* Atualizada às 19:32, de 1º/6/2022.
O ator Johnny Depp saiu vitorioso em seu midiático processo contra a ex-mulher Amber Heard nesta quarta-feira, 1º, apesar de os jurados acharem que os dois astros de Hollywood são culpados por difamação. De acordo com o veredicto, Amber Heard difamou seu ex-marido em um artigo publicado pelo The Washington Post em 2018, no qual ela se descreveu como uma "figura pública que representa o abuso doméstico".
Mas o júri também deu razão ao processo apresentado pela atriz por US$ 100 milhões, no qual ela afirmava ter sido difamada por declarações do advogado de Depp, Adam Waldman, que disse ao Daily Mail que as alegações de abuso eram uma "montagem".
O júri foi composto por sete membros, cinco homens e duas mulheres, e considerou neste caso que Depp difamou sua ex-mulher através do advogado e que o ator deve indenizá-la em US$ 2 milhões. Já Amber Heard foi condenada a pagar 15 milhões de dólares para o ex-marido, que o juiz reduziu para US$ 10,3 milhões para cumprir os limites estaduais de danos punitivos.
Depois de saber da decisão, a atriz disse que estava decepcionada "para além das palavras" e considerou o julgamento "um revés" para as mulheres.
"Hoje sinto uma decepção para além das palavras. Estou inconsolável porque a montanha de evidências não foi suficiente para fazer frente ao poder e à influência desproporcional do meu ex-marido", disse Heard em um comunicado.
Por sua vez, o ator, que não esteve presente no tribunal para a leitura da decisão, declarou no Instagram que "depois de seis anos, o júri me devolveu a vida. Estou realmente comovido".
O julgamento, que começou em abril, finalmente foi concluído, depois de quase 50 dias de depoimentos e testemunhos, troca de acusações, lágrimas e protestos, principalmente de fãs do ator. O júri civil, composto por sete pessoas, ouviu as alegações finais na sexta-feira, 27, e deliberou por cerca de duas horas antes de sair para o feriado do Memorial Day. Eles voltaram a se encontrar na terça-feira, 31. Ao todo, o grupo levou 3 dias para deliberar sobre o caso.
O casamento entre Johnny Depp e Amber Heard durou dois anos, de 2015 a 2017. A partir de 2016, no entanto, os dois passaram a se acusar mutuamente de agressões e violência, com diversos processos sendo movidos na justiça. Entenda a linha do tempo do caso:
2016 - A primeira acusação
A briga judicial entre Johnny Depp e Amber Heard começou em 2016, quando ela processou o marido por violência conjugal. As acusações foram retiradas durante o processo de divórcio. Em 2018, no entanto, o tabloide inglês The Sun publicou um texto no qual afirmava que Depp era um marido violento, questionando como a escritora J.K. Rowling poderia aceitá-lo no elenco do filme Animas Fantásticos, spin-off do universo de Harry Potter. O ator processou o jornal, mas perdeu o caso em março do ano passado.
2018 - Um artigo no 'Washington Post'
Também em 2018, sem citar Depp, Amber Heard escreveu um artigo no jornal Washington Post no qual falava de abusos sofridos desde a infância. O texto não citava Depp, mas fazia referência ao fato de que, ao se pronunciar publicamente sobre assédios sofridos, ela sofrera perseguição, com projetos profissionais sendo cancelados.
Em seguida, a atriz abriu um processo contra Depp, pedindo US$ 100 milhões. Ela o acusa de agressões e de comportamento violento. O ator tentou derrubar o caso, mas a justiça norte-americana manteve sua validade em março deste ano. Ao mesmo tempo, Depp abriu processo de difamação contra Heard, afirmando que suas acusações eram uma “farsa elaborada” e que ele havia sofrido agressões da parte da atriz.
11 de abril - O julgamento
O caso foi a julgamento, que teve início no dia 11 de abril e segue sendo realizado no estado da Virgínia, nos Estados Unidos.
Em seus argumentos iniciais, os advogados de Heard afirmaram que a atriz viveu um inferno durante seu casamento com Depp, que teria se revelado “um monstro por conta do consumo de drogas e álcool”, com ataques de raiva que levavam a agressões verbais, físicas e sexuais. Já os advogados de Depp iniciaram seu trabalho na corte afirmando que ela se comportava de forma violenta contra ele e que o processo movido pela atriz tinha como motivação uma vingança pessoal pelo fato do ator ter pedido o divórcio.
12 de abril - Irmão de Depp e terapeuta do casal depõem
Um dos primeiros depoimentos, no dia 12 de abril, foi o da irmã de Depp, Christi Dembrowski, que contou ao júri sobre os abusos sofridos por ela e o irmão na infância. Segundo ela, a mãe os agredia constantemente e, por conta disso, Depp seria incapaz de reproduzir esse comportamento. Em seguida, o tribunal ouviu a terapeuta do casal, Laurel Anderson, segundo quem havia “abuso mútuo” na relação do casal. “Ambos foram vítimas de abuso em suas casas. Acho que ele [Depp] se manteve sob controle por décadas até Heard ficar fora de controle e eles se envolverem no que chamo de abuso mútuo", afirmou, ressaltando que diversas vezes viu hematomas no rosto da atriz. “Sim, Depp saía para diminuir a intensidade da briga, ela bateu nele para mantê-lo ali porque preferia brigar do que ficar sozinha.”
20 de abril - O ator é ouvido
No dia 20, foi a vez de Johnny Depp depor. Ele afirmou que Heard o “destruía verbalmente” e que evitava brigas se trancando no banheiro. “Se eu ficasse para discutir, tenho certeza que escalaria para violência e muitas vezes isso acontecia. Em sua ira e sua raiva, ela atacava", acrescentou. "Começava com um tapa. Podia começar com um empurrão", afirmou Depp. Segundo o ator, após meses sóbrio, ele voltou a beber quando foi agredido pela mulher, que teria jogado nele uma garrafa de vodka - os estilhaços teriam cortado a ponta de seu dedo. Ele também negou ter agredido Heard.
Na sequência, foi a vez dos advogados de Heard interrogarem Depp. Eles mostraram mensagens de texto nas quais o ator chamava a atriz de “puta imunda” e afirmava o desejo de “queimar Amber”, além de dizer que após queimá-la faria sexo com ela para ter certeza de que estaria morta. Os advogados também o questionaram a respeito de seu problema com álcool e drogas, lembrando episódios de sua vida, como o contato com o cantor Marilyn Manson, com quem teria usado cocaína diversas vezes.
3 de maio - Prejuízos profissionais
O próximo a ser ouvido foi o agente de Depp, Jack Whigham, que testemunhou que o ator teria perdido importantes trabalhos por conta do artigo publicado por Heard no Washington Post. Segundo ele, “tornou-se impossível conseguir um filme de estúdio para ele”. Entre os prejuízos, estariam US$ 22,5 milhões que Depp deixou de ganhar quando foi cortado pela Disney para uma nova sequência de Piratas do Caribe.Fora do julgamento, uma colunista do portal Rotten Tomatoes publicou artigo no qual afirma que, por conta do processo, a personagem de Heard em Aquaman 2 teve sua participação reduzida, aparecendo apenas 10 minutos no longa, que estreia em 2023.
3 de maio - Juíza mantém o julgamento
No início de maio, os advogados de Heard pediram que o caso movido por Depp fosse arquivado: segundo a defesa, após três semanas de julgamento, havia ficado claro que Depp não era capaz de provar que fora prejudicado pelo artigo no Washington Post. A juíza, no entanto, negou o pedido e afirmou entender que as evidências apresentadas eram suficientes para permitir que o caso prosseguisse.
Já no final do mês de maio, na última semana do julgamento, os advogados do ator fizeram o mesmo pedido à juíza do caso: arquivamento do processo em que Amber Heard acusa Johnny Depp de difamação. Como no caso de Amber, a magistrada negou o pedido e manteve o julgamento. Em sua resposta, a juíza Penney Azcarate alegou que é obrigada por lei a garantir que o júri faça um veredicto, se houver chances da alegação da atriz prevalecer.
4 de maio - A atriz é ouvida
Amber Heard foi a próxima a testemunhar. No dia 4 de maio, afirmou ter sofrido violência física e agressões desde o primeiro encontro com Depp, em 2009. Ela também afirmou que sofre de transtorno de estresse pós-traumático por conta do comportamento de Depp, o que foi atestado por um psicólogo durante o julgamento. A atriz relatou diversos casos de violência e disse que Depp a agredia por conta de ciúmes. Em um desses episódios, ele a teria chamado de puta por conta de sua decisão de trabalhar em um filme com o ator James Franco - Depp acreditava que os dois teriam um caso. Ainda segundo Heard, apesar de “um milhão de promessas de ficar limpo e sóbrio", da terapia de casal e dos esforços de reabilitação, Depp sempre voltava a beber e usar drogas. Nesses momentos, continuou, o ator chegou a agredi-la sexualmente.
9 de maio - Contradições expostas
Em uma reportagem, a agência de notícias Associated Press mostrou como os depoimentos estavam, até aquele momento, se contradizendo. À época, a atriz ainda não tinha finalizado sua fala. Enquanto Depp disse que nunca tinha abusado fisicamente de Heard, ela disse que foi agredida em mais de uma dúzia de ocasiões. O testemunho do ator foi no sentido contrário, alegando que quem era violenta na relação era Amber.
16 de maio - Sufocamento durante lua de mel
O julgamento ficou parado durante alguns dias e retornou em 16 de maio com a atriz sentada no banco das testemunhas. No mesmo dia a atriz disse aos jurados que Depp a jogou contra uma parede e enrolou uma camisa em seu pescoço durante a lua de mel deles em 2015. Em um vagão dormitório do Expresso do Oriente, Depp teria dado um tapa no rosto dela e batido repetidamente seu corpo contra uma parede.
17 de maio - Depp fora da franquia Piratas do Caribe
O ator, que já não tinha participado dos últimos filmes da franquia, foi retirado do elenco dos dois próximos lançamentos, que ainda não têm datas para estrearem. O anúncio foi feito pelo produtor dos filmes Jerry Bruckheimer, em entrevista ao The Sunday Times. Porém, o diretor ressaltou que "o futuro ainda está para ser decidido".
No mesmo dia, os advogados de Depp concluíram o interrogatório de Heard. Em interrogatório, ela negou as acusações de que seria a instigadora da violência no casal. "Eu nunca agredi o Sr. Depp ou qualquer pessoa com quem eu fui romanticamente envolvida", disse.
19 de maio - Johnny Depp: 'ciumento', 'controlador' e 'pouco profissional'
A atriz Ellen Barkin disse em depoimento que o ator era ciumento, controlador e se embebedava com frequência. Ellen contou que teve uma breve "relação sexual" com o ator na década de 1990 e que, durante os vários meses em que estiveram juntos, Depp "estava bêbado na maior parte do tempo". Tracey Jacobs, ex-agente de Depp também deu um testemunho gravado e disse que a fama do ator começou a decair depois de 2010 devido a seu "comportamento pouco profissional". Jacobs afirmou que tal comportamento incluía o uso de drogas e álcool, além de "chegar tarde no set consistentemente em praticamente todos os filmes".
25 de maio - Mais uma ex-namorada de Depp testemunha
A modelo britânica Kate Moss prestou depoimento em favor do ator na disputa judicial de difamação. Os advogados do ator chamaram Moss como testemunha depois de Heard ter dito que temia que Depp empurrasse sua irmã por uma escada abaixo. Heard disse lembrar de "rumores" de que Depp teria empurrado Moss por um lance de escadas, e por isso deu um tapa nele para impedi-lo de fazer mal à irmã. Moss, que namorou Depp de 1994 a 1998, negou que o ator a tenha empurrado.
26 de maio - Ameaças de morte
A um dia das alegações finais do processo, Heard disse ter recebido ameaças de morte durante o julgamento. A atriz contou que estava sendo vítima de uma campanha nas redes sociais promovida por fãs do ator. "Recebo centenas de ameaças de morte regularmente, se não diariamente, milhares desde que este julgamento começou, pessoas que debocham do meu testemunho sobre ter sido agredida", disse. Fãs de Depp se reuniam diariamente para assistir ao julgamento no local.
27 de maio - Alegações finais
Na sexta-feira, 27, os advogados de ambos atores fizeram suas alegações finais. Em resumo, pediram que a vida fosse devolvida a seus clientes. O testemunho se arrastou por um julgamento de seis semanas, que expôs a intimidade do casamento dos atores. "O que está em jogo neste julgamento é a reputação de um homem", disse Camille Vasquez, advogada de Depp.
COLABOROU JOÃO LUIZ SAMPAIO/ESPECIAL PARA O ESTADÃO
COM INFORMAÇÕES DA AFP E DA REUTERS