Conhecido no Brasil todo pelo hit Acorda, Pedrinho, da banda Jovem Dionísio, o garçom aposentado Pedro Domingos do Prado morreu segunda-feira, 25, em Curitiba, aos 65 anos, durante as comemorações de Natal. Pedrinho foi encontrado sem vida no apartamento onde vivia no Centro da capital paranaense.
Içado à fama pelo sucesso da banda em maio do ano passado, Pedrinho foi talvez o personagem mais conhecido da trinca de bares da Avenida João Gualberto, tradicional reduto boêmio curitibano, no bairro Juvevê. Ali, Pedrinho criou vínculos com os proprietários e clientes dos três bares: a Lanchonete Aquarius (mais conhecida como Bar do Dionísio), a Pastelaria Juvevê e o Bar Luzitano (assim mesmo, com Z).
O Luzitano foi onde Pedrinho começou a relação com o Juvevê. Após um curto período trabalhando em um açougue, em 1983 Pedrinho atravessou a João Gualberto para servir cervejas e petiscos do outro lado da avenida por cerca de 13 anos no Bar Luzitano.
Depois de um tempo fora, retornou ao Juvevê para trabalhar até se aposentar recentemente na pastelaria comandada por outra figura ilustre da quadra, o “japonês” Ricardo Doi. Já o Bar do Dionísio era o refúgio de Pedrinho após o expediente: era para onde partia tomar jogar sinuca com os amigos noite adentro antes de voltar para casa.
Foi nesse mesmo bar onde Pedrinho conheceu os integrantes da banda Jovem Dionísio, cujo nome é homenagem ao dono do estabelecimento. Como constantemente tirava cochilos à mesa, em especial enquanto aguardava a vez de dar uma tacada na sinuca, sempre ouvia um “Acorda, Pedrinho”, frase que virou sucesso do grupo curitibano.
“O maior motivo por nós amarmos tanto o bar do Dionisio é pelas amizades que fizemos lá. Ganhamos diversos amigos de todos os tipos. Cada pessoa com suas particularidades e histórias únicas. Mas sempre com uma coisa em comum: carinho. Pedrinho com toda certeza foi o canalizador de todo esse carinho que o bar oferece”, publicou a Jovem Dionísio em sua conta no Instagram. A banda bancou o velório e a cremação do amigo.
Histórias sobre Pedrinho realmente não faltam. Para Dionísio Macioski, 68 anos, e Elizabeth Ederman de Lara, 58 anos, casal proprietário da Lanchonete Aquarius, Pedrinho, com quem conviveram por 33 anos, era mais que um cliente, um irmão.
“Ele não brigava com ninguém. Todo mundo gostava dele. Tanto que ele praticamente não pagava cerveja. Todo mundo aqui oferecia cerveja para ele”, relembra Dionísio. “Ele bebia bem, mas não incomodava. A única coisa que ele fazia quando estava bêbado era dormir na mesa. Se ninguém falava com ele, já dormia”, recorda o amigo.
Pedrinho e Elizabeth se conheceram há quase 40 anos, quando trabalhavam perto um do outro. Depois, ficaram tão amigos que a empresária chegou a ajudá-lo com os custos de uma internação, mas garante que ele não tinha problemas crônicos de saúde. “Teve um problema no pulmão uma vez só”, comentou.
No Bar do Dionísio, ele ia como cliente e amigo dos donos, chegando lá todos os dias às 9h e indo embora às 20h. Elizabeth lembra que Pedrinho passava até 18 horas por dia na Avenida João Gualberto, circulando entre um bar e outro.
Elizabeth diz que os amigos do bar eram a família de Pedrinho. Ela, Pedrinho e Dionísio comemoravam o Natal juntos todo ano, mas estranharam quando o amigo não apareceu para a ceia no domingo, 24. “Hoje está sendo bem difícil, o primeiro dia sem ele. Olho para o pessoal do bar e fico procurando o Pedrinho”, lamenta Elizabeth.
Um dos amigos mais próximos de Pedrinho no Bar do Dionísio, o engenheiro mecânico aposentado José Carlos Thomaz, o conhecia desde 2004. “Um resumo do que era o Pedrinho: ele encantava pela simplicidade e pela presteza, sempre disposto a ajudar, seja o pessoal aqui do bar, até os mendigos que vêm aqui. Com ele não tinha tempo ruim”, lembra Thomaz, aos prantos.
“Se ele ia na lotérica, perguntava para todo mundo aqui no bar se alguém precisava de algo. Mesma coisa se ia no mercado ou em qualquer outro lugar”, conclui o aposentado, que vai organizar uma homenagem a Pedrinho junto com o casal dono do bar.
Flávio de Jesus Steger Junior, dono do Bar Luzitano, afirma que está para nascer outro ser humano como Pedrinho. “Ele era sensacional. Ele dava o que tinha para ajudar os outros. Não tinha maldade em nada e viveu como quis”, ressalta Flávio.
Já o advogado Rodrigo Guimarães, 51 anos, lembra de um “talento” de Pedrinho. Por mais que tivesse exagerado na bebida, quando estava trabalhando nunca errava a entrega dos pedidos nas mesas. “Ele era agilizado. Você achava que ele estava na ‘estratosfera’, mas estava por dentro de tudo no salão”, aponta Guimarães.
“Falei hoje para um amigo lá da Inglaterra que o Pedrinho faleceu e ele me perguntou ‘the sleeping guy? [o dorminhoco, em português]’”, afirma o advogado, dando uma noção de onde chegou a fama de Pedrinho.
Nos últimos meses, além dos amigos, Pedrinho vivia cercado por fãs. Devido à música da Jovem Dionísio, era procurado por clientes e mesmo gente que ia até a Avenida João Gualberto só para fazer selfies com ele. “A vantagem é que algumas pessoas estão pagando uma cervejinha, mas agora está mais difícil dormir no bar”, declarou Pedrinho sobre a fama ao jornal Tribuna do Paraná pouco antes de falecer.
Para homenagear o amigo, Elizabeth fará um torneio de sinuca em fevereiro. “Vou esperar passar um pouco tudo isso para organizar essa homenagem”, finalizou ela. Aposentado e divorciado, Pedrinho deixou um filho e uma neta.