Uma radiografia das estantes do meu domicílio.
§ A primeiro delas é Obras Completas (e outros contos) do escritor de origem hondurenha Augusto Monterroso. Na apresentação já temos uma boa ideia de por onde vamos navegar:
"Nestes contos, Monterroso recorre a fábulas, alegorias e ao fantástico, constrói histórias aparentemente simples para sintetizar sistemas de opressão e discriminação, neuroses contemporâneas e questões filosóficas. Contudo, talvez o que melhor represente sua obra seja o exíguo conto "O dinossauro", um achado da concisão formal, inversamente proporcional às possíveis interpretações que engendra, e que há décadas seduz leitores e críticos."
Ei-lo:
"Quando despertou, o dinossauro ainda estava lá".
O curioso é que Monterroso deu o drible do dinossauro chamando uma brochura de apenas 13 contos de Obras Completas. Na verdade, o título da obra é o de um dos contos incluídos nela: Obras Completas. O restante de sua produção, portanto, espera-se que a editora Mundaréu lance em breve. Afinal, como dizia Baltasar Gracián em seu Oráculo manual e arte da prudência: "Lo bueno, se breve, dos veces bueno".
§ Outro companheiro literário tem sido Pandemônio, Cronistas Brasileiros do Século XXI (Editora Lumiar). Trata-se de uma reunião de cronistas nacionais, de renomados escritores a jovens talentos, numa organização de Ana Karla Dubiella. Entre os presentes na seleção estão Zuenir Ventura, Xico Sá, Ivan Angelo, Luis Fernando Verissimo, Humberto Werneck e Carlos Eduardo Novaes. Evoé, jovens à vista, por poderem dividir o mesmo panteão com gente tão gabaritada. E viva a crônica brasileira!
§ A vida e as opiniões do cavalheiro Tristam Shandy. Este catatau de Laurence Sterne, agora lançado pela Penguin, está merecendo minha segunda apreciação. A inicial foi nos tempos de faculdade. A tradução é a original, do poeta José Paulo Paes. Sim, pode ser interessante reler algo que lhe influenciou tanto, tantos anos depois, numa nova roupagem. Deve ser a única coisa que Machado de Assis e eu temos em comum: visitar o Sterne, de vez em quando. Mas a fonte é boa e a intertextualidade recomendável.
§ A leitura da área poética vem sendo Iluminações - Uma cerveja no inferno, de Arthur Rimbaud. De cara, já me fixei no Uma cerveja no inferno (Une saison em enfer). A coleção de prosa e poemas do francês foi publicada em 1873, quando ele tinha 19 anos. É uma espécie de autobiografia espiritual, na qual o bardo faz um exame de sua vida e de sua carreira como poeta. A última seção, chamada "Adieu", é vista como o adeus de Rimbaud à poesia. Ele desistiu de escrever logo após a publicação. Numa palavra: demoníaco.
§ Sem máximas e aforismos ao lado, minha jornada não seria a mesma. Então vou degustando, aos pouquinhos, a Antologia da maldade, Volume II, Epígrafes para um país estressado. A escolha das frases foi de Gustavo H.B.Franco e Fábio Giambiagi. O espírito do material segue a epígrafe do próprio livro: "Citac?a?o e? o ato de repetir erroneamente as palavras de outrem. Ambrose Bierce". Isto significa que a malevolência superou o bem querer e, por conseguinte, o livro nos faz rir.