Self-service de humor

Opinião|O ordinário extraordinário


Por Carlos Castelo

"Mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café".

(Arte de Luísa Boiati Castelo Branco)  
continua após a publicidade

Meu colega de ofício, o escritor e editor-adjunto da revista Rubem, Anthony Almeida, está ministrando um curso chamado Isso dá uma Crônica (que, aliás, recomendo a todos). Num de seus testemunhais em vídeo sobre a oficina, segurando uma caneca de café, Anthony diz que é possível escrever crônicas até mesmo sobre aquele utensílio.

Empedernido como sou, mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café. Uso uma muito especial, pintada por minha filha Luísa. Ganhei-a no Dia dos Pais, quando ela cursava a 3ª série do Fundamental. Traz minha figura no centro, ladeada por um livro, uma caneta, e óculos.

Fui logo encarando a companheira de porcelana, em busca de inspiração. Mas, ao contrário do resto de infusão que ela continha, o lampejo não veio forte. Surgiu como um café sem graça, do tipo FFFF: frio, fraco e com o fundo cheio de formigas.

continua após a publicidade

Tentei descrever suas curvas e relevos, como se ela fosse uma personagem de romance. Mas só consegui me ater à marca circular deixada por ela na mesa, como um lembrete do tempo que escorre tão rápido, manchando a madeira e a criatividade.

Pensei em elogiar sua resistência, sobrevivente de tantas madrugadas insones. Mas até isso não me pareceu digno de nota, e me vi encarando suas profundezas, como quem encara um precipício de cafeína.

Lembrei-me das noites em que, ainda zonzo de sono, confundi açúcar com sal, e ela, impassível, observou minha careta de amargor sem uma única trinca de riso. Ou da vez em que, na pressa, a derrubei, e ela quicou no chão como uma acrobata de circo, sem derramar uma gota sequer.

continua após a publicidade

Valei-me, São Lourenço de Huesca! Ai de mim se acontecesse algo com meu presente de Dia dos Pais! Nunca me perdoaria.

O fato é que ali ainda estava eu, mirando uma caneca vazia, tentando encontrar significantes para preenchê-la de significados. E quanto mais olhava, mais percebia que talvez a sua grandeza estivesse justamente em outras características. Sim, as de um objeto cotidiano, testemunha silenciosa de momentos ordinários e extraordinários, que guarda em suas dimensões histórias de uma existência. E, diante da epifania, conclui que o real desafio não seria encontrar algo para escrever sobre uma caneca de café, mas perceber que, mesmo nas coisas mais prosaicas, há um microcosmo a ser experienciado.

E, com esse pensamento, parei de tentar redigir a crônica. Bastou encher a caneca mais uma vez e provar seu conteúdo.

"Mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café".

(Arte de Luísa Boiati Castelo Branco)  

Meu colega de ofício, o escritor e editor-adjunto da revista Rubem, Anthony Almeida, está ministrando um curso chamado Isso dá uma Crônica (que, aliás, recomendo a todos). Num de seus testemunhais em vídeo sobre a oficina, segurando uma caneca de café, Anthony diz que é possível escrever crônicas até mesmo sobre aquele utensílio.

Empedernido como sou, mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café. Uso uma muito especial, pintada por minha filha Luísa. Ganhei-a no Dia dos Pais, quando ela cursava a 3ª série do Fundamental. Traz minha figura no centro, ladeada por um livro, uma caneta, e óculos.

Fui logo encarando a companheira de porcelana, em busca de inspiração. Mas, ao contrário do resto de infusão que ela continha, o lampejo não veio forte. Surgiu como um café sem graça, do tipo FFFF: frio, fraco e com o fundo cheio de formigas.

Tentei descrever suas curvas e relevos, como se ela fosse uma personagem de romance. Mas só consegui me ater à marca circular deixada por ela na mesa, como um lembrete do tempo que escorre tão rápido, manchando a madeira e a criatividade.

Pensei em elogiar sua resistência, sobrevivente de tantas madrugadas insones. Mas até isso não me pareceu digno de nota, e me vi encarando suas profundezas, como quem encara um precipício de cafeína.

Lembrei-me das noites em que, ainda zonzo de sono, confundi açúcar com sal, e ela, impassível, observou minha careta de amargor sem uma única trinca de riso. Ou da vez em que, na pressa, a derrubei, e ela quicou no chão como uma acrobata de circo, sem derramar uma gota sequer.

Valei-me, São Lourenço de Huesca! Ai de mim se acontecesse algo com meu presente de Dia dos Pais! Nunca me perdoaria.

O fato é que ali ainda estava eu, mirando uma caneca vazia, tentando encontrar significantes para preenchê-la de significados. E quanto mais olhava, mais percebia que talvez a sua grandeza estivesse justamente em outras características. Sim, as de um objeto cotidiano, testemunha silenciosa de momentos ordinários e extraordinários, que guarda em suas dimensões histórias de uma existência. E, diante da epifania, conclui que o real desafio não seria encontrar algo para escrever sobre uma caneca de café, mas perceber que, mesmo nas coisas mais prosaicas, há um microcosmo a ser experienciado.

E, com esse pensamento, parei de tentar redigir a crônica. Bastou encher a caneca mais uma vez e provar seu conteúdo.

"Mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café".

(Arte de Luísa Boiati Castelo Branco)  

Meu colega de ofício, o escritor e editor-adjunto da revista Rubem, Anthony Almeida, está ministrando um curso chamado Isso dá uma Crônica (que, aliás, recomendo a todos). Num de seus testemunhais em vídeo sobre a oficina, segurando uma caneca de café, Anthony diz que é possível escrever crônicas até mesmo sobre aquele utensílio.

Empedernido como sou, mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café. Uso uma muito especial, pintada por minha filha Luísa. Ganhei-a no Dia dos Pais, quando ela cursava a 3ª série do Fundamental. Traz minha figura no centro, ladeada por um livro, uma caneta, e óculos.

Fui logo encarando a companheira de porcelana, em busca de inspiração. Mas, ao contrário do resto de infusão que ela continha, o lampejo não veio forte. Surgiu como um café sem graça, do tipo FFFF: frio, fraco e com o fundo cheio de formigas.

Tentei descrever suas curvas e relevos, como se ela fosse uma personagem de romance. Mas só consegui me ater à marca circular deixada por ela na mesa, como um lembrete do tempo que escorre tão rápido, manchando a madeira e a criatividade.

Pensei em elogiar sua resistência, sobrevivente de tantas madrugadas insones. Mas até isso não me pareceu digno de nota, e me vi encarando suas profundezas, como quem encara um precipício de cafeína.

Lembrei-me das noites em que, ainda zonzo de sono, confundi açúcar com sal, e ela, impassível, observou minha careta de amargor sem uma única trinca de riso. Ou da vez em que, na pressa, a derrubei, e ela quicou no chão como uma acrobata de circo, sem derramar uma gota sequer.

Valei-me, São Lourenço de Huesca! Ai de mim se acontecesse algo com meu presente de Dia dos Pais! Nunca me perdoaria.

O fato é que ali ainda estava eu, mirando uma caneca vazia, tentando encontrar significantes para preenchê-la de significados. E quanto mais olhava, mais percebia que talvez a sua grandeza estivesse justamente em outras características. Sim, as de um objeto cotidiano, testemunha silenciosa de momentos ordinários e extraordinários, que guarda em suas dimensões histórias de uma existência. E, diante da epifania, conclui que o real desafio não seria encontrar algo para escrever sobre uma caneca de café, mas perceber que, mesmo nas coisas mais prosaicas, há um microcosmo a ser experienciado.

E, com esse pensamento, parei de tentar redigir a crônica. Bastou encher a caneca mais uma vez e provar seu conteúdo.

"Mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café".

(Arte de Luísa Boiati Castelo Branco)  

Meu colega de ofício, o escritor e editor-adjunto da revista Rubem, Anthony Almeida, está ministrando um curso chamado Isso dá uma Crônica (que, aliás, recomendo a todos). Num de seus testemunhais em vídeo sobre a oficina, segurando uma caneca de café, Anthony diz que é possível escrever crônicas até mesmo sobre aquele utensílio.

Empedernido como sou, mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café. Uso uma muito especial, pintada por minha filha Luísa. Ganhei-a no Dia dos Pais, quando ela cursava a 3ª série do Fundamental. Traz minha figura no centro, ladeada por um livro, uma caneta, e óculos.

Fui logo encarando a companheira de porcelana, em busca de inspiração. Mas, ao contrário do resto de infusão que ela continha, o lampejo não veio forte. Surgiu como um café sem graça, do tipo FFFF: frio, fraco e com o fundo cheio de formigas.

Tentei descrever suas curvas e relevos, como se ela fosse uma personagem de romance. Mas só consegui me ater à marca circular deixada por ela na mesa, como um lembrete do tempo que escorre tão rápido, manchando a madeira e a criatividade.

Pensei em elogiar sua resistência, sobrevivente de tantas madrugadas insones. Mas até isso não me pareceu digno de nota, e me vi encarando suas profundezas, como quem encara um precipício de cafeína.

Lembrei-me das noites em que, ainda zonzo de sono, confundi açúcar com sal, e ela, impassível, observou minha careta de amargor sem uma única trinca de riso. Ou da vez em que, na pressa, a derrubei, e ela quicou no chão como uma acrobata de circo, sem derramar uma gota sequer.

Valei-me, São Lourenço de Huesca! Ai de mim se acontecesse algo com meu presente de Dia dos Pais! Nunca me perdoaria.

O fato é que ali ainda estava eu, mirando uma caneca vazia, tentando encontrar significantes para preenchê-la de significados. E quanto mais olhava, mais percebia que talvez a sua grandeza estivesse justamente em outras características. Sim, as de um objeto cotidiano, testemunha silenciosa de momentos ordinários e extraordinários, que guarda em suas dimensões histórias de uma existência. E, diante da epifania, conclui que o real desafio não seria encontrar algo para escrever sobre uma caneca de café, mas perceber que, mesmo nas coisas mais prosaicas, há um microcosmo a ser experienciado.

E, com esse pensamento, parei de tentar redigir a crônica. Bastou encher a caneca mais uma vez e provar seu conteúdo.

"Mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café".

(Arte de Luísa Boiati Castelo Branco)  

Meu colega de ofício, o escritor e editor-adjunto da revista Rubem, Anthony Almeida, está ministrando um curso chamado Isso dá uma Crônica (que, aliás, recomendo a todos). Num de seus testemunhais em vídeo sobre a oficina, segurando uma caneca de café, Anthony diz que é possível escrever crônicas até mesmo sobre aquele utensílio.

Empedernido como sou, mesmo sendo alta madrugada, me pus a tentar desenvolver algo sobre a minha caneca de café. Uso uma muito especial, pintada por minha filha Luísa. Ganhei-a no Dia dos Pais, quando ela cursava a 3ª série do Fundamental. Traz minha figura no centro, ladeada por um livro, uma caneta, e óculos.

Fui logo encarando a companheira de porcelana, em busca de inspiração. Mas, ao contrário do resto de infusão que ela continha, o lampejo não veio forte. Surgiu como um café sem graça, do tipo FFFF: frio, fraco e com o fundo cheio de formigas.

Tentei descrever suas curvas e relevos, como se ela fosse uma personagem de romance. Mas só consegui me ater à marca circular deixada por ela na mesa, como um lembrete do tempo que escorre tão rápido, manchando a madeira e a criatividade.

Pensei em elogiar sua resistência, sobrevivente de tantas madrugadas insones. Mas até isso não me pareceu digno de nota, e me vi encarando suas profundezas, como quem encara um precipício de cafeína.

Lembrei-me das noites em que, ainda zonzo de sono, confundi açúcar com sal, e ela, impassível, observou minha careta de amargor sem uma única trinca de riso. Ou da vez em que, na pressa, a derrubei, e ela quicou no chão como uma acrobata de circo, sem derramar uma gota sequer.

Valei-me, São Lourenço de Huesca! Ai de mim se acontecesse algo com meu presente de Dia dos Pais! Nunca me perdoaria.

O fato é que ali ainda estava eu, mirando uma caneca vazia, tentando encontrar significantes para preenchê-la de significados. E quanto mais olhava, mais percebia que talvez a sua grandeza estivesse justamente em outras características. Sim, as de um objeto cotidiano, testemunha silenciosa de momentos ordinários e extraordinários, que guarda em suas dimensões histórias de uma existência. E, diante da epifania, conclui que o real desafio não seria encontrar algo para escrever sobre uma caneca de café, mas perceber que, mesmo nas coisas mais prosaicas, há um microcosmo a ser experienciado.

E, com esse pensamento, parei de tentar redigir a crônica. Bastou encher a caneca mais uma vez e provar seu conteúdo.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.