Self-service de humor

Opinião|Te pego na saída!


Por Carlos Castelo

"Não consigo imaginar bullyings em meus tempos bandeirantinos porque essa palavra nem existia."

(Pinterest)  
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Eu estudei no colégio Bandeirantes. Se você acha que não combina com meu physique du rôle, concordo plenamente consigo. Foi ideia dos meus pais, claro. Queriam que eu fosse engenheiro ou médico, um chavão da época. Naquela altura da vida, a coisa que eu mais queria era uma tarde sozinho, num quarto, com a Brigitte Bardot. Infelizmente, não foi possível. Só passei alguns momentos com ela no banheiro.

Como disse, após o exame de admissão, fui aceito para cursar a quinta série do tradicional ateneu. Fiquei assustado com a arquitetura de lá, lembrava um pouco a Hogwarts School. Nossa sala, por exemplo, era um anfiteatro vitoriano. No primeiro dia, me acomodei na última fileira, lá em cima, e imaginei que estava numa arena de touradas. Dona Odete, a mestra, era o miúra. Nunca mais consegui ter uma visão otimista sobre a educação.

Um menino como eu, com mais imaginação que jogador de futebol na hora de escolher o corte de cabelo, não podia estar ali. As Ciências Exatas eram tão importantes para a instituição que Literatura era ensinada através de equações. De fato, o Bandeirantes, ao menos naqueles anos, não era para poetas. Muito menos para poetas ruins como eu.

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Soube que o Band teve um trágico caso de bullying. Não consigo imaginar bullyings em meus tempos bandeirantinos porque essa palavra nem existia. Havia tretas, e as tretas eram resolvidas com uma frase: "te pego na saída!". Ou seja, na mão.

Voltei inúmeras vezes para casa tão despedaçado quanto um recruta argentino retornando da guerra das Malvinas. O pau comia e havia até uma espécie de Sporting Bet interno que gerenciava as apostas nos mini-boxeadores. Não preciso dizer que sempre fui o azarão. Só venci uma briga em todo o período: foi contra o contra o chão, cai em cima dele e não sai mais.

As coisas no século XXI, nós sabemos, se complicaram. O que era resolvido à base de meia dúzia de taponas no beiço, agora se transformou em manchete policial. Com isso, não absolvo o Bandeirantes, é óbvio. Na minha passagem por lá, não me recordo de ter visto muitos alunos negros. E os de preferência sexual não-hétero recebiam apelidos escabrosos e nunca eram convidados para as festinhas de fim de semana.

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Mais triste ainda é hoje ver meus colegas de classe, a maioria muito bem-posta na sociedade, ter virado, na sua grande maioria, reacionários. Pior: reacionários carecas e barrigudos.

Bandeirantes...com esse nome também não podíamos esperar grandes delicadezas de ti...

 

"Não consigo imaginar bullyings em meus tempos bandeirantinos porque essa palavra nem existia."

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Eu estudei no colégio Bandeirantes. Se você acha que não combina com meu physique du rôle, concordo plenamente consigo. Foi ideia dos meus pais, claro. Queriam que eu fosse engenheiro ou médico, um chavão da época. Naquela altura da vida, a coisa que eu mais queria era uma tarde sozinho, num quarto, com a Brigitte Bardot. Infelizmente, não foi possível. Só passei alguns momentos com ela no banheiro.

Como disse, após o exame de admissão, fui aceito para cursar a quinta série do tradicional ateneu. Fiquei assustado com a arquitetura de lá, lembrava um pouco a Hogwarts School. Nossa sala, por exemplo, era um anfiteatro vitoriano. No primeiro dia, me acomodei na última fileira, lá em cima, e imaginei que estava numa arena de touradas. Dona Odete, a mestra, era o miúra. Nunca mais consegui ter uma visão otimista sobre a educação.

Um menino como eu, com mais imaginação que jogador de futebol na hora de escolher o corte de cabelo, não podia estar ali. As Ciências Exatas eram tão importantes para a instituição que Literatura era ensinada através de equações. De fato, o Bandeirantes, ao menos naqueles anos, não era para poetas. Muito menos para poetas ruins como eu.

Soube que o Band teve um trágico caso de bullying. Não consigo imaginar bullyings em meus tempos bandeirantinos porque essa palavra nem existia. Havia tretas, e as tretas eram resolvidas com uma frase: "te pego na saída!". Ou seja, na mão.

Voltei inúmeras vezes para casa tão despedaçado quanto um recruta argentino retornando da guerra das Malvinas. O pau comia e havia até uma espécie de Sporting Bet interno que gerenciava as apostas nos mini-boxeadores. Não preciso dizer que sempre fui o azarão. Só venci uma briga em todo o período: foi contra o contra o chão, cai em cima dele e não sai mais.

As coisas no século XXI, nós sabemos, se complicaram. O que era resolvido à base de meia dúzia de taponas no beiço, agora se transformou em manchete policial. Com isso, não absolvo o Bandeirantes, é óbvio. Na minha passagem por lá, não me recordo de ter visto muitos alunos negros. E os de preferência sexual não-hétero recebiam apelidos escabrosos e nunca eram convidados para as festinhas de fim de semana.

Mais triste ainda é hoje ver meus colegas de classe, a maioria muito bem-posta na sociedade, ter virado, na sua grande maioria, reacionários. Pior: reacionários carecas e barrigudos.

Bandeirantes...com esse nome também não podíamos esperar grandes delicadezas de ti...

 

"Não consigo imaginar bullyings em meus tempos bandeirantinos porque essa palavra nem existia."

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Eu estudei no colégio Bandeirantes. Se você acha que não combina com meu physique du rôle, concordo plenamente consigo. Foi ideia dos meus pais, claro. Queriam que eu fosse engenheiro ou médico, um chavão da época. Naquela altura da vida, a coisa que eu mais queria era uma tarde sozinho, num quarto, com a Brigitte Bardot. Infelizmente, não foi possível. Só passei alguns momentos com ela no banheiro.

Como disse, após o exame de admissão, fui aceito para cursar a quinta série do tradicional ateneu. Fiquei assustado com a arquitetura de lá, lembrava um pouco a Hogwarts School. Nossa sala, por exemplo, era um anfiteatro vitoriano. No primeiro dia, me acomodei na última fileira, lá em cima, e imaginei que estava numa arena de touradas. Dona Odete, a mestra, era o miúra. Nunca mais consegui ter uma visão otimista sobre a educação.

Um menino como eu, com mais imaginação que jogador de futebol na hora de escolher o corte de cabelo, não podia estar ali. As Ciências Exatas eram tão importantes para a instituição que Literatura era ensinada através de equações. De fato, o Bandeirantes, ao menos naqueles anos, não era para poetas. Muito menos para poetas ruins como eu.

Soube que o Band teve um trágico caso de bullying. Não consigo imaginar bullyings em meus tempos bandeirantinos porque essa palavra nem existia. Havia tretas, e as tretas eram resolvidas com uma frase: "te pego na saída!". Ou seja, na mão.

Voltei inúmeras vezes para casa tão despedaçado quanto um recruta argentino retornando da guerra das Malvinas. O pau comia e havia até uma espécie de Sporting Bet interno que gerenciava as apostas nos mini-boxeadores. Não preciso dizer que sempre fui o azarão. Só venci uma briga em todo o período: foi contra o contra o chão, cai em cima dele e não sai mais.

As coisas no século XXI, nós sabemos, se complicaram. O que era resolvido à base de meia dúzia de taponas no beiço, agora se transformou em manchete policial. Com isso, não absolvo o Bandeirantes, é óbvio. Na minha passagem por lá, não me recordo de ter visto muitos alunos negros. E os de preferência sexual não-hétero recebiam apelidos escabrosos e nunca eram convidados para as festinhas de fim de semana.

Mais triste ainda é hoje ver meus colegas de classe, a maioria muito bem-posta na sociedade, ter virado, na sua grande maioria, reacionários. Pior: reacionários carecas e barrigudos.

Bandeirantes...com esse nome também não podíamos esperar grandes delicadezas de ti...

 

"Não consigo imaginar bullyings em meus tempos bandeirantinos porque essa palavra nem existia."

(Pinterest)  

Eu estudei no colégio Bandeirantes. Se você acha que não combina com meu physique du rôle, concordo plenamente consigo. Foi ideia dos meus pais, claro. Queriam que eu fosse engenheiro ou médico, um chavão da época. Naquela altura da vida, a coisa que eu mais queria era uma tarde sozinho, num quarto, com a Brigitte Bardot. Infelizmente, não foi possível. Só passei alguns momentos com ela no banheiro.

Como disse, após o exame de admissão, fui aceito para cursar a quinta série do tradicional ateneu. Fiquei assustado com a arquitetura de lá, lembrava um pouco a Hogwarts School. Nossa sala, por exemplo, era um anfiteatro vitoriano. No primeiro dia, me acomodei na última fileira, lá em cima, e imaginei que estava numa arena de touradas. Dona Odete, a mestra, era o miúra. Nunca mais consegui ter uma visão otimista sobre a educação.

Um menino como eu, com mais imaginação que jogador de futebol na hora de escolher o corte de cabelo, não podia estar ali. As Ciências Exatas eram tão importantes para a instituição que Literatura era ensinada através de equações. De fato, o Bandeirantes, ao menos naqueles anos, não era para poetas. Muito menos para poetas ruins como eu.

Soube que o Band teve um trágico caso de bullying. Não consigo imaginar bullyings em meus tempos bandeirantinos porque essa palavra nem existia. Havia tretas, e as tretas eram resolvidas com uma frase: "te pego na saída!". Ou seja, na mão.

Voltei inúmeras vezes para casa tão despedaçado quanto um recruta argentino retornando da guerra das Malvinas. O pau comia e havia até uma espécie de Sporting Bet interno que gerenciava as apostas nos mini-boxeadores. Não preciso dizer que sempre fui o azarão. Só venci uma briga em todo o período: foi contra o contra o chão, cai em cima dele e não sai mais.

As coisas no século XXI, nós sabemos, se complicaram. O que era resolvido à base de meia dúzia de taponas no beiço, agora se transformou em manchete policial. Com isso, não absolvo o Bandeirantes, é óbvio. Na minha passagem por lá, não me recordo de ter visto muitos alunos negros. E os de preferência sexual não-hétero recebiam apelidos escabrosos e nunca eram convidados para as festinhas de fim de semana.

Mais triste ainda é hoje ver meus colegas de classe, a maioria muito bem-posta na sociedade, ter virado, na sua grande maioria, reacionários. Pior: reacionários carecas e barrigudos.

Bandeirantes...com esse nome também não podíamos esperar grandes delicadezas de ti...

 

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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