Self-service de humor

Opinião|No rastro do apocalipse


Por Carlos Castelo

Sobrou só um casal de serpentes, perdidas no meio do nada.

(Pinterest)  
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No fim, a Bíblia até que tinha razão. O mundo realmente acabou, só que não foi de uma vez, foi aos pouquinhos, como quando você vai largando um vício. Primeiro foram os vulcões explodindo por aí, depois veio o fogo consumindo tudo, tsunamis, tornados. O pacote completo. Sobrou só um casal de serpentes, perdidas no meio do nada.

Para completar a ironia, elas vagavam famintas por entre os destroços do que um dia foi a África. Tinham uma última esperança de matar a fome: um OXXO, mas a loja já estava fechada naquele horário.

Sem outra opção, foram arrastando os corpos até o sopé do monte Kilimanjaro. Ali, segundo a lenda, era possível falar com Deus. A serpente fêmea, a mais espiritual do casal, começou a rezar. Implorava pela presença do Senhor, questionava o destino trágico do planeta e, claro, o porquê de estarem morrendo de fome e sede literalmente naquele fim de mundo.

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Mas Deus não aparecia.

Quando os dois animais já estavam prestes a fenecer, em meio ao apocalipse, Ele surge. Nada de trombetas ou raios celestes, mas uma aparição discreta, como quem sai de um call importante só para ouvir uma fofoca. A serpente fêmea, ainda com uma gota de esperança e a saliva seca, perguntou:

- Com todo respeito à sua Pessoa, mas, afinal, o que deu errado? Por que o mundo foi condenado a um final tão trágico? E o que será da gente?

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Deus respirou fundo. Já tinha criado tantas versões para aquela história que até já começava a duvidar de como tudo começou. Suspirou e respondeu:

- O negócio é o seguinte: a humanidade fez o que quis e Eu deixei rolar. No fim, quem vai dar o último suspiro? Vocês, as serpentes. Faz sentido, não faz? Um ciclo completo, comendo o próprio rabo.

A serpente fêmea estava pasma, como quem descobre o final da série favorita em meio a uma conversa de elevador.

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- Sério? Então, a gente era o começo e agora somos o fim?

Deus deu de ombros, talvez não quisesse se comprometer demais. Mas sabe como cobra é bicho venenoso. Indignada com o silêncio divino, a bicha meteu esta:

-  Olha, nota zero pro teu roteiro, Criador...

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Não pegou bem. O Ser Superior, no ato, se transformou em um mangusto gigante e pôs-se a correr atrás do casal ofídio a fim de exterminá-los antes do tempo.

O marido, com aquele ar de quem sempre soube a verdade, soltou:

- Não disse pra tu não te meter nessa história de Adão e Eva? Agora, corre, corre!

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Sobrou só um casal de serpentes, perdidas no meio do nada.

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No fim, a Bíblia até que tinha razão. O mundo realmente acabou, só que não foi de uma vez, foi aos pouquinhos, como quando você vai largando um vício. Primeiro foram os vulcões explodindo por aí, depois veio o fogo consumindo tudo, tsunamis, tornados. O pacote completo. Sobrou só um casal de serpentes, perdidas no meio do nada.

Para completar a ironia, elas vagavam famintas por entre os destroços do que um dia foi a África. Tinham uma última esperança de matar a fome: um OXXO, mas a loja já estava fechada naquele horário.

Sem outra opção, foram arrastando os corpos até o sopé do monte Kilimanjaro. Ali, segundo a lenda, era possível falar com Deus. A serpente fêmea, a mais espiritual do casal, começou a rezar. Implorava pela presença do Senhor, questionava o destino trágico do planeta e, claro, o porquê de estarem morrendo de fome e sede literalmente naquele fim de mundo.

Mas Deus não aparecia.

Quando os dois animais já estavam prestes a fenecer, em meio ao apocalipse, Ele surge. Nada de trombetas ou raios celestes, mas uma aparição discreta, como quem sai de um call importante só para ouvir uma fofoca. A serpente fêmea, ainda com uma gota de esperança e a saliva seca, perguntou:

- Com todo respeito à sua Pessoa, mas, afinal, o que deu errado? Por que o mundo foi condenado a um final tão trágico? E o que será da gente?

Deus respirou fundo. Já tinha criado tantas versões para aquela história que até já começava a duvidar de como tudo começou. Suspirou e respondeu:

- O negócio é o seguinte: a humanidade fez o que quis e Eu deixei rolar. No fim, quem vai dar o último suspiro? Vocês, as serpentes. Faz sentido, não faz? Um ciclo completo, comendo o próprio rabo.

A serpente fêmea estava pasma, como quem descobre o final da série favorita em meio a uma conversa de elevador.

- Sério? Então, a gente era o começo e agora somos o fim?

Deus deu de ombros, talvez não quisesse se comprometer demais. Mas sabe como cobra é bicho venenoso. Indignada com o silêncio divino, a bicha meteu esta:

-  Olha, nota zero pro teu roteiro, Criador...

Não pegou bem. O Ser Superior, no ato, se transformou em um mangusto gigante e pôs-se a correr atrás do casal ofídio a fim de exterminá-los antes do tempo.

O marido, com aquele ar de quem sempre soube a verdade, soltou:

- Não disse pra tu não te meter nessa história de Adão e Eva? Agora, corre, corre!

 

 

 

Sobrou só um casal de serpentes, perdidas no meio do nada.

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No fim, a Bíblia até que tinha razão. O mundo realmente acabou, só que não foi de uma vez, foi aos pouquinhos, como quando você vai largando um vício. Primeiro foram os vulcões explodindo por aí, depois veio o fogo consumindo tudo, tsunamis, tornados. O pacote completo. Sobrou só um casal de serpentes, perdidas no meio do nada.

Para completar a ironia, elas vagavam famintas por entre os destroços do que um dia foi a África. Tinham uma última esperança de matar a fome: um OXXO, mas a loja já estava fechada naquele horário.

Sem outra opção, foram arrastando os corpos até o sopé do monte Kilimanjaro. Ali, segundo a lenda, era possível falar com Deus. A serpente fêmea, a mais espiritual do casal, começou a rezar. Implorava pela presença do Senhor, questionava o destino trágico do planeta e, claro, o porquê de estarem morrendo de fome e sede literalmente naquele fim de mundo.

Mas Deus não aparecia.

Quando os dois animais já estavam prestes a fenecer, em meio ao apocalipse, Ele surge. Nada de trombetas ou raios celestes, mas uma aparição discreta, como quem sai de um call importante só para ouvir uma fofoca. A serpente fêmea, ainda com uma gota de esperança e a saliva seca, perguntou:

- Com todo respeito à sua Pessoa, mas, afinal, o que deu errado? Por que o mundo foi condenado a um final tão trágico? E o que será da gente?

Deus respirou fundo. Já tinha criado tantas versões para aquela história que até já começava a duvidar de como tudo começou. Suspirou e respondeu:

- O negócio é o seguinte: a humanidade fez o que quis e Eu deixei rolar. No fim, quem vai dar o último suspiro? Vocês, as serpentes. Faz sentido, não faz? Um ciclo completo, comendo o próprio rabo.

A serpente fêmea estava pasma, como quem descobre o final da série favorita em meio a uma conversa de elevador.

- Sério? Então, a gente era o começo e agora somos o fim?

Deus deu de ombros, talvez não quisesse se comprometer demais. Mas sabe como cobra é bicho venenoso. Indignada com o silêncio divino, a bicha meteu esta:

-  Olha, nota zero pro teu roteiro, Criador...

Não pegou bem. O Ser Superior, no ato, se transformou em um mangusto gigante e pôs-se a correr atrás do casal ofídio a fim de exterminá-los antes do tempo.

O marido, com aquele ar de quem sempre soube a verdade, soltou:

- Não disse pra tu não te meter nessa história de Adão e Eva? Agora, corre, corre!

 

 

 

Sobrou só um casal de serpentes, perdidas no meio do nada.

(Pinterest)  

No fim, a Bíblia até que tinha razão. O mundo realmente acabou, só que não foi de uma vez, foi aos pouquinhos, como quando você vai largando um vício. Primeiro foram os vulcões explodindo por aí, depois veio o fogo consumindo tudo, tsunamis, tornados. O pacote completo. Sobrou só um casal de serpentes, perdidas no meio do nada.

Para completar a ironia, elas vagavam famintas por entre os destroços do que um dia foi a África. Tinham uma última esperança de matar a fome: um OXXO, mas a loja já estava fechada naquele horário.

Sem outra opção, foram arrastando os corpos até o sopé do monte Kilimanjaro. Ali, segundo a lenda, era possível falar com Deus. A serpente fêmea, a mais espiritual do casal, começou a rezar. Implorava pela presença do Senhor, questionava o destino trágico do planeta e, claro, o porquê de estarem morrendo de fome e sede literalmente naquele fim de mundo.

Mas Deus não aparecia.

Quando os dois animais já estavam prestes a fenecer, em meio ao apocalipse, Ele surge. Nada de trombetas ou raios celestes, mas uma aparição discreta, como quem sai de um call importante só para ouvir uma fofoca. A serpente fêmea, ainda com uma gota de esperança e a saliva seca, perguntou:

- Com todo respeito à sua Pessoa, mas, afinal, o que deu errado? Por que o mundo foi condenado a um final tão trágico? E o que será da gente?

Deus respirou fundo. Já tinha criado tantas versões para aquela história que até já começava a duvidar de como tudo começou. Suspirou e respondeu:

- O negócio é o seguinte: a humanidade fez o que quis e Eu deixei rolar. No fim, quem vai dar o último suspiro? Vocês, as serpentes. Faz sentido, não faz? Um ciclo completo, comendo o próprio rabo.

A serpente fêmea estava pasma, como quem descobre o final da série favorita em meio a uma conversa de elevador.

- Sério? Então, a gente era o começo e agora somos o fim?

Deus deu de ombros, talvez não quisesse se comprometer demais. Mas sabe como cobra é bicho venenoso. Indignada com o silêncio divino, a bicha meteu esta:

-  Olha, nota zero pro teu roteiro, Criador...

Não pegou bem. O Ser Superior, no ato, se transformou em um mangusto gigante e pôs-se a correr atrás do casal ofídio a fim de exterminá-los antes do tempo.

O marido, com aquele ar de quem sempre soube a verdade, soltou:

- Não disse pra tu não te meter nessa história de Adão e Eva? Agora, corre, corre!

 

 

 

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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