Self-service de humor

Opinião|O banheiro da discórdia


Por Carlos Castelo

A fedentina mascarada de fragrância ficou pairando sobre nossas cabeças por horas.

(Pinterest)  
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Na época do lançamento de produtos destinados a eliminar odores desagradáveis em banheiros, eu trabalhava em uma pequena agência de publicidade. Essas marcas funcionam criando uma camada sobre a água do vaso sanitário que, em tese, impedem o mau cheiro de se espalhar pelo ambiente.

Nosso escritório tinha três salas, e o departamento de Criação ficava espremido na do meio. Havia um banheiro comum para todos. Certa tarde, logo após o almoço, comecei a sentir um cheiro desconcertante. Uma mistura de fezes com aroma de bosque. Meu cérebro ficou indeciso: era esgoto ou perfume barato? Por um momento, tive um princípio de confusão mental, tontura e náuseas. Desde então, sempre que vejo um frasco desses produtos, sinto arrepios na espinha. Para mim, nunca houve dúvida: bosta é bosta, bosque é bosque. Anulam-se todas as disposições conflitantes.

A fedentina mascarada de fragrância ficou pairando sobre nossas cabeças por horas. Eu não tinha coragem de perguntar aos outros se estavam percebendo o mesmo que eu. Estamos sempre pisando em cascas de ovos nos ambientes corporativos, ainda mais quando se trata de levantar uma questão tão escatológica.

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Logo, porém, veio a reação dos colegas. O pessoal do Atendimento, sempre diplomático, fingia que nada acontecia. Os da Mídia, mais pragmáticos, abriam as janelas sem hesitar, enquanto o Planejamento começava a teorizar sobre o problema. Um deles chegou a sugerir que aquilo era uma analogia à nossa realidade: "A vida é isso, pessoal, floresta e imundície convivendo juntas."

Publicitários adoram brincar, mesmo com situações que ultrapassam o suportável. Propostas de slogans logo surgiram entre gargalhadas: "O cheiro vai, a lembrança fica" ou "Enfim, uma marca que leva o fedor a novos patamares." E assim, o aroma passou a fazer parte do dia a dia, uma espécie de piada interna que ninguém ousava discutir com seriedade.

No fundo, todos sabíamos que aquela mistura odorífera era apenas mais um reflexo do caos que permeava nosso cotidiano profissional. Trabalhar em uma agência de publicidade, afinal, sempre foi cheio de altos e baixos. Havia dias em que nos sentíamos gênios; em outros, só queríamos que o expediente terminasse logo, de preferência sem mais uma visita ao banheiro da discórdia.

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Agora, sempre que cruzo com um frasco de odorizador em toaletes, sou transportado de volta àquele escritório abafado, onde doçura e catinga tentavam, em vão, coexistir. O estômago revira, e eu reflito: tal como uma campanha ruim, um cheiro mal resolvido não têm solução. A existência, no fim das contas, é esse confronto constante entre o que gostaríamos de sentir e o que, inevitavelmente, sentimos.

 

A fedentina mascarada de fragrância ficou pairando sobre nossas cabeças por horas.

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Na época do lançamento de produtos destinados a eliminar odores desagradáveis em banheiros, eu trabalhava em uma pequena agência de publicidade. Essas marcas funcionam criando uma camada sobre a água do vaso sanitário que, em tese, impedem o mau cheiro de se espalhar pelo ambiente.

Nosso escritório tinha três salas, e o departamento de Criação ficava espremido na do meio. Havia um banheiro comum para todos. Certa tarde, logo após o almoço, comecei a sentir um cheiro desconcertante. Uma mistura de fezes com aroma de bosque. Meu cérebro ficou indeciso: era esgoto ou perfume barato? Por um momento, tive um princípio de confusão mental, tontura e náuseas. Desde então, sempre que vejo um frasco desses produtos, sinto arrepios na espinha. Para mim, nunca houve dúvida: bosta é bosta, bosque é bosque. Anulam-se todas as disposições conflitantes.

A fedentina mascarada de fragrância ficou pairando sobre nossas cabeças por horas. Eu não tinha coragem de perguntar aos outros se estavam percebendo o mesmo que eu. Estamos sempre pisando em cascas de ovos nos ambientes corporativos, ainda mais quando se trata de levantar uma questão tão escatológica.

Logo, porém, veio a reação dos colegas. O pessoal do Atendimento, sempre diplomático, fingia que nada acontecia. Os da Mídia, mais pragmáticos, abriam as janelas sem hesitar, enquanto o Planejamento começava a teorizar sobre o problema. Um deles chegou a sugerir que aquilo era uma analogia à nossa realidade: "A vida é isso, pessoal, floresta e imundície convivendo juntas."

Publicitários adoram brincar, mesmo com situações que ultrapassam o suportável. Propostas de slogans logo surgiram entre gargalhadas: "O cheiro vai, a lembrança fica" ou "Enfim, uma marca que leva o fedor a novos patamares." E assim, o aroma passou a fazer parte do dia a dia, uma espécie de piada interna que ninguém ousava discutir com seriedade.

No fundo, todos sabíamos que aquela mistura odorífera era apenas mais um reflexo do caos que permeava nosso cotidiano profissional. Trabalhar em uma agência de publicidade, afinal, sempre foi cheio de altos e baixos. Havia dias em que nos sentíamos gênios; em outros, só queríamos que o expediente terminasse logo, de preferência sem mais uma visita ao banheiro da discórdia.

Agora, sempre que cruzo com um frasco de odorizador em toaletes, sou transportado de volta àquele escritório abafado, onde doçura e catinga tentavam, em vão, coexistir. O estômago revira, e eu reflito: tal como uma campanha ruim, um cheiro mal resolvido não têm solução. A existência, no fim das contas, é esse confronto constante entre o que gostaríamos de sentir e o que, inevitavelmente, sentimos.

 

A fedentina mascarada de fragrância ficou pairando sobre nossas cabeças por horas.

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Na época do lançamento de produtos destinados a eliminar odores desagradáveis em banheiros, eu trabalhava em uma pequena agência de publicidade. Essas marcas funcionam criando uma camada sobre a água do vaso sanitário que, em tese, impedem o mau cheiro de se espalhar pelo ambiente.

Nosso escritório tinha três salas, e o departamento de Criação ficava espremido na do meio. Havia um banheiro comum para todos. Certa tarde, logo após o almoço, comecei a sentir um cheiro desconcertante. Uma mistura de fezes com aroma de bosque. Meu cérebro ficou indeciso: era esgoto ou perfume barato? Por um momento, tive um princípio de confusão mental, tontura e náuseas. Desde então, sempre que vejo um frasco desses produtos, sinto arrepios na espinha. Para mim, nunca houve dúvida: bosta é bosta, bosque é bosque. Anulam-se todas as disposições conflitantes.

A fedentina mascarada de fragrância ficou pairando sobre nossas cabeças por horas. Eu não tinha coragem de perguntar aos outros se estavam percebendo o mesmo que eu. Estamos sempre pisando em cascas de ovos nos ambientes corporativos, ainda mais quando se trata de levantar uma questão tão escatológica.

Logo, porém, veio a reação dos colegas. O pessoal do Atendimento, sempre diplomático, fingia que nada acontecia. Os da Mídia, mais pragmáticos, abriam as janelas sem hesitar, enquanto o Planejamento começava a teorizar sobre o problema. Um deles chegou a sugerir que aquilo era uma analogia à nossa realidade: "A vida é isso, pessoal, floresta e imundície convivendo juntas."

Publicitários adoram brincar, mesmo com situações que ultrapassam o suportável. Propostas de slogans logo surgiram entre gargalhadas: "O cheiro vai, a lembrança fica" ou "Enfim, uma marca que leva o fedor a novos patamares." E assim, o aroma passou a fazer parte do dia a dia, uma espécie de piada interna que ninguém ousava discutir com seriedade.

No fundo, todos sabíamos que aquela mistura odorífera era apenas mais um reflexo do caos que permeava nosso cotidiano profissional. Trabalhar em uma agência de publicidade, afinal, sempre foi cheio de altos e baixos. Havia dias em que nos sentíamos gênios; em outros, só queríamos que o expediente terminasse logo, de preferência sem mais uma visita ao banheiro da discórdia.

Agora, sempre que cruzo com um frasco de odorizador em toaletes, sou transportado de volta àquele escritório abafado, onde doçura e catinga tentavam, em vão, coexistir. O estômago revira, e eu reflito: tal como uma campanha ruim, um cheiro mal resolvido não têm solução. A existência, no fim das contas, é esse confronto constante entre o que gostaríamos de sentir e o que, inevitavelmente, sentimos.

 

A fedentina mascarada de fragrância ficou pairando sobre nossas cabeças por horas.

(Pinterest)  

Na época do lançamento de produtos destinados a eliminar odores desagradáveis em banheiros, eu trabalhava em uma pequena agência de publicidade. Essas marcas funcionam criando uma camada sobre a água do vaso sanitário que, em tese, impedem o mau cheiro de se espalhar pelo ambiente.

Nosso escritório tinha três salas, e o departamento de Criação ficava espremido na do meio. Havia um banheiro comum para todos. Certa tarde, logo após o almoço, comecei a sentir um cheiro desconcertante. Uma mistura de fezes com aroma de bosque. Meu cérebro ficou indeciso: era esgoto ou perfume barato? Por um momento, tive um princípio de confusão mental, tontura e náuseas. Desde então, sempre que vejo um frasco desses produtos, sinto arrepios na espinha. Para mim, nunca houve dúvida: bosta é bosta, bosque é bosque. Anulam-se todas as disposições conflitantes.

A fedentina mascarada de fragrância ficou pairando sobre nossas cabeças por horas. Eu não tinha coragem de perguntar aos outros se estavam percebendo o mesmo que eu. Estamos sempre pisando em cascas de ovos nos ambientes corporativos, ainda mais quando se trata de levantar uma questão tão escatológica.

Logo, porém, veio a reação dos colegas. O pessoal do Atendimento, sempre diplomático, fingia que nada acontecia. Os da Mídia, mais pragmáticos, abriam as janelas sem hesitar, enquanto o Planejamento começava a teorizar sobre o problema. Um deles chegou a sugerir que aquilo era uma analogia à nossa realidade: "A vida é isso, pessoal, floresta e imundície convivendo juntas."

Publicitários adoram brincar, mesmo com situações que ultrapassam o suportável. Propostas de slogans logo surgiram entre gargalhadas: "O cheiro vai, a lembrança fica" ou "Enfim, uma marca que leva o fedor a novos patamares." E assim, o aroma passou a fazer parte do dia a dia, uma espécie de piada interna que ninguém ousava discutir com seriedade.

No fundo, todos sabíamos que aquela mistura odorífera era apenas mais um reflexo do caos que permeava nosso cotidiano profissional. Trabalhar em uma agência de publicidade, afinal, sempre foi cheio de altos e baixos. Havia dias em que nos sentíamos gênios; em outros, só queríamos que o expediente terminasse logo, de preferência sem mais uma visita ao banheiro da discórdia.

Agora, sempre que cruzo com um frasco de odorizador em toaletes, sou transportado de volta àquele escritório abafado, onde doçura e catinga tentavam, em vão, coexistir. O estômago revira, e eu reflito: tal como uma campanha ruim, um cheiro mal resolvido não têm solução. A existência, no fim das contas, é esse confronto constante entre o que gostaríamos de sentir e o que, inevitavelmente, sentimos.

 

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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