica de celebridades efêmeras a qual muitos estão submetidos”, diz Denise.

Em longo prazo, as consequências impactam em uma busca desenfreada por algo que não faz parte da realidade, seja por quem influencia ou por quem é influenciado. “Será como dar água salgada a quem tem sede, a consequência é tornar-se insaciável e fragilizado”, finaliza.

O Estadão entrou em contato com o TikTok para esclarecer o uso das ferramentas que alteram o rosto, mas a rede social preferiu não se manifestar sobre o assunto.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

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