Tracey Livesay é uma autora norte-americana que tinha vontade de escrever um romance sobre um príncipe com uma mulher negra. Quando o príncipe Harry se casou com Meghan Markle parece que foi o sinal que precisava para reviver esse desejo e escrever Dinastia Americana. Os fãs de uma boa comédia romântica e que gostam do casal real foram conquistados pela história que uniu amores complicados, música, realeza, escândalos e, claro, cenas quentes.
Em entrevista ao Estadão, Tracey conta que inicialmente a história de Dinastia Americana, livro lançado pela Intrínseca aqui no Brasil, não foi inspirada no casal da família real britânica. “Na verdade, minha inspiração veio de uma revista que a Cardi B aparecia com um vestido de baile fugindo de um castelo. E essa era a ideia original: um conto de fadas entre um príncipe e uma rapper. Mas, Harry e Meghan fizeram com que isso mudasse. O fato de um membro da família real se apaixonando por uma pessoa negra americana se tornou relevante e essa história de amor me deu muito material para pesquisa”, explica.
No livro, a Danielle “Duquesa” Nelson, uma rapper que além da carreira de cantora investe no mercado da beleza (alô, Rihanna?), é convidada para cantar em um evento musical da família real. Lá, ela conhece o príncipe Jameson, neto da rainha da Inglaterra que largou os afazeres reais para ser professor universitário. O que James (como o príncipe é tratado ao longo do livro) não esperava era a atração que ele e Duquesa teriam um pelo outro no momento em que se conheceram.
Sobre as características entre Meghan e Duquesa, a autora reforça que vai além de serem mulheres negras que trabalham na indústria do entretenimento. Elas são “mulheres que têm uma compreensão fundamental de si mesmas e que não toleram a forma como são tratadas” em determinados lugares: “São inteligentes, mas constantemente subestimadas”.
Tracey Livesay trouxe as relações complicadas que o príncipe Harry tem com a família real para o contexto de Jameson, que se enxerga como um “peixe fora do aquário” entre seus parentes. “Tanto Harry, como James tem relações complicadas com a família e isso impactou na forma de aparecer para o mundo. Ambos se apaixonaram por mulheres que lhes deram forças para lutar por uma vida e amor para além do que os outros pensavam ou deveriam aceitar”, explica a autora.
‘Dinastia Americana’ é uma fanfic?
Por mais que pareça ser uma história vindo de fanfic, termo usado para histórias escritas e divulgadas por fãs, Tracey Livesay nega que esse seja intuito, mas sabe que é “impossível escapar dessa referência”.
“Penso que os fãs de Harry e Meghan, que acreditam no amor entre eles, entram na história de Dinastia Americana com uma compreensão básica do que Duquesa e Jameson terão de passar para superar e viver esse amor juntos. Eles [os fãs] já estão dispostos a amar meus personagens devido às semelhanças do casal Harry e Meghan”, fala.
Mesmo a história sendo inspirada no casal da família real britânica, Tracey não se considera fã da realeza. Ela brinca que sabe o básico, que lembra do casamento da princesa Diana e de sua morte, de William e Harry crescendo e sendo notícia nos tabloides, mas quando sentou para escrever Dinastia Americana foi o momento de ir mais fundo na história.
“Queria compreender como a família real funcionava. Li biografias sobre eles, livros sobre as casas, os empregados e até as formas como eles se vestiam. Assisti documentários, filmes... Isso foi importante pra mim e para o processo de escrita, pois fez com que o livro parecesse o mais real possível”, explica.
O amor inter-racial
Um dos debates de Dinastia Americana é o amor inter-racial entre a rapper Duquesa e o príncipe James, assim como Harry e Meghan. No livro, enquanto a cantora tem seu corpo objetificado e seus valores na indústria da beleza e da música questionados, Jameson precisa participar de eventos da família real mesmo deixando claro que não tinha mais interesse nessa rotina, e que queria viver a vida no “anonimato” e dando suas aulas.
Ela uma mulher negra que busca ser respeitada no meio em que trabalha. Ele um homem branco, com privilégios e que só queria uma vida de paz. E aqui temos o enredo perfeito de um romance, onde torcemos para que essa paixão seja avassaladora. Tracey buscou trazer o amor inter-racial onde “ser de diferentes raças não fosse o conflito principal” - e deu certo.
“Estou em uma relação inter-racial há 25 anos. Uma relação que mostra exatamente o que eu escrevo. E era isso que eu queria: uma história que refletisse a minha realidade”, fala.
Tracey Livesay aproveita para reforçar sobre o quanto o gênero romance é importante para o meio literário, mas que ainda é muito desvalorizado pela indústria.
“O amor, em todas as suas formas, faz com que as pessoas tenham simpatia, compaixão e aceitação. Quando se lê um romance, as línguas e costumes podem ser diferentes e estar muito longe do que estamos acostumados, mas é o momento de reconhecer o desejo. Através do amor e dos romances é possível ver que somos mais parecidos do que imaginamos. Esse é o primeiro passo pra não só superar, mas quebrar barreiras”, finaliza.