A série 'Maid', e os filmes 'Mães Paralelas' e 'A Filha Perdida' tratam de temas como culpa, inseguranças e solidão; os títulos serão tema de debate de live no Instagram neste domingo, 13, às 17h
A maternidade real, com todas suas nuances, incertezas e delicadezas, é o eixo em comum entre três produções recentes importantes, que podem ser conferidas na Netflix: a série 'Maid', e os filmes 'Mães Paralelas' e 'A Filha Perdida', dirigidos por Pedro Almodóvar e Maggie Gyllenhaal, respectivamente. As atrizes Penélope Cruz, de 'Mães Paralelas', e Olivia Colman e Jessie Buckley, de 'A Filha Perdida', foram indicadas para o Oscar deste ano.
Os três títulos serão tema da live 'Maternidade e Cinema', que será realizada neste domingo, 13, às 17h, no meu perfil do Instagram (@dridelre) e também no perfil da comunicadora/consultora de sustentabilidade Claudia Pereira (@clapereira1). Nós duas somos mães solos e idealizadoras do blog Família Plural, e conduziremos um bate-papo sobre questões ligadas à maternidade presentes nessas produções e responderemos a dúvidas de quem esteja participando da nossa live.
Das três produções, 'Maid' e 'Mães Paralelas' tratam diretamente da maternidade solo, mas com abordagens distintas. Inspirada numa história real, a série 'Maid', de Molly Smith Metzler, tem como personagem central a jovem Alex (Margaret Qualley), que sofre violência psicológica do namorado (a um passo de virar violência física) e foge do trailer onde eles moram no meio da noite com a filha de 3 anos do casal. Alex tem que começar a vida do zero, sem contar com uma rede de apoio para isso. E aí que entram as camadas mais profundas da trama.
Alex é cria de uma família disfuncional. Cresceu afastada do pai, que agredia sua mãe, e sua mãe, interpretada pela ótima Andie MacDowell, é bipolar, transitando entre a doçura e o desiquilíbrio completo. Assim, Alex se vê sozinha no mundo com uma filha para sustentar e cuidar. Além disso, a jovem não tem formação acadêmica, o que a obriga a se submeter a trabalhos precarizados e com baixa remuneração, ao se tornar 'funcionária' de uma empresa que oferece serviço de faxina. O desespero de 'matar um leão todo dia' para manter um filho é real e desesperador, como vemos acontecer com Alex.
Outro ponto importante abordado na série é a invisibilidade da mãe solo para o Estado. Alex só conseguiria auxílio do governo se denunciasse a violência doméstica que havia sofrido. No entanto, a jovem, a princípio, não se vê como uma vítima desse tipo de violência. Acredita que o namorado havia bebido demais e saído um pouco do controle. No entanto, não sendo vítima de violência doméstica, Alex não podia contar com o suporte de nenhum programa de auxílio do Estado por ser mãe solo.
No caso de 'Mães Paralelas', Almodóvar mostra os contrates entre a vida de duas mães solos, tendo um contexto político como pano de fundo. Duas mães, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), se conhecem no hospital e dão à luz no mesmo dia. São mulheres de realidades distantes: enquanto Janis tem uma carreira consolidada como fotógrafa e é independente financeiramente, Ana é adolescente e não conta com o suporte integral dos pais. Para Janis, a gravidez era algo desejado; para Ana, foi fruto de violência. Mesmo nas diferenças, as duas assumem seus papéis de mães: Janis com sua rede de apoio e estrutura financeira; Ana com o despertar do lado materno, apesar da pouca idade e das dificuldades.
Mais tarde, o destino as une novamente por um fato inesperado (lá vem spoiler). Sem entrar muito nos detalhes aqui, Janis enfrenta o dilema de revelar a Ana que houve uma troca de bebês no hospital e que sua filha, Cecília, na verdade, é de Ana. E isso remete a uma trama paralela no filme, em que Almodóvar mexe numa ferida histórica da Espanha. O bisavô de Janis e amigos dele foram mortos pela Falange Espanhola, grupo fascista na Guerra Civil Espanhola (1936 -1939), e Janis descobre em qual fossa foram eles enterrados.
As duas pontas da trama se conectam também aí: assim como houve uma tentativa de apagamento desse episódio trágico na História da Espanha, Janis não revelar a Ana que Cecília é sua filha é como se ela compactuasse com o apagamento da história da própria Cecília. Além disso, há um diálogo entre Ana e Janis em que aparecem fotos das mulheres da família da fotógrafa, que viraram mães solos e tiveram de criar os filhos sozinhas depois da morte de seus companheiros na Guerra Civil e na ditadura.
Já 'A Filha Perdida' mexe em outra ferida - essa não histórica, mas que diz respeito à mulher que vira mãe. Adaptação do livro de Elena Ferrante, o filme é uma obra de mulheres, na frente e atrás das câmeras. A professora universitária Leda, de 48 anos (Olivia Colman, em mais uma grande atuação), decide passar as férias sozinha na Grécia. Lá, ela se vê confrontada com o próprio passado ao conhecer a jovem mãe Nina (Dakota Johnson), e se conectar a ela nas inseguranças como mãe.
Mãe de duas filhas, Leda era casada e, assim como o marido, também tinha ambições profissionais, o que, como mulher e mãe, ela deveria deixar em segundo plano. Mas Leda não queria assumir esse papel. Tornar-se mãe também não trouxe um apagamento da Leda mulher, que tinha desejos sexuais. Aquela vida como mãe e esposa a sufocava.
Em determinado momento, ela decide deixar marido e filhas para investir na carreira e viver com o amante. Num diálogo doloroso com Nina, ela revela que aquele período foi "incrível". E faz isso aos prantos. Assim, o filme trata de temas que atravessam a vida de toda mãe, como culpa, ressentimentos, inseguranças, dilemas.
São três grandes produções feitas por protagonistas femininas - mas não só para o público feminino.