Self-service de humor

Opinião|A grandeza da minusculidade


Por Carlos Castelo

"Mal sabia que estava prestes a me tornar o Fidel Castro das narrativas curtas."

(Dall-E)  
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Quando decidi ministrar um curso sobre formas breves literárias, pensei comigo: "Legal, vou ensinar as pessoas a serem sucintas". Mal sabia que estava prestes a me tornar o Fidel Castro, daqueles discursos quilométricos, das narrativas curtas.

A ironia da situação não me escapou: eu, um autor acostumado a provocar risos com piadas curtas, agora estava me propondo a palestrar por quatro horas e meia sobre a arte de dizer tudo em poucas palavras. É como se um maratonista decidisse ensinar a correr 100 metros rasos.

Claro que preparei um plano de aula. Tão conciso quanto um tratado filosófico de Hegel. Para a primeira aula, já está planejado uma introdução de 89 minutos sobre a importância da brevidade, seguida por um minuto de silêncio para que todos os alunos possam voltar do cochilo.

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Na segunda aula, pretendo demonstrar a escrita de um haicai em tempo real. Imaginei-me suando por uma hora, rabiscando furiosamente no quadro, apenas para chegar ao sublime:

"Aula comprida

Alunos bocejam forte

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Fim dos trabalhos"

Para o grand finale, na terceira aula, lerei um ensaio de sete mil palavras sobre como dar um curso de formas breves. Ele está na minha "Trilogia da Sucintez", composta por três volumes de 600 páginas cada.

Entre os itens do meu curso "A Grandeza da Minusculidade", estão incluídos tópicos do tipo "Como transformar seu microconto em uma epopeia de 12 tomos" e "Aforismos: por que usar seis palavras quando são necessárias 500 para se expressar bem?".

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Enquanto preparava o material, percebi que estava criando o equivalente literário de um elefante explicando como ser um colibri. No fim das contas, concluí que o verdadeiro aprendizado viria não do conteúdo em si, mas da experiência existencial de se sentar por 270 minutos ouvindo uma pessoa tagarelar sobre como ser breve. Seria, no fundo, um curso prático sobre paciência, resiliência e o valor inestimável do silêncio.

Por outro lado, quem sabe, talvez eu não esteja revolucionando o ensino da literatura? Creio que não há nada mais eficaz para fazer alguém apreciar a beleza de um haicai, por exemplo, do que submetê-lo a horas intermináveis de prolixidade.

Então, se você me vir no mês de setembro em classe, transpirando em frente a uma turma sonolenta, saberá que estou apenas cumprindo minha missão: ensinar a arte da brevidade da maneira mais longa e tortuosa possível. Porque, sejamos honestos, a verdadeira educação é feita disso.

"Mal sabia que estava prestes a me tornar o Fidel Castro das narrativas curtas."

(Dall-E)  

Quando decidi ministrar um curso sobre formas breves literárias, pensei comigo: "Legal, vou ensinar as pessoas a serem sucintas". Mal sabia que estava prestes a me tornar o Fidel Castro, daqueles discursos quilométricos, das narrativas curtas.

A ironia da situação não me escapou: eu, um autor acostumado a provocar risos com piadas curtas, agora estava me propondo a palestrar por quatro horas e meia sobre a arte de dizer tudo em poucas palavras. É como se um maratonista decidisse ensinar a correr 100 metros rasos.

Claro que preparei um plano de aula. Tão conciso quanto um tratado filosófico de Hegel. Para a primeira aula, já está planejado uma introdução de 89 minutos sobre a importância da brevidade, seguida por um minuto de silêncio para que todos os alunos possam voltar do cochilo.

Na segunda aula, pretendo demonstrar a escrita de um haicai em tempo real. Imaginei-me suando por uma hora, rabiscando furiosamente no quadro, apenas para chegar ao sublime:

"Aula comprida

Alunos bocejam forte

Fim dos trabalhos"

Para o grand finale, na terceira aula, lerei um ensaio de sete mil palavras sobre como dar um curso de formas breves. Ele está na minha "Trilogia da Sucintez", composta por três volumes de 600 páginas cada.

Entre os itens do meu curso "A Grandeza da Minusculidade", estão incluídos tópicos do tipo "Como transformar seu microconto em uma epopeia de 12 tomos" e "Aforismos: por que usar seis palavras quando são necessárias 500 para se expressar bem?".

Enquanto preparava o material, percebi que estava criando o equivalente literário de um elefante explicando como ser um colibri. No fim das contas, concluí que o verdadeiro aprendizado viria não do conteúdo em si, mas da experiência existencial de se sentar por 270 minutos ouvindo uma pessoa tagarelar sobre como ser breve. Seria, no fundo, um curso prático sobre paciência, resiliência e o valor inestimável do silêncio.

Por outro lado, quem sabe, talvez eu não esteja revolucionando o ensino da literatura? Creio que não há nada mais eficaz para fazer alguém apreciar a beleza de um haicai, por exemplo, do que submetê-lo a horas intermináveis de prolixidade.

Então, se você me vir no mês de setembro em classe, transpirando em frente a uma turma sonolenta, saberá que estou apenas cumprindo minha missão: ensinar a arte da brevidade da maneira mais longa e tortuosa possível. Porque, sejamos honestos, a verdadeira educação é feita disso.

"Mal sabia que estava prestes a me tornar o Fidel Castro das narrativas curtas."

(Dall-E)  

Quando decidi ministrar um curso sobre formas breves literárias, pensei comigo: "Legal, vou ensinar as pessoas a serem sucintas". Mal sabia que estava prestes a me tornar o Fidel Castro, daqueles discursos quilométricos, das narrativas curtas.

A ironia da situação não me escapou: eu, um autor acostumado a provocar risos com piadas curtas, agora estava me propondo a palestrar por quatro horas e meia sobre a arte de dizer tudo em poucas palavras. É como se um maratonista decidisse ensinar a correr 100 metros rasos.

Claro que preparei um plano de aula. Tão conciso quanto um tratado filosófico de Hegel. Para a primeira aula, já está planejado uma introdução de 89 minutos sobre a importância da brevidade, seguida por um minuto de silêncio para que todos os alunos possam voltar do cochilo.

Na segunda aula, pretendo demonstrar a escrita de um haicai em tempo real. Imaginei-me suando por uma hora, rabiscando furiosamente no quadro, apenas para chegar ao sublime:

"Aula comprida

Alunos bocejam forte

Fim dos trabalhos"

Para o grand finale, na terceira aula, lerei um ensaio de sete mil palavras sobre como dar um curso de formas breves. Ele está na minha "Trilogia da Sucintez", composta por três volumes de 600 páginas cada.

Entre os itens do meu curso "A Grandeza da Minusculidade", estão incluídos tópicos do tipo "Como transformar seu microconto em uma epopeia de 12 tomos" e "Aforismos: por que usar seis palavras quando são necessárias 500 para se expressar bem?".

Enquanto preparava o material, percebi que estava criando o equivalente literário de um elefante explicando como ser um colibri. No fim das contas, concluí que o verdadeiro aprendizado viria não do conteúdo em si, mas da experiência existencial de se sentar por 270 minutos ouvindo uma pessoa tagarelar sobre como ser breve. Seria, no fundo, um curso prático sobre paciência, resiliência e o valor inestimável do silêncio.

Por outro lado, quem sabe, talvez eu não esteja revolucionando o ensino da literatura? Creio que não há nada mais eficaz para fazer alguém apreciar a beleza de um haicai, por exemplo, do que submetê-lo a horas intermináveis de prolixidade.

Então, se você me vir no mês de setembro em classe, transpirando em frente a uma turma sonolenta, saberá que estou apenas cumprindo minha missão: ensinar a arte da brevidade da maneira mais longa e tortuosa possível. Porque, sejamos honestos, a verdadeira educação é feita disso.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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