Nome que desperta saudade no humor brasileiro, Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda, nos deixou no dia 17 de junho de 2006, em plena disputa da Copa do Mundo da Alemanha. Fanático por futebol – especialmente pelo Flamengo e pela seleção brasileira – Bussunda teve uma vida marcada pela ligação com o esporte. O humorista teve o privilégio de cobrir as duas Copas realizadas na década de 1990 pelo Casseta & Planeta. Além disso, também foi colunista aqui no jornal O Estado de S. Paulo. Relembre alguns trechos de seus textos que ajudam a entender melhor a importância do futebol em sua vida.
Seleção Brasileira. "Às vezes não temos consciência da importância que um jogo do Brasil na Copa tem para todos nós. Nunca tantos brasileiros param ao mesmo tempo para fazer a mesma coisa e, no dia seguinte, comentar o mesmo assunto. Essa é a verdadeira religião do brasileiro." "Pra mim, futebol tem que ser espetáculo, não adianta nada ganhar jogando feio, tem que dar show."
Copa do Mundo. Emocionado logo após a conquista do tetra, Bussunda descrevia sua relação com o torneio: "O mais completo e emocionante dos esportes é o futebol! Três bilhões de pessoas do mundo inteiro assistiram à final!!! Os alemães e os italianos estão alguns anos-luz na nossa frente em termos de desenvolvimento, mas num esporte em que só é necessário dois pés e uma bola para jogar não tem pra eles." "Na saída do estádio, via a cena que mais me marcou. Um pai abraçado ao filho, que tinha no máximo um ano de idade, os dois de camisa da seleção. De repente, uma senhora pergunta: 'É a primeira Copa do garoto?'. Um País que conta o tempo em Copas, tem que dar certo."
Copa de 1970. Em uma de suas mais antigas lembranças do 'clima de Copa', Bussunda remetia ao tri conquistado pelo Brasil quando tinha apenas oito anos de idade. "Enquanto o País parava para assistir à Copa, tinha gente sendo torturada nos doi-codis do Brasil inteiro. Só que Pelé, Gérson, Jairzinho, Tostão e Rivelino não tinham nada a ver com isso. Foram 'enxulapando' um a um, todos os adversários, até chegar à finalíssima, contra a Itália. Quando Jairzinho meteu o terceiro gol dos 'canarinhos', meu pai veio do quarto com o saco de bombinhas em punho, aos gritos de Brasil-Brasil e estourando bomba para tudo que era lado." "Essa é a lembrança real que tenho daquela final. O resto é videotape. Me lembro das bombinhas e das ruas cheias de gente gritando." "Quem poderia imaginar que, 24 anos depois, contra a mesma Itália, eu estaria no estádio assistindo à final?"
Copa de 1994. "Por que é que não tem santo no Brasil? Me parece que há aí um certo preconceito do Vaticano contra nós, pobres cidadãos de Terceiro Mundo. Nossos milagres não são apreciados com o devido respeito. Na Copa de 94, por exemplo, não fossem os milagres do Romário, o que seria de nossa seleção?"Por essas e outras, é possível ter uma noção da importância que a competição disputada nos Estados Unidos teve para Bussunda. Fora de campo, foi a primeira em que realizou a cobertura para o Casseta & Planeta.
Antes de o título chegar, não faltavam 'cornetadas' bem-humoradas: "O Taffarel não sabe sair do gol. Aliás, se soubesse, já tinha saído há muito tempo". Também sobrava para Branco, que, segundo Bussunda, "na seleção pediu ao Parreira para ficar na lateral, que já é mais perto do vestiário e ele não cansa muito andando até lá quando termina o jogo...", e até para Raí: "Tá certo, meninas, eu sei que ele é um gato, mas se for por aí por que não botam o Marcos Palmeira de centroavante?" "Para vocês terem uma ideia, os americanos entendem tanto de futebol que, em todo lugar que eu vou, me perguntam se eu sou jogador. Não foi uma única vez, foram quatro ou cinco! Não que eu não pudesse jogar numa Copa do Mundo... Quem não pode jogar é a minha barriga!" "Em 70, ainda criança, não deu para ter a real noção do que era ser campeão do mundo. Vou dizer uma coisa: sexo é bom, muito bom, mas ser tetracampeão é muito melhor!"
Em depoimento ao Memória Globo, anos depois, relembrava: "A gente fazia os personagens, e ninguém fazia isso no mundo. Não tinha ninguém na Copa fazendo isso. Então eu ia gravar vestido de Maradona e o centro de imprensa parava, as pessoas queriam saber o que era aquilo. Na Copa tinha muita segurança, aquela segurança dos americanos. Pô, os caras não conseguiam entender. 'Tu é jornalista? Por que o jornalista tá saindo vestido de jogador?'. Entrava no centro de imprensa, saía com uma roupa. Ia pro banheiro, saia com outra. Os caras ficavam meio desconfiados".
Maradona. Ainda em 1994, Luis Fernando Veríssimo comentava a existência do personagem, com bom-humor: "As autoridades americanas decidiram cercar o campo no estádio de Palo Alto. Fui até lá, e tive uma surpresa: parecia o Maradona, uniformizado. Só bem perto descobri que o corpo era parecido, mas não era Maradona. Era o Bussunda."Copa de 1998.
Copa de 2006. A Copa da Alemanha foi a última de Bussunda. Após vibrar com a vitória sobre a Croácia na estreia da competição, o humorista sofreu um ataque cardíaco no dia 17 de junho, véspera da segunda partida da seleção, diante da Austrália. Parte do material gravado chegou a ir ao ar como forma de homenagem. Mesmo em seu enterro, o esporte continuava presente: foi realizado no ginásio Hélio Maurício, no Clube de Regatas Flamengo, no horário do jogo da seleção brasileira. Maria Paula, sua amiga e colega de Casseta, relembrou o momento de despedida no velório de Bussunda: "No sepultamento, bem na hora em que baixaram o caixão, saiu um gol do Brasil na Copa do Mundo. Foi uma cena surreal: nosso amigo sendo sepultado, e, ao mesmo tempo, o Rio de Janeiro gritando, festejando e fazendo sua homenagem final ao Bussunda. Foi uma coisa simbólica."
Bussunda e o futebol. Confira uma galeria com diversos momentos de Bussunda e o mundo do futebol: