DJs brasileiras e suas histórias: a busca pelo respeito, igualdade e valorização


Conheça quatro profissionais DJs que inspiram novas gerações

Por Leonardo Marco
Atualização:

Nesta quinta, 9 de março, comemora-se o Dia Internacional do DJ, profissional sempre presente em nosso momentos de alegria e com a missão de não deixar ninguém parado. Incontáveis pessoas que vivem da música, viram noites para ganhar o pão de cada dia. O Estadão celebra esta data com personagens de outra data importante.

Na quarta, 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, data marcada pela luta feminina e conquistas de direitos. Por isso, conversamos com quatro mulheres que atuam como DJs e inspiram novos talentos na música, rompendo as barreiras do machismo e preconceito.

Eli Iwasa

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Eliana Sumiko Iwasa está há mais de 20 anos atuando como DJ e está entre as profissionais que acompanharam de perto a ascensão da música eletrônica no Brasil. Formada em Publicidade e Marketing, ela diz que viver da música nunca foi uma escolha, pois desde pequena quis trabalhar nesta área. “Eu nunca fiz outra coisa da vida além de organizar festa e tocar. Então, pra mim, foi muito mais um chamado do que uma escolha, eu sempre quis viver de música e trabalhar com música, sempre foi a minha paixão. Porém, eu não imaginava que eu fosse viver de música sendo DJ, mas por meio de uma banda”.

Eli destaca o principal desafio da carreira. “Ser artista e trabalhar com música no Brasil é um desafio por si só. Enquanto mulher, é ainda mais desafiador, o mercado da música ainda é muito machista e, predominantemente, formado por profissionais homens. Mulheres têm que se provar constantemente, não importa o quão bem sucedida você seja. Estou no melhor momento da minha carreira e, mesmo assim, os desafios são constantes”.

Eli Iwasa atua como DJ há 20 anos e também é empresária Foto: Aruan Viola/Divulgação
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A artista afirma que sentiu uma mudança na última década em relação à presença das mulheres na música eletrônica, principalmente no cenário mais underground, citando nomes como Peggy Gou, Nina Kraviz, Amelie Lens e Charlotte de Witte. “Eu vejo que o mercado vem se transformando de uma maneira muito importante, não só para as mulheres e o mercado, mas para a sociedade. As mulheres estão conquistando cada vez mais espaços e voz, inspirando outras mulheres a correrem atrás dos seus sonhos, não só nos palcos, mas nos bastidores também”.

A DJ ressalta que a união fortalece essa transformação. “Uma das coisas mais importantes deste movimento todo é que entendemos que, ao contrário do que é ensinado pra gente há uns anos, não competimos uma com a outra, entendemos que juntas somos muito mais fortes e conseguimos acessar mais outros espaços juntas, provocando essas transformações mais rápido”.

Eli acredita que não basta só colocar uma artista no line-up, mas que também é importante estar em espaços e posições de poder. “Quando a gente coloca nos festivais, em clubes e festas um line-up mais diverso e inclusivo, geralmente, tem mulheres, pessoas da comunidade LGBTQIA+ e pessoas de cor. Quando essas pessoas ocupam esses espaços, as transformações são muito genuínas, elas vivem isso. Não só artistas, mas todas as profissionais”.

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Indicada três vezes na categoria “Melhor DJ” no Women’s Music Event Awards, Iwasa também é empresária e conta com o projeto Closer, que promove uma troca de experiências entre as profissionais mulheres. “Com o tempo, eu vejo que só fazer meu trabalho como DJ e empresária dona de clube, não basta. O que vai realmente ficar é o que eu posso compartilhar com as pessoas, que são esses espaços, as possibilidades, poder inspirar outras meninas a tocarem e fazerem suas festas, terem seus núcleos e selos”, pontua.

Eli Iwasa durante show na Time Warp Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Eli se apresentará no Lollapalooza 2023 pela primeira vez, no dia 25 de março, e detalhou o sentimento. O Lollapalooza é um grande sonho, é a realização de um grande sonho. Eu venho do underground e aí eu olho para trás e vejo todo esse caminho, toda essa trajetória até chegar no Lolla é muito emocionante. Eu nunca imaginei, eu sempre quis, mas não pensava que seria possível. O Lolla, principalmente para todo artista do mundo eletrônico, é um momento de consagração e celebração. Isso motiva a gente e dá o sentimento de que estamos no caminho certo.

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Carola

Carolina Alcântara, uma menina da periferia de Porto Alegre, que alçou voos com seu talento. Mulher preta que viu na música uma oportunidade de mudar sua vida e a realidade da família. “Venho de uma família onde algumas pessoas tinham formação musical, eram consideradas profissionais, mas estudaram por conta própria para chegarem no nível musical que estavam, pois venho de uma família muito pobre. Naquela época, eu entendi que viver da arte poderia contribuir para que eu mudasse a minha realidade. Sempre tive o sonho de ser bem sucedida, bem financeiramente. A música foi algo que olhei e falei: ‘se eu fizer isso, talvez, eu consiga me colocar, e colocar a minha família, em um nível financeiro que não conseguiria com outras profissões’”.

Tocando desde 2012, Carola, como é conhecida carinhosamente no mundo musical, vê como principal desafio a busca pelo respeito, principalmente pelas pessoas que já estão inseridas dentro deste mercado. Ela ressalta que, como em qualquer outra área, na música eletrônica existe um processo de validação do trabalho da mulher. Ela desabafa como é enfrentar essas barreiras.

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Carola está há 11 anos como DJ Foto: Arquivo Pessoal/Carola

“Hoje, mais do nunca, é ser uma resistência. A gente é uma figura que a galera não está habituada em ver na música eletrônica. Temos poucas DJs, pretas então, nem se fala. Às vezes, sinto que preciso provar três vezes mais que eu sou boa no que estou fazendo, diferente de outros artistas. Preciso sempre conquistar mais coisas para validar o quanto sou boa e quanto mereço tudo isso”, diz.

A artista que já se apresentou no Tomorrowland, um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo, destaca os projetos femininos que apareceram durante a pandemia. “Sinto que nos últimos anos apareceram muitas meninas, acho isso incrível e quero que tenha cada vez mais, que sejam valorizadas e procurem sempre se profissionalizar e estudem o máximo possível. No fim, é isso, a gente tem que vencer pela música. A música ganha com a presença da mulher”.

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Ela acrescenta o papel da representatividade. “As pessoas precisam se sentir representadas. Quando comecei, não me sentia representada, ninguém acreditava que poderia dar certo, porque ninguém via uma profissional igual a mim ocupando esse espaço. O fato de eu estar conquistando tantas coisas, tocando em festivais importantes e, principalmente, ser uma artista do Brasil, que veio da periferia de Porto Alegre, ocupando esses espaços faz com que as pessoas olhem para mim e se sintam representadas”.

Carola já se apresentou no Rock in Rio Foto: @framenatalia/Divulgação

Carola também marcará presença na edição deste ano do Lollapalooza, mas conta que não é a primeira vez que participará do evento. “O Lolla tem uma coisa muito especial, pois foi um dos primeiros festivais que eu fui na minha vida. Nasci na periferia de Porto Alegre, me criei lá e morei lá até os vinte e pouco anos. Fui em duas edições, em 2013 e 2014, juntei grana para ir e lembro da experiência de estar lá. Eu já amava música eletrônica e trabalhava com isso, então fiquei boa parte do evento no palco Perry. O Lolla tem esse gostinho especial pelo fato de já ter participado em outras edições e, enquanto estava lá, idealizar isso [tocar]. Estou contando os segundos”.

Aline Rocha

Há quase 20 anos, uma jovem, após perder o emprego em uma agência de publicidade, decidiu viver da música. Aline Rocha, natural de Franca, interior de São Paulo, cresceu ouvindo música, já que o pai é radialista. Fez aulas de balé, sapateado, violão e teclado na adolescência. Paralelo ao curso de Publicidade e Propaganda, fazia aulas de teatro com o sonho de ser atriz. Porém, seu caminho foi outro.

Assim como Carola, Aline reforça a dificuldade de encontrar o respeito na área. “Eu sempre levei muito a sério, mas a dificuldade da mulher é ser levada a sério sendo quem ela é. As pessoas não olham a essência, elas olham primeiro a imagem, fazem um julgamento e depois vão olhar a essência. Hoje, me vejo no meu melhor momento. Me sinto orgulhosa e vencedora, porque sei o quanto é difícil. Me sinto feliz pelas oportunidades que tive de mostrar quem eu sou e o que eu faço. As oportunidades que tive de falar, dialogar com o público e com as pessoas da cena”.

Aline Rocha é um dos nomes em ascensão na música eletrônica Foto: Arquivo Pessoal/Aline Rocha

A DJ, que ganhou os holofotes nos últimos anos, é direta quando o assunto é machismo. Ela ressalta que nem ela e nem sua equipe admitem qualquer forma de preconceito ou discriminação, frisando que o amor é o caminho para vencer essas barreiras.

“Tem pouca gente falando sobre amor e muita gente dando voz para o ódio. O ódio é o causador de todas essas divisões e segregações. Vejo poucos artistas fomentando o amor, o respeito e a diversidade. Cresci como artista tocando house, um estilo que não vende tão bem assim, falando sobre amor e alimentando isso. Eu brinco no Twitter que sou a ‘militante do amor’. A gente fomentando o respeito a sonoridade, a música, ao indivíduo, conseguiremos diminuir o ódio”

Aline Rocha conta que, durante a pandemia, criou um grupo para conhecer as mulheres que atuam como DJs no Brasil. Segundo ela, mais de 200 meninas se conheceram e compartilharam vivências, mas desabafa sobre o fim do grupo.

“Fiz esse grupo e conheci DJs mulheres do Brasil inteiro, e elas também começaram a se conhecer, criando uma conexão entre elas. Algumas me mandam mensagens até hoje. Surgiram subgrupos daquele grupo, que acabaram por conta de uma cultura tóxica de competição entre as mulheres. São tão poucas oportunidades, que a mulher é educada e obrigada a competir, pois estão brigando pela mesma oportunidade. Isso é muito triste”, comenta.

Aline Rocha é uma das grandes representantes do House Music no Brasil Foto: Arquivo Pessoal/Aline Rocha

E completa: “Infelizmente, ainda não tenho a fama e o alcance suficiente para chegar para os contratantes e falar: ‘Olha, eu só toco se antes tocar uma menina’. Os DJs que são muito grandes tem esse alcance em relação ao contratante. Então, trabalho dentro das minhas possibilidades, indicando, falando. Não gosto muito de falar, mas as pessoas que eu ajudo, sabem que as ajudei e é isso que é importante para mim. A gente precisa de mais suporte e amor do que de marketing”.

Com passagem pelo Defected Croatia Festival, um dos maiores festivais de House Music do mundo, Aline também se prepara para o Lolla 2023. “É muito legal ver seu nome em um flyer que tem tanta gente legal, em um evento que mobiliza tanto o País. Fico muito contente, é mais um ‘check’ em um sonho que estou realizando. Quando você tem a oportunidade de dividir seu trabalho em um lugar gigantesco como o Autódromo de Interlagos, em um Lollapalooza, é um sentimento de gratidão e merecimento. Falo isso com humildade, pois sabemos o quanto ralamos para merecer”.

Bárbara Labres

Dos gramados para os palcos. Esse foi a travessia de Bárbara Labres, gaúcha, mas que encontrou o sucesso na cidade maravilhosa. Apaixonada por futebol, jogou bola até a adolescência, mas perdeu o ânimo após duas lesões no joelho. Passou por uma faculdade de Educação Física, porém, foi um conselho de sua mãe que a colocou no caminho da música.

“Minha mãe sempre falava para eu ir nas baladas, conhecer gente, pra sair, porque sempre fui muito na minha, reservada, muito tímida. Comecei a ir nas baladas, eu sempre ia para as baladas gays porque eu me sentia mais à vontade. Um dia, em uma dessas baladas, estava acontecendo um sorteio para um curso de DJ e acabei ganhando. Mas, eu nem ia no curso, pois era no mesmo dia de um torneio de futebol. Em dado momento, um cara do curso me ligou e falou assim: ‘Bárbara, por que você não vem fazer? Vem só uma aula pra ver se você gosta’. O curso já estava acabando, mas eu fui e não me interessei muito naquela aula”, revela.

Bárbara Labres é apaixonada por futebol e música Foto: Arquivo Pessoal/Bárbara Labres

Sua primeira apresentação foi na formatura do curso. “Chamei um amigo que era DJ lá da minha cidade e ele me ensinou a tocar. Fiz um intensivão de aulas, fiz aulas todos os dias, assistindo vídeo na internet. Beleza, aprendi a tocar. Quando fui tocar, pela primeira vez, na formatura deste curso e eu vi que todo mundo olhou pra mim, que quando eu falava ‘levanta a mão’ e todo mundo levantava, todo mundo dançando e curtindo, eu falei: ‘Isso é muito irado’”.

Bárbara classifica como maior desafio sua mudança para o Rio de Janeiro, após ser vista em Porto Alegre por um empresário, que acabou sendo uma lembrança ruim em sua vida, já que a abandonou após ela não aceitar as tentativas de abuso. “Eu tive muita sorte porque tive pessoas incríveis do meu lado que me ajudaram. Eu ganhava para sobreviver, passava fome para ter o dinheiro do aluguel do quartinho pequenininho que eu morava, fui me virando. Durante três anos foi perrengue”, desabafa.

Recebeu uma ligação da Globo para se apresentar no The Voice Brasil e, após o ato, ganhou seguidores e passou a vender seus shows. Porém, um das teclas em que sempre bate é a desigualdade existente no mercado. “Eu conheço muitas mulheres DJs, mas que não são tão valorizadas quanto os homens. Por quê? Elas têm o mesmo talento, tá ligado?! Só que, por algum motivo, as pessoas preferem valorizar os homens. Vejo que devagarinho estamos abrindo o mercado. Tenho várias amigas que estão vivendo de música, mas penso que há muito para evoluir ainda. Se a gente não se impor, nunca vão entender nosso valor”.

Ela ainda detalha como o machismo fez parte da sua trajetória na música. “Quando a gente vendia show, divulgavam assim: ‘Bárbara Labres, a DJ gata’. A minha beleza, a minha aparência sempre vinha na frente e eu sempre pedi para tirar isso dos flyers. Nunca deixei eles me divulgarem desta forma. A imagem conta muito, mas se você não é bom, você não volta. A aparência não enche casa, não lota casa, não dá grana para o contratante. Então, você precisa ser boa no que você faz. Muitas vezes, eu tive que ir pela minha aparência e mostrar que sou boa no que faço, que tenho profissionalismo, que tenho uma equipe por trás do que faço, um planejamento na minha carreira”, pontua.

Bábara Labres faz sucesso tocando funk Foto: Instagram/@barbaralabres

Empresária e empreendedora, Bárbara questiona a diferença entre os cachês para artistas masculinos e femininos. “Por que uma mulher ganha X e um cara ganha Y? Sempre que eu tenho a oportunidade, eu mostro o que tem por trás. Até a gente chegar no palco tem muita caminhada. É muito complexo nosso trabalho e tento sempre dar o meu melhor como DJ para ficar cada vez mais conhecida como DJ, buscando ser uma referência para outras mulheres”.

Estando entre as 50 melhores DJ’s do mundo pela DJaneMag, Labres prepara um álbum para 2023. “Agora, com a minha equipe que me deixa confortável para entregar um show top, quero que 2023 seja um ano de lançamento, de música, de planejamento. Tenho muita música guardada e pretendo lançar um álbum. Quero me arriscar em várias coisas novas e diferentes. Quero lançar músicas sozinhas, mas também quero fazer colaborações com artistas que admiro. Vou trabalhar muito para que o meu trabalho fique cada vez mais reconhecido”.

Nesta quinta, 9 de março, comemora-se o Dia Internacional do DJ, profissional sempre presente em nosso momentos de alegria e com a missão de não deixar ninguém parado. Incontáveis pessoas que vivem da música, viram noites para ganhar o pão de cada dia. O Estadão celebra esta data com personagens de outra data importante.

Na quarta, 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, data marcada pela luta feminina e conquistas de direitos. Por isso, conversamos com quatro mulheres que atuam como DJs e inspiram novos talentos na música, rompendo as barreiras do machismo e preconceito.

Eli Iwasa

Eliana Sumiko Iwasa está há mais de 20 anos atuando como DJ e está entre as profissionais que acompanharam de perto a ascensão da música eletrônica no Brasil. Formada em Publicidade e Marketing, ela diz que viver da música nunca foi uma escolha, pois desde pequena quis trabalhar nesta área. “Eu nunca fiz outra coisa da vida além de organizar festa e tocar. Então, pra mim, foi muito mais um chamado do que uma escolha, eu sempre quis viver de música e trabalhar com música, sempre foi a minha paixão. Porém, eu não imaginava que eu fosse viver de música sendo DJ, mas por meio de uma banda”.

Eli destaca o principal desafio da carreira. “Ser artista e trabalhar com música no Brasil é um desafio por si só. Enquanto mulher, é ainda mais desafiador, o mercado da música ainda é muito machista e, predominantemente, formado por profissionais homens. Mulheres têm que se provar constantemente, não importa o quão bem sucedida você seja. Estou no melhor momento da minha carreira e, mesmo assim, os desafios são constantes”.

Eli Iwasa atua como DJ há 20 anos e também é empresária Foto: Aruan Viola/Divulgação

A artista afirma que sentiu uma mudança na última década em relação à presença das mulheres na música eletrônica, principalmente no cenário mais underground, citando nomes como Peggy Gou, Nina Kraviz, Amelie Lens e Charlotte de Witte. “Eu vejo que o mercado vem se transformando de uma maneira muito importante, não só para as mulheres e o mercado, mas para a sociedade. As mulheres estão conquistando cada vez mais espaços e voz, inspirando outras mulheres a correrem atrás dos seus sonhos, não só nos palcos, mas nos bastidores também”.

A DJ ressalta que a união fortalece essa transformação. “Uma das coisas mais importantes deste movimento todo é que entendemos que, ao contrário do que é ensinado pra gente há uns anos, não competimos uma com a outra, entendemos que juntas somos muito mais fortes e conseguimos acessar mais outros espaços juntas, provocando essas transformações mais rápido”.

Eli acredita que não basta só colocar uma artista no line-up, mas que também é importante estar em espaços e posições de poder. “Quando a gente coloca nos festivais, em clubes e festas um line-up mais diverso e inclusivo, geralmente, tem mulheres, pessoas da comunidade LGBTQIA+ e pessoas de cor. Quando essas pessoas ocupam esses espaços, as transformações são muito genuínas, elas vivem isso. Não só artistas, mas todas as profissionais”.

Indicada três vezes na categoria “Melhor DJ” no Women’s Music Event Awards, Iwasa também é empresária e conta com o projeto Closer, que promove uma troca de experiências entre as profissionais mulheres. “Com o tempo, eu vejo que só fazer meu trabalho como DJ e empresária dona de clube, não basta. O que vai realmente ficar é o que eu posso compartilhar com as pessoas, que são esses espaços, as possibilidades, poder inspirar outras meninas a tocarem e fazerem suas festas, terem seus núcleos e selos”, pontua.

Eli Iwasa durante show na Time Warp Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Eli se apresentará no Lollapalooza 2023 pela primeira vez, no dia 25 de março, e detalhou o sentimento. O Lollapalooza é um grande sonho, é a realização de um grande sonho. Eu venho do underground e aí eu olho para trás e vejo todo esse caminho, toda essa trajetória até chegar no Lolla é muito emocionante. Eu nunca imaginei, eu sempre quis, mas não pensava que seria possível. O Lolla, principalmente para todo artista do mundo eletrônico, é um momento de consagração e celebração. Isso motiva a gente e dá o sentimento de que estamos no caminho certo.

Carola

Carolina Alcântara, uma menina da periferia de Porto Alegre, que alçou voos com seu talento. Mulher preta que viu na música uma oportunidade de mudar sua vida e a realidade da família. “Venho de uma família onde algumas pessoas tinham formação musical, eram consideradas profissionais, mas estudaram por conta própria para chegarem no nível musical que estavam, pois venho de uma família muito pobre. Naquela época, eu entendi que viver da arte poderia contribuir para que eu mudasse a minha realidade. Sempre tive o sonho de ser bem sucedida, bem financeiramente. A música foi algo que olhei e falei: ‘se eu fizer isso, talvez, eu consiga me colocar, e colocar a minha família, em um nível financeiro que não conseguiria com outras profissões’”.

Tocando desde 2012, Carola, como é conhecida carinhosamente no mundo musical, vê como principal desafio a busca pelo respeito, principalmente pelas pessoas que já estão inseridas dentro deste mercado. Ela ressalta que, como em qualquer outra área, na música eletrônica existe um processo de validação do trabalho da mulher. Ela desabafa como é enfrentar essas barreiras.

Carola está há 11 anos como DJ Foto: Arquivo Pessoal/Carola

“Hoje, mais do nunca, é ser uma resistência. A gente é uma figura que a galera não está habituada em ver na música eletrônica. Temos poucas DJs, pretas então, nem se fala. Às vezes, sinto que preciso provar três vezes mais que eu sou boa no que estou fazendo, diferente de outros artistas. Preciso sempre conquistar mais coisas para validar o quanto sou boa e quanto mereço tudo isso”, diz.

A artista que já se apresentou no Tomorrowland, um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo, destaca os projetos femininos que apareceram durante a pandemia. “Sinto que nos últimos anos apareceram muitas meninas, acho isso incrível e quero que tenha cada vez mais, que sejam valorizadas e procurem sempre se profissionalizar e estudem o máximo possível. No fim, é isso, a gente tem que vencer pela música. A música ganha com a presença da mulher”.

Ela acrescenta o papel da representatividade. “As pessoas precisam se sentir representadas. Quando comecei, não me sentia representada, ninguém acreditava que poderia dar certo, porque ninguém via uma profissional igual a mim ocupando esse espaço. O fato de eu estar conquistando tantas coisas, tocando em festivais importantes e, principalmente, ser uma artista do Brasil, que veio da periferia de Porto Alegre, ocupando esses espaços faz com que as pessoas olhem para mim e se sintam representadas”.

Carola já se apresentou no Rock in Rio Foto: @framenatalia/Divulgação

Carola também marcará presença na edição deste ano do Lollapalooza, mas conta que não é a primeira vez que participará do evento. “O Lolla tem uma coisa muito especial, pois foi um dos primeiros festivais que eu fui na minha vida. Nasci na periferia de Porto Alegre, me criei lá e morei lá até os vinte e pouco anos. Fui em duas edições, em 2013 e 2014, juntei grana para ir e lembro da experiência de estar lá. Eu já amava música eletrônica e trabalhava com isso, então fiquei boa parte do evento no palco Perry. O Lolla tem esse gostinho especial pelo fato de já ter participado em outras edições e, enquanto estava lá, idealizar isso [tocar]. Estou contando os segundos”.

Aline Rocha

Há quase 20 anos, uma jovem, após perder o emprego em uma agência de publicidade, decidiu viver da música. Aline Rocha, natural de Franca, interior de São Paulo, cresceu ouvindo música, já que o pai é radialista. Fez aulas de balé, sapateado, violão e teclado na adolescência. Paralelo ao curso de Publicidade e Propaganda, fazia aulas de teatro com o sonho de ser atriz. Porém, seu caminho foi outro.

Assim como Carola, Aline reforça a dificuldade de encontrar o respeito na área. “Eu sempre levei muito a sério, mas a dificuldade da mulher é ser levada a sério sendo quem ela é. As pessoas não olham a essência, elas olham primeiro a imagem, fazem um julgamento e depois vão olhar a essência. Hoje, me vejo no meu melhor momento. Me sinto orgulhosa e vencedora, porque sei o quanto é difícil. Me sinto feliz pelas oportunidades que tive de mostrar quem eu sou e o que eu faço. As oportunidades que tive de falar, dialogar com o público e com as pessoas da cena”.

Aline Rocha é um dos nomes em ascensão na música eletrônica Foto: Arquivo Pessoal/Aline Rocha

A DJ, que ganhou os holofotes nos últimos anos, é direta quando o assunto é machismo. Ela ressalta que nem ela e nem sua equipe admitem qualquer forma de preconceito ou discriminação, frisando que o amor é o caminho para vencer essas barreiras.

“Tem pouca gente falando sobre amor e muita gente dando voz para o ódio. O ódio é o causador de todas essas divisões e segregações. Vejo poucos artistas fomentando o amor, o respeito e a diversidade. Cresci como artista tocando house, um estilo que não vende tão bem assim, falando sobre amor e alimentando isso. Eu brinco no Twitter que sou a ‘militante do amor’. A gente fomentando o respeito a sonoridade, a música, ao indivíduo, conseguiremos diminuir o ódio”

Aline Rocha conta que, durante a pandemia, criou um grupo para conhecer as mulheres que atuam como DJs no Brasil. Segundo ela, mais de 200 meninas se conheceram e compartilharam vivências, mas desabafa sobre o fim do grupo.

“Fiz esse grupo e conheci DJs mulheres do Brasil inteiro, e elas também começaram a se conhecer, criando uma conexão entre elas. Algumas me mandam mensagens até hoje. Surgiram subgrupos daquele grupo, que acabaram por conta de uma cultura tóxica de competição entre as mulheres. São tão poucas oportunidades, que a mulher é educada e obrigada a competir, pois estão brigando pela mesma oportunidade. Isso é muito triste”, comenta.

Aline Rocha é uma das grandes representantes do House Music no Brasil Foto: Arquivo Pessoal/Aline Rocha

E completa: “Infelizmente, ainda não tenho a fama e o alcance suficiente para chegar para os contratantes e falar: ‘Olha, eu só toco se antes tocar uma menina’. Os DJs que são muito grandes tem esse alcance em relação ao contratante. Então, trabalho dentro das minhas possibilidades, indicando, falando. Não gosto muito de falar, mas as pessoas que eu ajudo, sabem que as ajudei e é isso que é importante para mim. A gente precisa de mais suporte e amor do que de marketing”.

Com passagem pelo Defected Croatia Festival, um dos maiores festivais de House Music do mundo, Aline também se prepara para o Lolla 2023. “É muito legal ver seu nome em um flyer que tem tanta gente legal, em um evento que mobiliza tanto o País. Fico muito contente, é mais um ‘check’ em um sonho que estou realizando. Quando você tem a oportunidade de dividir seu trabalho em um lugar gigantesco como o Autódromo de Interlagos, em um Lollapalooza, é um sentimento de gratidão e merecimento. Falo isso com humildade, pois sabemos o quanto ralamos para merecer”.

Bárbara Labres

Dos gramados para os palcos. Esse foi a travessia de Bárbara Labres, gaúcha, mas que encontrou o sucesso na cidade maravilhosa. Apaixonada por futebol, jogou bola até a adolescência, mas perdeu o ânimo após duas lesões no joelho. Passou por uma faculdade de Educação Física, porém, foi um conselho de sua mãe que a colocou no caminho da música.

“Minha mãe sempre falava para eu ir nas baladas, conhecer gente, pra sair, porque sempre fui muito na minha, reservada, muito tímida. Comecei a ir nas baladas, eu sempre ia para as baladas gays porque eu me sentia mais à vontade. Um dia, em uma dessas baladas, estava acontecendo um sorteio para um curso de DJ e acabei ganhando. Mas, eu nem ia no curso, pois era no mesmo dia de um torneio de futebol. Em dado momento, um cara do curso me ligou e falou assim: ‘Bárbara, por que você não vem fazer? Vem só uma aula pra ver se você gosta’. O curso já estava acabando, mas eu fui e não me interessei muito naquela aula”, revela.

Bárbara Labres é apaixonada por futebol e música Foto: Arquivo Pessoal/Bárbara Labres

Sua primeira apresentação foi na formatura do curso. “Chamei um amigo que era DJ lá da minha cidade e ele me ensinou a tocar. Fiz um intensivão de aulas, fiz aulas todos os dias, assistindo vídeo na internet. Beleza, aprendi a tocar. Quando fui tocar, pela primeira vez, na formatura deste curso e eu vi que todo mundo olhou pra mim, que quando eu falava ‘levanta a mão’ e todo mundo levantava, todo mundo dançando e curtindo, eu falei: ‘Isso é muito irado’”.

Bárbara classifica como maior desafio sua mudança para o Rio de Janeiro, após ser vista em Porto Alegre por um empresário, que acabou sendo uma lembrança ruim em sua vida, já que a abandonou após ela não aceitar as tentativas de abuso. “Eu tive muita sorte porque tive pessoas incríveis do meu lado que me ajudaram. Eu ganhava para sobreviver, passava fome para ter o dinheiro do aluguel do quartinho pequenininho que eu morava, fui me virando. Durante três anos foi perrengue”, desabafa.

Recebeu uma ligação da Globo para se apresentar no The Voice Brasil e, após o ato, ganhou seguidores e passou a vender seus shows. Porém, um das teclas em que sempre bate é a desigualdade existente no mercado. “Eu conheço muitas mulheres DJs, mas que não são tão valorizadas quanto os homens. Por quê? Elas têm o mesmo talento, tá ligado?! Só que, por algum motivo, as pessoas preferem valorizar os homens. Vejo que devagarinho estamos abrindo o mercado. Tenho várias amigas que estão vivendo de música, mas penso que há muito para evoluir ainda. Se a gente não se impor, nunca vão entender nosso valor”.

Ela ainda detalha como o machismo fez parte da sua trajetória na música. “Quando a gente vendia show, divulgavam assim: ‘Bárbara Labres, a DJ gata’. A minha beleza, a minha aparência sempre vinha na frente e eu sempre pedi para tirar isso dos flyers. Nunca deixei eles me divulgarem desta forma. A imagem conta muito, mas se você não é bom, você não volta. A aparência não enche casa, não lota casa, não dá grana para o contratante. Então, você precisa ser boa no que você faz. Muitas vezes, eu tive que ir pela minha aparência e mostrar que sou boa no que faço, que tenho profissionalismo, que tenho uma equipe por trás do que faço, um planejamento na minha carreira”, pontua.

Bábara Labres faz sucesso tocando funk Foto: Instagram/@barbaralabres

Empresária e empreendedora, Bárbara questiona a diferença entre os cachês para artistas masculinos e femininos. “Por que uma mulher ganha X e um cara ganha Y? Sempre que eu tenho a oportunidade, eu mostro o que tem por trás. Até a gente chegar no palco tem muita caminhada. É muito complexo nosso trabalho e tento sempre dar o meu melhor como DJ para ficar cada vez mais conhecida como DJ, buscando ser uma referência para outras mulheres”.

Estando entre as 50 melhores DJ’s do mundo pela DJaneMag, Labres prepara um álbum para 2023. “Agora, com a minha equipe que me deixa confortável para entregar um show top, quero que 2023 seja um ano de lançamento, de música, de planejamento. Tenho muita música guardada e pretendo lançar um álbum. Quero me arriscar em várias coisas novas e diferentes. Quero lançar músicas sozinhas, mas também quero fazer colaborações com artistas que admiro. Vou trabalhar muito para que o meu trabalho fique cada vez mais reconhecido”.

Nesta quinta, 9 de março, comemora-se o Dia Internacional do DJ, profissional sempre presente em nosso momentos de alegria e com a missão de não deixar ninguém parado. Incontáveis pessoas que vivem da música, viram noites para ganhar o pão de cada dia. O Estadão celebra esta data com personagens de outra data importante.

Na quarta, 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, data marcada pela luta feminina e conquistas de direitos. Por isso, conversamos com quatro mulheres que atuam como DJs e inspiram novos talentos na música, rompendo as barreiras do machismo e preconceito.

Eli Iwasa

Eliana Sumiko Iwasa está há mais de 20 anos atuando como DJ e está entre as profissionais que acompanharam de perto a ascensão da música eletrônica no Brasil. Formada em Publicidade e Marketing, ela diz que viver da música nunca foi uma escolha, pois desde pequena quis trabalhar nesta área. “Eu nunca fiz outra coisa da vida além de organizar festa e tocar. Então, pra mim, foi muito mais um chamado do que uma escolha, eu sempre quis viver de música e trabalhar com música, sempre foi a minha paixão. Porém, eu não imaginava que eu fosse viver de música sendo DJ, mas por meio de uma banda”.

Eli destaca o principal desafio da carreira. “Ser artista e trabalhar com música no Brasil é um desafio por si só. Enquanto mulher, é ainda mais desafiador, o mercado da música ainda é muito machista e, predominantemente, formado por profissionais homens. Mulheres têm que se provar constantemente, não importa o quão bem sucedida você seja. Estou no melhor momento da minha carreira e, mesmo assim, os desafios são constantes”.

Eli Iwasa atua como DJ há 20 anos e também é empresária Foto: Aruan Viola/Divulgação

A artista afirma que sentiu uma mudança na última década em relação à presença das mulheres na música eletrônica, principalmente no cenário mais underground, citando nomes como Peggy Gou, Nina Kraviz, Amelie Lens e Charlotte de Witte. “Eu vejo que o mercado vem se transformando de uma maneira muito importante, não só para as mulheres e o mercado, mas para a sociedade. As mulheres estão conquistando cada vez mais espaços e voz, inspirando outras mulheres a correrem atrás dos seus sonhos, não só nos palcos, mas nos bastidores também”.

A DJ ressalta que a união fortalece essa transformação. “Uma das coisas mais importantes deste movimento todo é que entendemos que, ao contrário do que é ensinado pra gente há uns anos, não competimos uma com a outra, entendemos que juntas somos muito mais fortes e conseguimos acessar mais outros espaços juntas, provocando essas transformações mais rápido”.

Eli acredita que não basta só colocar uma artista no line-up, mas que também é importante estar em espaços e posições de poder. “Quando a gente coloca nos festivais, em clubes e festas um line-up mais diverso e inclusivo, geralmente, tem mulheres, pessoas da comunidade LGBTQIA+ e pessoas de cor. Quando essas pessoas ocupam esses espaços, as transformações são muito genuínas, elas vivem isso. Não só artistas, mas todas as profissionais”.

Indicada três vezes na categoria “Melhor DJ” no Women’s Music Event Awards, Iwasa também é empresária e conta com o projeto Closer, que promove uma troca de experiências entre as profissionais mulheres. “Com o tempo, eu vejo que só fazer meu trabalho como DJ e empresária dona de clube, não basta. O que vai realmente ficar é o que eu posso compartilhar com as pessoas, que são esses espaços, as possibilidades, poder inspirar outras meninas a tocarem e fazerem suas festas, terem seus núcleos e selos”, pontua.

Eli Iwasa durante show na Time Warp Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Eli se apresentará no Lollapalooza 2023 pela primeira vez, no dia 25 de março, e detalhou o sentimento. O Lollapalooza é um grande sonho, é a realização de um grande sonho. Eu venho do underground e aí eu olho para trás e vejo todo esse caminho, toda essa trajetória até chegar no Lolla é muito emocionante. Eu nunca imaginei, eu sempre quis, mas não pensava que seria possível. O Lolla, principalmente para todo artista do mundo eletrônico, é um momento de consagração e celebração. Isso motiva a gente e dá o sentimento de que estamos no caminho certo.

Carola

Carolina Alcântara, uma menina da periferia de Porto Alegre, que alçou voos com seu talento. Mulher preta que viu na música uma oportunidade de mudar sua vida e a realidade da família. “Venho de uma família onde algumas pessoas tinham formação musical, eram consideradas profissionais, mas estudaram por conta própria para chegarem no nível musical que estavam, pois venho de uma família muito pobre. Naquela época, eu entendi que viver da arte poderia contribuir para que eu mudasse a minha realidade. Sempre tive o sonho de ser bem sucedida, bem financeiramente. A música foi algo que olhei e falei: ‘se eu fizer isso, talvez, eu consiga me colocar, e colocar a minha família, em um nível financeiro que não conseguiria com outras profissões’”.

Tocando desde 2012, Carola, como é conhecida carinhosamente no mundo musical, vê como principal desafio a busca pelo respeito, principalmente pelas pessoas que já estão inseridas dentro deste mercado. Ela ressalta que, como em qualquer outra área, na música eletrônica existe um processo de validação do trabalho da mulher. Ela desabafa como é enfrentar essas barreiras.

Carola está há 11 anos como DJ Foto: Arquivo Pessoal/Carola

“Hoje, mais do nunca, é ser uma resistência. A gente é uma figura que a galera não está habituada em ver na música eletrônica. Temos poucas DJs, pretas então, nem se fala. Às vezes, sinto que preciso provar três vezes mais que eu sou boa no que estou fazendo, diferente de outros artistas. Preciso sempre conquistar mais coisas para validar o quanto sou boa e quanto mereço tudo isso”, diz.

A artista que já se apresentou no Tomorrowland, um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo, destaca os projetos femininos que apareceram durante a pandemia. “Sinto que nos últimos anos apareceram muitas meninas, acho isso incrível e quero que tenha cada vez mais, que sejam valorizadas e procurem sempre se profissionalizar e estudem o máximo possível. No fim, é isso, a gente tem que vencer pela música. A música ganha com a presença da mulher”.

Ela acrescenta o papel da representatividade. “As pessoas precisam se sentir representadas. Quando comecei, não me sentia representada, ninguém acreditava que poderia dar certo, porque ninguém via uma profissional igual a mim ocupando esse espaço. O fato de eu estar conquistando tantas coisas, tocando em festivais importantes e, principalmente, ser uma artista do Brasil, que veio da periferia de Porto Alegre, ocupando esses espaços faz com que as pessoas olhem para mim e se sintam representadas”.

Carola já se apresentou no Rock in Rio Foto: @framenatalia/Divulgação

Carola também marcará presença na edição deste ano do Lollapalooza, mas conta que não é a primeira vez que participará do evento. “O Lolla tem uma coisa muito especial, pois foi um dos primeiros festivais que eu fui na minha vida. Nasci na periferia de Porto Alegre, me criei lá e morei lá até os vinte e pouco anos. Fui em duas edições, em 2013 e 2014, juntei grana para ir e lembro da experiência de estar lá. Eu já amava música eletrônica e trabalhava com isso, então fiquei boa parte do evento no palco Perry. O Lolla tem esse gostinho especial pelo fato de já ter participado em outras edições e, enquanto estava lá, idealizar isso [tocar]. Estou contando os segundos”.

Aline Rocha

Há quase 20 anos, uma jovem, após perder o emprego em uma agência de publicidade, decidiu viver da música. Aline Rocha, natural de Franca, interior de São Paulo, cresceu ouvindo música, já que o pai é radialista. Fez aulas de balé, sapateado, violão e teclado na adolescência. Paralelo ao curso de Publicidade e Propaganda, fazia aulas de teatro com o sonho de ser atriz. Porém, seu caminho foi outro.

Assim como Carola, Aline reforça a dificuldade de encontrar o respeito na área. “Eu sempre levei muito a sério, mas a dificuldade da mulher é ser levada a sério sendo quem ela é. As pessoas não olham a essência, elas olham primeiro a imagem, fazem um julgamento e depois vão olhar a essência. Hoje, me vejo no meu melhor momento. Me sinto orgulhosa e vencedora, porque sei o quanto é difícil. Me sinto feliz pelas oportunidades que tive de mostrar quem eu sou e o que eu faço. As oportunidades que tive de falar, dialogar com o público e com as pessoas da cena”.

Aline Rocha é um dos nomes em ascensão na música eletrônica Foto: Arquivo Pessoal/Aline Rocha

A DJ, que ganhou os holofotes nos últimos anos, é direta quando o assunto é machismo. Ela ressalta que nem ela e nem sua equipe admitem qualquer forma de preconceito ou discriminação, frisando que o amor é o caminho para vencer essas barreiras.

“Tem pouca gente falando sobre amor e muita gente dando voz para o ódio. O ódio é o causador de todas essas divisões e segregações. Vejo poucos artistas fomentando o amor, o respeito e a diversidade. Cresci como artista tocando house, um estilo que não vende tão bem assim, falando sobre amor e alimentando isso. Eu brinco no Twitter que sou a ‘militante do amor’. A gente fomentando o respeito a sonoridade, a música, ao indivíduo, conseguiremos diminuir o ódio”

Aline Rocha conta que, durante a pandemia, criou um grupo para conhecer as mulheres que atuam como DJs no Brasil. Segundo ela, mais de 200 meninas se conheceram e compartilharam vivências, mas desabafa sobre o fim do grupo.

“Fiz esse grupo e conheci DJs mulheres do Brasil inteiro, e elas também começaram a se conhecer, criando uma conexão entre elas. Algumas me mandam mensagens até hoje. Surgiram subgrupos daquele grupo, que acabaram por conta de uma cultura tóxica de competição entre as mulheres. São tão poucas oportunidades, que a mulher é educada e obrigada a competir, pois estão brigando pela mesma oportunidade. Isso é muito triste”, comenta.

Aline Rocha é uma das grandes representantes do House Music no Brasil Foto: Arquivo Pessoal/Aline Rocha

E completa: “Infelizmente, ainda não tenho a fama e o alcance suficiente para chegar para os contratantes e falar: ‘Olha, eu só toco se antes tocar uma menina’. Os DJs que são muito grandes tem esse alcance em relação ao contratante. Então, trabalho dentro das minhas possibilidades, indicando, falando. Não gosto muito de falar, mas as pessoas que eu ajudo, sabem que as ajudei e é isso que é importante para mim. A gente precisa de mais suporte e amor do que de marketing”.

Com passagem pelo Defected Croatia Festival, um dos maiores festivais de House Music do mundo, Aline também se prepara para o Lolla 2023. “É muito legal ver seu nome em um flyer que tem tanta gente legal, em um evento que mobiliza tanto o País. Fico muito contente, é mais um ‘check’ em um sonho que estou realizando. Quando você tem a oportunidade de dividir seu trabalho em um lugar gigantesco como o Autódromo de Interlagos, em um Lollapalooza, é um sentimento de gratidão e merecimento. Falo isso com humildade, pois sabemos o quanto ralamos para merecer”.

Bárbara Labres

Dos gramados para os palcos. Esse foi a travessia de Bárbara Labres, gaúcha, mas que encontrou o sucesso na cidade maravilhosa. Apaixonada por futebol, jogou bola até a adolescência, mas perdeu o ânimo após duas lesões no joelho. Passou por uma faculdade de Educação Física, porém, foi um conselho de sua mãe que a colocou no caminho da música.

“Minha mãe sempre falava para eu ir nas baladas, conhecer gente, pra sair, porque sempre fui muito na minha, reservada, muito tímida. Comecei a ir nas baladas, eu sempre ia para as baladas gays porque eu me sentia mais à vontade. Um dia, em uma dessas baladas, estava acontecendo um sorteio para um curso de DJ e acabei ganhando. Mas, eu nem ia no curso, pois era no mesmo dia de um torneio de futebol. Em dado momento, um cara do curso me ligou e falou assim: ‘Bárbara, por que você não vem fazer? Vem só uma aula pra ver se você gosta’. O curso já estava acabando, mas eu fui e não me interessei muito naquela aula”, revela.

Bárbara Labres é apaixonada por futebol e música Foto: Arquivo Pessoal/Bárbara Labres

Sua primeira apresentação foi na formatura do curso. “Chamei um amigo que era DJ lá da minha cidade e ele me ensinou a tocar. Fiz um intensivão de aulas, fiz aulas todos os dias, assistindo vídeo na internet. Beleza, aprendi a tocar. Quando fui tocar, pela primeira vez, na formatura deste curso e eu vi que todo mundo olhou pra mim, que quando eu falava ‘levanta a mão’ e todo mundo levantava, todo mundo dançando e curtindo, eu falei: ‘Isso é muito irado’”.

Bárbara classifica como maior desafio sua mudança para o Rio de Janeiro, após ser vista em Porto Alegre por um empresário, que acabou sendo uma lembrança ruim em sua vida, já que a abandonou após ela não aceitar as tentativas de abuso. “Eu tive muita sorte porque tive pessoas incríveis do meu lado que me ajudaram. Eu ganhava para sobreviver, passava fome para ter o dinheiro do aluguel do quartinho pequenininho que eu morava, fui me virando. Durante três anos foi perrengue”, desabafa.

Recebeu uma ligação da Globo para se apresentar no The Voice Brasil e, após o ato, ganhou seguidores e passou a vender seus shows. Porém, um das teclas em que sempre bate é a desigualdade existente no mercado. “Eu conheço muitas mulheres DJs, mas que não são tão valorizadas quanto os homens. Por quê? Elas têm o mesmo talento, tá ligado?! Só que, por algum motivo, as pessoas preferem valorizar os homens. Vejo que devagarinho estamos abrindo o mercado. Tenho várias amigas que estão vivendo de música, mas penso que há muito para evoluir ainda. Se a gente não se impor, nunca vão entender nosso valor”.

Ela ainda detalha como o machismo fez parte da sua trajetória na música. “Quando a gente vendia show, divulgavam assim: ‘Bárbara Labres, a DJ gata’. A minha beleza, a minha aparência sempre vinha na frente e eu sempre pedi para tirar isso dos flyers. Nunca deixei eles me divulgarem desta forma. A imagem conta muito, mas se você não é bom, você não volta. A aparência não enche casa, não lota casa, não dá grana para o contratante. Então, você precisa ser boa no que você faz. Muitas vezes, eu tive que ir pela minha aparência e mostrar que sou boa no que faço, que tenho profissionalismo, que tenho uma equipe por trás do que faço, um planejamento na minha carreira”, pontua.

Bábara Labres faz sucesso tocando funk Foto: Instagram/@barbaralabres

Empresária e empreendedora, Bárbara questiona a diferença entre os cachês para artistas masculinos e femininos. “Por que uma mulher ganha X e um cara ganha Y? Sempre que eu tenho a oportunidade, eu mostro o que tem por trás. Até a gente chegar no palco tem muita caminhada. É muito complexo nosso trabalho e tento sempre dar o meu melhor como DJ para ficar cada vez mais conhecida como DJ, buscando ser uma referência para outras mulheres”.

Estando entre as 50 melhores DJ’s do mundo pela DJaneMag, Labres prepara um álbum para 2023. “Agora, com a minha equipe que me deixa confortável para entregar um show top, quero que 2023 seja um ano de lançamento, de música, de planejamento. Tenho muita música guardada e pretendo lançar um álbum. Quero me arriscar em várias coisas novas e diferentes. Quero lançar músicas sozinhas, mas também quero fazer colaborações com artistas que admiro. Vou trabalhar muito para que o meu trabalho fique cada vez mais reconhecido”.

Nesta quinta, 9 de março, comemora-se o Dia Internacional do DJ, profissional sempre presente em nosso momentos de alegria e com a missão de não deixar ninguém parado. Incontáveis pessoas que vivem da música, viram noites para ganhar o pão de cada dia. O Estadão celebra esta data com personagens de outra data importante.

Na quarta, 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, data marcada pela luta feminina e conquistas de direitos. Por isso, conversamos com quatro mulheres que atuam como DJs e inspiram novos talentos na música, rompendo as barreiras do machismo e preconceito.

Eli Iwasa

Eliana Sumiko Iwasa está há mais de 20 anos atuando como DJ e está entre as profissionais que acompanharam de perto a ascensão da música eletrônica no Brasil. Formada em Publicidade e Marketing, ela diz que viver da música nunca foi uma escolha, pois desde pequena quis trabalhar nesta área. “Eu nunca fiz outra coisa da vida além de organizar festa e tocar. Então, pra mim, foi muito mais um chamado do que uma escolha, eu sempre quis viver de música e trabalhar com música, sempre foi a minha paixão. Porém, eu não imaginava que eu fosse viver de música sendo DJ, mas por meio de uma banda”.

Eli destaca o principal desafio da carreira. “Ser artista e trabalhar com música no Brasil é um desafio por si só. Enquanto mulher, é ainda mais desafiador, o mercado da música ainda é muito machista e, predominantemente, formado por profissionais homens. Mulheres têm que se provar constantemente, não importa o quão bem sucedida você seja. Estou no melhor momento da minha carreira e, mesmo assim, os desafios são constantes”.

Eli Iwasa atua como DJ há 20 anos e também é empresária Foto: Aruan Viola/Divulgação

A artista afirma que sentiu uma mudança na última década em relação à presença das mulheres na música eletrônica, principalmente no cenário mais underground, citando nomes como Peggy Gou, Nina Kraviz, Amelie Lens e Charlotte de Witte. “Eu vejo que o mercado vem se transformando de uma maneira muito importante, não só para as mulheres e o mercado, mas para a sociedade. As mulheres estão conquistando cada vez mais espaços e voz, inspirando outras mulheres a correrem atrás dos seus sonhos, não só nos palcos, mas nos bastidores também”.

A DJ ressalta que a união fortalece essa transformação. “Uma das coisas mais importantes deste movimento todo é que entendemos que, ao contrário do que é ensinado pra gente há uns anos, não competimos uma com a outra, entendemos que juntas somos muito mais fortes e conseguimos acessar mais outros espaços juntas, provocando essas transformações mais rápido”.

Eli acredita que não basta só colocar uma artista no line-up, mas que também é importante estar em espaços e posições de poder. “Quando a gente coloca nos festivais, em clubes e festas um line-up mais diverso e inclusivo, geralmente, tem mulheres, pessoas da comunidade LGBTQIA+ e pessoas de cor. Quando essas pessoas ocupam esses espaços, as transformações são muito genuínas, elas vivem isso. Não só artistas, mas todas as profissionais”.

Indicada três vezes na categoria “Melhor DJ” no Women’s Music Event Awards, Iwasa também é empresária e conta com o projeto Closer, que promove uma troca de experiências entre as profissionais mulheres. “Com o tempo, eu vejo que só fazer meu trabalho como DJ e empresária dona de clube, não basta. O que vai realmente ficar é o que eu posso compartilhar com as pessoas, que são esses espaços, as possibilidades, poder inspirar outras meninas a tocarem e fazerem suas festas, terem seus núcleos e selos”, pontua.

Eli Iwasa durante show na Time Warp Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Eli se apresentará no Lollapalooza 2023 pela primeira vez, no dia 25 de março, e detalhou o sentimento. O Lollapalooza é um grande sonho, é a realização de um grande sonho. Eu venho do underground e aí eu olho para trás e vejo todo esse caminho, toda essa trajetória até chegar no Lolla é muito emocionante. Eu nunca imaginei, eu sempre quis, mas não pensava que seria possível. O Lolla, principalmente para todo artista do mundo eletrônico, é um momento de consagração e celebração. Isso motiva a gente e dá o sentimento de que estamos no caminho certo.

Carola

Carolina Alcântara, uma menina da periferia de Porto Alegre, que alçou voos com seu talento. Mulher preta que viu na música uma oportunidade de mudar sua vida e a realidade da família. “Venho de uma família onde algumas pessoas tinham formação musical, eram consideradas profissionais, mas estudaram por conta própria para chegarem no nível musical que estavam, pois venho de uma família muito pobre. Naquela época, eu entendi que viver da arte poderia contribuir para que eu mudasse a minha realidade. Sempre tive o sonho de ser bem sucedida, bem financeiramente. A música foi algo que olhei e falei: ‘se eu fizer isso, talvez, eu consiga me colocar, e colocar a minha família, em um nível financeiro que não conseguiria com outras profissões’”.

Tocando desde 2012, Carola, como é conhecida carinhosamente no mundo musical, vê como principal desafio a busca pelo respeito, principalmente pelas pessoas que já estão inseridas dentro deste mercado. Ela ressalta que, como em qualquer outra área, na música eletrônica existe um processo de validação do trabalho da mulher. Ela desabafa como é enfrentar essas barreiras.

Carola está há 11 anos como DJ Foto: Arquivo Pessoal/Carola

“Hoje, mais do nunca, é ser uma resistência. A gente é uma figura que a galera não está habituada em ver na música eletrônica. Temos poucas DJs, pretas então, nem se fala. Às vezes, sinto que preciso provar três vezes mais que eu sou boa no que estou fazendo, diferente de outros artistas. Preciso sempre conquistar mais coisas para validar o quanto sou boa e quanto mereço tudo isso”, diz.

A artista que já se apresentou no Tomorrowland, um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo, destaca os projetos femininos que apareceram durante a pandemia. “Sinto que nos últimos anos apareceram muitas meninas, acho isso incrível e quero que tenha cada vez mais, que sejam valorizadas e procurem sempre se profissionalizar e estudem o máximo possível. No fim, é isso, a gente tem que vencer pela música. A música ganha com a presença da mulher”.

Ela acrescenta o papel da representatividade. “As pessoas precisam se sentir representadas. Quando comecei, não me sentia representada, ninguém acreditava que poderia dar certo, porque ninguém via uma profissional igual a mim ocupando esse espaço. O fato de eu estar conquistando tantas coisas, tocando em festivais importantes e, principalmente, ser uma artista do Brasil, que veio da periferia de Porto Alegre, ocupando esses espaços faz com que as pessoas olhem para mim e se sintam representadas”.

Carola já se apresentou no Rock in Rio Foto: @framenatalia/Divulgação

Carola também marcará presença na edição deste ano do Lollapalooza, mas conta que não é a primeira vez que participará do evento. “O Lolla tem uma coisa muito especial, pois foi um dos primeiros festivais que eu fui na minha vida. Nasci na periferia de Porto Alegre, me criei lá e morei lá até os vinte e pouco anos. Fui em duas edições, em 2013 e 2014, juntei grana para ir e lembro da experiência de estar lá. Eu já amava música eletrônica e trabalhava com isso, então fiquei boa parte do evento no palco Perry. O Lolla tem esse gostinho especial pelo fato de já ter participado em outras edições e, enquanto estava lá, idealizar isso [tocar]. Estou contando os segundos”.

Aline Rocha

Há quase 20 anos, uma jovem, após perder o emprego em uma agência de publicidade, decidiu viver da música. Aline Rocha, natural de Franca, interior de São Paulo, cresceu ouvindo música, já que o pai é radialista. Fez aulas de balé, sapateado, violão e teclado na adolescência. Paralelo ao curso de Publicidade e Propaganda, fazia aulas de teatro com o sonho de ser atriz. Porém, seu caminho foi outro.

Assim como Carola, Aline reforça a dificuldade de encontrar o respeito na área. “Eu sempre levei muito a sério, mas a dificuldade da mulher é ser levada a sério sendo quem ela é. As pessoas não olham a essência, elas olham primeiro a imagem, fazem um julgamento e depois vão olhar a essência. Hoje, me vejo no meu melhor momento. Me sinto orgulhosa e vencedora, porque sei o quanto é difícil. Me sinto feliz pelas oportunidades que tive de mostrar quem eu sou e o que eu faço. As oportunidades que tive de falar, dialogar com o público e com as pessoas da cena”.

Aline Rocha é um dos nomes em ascensão na música eletrônica Foto: Arquivo Pessoal/Aline Rocha

A DJ, que ganhou os holofotes nos últimos anos, é direta quando o assunto é machismo. Ela ressalta que nem ela e nem sua equipe admitem qualquer forma de preconceito ou discriminação, frisando que o amor é o caminho para vencer essas barreiras.

“Tem pouca gente falando sobre amor e muita gente dando voz para o ódio. O ódio é o causador de todas essas divisões e segregações. Vejo poucos artistas fomentando o amor, o respeito e a diversidade. Cresci como artista tocando house, um estilo que não vende tão bem assim, falando sobre amor e alimentando isso. Eu brinco no Twitter que sou a ‘militante do amor’. A gente fomentando o respeito a sonoridade, a música, ao indivíduo, conseguiremos diminuir o ódio”

Aline Rocha conta que, durante a pandemia, criou um grupo para conhecer as mulheres que atuam como DJs no Brasil. Segundo ela, mais de 200 meninas se conheceram e compartilharam vivências, mas desabafa sobre o fim do grupo.

“Fiz esse grupo e conheci DJs mulheres do Brasil inteiro, e elas também começaram a se conhecer, criando uma conexão entre elas. Algumas me mandam mensagens até hoje. Surgiram subgrupos daquele grupo, que acabaram por conta de uma cultura tóxica de competição entre as mulheres. São tão poucas oportunidades, que a mulher é educada e obrigada a competir, pois estão brigando pela mesma oportunidade. Isso é muito triste”, comenta.

Aline Rocha é uma das grandes representantes do House Music no Brasil Foto: Arquivo Pessoal/Aline Rocha

E completa: “Infelizmente, ainda não tenho a fama e o alcance suficiente para chegar para os contratantes e falar: ‘Olha, eu só toco se antes tocar uma menina’. Os DJs que são muito grandes tem esse alcance em relação ao contratante. Então, trabalho dentro das minhas possibilidades, indicando, falando. Não gosto muito de falar, mas as pessoas que eu ajudo, sabem que as ajudei e é isso que é importante para mim. A gente precisa de mais suporte e amor do que de marketing”.

Com passagem pelo Defected Croatia Festival, um dos maiores festivais de House Music do mundo, Aline também se prepara para o Lolla 2023. “É muito legal ver seu nome em um flyer que tem tanta gente legal, em um evento que mobiliza tanto o País. Fico muito contente, é mais um ‘check’ em um sonho que estou realizando. Quando você tem a oportunidade de dividir seu trabalho em um lugar gigantesco como o Autódromo de Interlagos, em um Lollapalooza, é um sentimento de gratidão e merecimento. Falo isso com humildade, pois sabemos o quanto ralamos para merecer”.

Bárbara Labres

Dos gramados para os palcos. Esse foi a travessia de Bárbara Labres, gaúcha, mas que encontrou o sucesso na cidade maravilhosa. Apaixonada por futebol, jogou bola até a adolescência, mas perdeu o ânimo após duas lesões no joelho. Passou por uma faculdade de Educação Física, porém, foi um conselho de sua mãe que a colocou no caminho da música.

“Minha mãe sempre falava para eu ir nas baladas, conhecer gente, pra sair, porque sempre fui muito na minha, reservada, muito tímida. Comecei a ir nas baladas, eu sempre ia para as baladas gays porque eu me sentia mais à vontade. Um dia, em uma dessas baladas, estava acontecendo um sorteio para um curso de DJ e acabei ganhando. Mas, eu nem ia no curso, pois era no mesmo dia de um torneio de futebol. Em dado momento, um cara do curso me ligou e falou assim: ‘Bárbara, por que você não vem fazer? Vem só uma aula pra ver se você gosta’. O curso já estava acabando, mas eu fui e não me interessei muito naquela aula”, revela.

Bárbara Labres é apaixonada por futebol e música Foto: Arquivo Pessoal/Bárbara Labres

Sua primeira apresentação foi na formatura do curso. “Chamei um amigo que era DJ lá da minha cidade e ele me ensinou a tocar. Fiz um intensivão de aulas, fiz aulas todos os dias, assistindo vídeo na internet. Beleza, aprendi a tocar. Quando fui tocar, pela primeira vez, na formatura deste curso e eu vi que todo mundo olhou pra mim, que quando eu falava ‘levanta a mão’ e todo mundo levantava, todo mundo dançando e curtindo, eu falei: ‘Isso é muito irado’”.

Bárbara classifica como maior desafio sua mudança para o Rio de Janeiro, após ser vista em Porto Alegre por um empresário, que acabou sendo uma lembrança ruim em sua vida, já que a abandonou após ela não aceitar as tentativas de abuso. “Eu tive muita sorte porque tive pessoas incríveis do meu lado que me ajudaram. Eu ganhava para sobreviver, passava fome para ter o dinheiro do aluguel do quartinho pequenininho que eu morava, fui me virando. Durante três anos foi perrengue”, desabafa.

Recebeu uma ligação da Globo para se apresentar no The Voice Brasil e, após o ato, ganhou seguidores e passou a vender seus shows. Porém, um das teclas em que sempre bate é a desigualdade existente no mercado. “Eu conheço muitas mulheres DJs, mas que não são tão valorizadas quanto os homens. Por quê? Elas têm o mesmo talento, tá ligado?! Só que, por algum motivo, as pessoas preferem valorizar os homens. Vejo que devagarinho estamos abrindo o mercado. Tenho várias amigas que estão vivendo de música, mas penso que há muito para evoluir ainda. Se a gente não se impor, nunca vão entender nosso valor”.

Ela ainda detalha como o machismo fez parte da sua trajetória na música. “Quando a gente vendia show, divulgavam assim: ‘Bárbara Labres, a DJ gata’. A minha beleza, a minha aparência sempre vinha na frente e eu sempre pedi para tirar isso dos flyers. Nunca deixei eles me divulgarem desta forma. A imagem conta muito, mas se você não é bom, você não volta. A aparência não enche casa, não lota casa, não dá grana para o contratante. Então, você precisa ser boa no que você faz. Muitas vezes, eu tive que ir pela minha aparência e mostrar que sou boa no que faço, que tenho profissionalismo, que tenho uma equipe por trás do que faço, um planejamento na minha carreira”, pontua.

Bábara Labres faz sucesso tocando funk Foto: Instagram/@barbaralabres

Empresária e empreendedora, Bárbara questiona a diferença entre os cachês para artistas masculinos e femininos. “Por que uma mulher ganha X e um cara ganha Y? Sempre que eu tenho a oportunidade, eu mostro o que tem por trás. Até a gente chegar no palco tem muita caminhada. É muito complexo nosso trabalho e tento sempre dar o meu melhor como DJ para ficar cada vez mais conhecida como DJ, buscando ser uma referência para outras mulheres”.

Estando entre as 50 melhores DJ’s do mundo pela DJaneMag, Labres prepara um álbum para 2023. “Agora, com a minha equipe que me deixa confortável para entregar um show top, quero que 2023 seja um ano de lançamento, de música, de planejamento. Tenho muita música guardada e pretendo lançar um álbum. Quero me arriscar em várias coisas novas e diferentes. Quero lançar músicas sozinhas, mas também quero fazer colaborações com artistas que admiro. Vou trabalhar muito para que o meu trabalho fique cada vez mais reconhecido”.

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