De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 67% dos casos de violência entre as mulheres são cometidos por parentes próximos ou conhecidos das famílias. A filha da atriz Solange Couto, Morena Mariah, de 25 anos, faz parte dessas estatísticas e, em entrevista exclusiva ao Extra, mãe e filha resolveram quebrar o silêncio sobre isso.
Há quatro anos, Morena contou à sua mãe que foi vítima de dois estupros. O primeiro aconteceu quando ela tinha 11 anos e, o segundo, foi mais recente e foi cometido pelo namorado.
"Minha mãe trabalhava em outro estado e designou um familiar para tomar conta de mim nos períodos de ausência. Durante esse tempo em que ele ficou responsável por mim, ocorreram os episódios de abuso. Ele morava comigo na minha casa. As pessoas acreditam que estupro só acontece na rua, com um estranho que se aproxima numa rua escura. E não é assim. Passei por dois episódios de abuso e nenhum dos dois foi com pessoas desconhecidas", contou Morena.
Solange revelou que sabe quem foi o abusador, mas não pôde fazer nada porque só ficou sabendo muitos anos depois. “Fiquei absurdamente indignada. Isso me revolta de tal maneira, porque eu não posso fazer nada, nem justiça, porque a Morena só veio me contar isso anos depois, quando ela já era maior. Então, não tive o que fazer. Me sinto amarrada, de pés e mãos. Não posso chegar na cara da pessoa e dar um murro, nem apontar o dedo na cara e esculachar. Não posso nada porque nada foi dito, nada foi aclarado, e ela não quer denunciar, tem medo”, desabafou a atriz ao jornal.
O segundo episódio de violência sexual aconteceu recentemente, quando Morena já era adulta, e veio do próprio parceiro. “Namorei um rapaz, e ele se aproveitou de um momento em que eu estava embriagada e adormeci para me estuprar. Sexo sem consentimento é estupro. Mesmo que o sujeito que faça isso seja cônjuge. Demorei algum tempo pra entender o que tinha acontecido. Eu estava desacordada. E mesmo após o ocorrido, ele tentou fazer piada do fato de ter feito aquilo. E como era uma pessoa de minha total confiança, eu tentei esquecer o assunto. Eu demorei muitos anos pra conseguir falar sobre isso. Só já adulta eu consegui falar sobre isso. E foi muito difícil pros meus pais ter que lidar com isso", revelou.
Mas a dor vira luta e Morena agora publica diariamente textos relacionados ao estupro, para conscientizar e ajudar outras mulheres que passaram pela mesma violência. "Vivo uma luta diária. Luto contra uma depressão que foi desencadeada depois disso. Procurei pessoas que passaram pela mesma coisa, conversei com muita gente ligada ao feminismo e finalmente fui entendendo que a culpa não era minha. O estupro causa um estrago muito grande dentro da gente porque as pessoas colocam a culpa sempre na vítima. Querem saber com que roupa você estava, se você havia bebido, como se qualquer uma dessas coisas pudessem justificar um estupro", desabafou Morena para a publicação.
Ela contou que nunca denunciou por medo e, por ser algo que aconteceu há mais tempo, o receio de ser considerada 'culpada' pela violência só se agravou: "Eu não tinha provas. E também já pedi recomendações a muitas pessoas. Todas elas me desaconselharam a recorrer à denfesoria pública. Por ter sido algo que aconteceu há muito tempo, ele pode tentar virar o processo contra mim, como fez o treinador da (nadadora) Joana Maranhão, que relatou um abuso sexual. E, no momento, eu não posso arcar financeiramente com os custos de um processo", relatou. Foi muito doloroso pra mim, mas a gente não tem do que se envergonhar e não pode se calar”, finalizou Morena.