O mais novo indicado na categoria Artista Revelação, do Grammy Awards, Måneskin lança um novo disco nesta sexta-feira, 20. O tão aguardado Rush! traz tudo aquilo que a gente gosta na banda italiana: vocais fortes, ritmos intensos e letras emocionantes — no entanto, ao contrário de outros projetos, o inglês prevalece nesta obra do grupo.
Entre parcerias com Tom Morello, do Rage Against The Machine, o grupo mostra amadurecimento e a exploração entre gêneros. No entanto, continua fiel às raízes tanto nas batidas do rock ou nas baladas — o novo single The Loneliest é exemplo perfeito disso.
A escolha predominante do inglês como idioma cantado nas faixas também parece demonstrar uma opção mercadológica da banda. Abaixo, confira os motivos para ouvir ou fugir de Rush!, novo álbum de Måneskin:
Motivos para ouvir
Amadurecimento
Com Own, Måneskin abre Rush!. O início do álbum é marcado por uma bateria forte, um ritmo divertido e poderoso — que também são as marcas da banda. A voz de Damiano David ainda intensifica o magnetismo da canção, principalmente, no refrão. Os arranjos de guitarra e a melodia mais detalhada, inclusive, demonstram o amadurecimento do grupo, que está em seu terceiro álbum de estúdio.
Para completar, o nome do disco descreve o sentimento de urgência de Måneskin — com o sucesso mundial dos últimos 12 meses, os integrantes quiseram transformar em música o sentimento de disciplina, intensidade, esforço e concentração.
Com Victoria De Angelis, o baixo também ganha destaque no álbum, mais uma vez, ao exibir um som mais pesado. A música Gline traz um forte apelo com o instrumento. Nesta canção específica, o Måneskin utiliza de um efeito coral no refrão da música — que faz parecer uma ótima faixa para cantar ao vivo.
Outra novidade de Rush! é a parceria com o guitarrista Tom Morello, que surge como um padrinho para os integrantes, na música Gossip. Uma canção divertida, memorável e que te faz querer dançar e cantar com seu estilo punk rock, típico do integrante do Rage Against The Machine, talvez seja uma das melhores do álbum.
Mesmo com a sutil mudança, é possível escutar o mesmo Måneskin de outros discos, como Teatro d’ira — Vol. I (2021), que conquistou novos públicos e uma indicação ao Grammy Awards deste ano, em Rush!. E isso, com certeza, agrada ao público.
Diferentes gêneros
Måneskin volta a explorar uma de suas outras marcas além do punk e do rock: as baladas. Com a última faixa do disco e o novo single, The Loneliest, o grupo cria uma música similar às outras de seu catálogo, como como Vent’anni, Coraline e Torna A Casa.
A letra fala sobre o término de um relacionamento e o sentimento de solidão que vem com o fim: “Eu continuo pensando em como você me fez sentir melhor/ E em todas as pequenas coisas que fizemos juntos/ No final, no final isso não importa.”
A balada também inova a discografia de Måneskin ao trazer, no final, um solo de guitarra antes de finalizar com sussurros à capela. Mais uma vez, a melodia detalhada mostra o amadurecimento do grupo.
Expansão mercadológica
O álbum é praticamente inteiro em inglês — novidade na carreira do Måneskin. A situação difere dos outros discos, como Teatro d’ira — Vol. I ou Il Ballo della vitta (2018), nos qual italiano era o idioma proeminente, mesmo com algumas faixas em inglês.
Como alguns de seus maiores sucessos são no idioma mundial, a impressão é de que o Måneskin quer buscar e alcançar ainda mais público com um idioma mais conhecido do que o italiano.
Das 17 faixas do álbum, as músicas em italiano são Dono, Mark e Fine.
Motivos para fugir
E o italiano?
Por mais que um dos pontos positivos seja a possível estratégia mercadológica com o inglês nas letras, músicas em italiano fazem falta no disco.
O fã raiz, como são chamados aqueles que acompanham artistas desde seu início, também gostam de músicas na língua original da banda, como Zitti e Buoni - canção que os fez vitoriosos na competição musical Eurovision, inclusive.
Faixas em outros idiomas são importantes por outros motivos. Um deles é o de expandir as línguas que prevalecem entre as mais bem-sucedidas do mercado e abrir espaço para novas. Porém, é compreensível que a banda optou por cantar mais em inglês para conquistar novos públicos.
Quem sabe, nos próximos projetos e já mais consolidados, eles voltem a cantar mais em italiano.
Preenchendo lacunas
Entre músicas incríveis, como Said e Zone, há outras canções como Bla. A faixa peca na letra e melodia, que são repetitivas, e parece ser só uma brincadeira com o ouvinte para preencher lacunas no disco. É uma daquelas que você pode pular para a próxima que não vai fazer muita diferença escutar ou não.
A mesma situação ocorre novamente na música Kids que, apesar de ter instrumental e punk divertidos, não traz muitos elementos além de uma letra e sonoridade repetitivas. É uma tentativa de punk que saiu como um tiro pela culatra.
Rock é mainstream?
Um ponto positivo ou negativo para muitos amantes de rock, que sofreram com a ausência do gênero nos últimos anos dominado pelo pop, é o estilo mainstream — aquilo que agrada o grande público. Isso porque, ao mesmo tempo que é bom ter o ritmo de volta às paradas musicais, e o Måneskin sendo um dos responsáveis por isso, alguns elementos antigos parecem sumir das novas músicas.
Nas décadas de 1970 e 1980, por exemplo, bandas como Pink Floyd se aventuravam em canções com mais de seis minutos de duração. Algumas delas, como é o caso de Echoes, faixa do grupo britânico, acumulam mais de 23 minutos.
Explorar melhor a musicalidade e as melodias faz falta no novo disco do Måneskin, sendo que a faixa com maior duração deles é The Loneliest, que tem um pouco mais de 4 minutos. Mesmo se reafirmando como uma banda de rock, eles não conseguem sair ou reinventar o mainstream. Por que não intensificar o solo de guitarra na música, por exemplo, para alcançar novos patamares?
Com a relevância do Måneskin no mercado musical, eles podem explorar a musicalidade e os solos de guitarra, baixo e bateria por mais tempo em suas músicas. No entanto, é importante ressaltar que a banda fugiu da regra com a quantidade de faixas em Rush! — no total, são 17, sendo que os discos anteriores têm 12 e oito músicas.