A atriz Claudia Alencar revelou que sofreu diversos tipos de agressão quando era jovem. Durante a ditadura militar no Brasil, quando tinha 22 anos, ela foi presa, torturada e estuprada.
Ao E+, a atriz deu detalhes dos momentos vividos na época de repressão. “Nós tínhamos um grupo de teatro clandestino que queria mudar o País para melhor. Eu estava na escola Osvaldo Aranha, no Brooklin [em São Paulo], quando eles [os militares] chegaram. Me prenderam com metralhadora, colocaram um capuz preto na cabeça e me jogaram no camburão. Fiquei presa durante 20 dias”, relatou.
“Eles mostravam diversas fotos para que a gente entregasse as outras pessoas do grupo. Colocavam no pau-de-arara, davam choque e chegaram a me estuprar”, detalhou Alencar. Após o período de prisão, a atriz foi libertada. “Consegui sair porque tinha um tio que era general, que morava em Brasília e tinha influência”, disse.
“Se eu visse algum deles hoje, não saberia reconhecer. É horrível. Provavelmente estão todos impunes. É triste perceber que o Brasil não mudou”, lamentou.
Além de sofrer com a opressão do regime, a artista também teve problemas dentro de casa, onde foi violentada pelo próprio pai. “Ele tinha distúrbios mentais, transtornos. Era muito violento, apesar de ser um sociólogo, um intelectual. Meu pai também foi preso durante o governo de Getúlio Vargas e em 1964, além de ter sido alijado pela família. Acho que isso fez com que ele agisse como agiu. É a desculpa que encontro para ele, porque já perdoei, mas não esqueci”, explicou.
Alencar também afirmou que o pai quase a matou durante a juventude. “Com 20 anos, cheguei em casa após ter saído com meu namorado e sem querer quebrei o portão da nossa casa. Meu pai começou a gritar, correu atrás de mim e me enforcou. Comecei a ver tudo escuro e minha mãe ali, vendo tudo, sem saber o que fazer. Quase morri e depois acordei deitada em uma cama”, lembrou.
Os problemas ainda se estenderam para casos amorosos. Um ex-namorado se revoltou quando ela quis terminar o namoro e a espancou. “Eu chegava com o olho roxo no trabalho, mas dizia que havia caído da escada. Graças a ajuda de uma psicóloga consegui me livrar dele”, confessou a atriz, que atualmente encontra forças na luta feminista para ajudar mulheres que também passaram por momentos de humilhação física ou moral.
Claudia atualmente dá palestras em todo o Brasil sobre força e empoderamento feminino. “Não existe classe que tenha sido mais vilipendiada que a das mulheres. Ainda ganhamos menos que o homem e somos abusadas diariamente”, ressaltou.
Com 40 papéis entre televisão e cinema, Alencar acredita que conseguiu superar completamente as dificuldades do passado. “Soube criar meus filhos, Yann e Cristal, muito bem, com carinho. Uma vez eu estava brincando tão contente com a minha filha e ela me disse: ‘Ai mãe.Tanta felicidade assim mata!’. E eu fiquei deslumbrada de alegria, porque percebi como a infância dela foi boa. E isso é algo que eu não tive”, concluiu.
*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais