Como não se lembrar da icônica personagem Vera Verão, sempre carregada na maquiagem, usando brincos chamativos e figurinos extravagantes, com seu clássico bordão: "ÊÊÊPAAA! Bicha não!"? Há 65 anos, em 29 de março, nascia Jorge Lafond, nome artístico de Jorge Luiz Sousa Lima. Mais que um simples humorista ou dançarino, Lafond chamava atenção por conquistar a simpatia de milhões de brasileiros em um período que o preconceito contra homossexuais era ainda mais intenso do que hoje. Em 1998, por exemplo, na mesma semana em que a novela Torre de Babel afastava um casal gay da trama por conta da rejeição do público, Lafond fazia a alegria do público em um bate-papo descontraído no programa de Hebe Camargo.
Fosse fazendo o humor escrachado da Praça ou dos Trapalhões, participando de um evento sobre o Dia da Consciência Negra no Memorial da América Latina ou declamando um texto de Fernando Pessoa num programa da TV Cultura, Jorge Lafond marcou época. Relembre abaixo momentos marcantes de sua carreira:
Vera Verão A personagem sempre disputava a atenção dos homens com outra mulher, que a chamava de 'bicha'. Era o momento para Lafond liberar seu grito de "Êpa! Bicha não! Eu sou quase uma... [a conclusão dependia do contexto do episódio]".
Relembre algumas vezes que o quadro foi ao ar com algumas personalidades conhecidas, como Gretchen, Roberta Close e a dupla Leandro e Leonardo.
Preconceito
Negro, gay e transformista, Lafond sofreu diversos tipos de preconceito ao longo de sua vida. Um caso em especial chamou atenção.
"Estava fazendo o Programa do Gugu [Domingo Legal] numa boa. Teve a entrada do Padre Marcelo Rossi, mas não sei por que, viraram para mim e falaram assim: 'Lafond, tira essa roupa, coloca uma de homem e depois você volta'. Eu falei: 'Ué? Tá bom'. Fui ao camarim e não troquei, porque não tinha roupa de homem, só de mulher. O que eu fiz? Simplesmente, quando o padre se retirou, eu voltei à cena.", contou em entrevista ao TV Fama, à época. Rossi sempre negou as acusações.
Mesmo magoado, Jorge lidava com a situação com seu mesmo jeito de sempre: "Eu vou vestir uma roupinha e vou até o Vaticano fazer uma denúncia!".
Trapalhões Na década de 1980, Lafond participava de esquetes daquele que é considerado como um dos mais importantes programas da história do humor brasileiro. Relembre algumas de suas aparições abaixo:
Carnaval
Lafond também era um grande fã do período carnavalesco, participando de vários desfiles ao longo de sua trajetória. E não poupava esforços na data: chegou a perder dez quilos para viver um pajé na comissão de frente da Beija-Flor e ajudar a escola a conquistar o título carioca em 1998. Na ocasião, apareceu com o corpo coberto apenas por purpurina, graças ao enredo Todo Mundo Nasceu Nu. Em seus últimos carnavais, desfilou pela Imperatriz Leopoldinense no Rio e a Unidos de São Lucas em São Paulo, quando a escola teve o enredo Humor, Humoral, Humorizado: Nóbrega e os Filhos do Riso.
Casa dos Artistas Lafond era um dos mais cotados a participar da segunda edição do reality do SBT. Chegou a participar do primeiro dia do programa, quando Silvio Santos simulou uma votação para decidir quem ficava na casa, mas não esteve entre os participantes definitivos.
Legado
Jorge Lafond nos deixou no dia 11 de janeiro de 2003, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória.
Passados quase 15 anos de sua morte, a personagem Vera Verão continua no imaginário brasileiro, mesmo para muitos jovens que nunca chegaram a assistir seu auge na TV. O Globo Esporte, em 2010, por exemplo, criou um quadro chamado "Momento Lafond", exibido quando jogadores 'perdiam a cabeça' e se irritavam de forma semelhante a Lafond.
Em material preparado em homenagem aos 30 anos de A Praça É Nossa, a personagem Vera Verão foi interpretada por Sebastian Fonseca, conhecido por suas performances em propagandas de marcas de roupa.
Confira abaixo, à partir de 2m40s!
Na semana de sua morte, uma emocionada homenagem de Carlos Alberto da Nóbrega, com quem trabalhou durante anos, foi ao ar na Praça.