A Rolling Stone teve acesso a uma carta enviada a executivos da Adidas, feita por ex-colaboradores da marca de Kanye West e também de pessoas que trabalharam com o artista na sua parceria com a marca alemã, que se encerrou em outubro após falas antissemitas do rapper. De acordo com a publicação, os colaboradores afirmaram que o ambiente de trabalho era “caótico” e “tóxico”, que Ye mostrava pornografia “hardcore” durante o horário de trabalho e algumas envolviam até sua ex-esposa, Kim Kardashian.
Em um dos episódios, que teria acontecido em 2017, uma mulher pediu para mudar de setor dentro da Adidas após reunião com Kanye. Segundo a carta, outras pessoas com cargos de direção na empresa estavam cientes do comportamento do artista, inclusive um vice-presidente.
“Na ocasião, West começou a gritar que os Yeezys ainda não estavam de acordo com seus padrões, então se aproximou de uma funcionária sênior, olhou para o pé, olhou para ela e disse: ‘Quero que você me faça um sapato que eu possa f*der’”.
A carta diz que ao longo dos anos, West usou táticas de intimidação com a equipe que eram provocativas, frequentemente sexualizadas e direcionadas às mulheres. O astro também teria exibido vídeos de sexo explícito durante as reuniões, fotos íntimas da ex-esposa Kim Kardashian em entrevistas de emprego e até suas próprias “sex tapes”.
Em outro momento, dois outros membros da equipe de design da Adidas afirmam que Ye mostrou vídeos pornográficos – incluindo gravações dele se envolvendo em atividades sexuais. Em outra ocasião, o cantor teria feito uma jovem estilista se sentar no chão durante uma reunião que durou horas.
“Você não merece se sentar à mesa”, disse uma outra pessoa, que reafirmou que astro fazia “jogos mentais” com a equipe.
“Steve Jobs ou Elon Musk tinham responsabilidade perante os acionistas. Kanye é 100% dono de suas marcas, ele pode fazer o que quiser, e estamos lá apenas para servir a ele”, falou.
Um outro ex-colaborador também contou que foi avisado por executivos da Adidas sobre a exibição de pornografia nas reuniões - e que os vídeos íntimos eram exibidos pelo menos cinco vezes durante uma reunião.
“Ele estaria em uma reunião e falaria com você, enquanto mexia no notebook para exibir um vídeo pornô. E ele dizia: ‘’Eu sei que é desconfortável, mas eu meio que preciso disso em segundo plano para me manter focado’”, contou.
Ambiente tóxico para as mulheres
A publicação mostra que a carta ainda aborda o comportamento do artista com mulheres, que segundo os ex-funcionários, o ambiente geral era “tóxico e caótico” e ele tinha “um padrão doentio de comportamento predatório em relação às mulheres”.
“O comportamento mais preocupante que deveria ter sido sinalizado pela equipe executiva logo no início da parceria é sua abordagem manipuladora e baseada no medo, ao mesmo tempo em que tenta afirmar o domínio sobre os funcionários da Adidas em salas fechadas”, afirmou o documento.
De acordo com os envolvidos, os comandantes da Adidas estavam cientes do comportamento de Kanye, mas “desligaram sua bússola moral”. Na carta, a equipe afirma que eles poderiam ter intervindo na situação problemática há muito tempo - já que eles tinham contrato vigente desde 2013.
“Não houve prestação de contas. Momentos difíceis aconteciam, com executivos na sala – de nível vice-presidente ou superior – e nada era feito. Você ainda tinha que aparecer para trabalhar no dia seguinte”, falou outra pessoa.
“Nos últimos anos, ele explodiu com as mulheres na sala, com comentários ofensivos, e recorria a referências sexualmente perturbadoras ao fornecer feedback de design. Esse tipo de resposta de um parceiro da marca é algo ao qual os funcionários da Adidas nunca devem ser submetidos, nem a liderança da empresa jamais deve tolerar” , continua o texto.
Os autores ainda acusam a Adidas de falta de responsabilidade e de terem sido “grandes facilitadores” do comportamento que o cantor teve com as pessoas.
Resposta da Adidas
Segundo a equipe, os executivos da Adidas deixavam claro que os funcionários podiam sair, caso se sentissem incomodados.
“Você não precisa ficar, mas imagine se Kanye está falando e você se levanta e sai. Não é como se ele fosse um profissional – ele provavelmente o chamaria ali mesmo”, disse.
Com a publicação feita pela revista americana, os representantes da Adidas emitiram um comunicado, afirmando que estão prestando apoio aos colaboradores.
“A Adidas não tolera discurso de ódio e comportamento ofensivo e, portanto, encerrou a parceria com a Adidas Yeezy. Estivemos e continuamos a conversar ativamente com nossos funcionários sobre os eventos que levaram à nossa decisão de encerrar a parceria. Eles têm todo o nosso apoio e, enquanto trabalhamos nos detalhes da rescisão, deixamos claro que queremos manter o talento e as habilidades de nossos funcionários dentro da organização”, diz a nota.
No comunicado, a marca também afirmou que não vai comentar mais sobre o que levou ao fim da parceria.
“A empresa não discutirá conversas privadas, detalhes ou eventos que levaram à nossa decisão de encerrar a parceria com a Adidas Yeezy e se recusa a comentar qualquer especulação relacionada”, finalizaram.