Cris Berguer indica bons lugares para conhecer com seu melhor amigo: o cachorro

Opinião|A tatuagem da Ella, o senhor Edson e o universo


Por Cris Berger

Esperei durante semanas o dia 25 de outubro, pois estava marcado o acabamento da tatuagem realista da Ella, que diga-se de passagem, já estava linda e ficaria ainda melhor.  Às 16 horas cheguei no estúdio da Beatriz Rezende e; por volta das 18; me despedi dela com um abraço apertado, uma barra de chocolate na bolsa; que ela havia me dado de presente; e agradecida por ter a Ella desenhada no meu antebraço.

A tatuagem da Ella no meu antebraço. Foto: Arquivo pessoal

Como era meu rodízio, segui em direção à minha casa, por ruas internas para fugir dos pardais e na subida de uma delas vejo um homem caminhando lentamente e, de repente, parar. 

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Ele parecia bêbado por estar cambaleando, mas o fato é: não se mexia. Eu poderia ter passado com o meu carro pelo lado e deixá-lo lá, no meio da escuridão, à mercê dos carros que desciam rapidamente ou dos que queriam cruzar a rua, como eu, cheios de pressa. 

Vi um grupo de jovens parados na esquina, abri a janela do carro e ordenei: vão ajudá-lo a atravessar. Foram e voltaram com a informação de que ele não queria se mover. 

Então, puxei o freio de mão, desliguei o carro, abri a porta, olhei para o carro que estava atrás de mim buzinando e com a minha mão fiz o movimento para ele esperar. 

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Cheguei perto do senhor Edson, que cheirava mal, pois deveria estar há dias sem tomar banho, e, gentilmente, coloquei minha mão nas suas costas e disse: - Posso te ajudar a atravessar a rua? 

Ele respondeu: - não consigo me mover, tenho câncer cerebral. 

E listou mais uma série de doenças, que não lembro o nome. Ele estava voltando do hospital São Paulo, articulava bem as palavras, certamente sentia dor e, possivelmente, estava em pânico.

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Eu esqueci que a porta do meu carro estava aberta e minha bolsa dentro dele. Ignorei que estava em São Paulo: a violenta cidade repleta de casos de assaltos, apenas disse: - não temos pressa, como é o seu nome, onde o senhor mora? Vamos no seu tempo. 

Ele começou a chorar e replicou: - Não quero incomodar. 

E, neste momento, falei: - é um prazer poder te ajudar. 

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Da onde eu havia tirado isso? Não disse da boca para fora, era real. Eu realmente estava honrada de estar ali ajudando o senhor Edson, uma das tantas pessoas neste país que não têm acesso à saúde de forma digna,  a atravessar a rua.

Sugeri entrarmos no meu carro e disse que eu o levaria até o ponto de ônibus na avenida Indianópolis, como ele havia me dito que desejava ir. Gritei para o meu namorado assumir a direção e aproximar o carro de nós. Coloquei o senhor Edson no banco da frente, que sentou sentindo muita dor. No caminho, perguntei se eu poderia chamar um Uber para levá-lo até a sua casa, mas ele relatou que ficar sentado o fazia sentir ainda mais dor. 

Coloquei na sua bolsa o que eu tinha de dinheiro, a barra de chocolate que eu havia ganhado e anotei em um guardanapo de papel o meu nome e telefone. Fomos até o ponto de ônibus, esperei ele chegar e o ajudei a subir.

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Pela primeira vez, desde que a Ella partiu e eu declarei ódio ao universo por ter levado meu grande amor, achei que este encontro com o senhor Edson era um recado e lembrete de quem eu era. Talvez o tal universo falasse. Talvez. 

Não passei reto. Fiz o grupo de jovens ir até ele. Mandei o carro de trás esperar. Fui. Ajudei pouco, quase nada. Mas percebi que existe um desejo dentro de mim de gerar mudança, de não aceitar o não, de querer fazer algo e no meio de tantas tentativas, conseguir alguma coisa. 

Este constante ato de contestação; que tive a vida inteira; meu ímpeto de brigar e exigir que as coisas sejam diferentes pode ser um dom. Quem sabe? Eu não assisto na arquibancada. Não lamento, eu reclamo. Não aceito, eu questiono.

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E, ontem, o senhor Edson me fez sentir que estar viva pode ter algum sentido porque depois que a Ella partiu, eu simplesmente existo, sem grande entusiasmo. 

A Ella foi meu combustível para conquistar um mundo pet friendly para todos os cães, na última década, e brilhou lindamente ao meu lado. Por algum motivo; partiu com apenas 10 anos e eu me sinto roubada; mas meu ímpeto em fazer uma mínima diferença na vida do senhor Edson, trouxe um sentido, mexeu comigo. 

Daqui a pouco, vou até o Pet Adoption Weekend, um evento de adoção, que está acontecendo em vários países do mundo e é  promovido pela Mars Petcare. No final de semana passado, entre o México, Reino Unido e Canadá foram 234 animais adotados. Neste sábado, em São Paulo, no Parque Jardim das Perdizes, na rua Marc Chagall, até às 17 horas, terão 16 pets, entre cães e gatos, à procura de um lar. 

 

Espero que eles encontrem pessoas que possam amá-los e deixem de fazer parte do número assustador de 30 milhões de animais abandonados no Brasil, como indica a pesquisa Mars Global Pet Parent Study; realizada em 20 países ao redor do mundo; incluindo o Brasil.

Semana que vem, eu tenho uma call com a Katia Souza, que cuida de políticas públicas para a Mars. A empresa lançou um curso, como parte do Better Cities for Pets, ensinando os municípios a cuidarem melhor dos animais carentes com controle de natalidade, campanhas de posse responsável e gestão dos abrigos. 

Espero que o encontro com o senhor Edson, meu papel de jornalista, escrever para um jornal tão importante e acesso a tanto conhecimento possam ajudar, nem que seja um pouco, o mundo ter menos sofrimento e mais amparo. 

Esperei durante semanas o dia 25 de outubro, pois estava marcado o acabamento da tatuagem realista da Ella, que diga-se de passagem, já estava linda e ficaria ainda melhor.  Às 16 horas cheguei no estúdio da Beatriz Rezende e; por volta das 18; me despedi dela com um abraço apertado, uma barra de chocolate na bolsa; que ela havia me dado de presente; e agradecida por ter a Ella desenhada no meu antebraço.

A tatuagem da Ella no meu antebraço. Foto: Arquivo pessoal

Como era meu rodízio, segui em direção à minha casa, por ruas internas para fugir dos pardais e na subida de uma delas vejo um homem caminhando lentamente e, de repente, parar. 

Ele parecia bêbado por estar cambaleando, mas o fato é: não se mexia. Eu poderia ter passado com o meu carro pelo lado e deixá-lo lá, no meio da escuridão, à mercê dos carros que desciam rapidamente ou dos que queriam cruzar a rua, como eu, cheios de pressa. 

Vi um grupo de jovens parados na esquina, abri a janela do carro e ordenei: vão ajudá-lo a atravessar. Foram e voltaram com a informação de que ele não queria se mover. 

Então, puxei o freio de mão, desliguei o carro, abri a porta, olhei para o carro que estava atrás de mim buzinando e com a minha mão fiz o movimento para ele esperar. 

Cheguei perto do senhor Edson, que cheirava mal, pois deveria estar há dias sem tomar banho, e, gentilmente, coloquei minha mão nas suas costas e disse: - Posso te ajudar a atravessar a rua? 

Ele respondeu: - não consigo me mover, tenho câncer cerebral. 

E listou mais uma série de doenças, que não lembro o nome. Ele estava voltando do hospital São Paulo, articulava bem as palavras, certamente sentia dor e, possivelmente, estava em pânico.

Eu esqueci que a porta do meu carro estava aberta e minha bolsa dentro dele. Ignorei que estava em São Paulo: a violenta cidade repleta de casos de assaltos, apenas disse: - não temos pressa, como é o seu nome, onde o senhor mora? Vamos no seu tempo. 

Ele começou a chorar e replicou: - Não quero incomodar. 

E, neste momento, falei: - é um prazer poder te ajudar. 

Da onde eu havia tirado isso? Não disse da boca para fora, era real. Eu realmente estava honrada de estar ali ajudando o senhor Edson, uma das tantas pessoas neste país que não têm acesso à saúde de forma digna,  a atravessar a rua.

Sugeri entrarmos no meu carro e disse que eu o levaria até o ponto de ônibus na avenida Indianópolis, como ele havia me dito que desejava ir. Gritei para o meu namorado assumir a direção e aproximar o carro de nós. Coloquei o senhor Edson no banco da frente, que sentou sentindo muita dor. No caminho, perguntei se eu poderia chamar um Uber para levá-lo até a sua casa, mas ele relatou que ficar sentado o fazia sentir ainda mais dor. 

Coloquei na sua bolsa o que eu tinha de dinheiro, a barra de chocolate que eu havia ganhado e anotei em um guardanapo de papel o meu nome e telefone. Fomos até o ponto de ônibus, esperei ele chegar e o ajudei a subir.

Pela primeira vez, desde que a Ella partiu e eu declarei ódio ao universo por ter levado meu grande amor, achei que este encontro com o senhor Edson era um recado e lembrete de quem eu era. Talvez o tal universo falasse. Talvez. 

Não passei reto. Fiz o grupo de jovens ir até ele. Mandei o carro de trás esperar. Fui. Ajudei pouco, quase nada. Mas percebi que existe um desejo dentro de mim de gerar mudança, de não aceitar o não, de querer fazer algo e no meio de tantas tentativas, conseguir alguma coisa. 

Este constante ato de contestação; que tive a vida inteira; meu ímpeto de brigar e exigir que as coisas sejam diferentes pode ser um dom. Quem sabe? Eu não assisto na arquibancada. Não lamento, eu reclamo. Não aceito, eu questiono.

E, ontem, o senhor Edson me fez sentir que estar viva pode ter algum sentido porque depois que a Ella partiu, eu simplesmente existo, sem grande entusiasmo. 

A Ella foi meu combustível para conquistar um mundo pet friendly para todos os cães, na última década, e brilhou lindamente ao meu lado. Por algum motivo; partiu com apenas 10 anos e eu me sinto roubada; mas meu ímpeto em fazer uma mínima diferença na vida do senhor Edson, trouxe um sentido, mexeu comigo. 

Daqui a pouco, vou até o Pet Adoption Weekend, um evento de adoção, que está acontecendo em vários países do mundo e é  promovido pela Mars Petcare. No final de semana passado, entre o México, Reino Unido e Canadá foram 234 animais adotados. Neste sábado, em São Paulo, no Parque Jardim das Perdizes, na rua Marc Chagall, até às 17 horas, terão 16 pets, entre cães e gatos, à procura de um lar. 

 

Espero que eles encontrem pessoas que possam amá-los e deixem de fazer parte do número assustador de 30 milhões de animais abandonados no Brasil, como indica a pesquisa Mars Global Pet Parent Study; realizada em 20 países ao redor do mundo; incluindo o Brasil.

Semana que vem, eu tenho uma call com a Katia Souza, que cuida de políticas públicas para a Mars. A empresa lançou um curso, como parte do Better Cities for Pets, ensinando os municípios a cuidarem melhor dos animais carentes com controle de natalidade, campanhas de posse responsável e gestão dos abrigos. 

Espero que o encontro com o senhor Edson, meu papel de jornalista, escrever para um jornal tão importante e acesso a tanto conhecimento possam ajudar, nem que seja um pouco, o mundo ter menos sofrimento e mais amparo. 

Esperei durante semanas o dia 25 de outubro, pois estava marcado o acabamento da tatuagem realista da Ella, que diga-se de passagem, já estava linda e ficaria ainda melhor.  Às 16 horas cheguei no estúdio da Beatriz Rezende e; por volta das 18; me despedi dela com um abraço apertado, uma barra de chocolate na bolsa; que ela havia me dado de presente; e agradecida por ter a Ella desenhada no meu antebraço.

A tatuagem da Ella no meu antebraço. Foto: Arquivo pessoal

Como era meu rodízio, segui em direção à minha casa, por ruas internas para fugir dos pardais e na subida de uma delas vejo um homem caminhando lentamente e, de repente, parar. 

Ele parecia bêbado por estar cambaleando, mas o fato é: não se mexia. Eu poderia ter passado com o meu carro pelo lado e deixá-lo lá, no meio da escuridão, à mercê dos carros que desciam rapidamente ou dos que queriam cruzar a rua, como eu, cheios de pressa. 

Vi um grupo de jovens parados na esquina, abri a janela do carro e ordenei: vão ajudá-lo a atravessar. Foram e voltaram com a informação de que ele não queria se mover. 

Então, puxei o freio de mão, desliguei o carro, abri a porta, olhei para o carro que estava atrás de mim buzinando e com a minha mão fiz o movimento para ele esperar. 

Cheguei perto do senhor Edson, que cheirava mal, pois deveria estar há dias sem tomar banho, e, gentilmente, coloquei minha mão nas suas costas e disse: - Posso te ajudar a atravessar a rua? 

Ele respondeu: - não consigo me mover, tenho câncer cerebral. 

E listou mais uma série de doenças, que não lembro o nome. Ele estava voltando do hospital São Paulo, articulava bem as palavras, certamente sentia dor e, possivelmente, estava em pânico.

Eu esqueci que a porta do meu carro estava aberta e minha bolsa dentro dele. Ignorei que estava em São Paulo: a violenta cidade repleta de casos de assaltos, apenas disse: - não temos pressa, como é o seu nome, onde o senhor mora? Vamos no seu tempo. 

Ele começou a chorar e replicou: - Não quero incomodar. 

E, neste momento, falei: - é um prazer poder te ajudar. 

Da onde eu havia tirado isso? Não disse da boca para fora, era real. Eu realmente estava honrada de estar ali ajudando o senhor Edson, uma das tantas pessoas neste país que não têm acesso à saúde de forma digna,  a atravessar a rua.

Sugeri entrarmos no meu carro e disse que eu o levaria até o ponto de ônibus na avenida Indianópolis, como ele havia me dito que desejava ir. Gritei para o meu namorado assumir a direção e aproximar o carro de nós. Coloquei o senhor Edson no banco da frente, que sentou sentindo muita dor. No caminho, perguntei se eu poderia chamar um Uber para levá-lo até a sua casa, mas ele relatou que ficar sentado o fazia sentir ainda mais dor. 

Coloquei na sua bolsa o que eu tinha de dinheiro, a barra de chocolate que eu havia ganhado e anotei em um guardanapo de papel o meu nome e telefone. Fomos até o ponto de ônibus, esperei ele chegar e o ajudei a subir.

Pela primeira vez, desde que a Ella partiu e eu declarei ódio ao universo por ter levado meu grande amor, achei que este encontro com o senhor Edson era um recado e lembrete de quem eu era. Talvez o tal universo falasse. Talvez. 

Não passei reto. Fiz o grupo de jovens ir até ele. Mandei o carro de trás esperar. Fui. Ajudei pouco, quase nada. Mas percebi que existe um desejo dentro de mim de gerar mudança, de não aceitar o não, de querer fazer algo e no meio de tantas tentativas, conseguir alguma coisa. 

Este constante ato de contestação; que tive a vida inteira; meu ímpeto de brigar e exigir que as coisas sejam diferentes pode ser um dom. Quem sabe? Eu não assisto na arquibancada. Não lamento, eu reclamo. Não aceito, eu questiono.

E, ontem, o senhor Edson me fez sentir que estar viva pode ter algum sentido porque depois que a Ella partiu, eu simplesmente existo, sem grande entusiasmo. 

A Ella foi meu combustível para conquistar um mundo pet friendly para todos os cães, na última década, e brilhou lindamente ao meu lado. Por algum motivo; partiu com apenas 10 anos e eu me sinto roubada; mas meu ímpeto em fazer uma mínima diferença na vida do senhor Edson, trouxe um sentido, mexeu comigo. 

Daqui a pouco, vou até o Pet Adoption Weekend, um evento de adoção, que está acontecendo em vários países do mundo e é  promovido pela Mars Petcare. No final de semana passado, entre o México, Reino Unido e Canadá foram 234 animais adotados. Neste sábado, em São Paulo, no Parque Jardim das Perdizes, na rua Marc Chagall, até às 17 horas, terão 16 pets, entre cães e gatos, à procura de um lar. 

 

Espero que eles encontrem pessoas que possam amá-los e deixem de fazer parte do número assustador de 30 milhões de animais abandonados no Brasil, como indica a pesquisa Mars Global Pet Parent Study; realizada em 20 países ao redor do mundo; incluindo o Brasil.

Semana que vem, eu tenho uma call com a Katia Souza, que cuida de políticas públicas para a Mars. A empresa lançou um curso, como parte do Better Cities for Pets, ensinando os municípios a cuidarem melhor dos animais carentes com controle de natalidade, campanhas de posse responsável e gestão dos abrigos. 

Espero que o encontro com o senhor Edson, meu papel de jornalista, escrever para um jornal tão importante e acesso a tanto conhecimento possam ajudar, nem que seja um pouco, o mundo ter menos sofrimento e mais amparo. 

Esperei durante semanas o dia 25 de outubro, pois estava marcado o acabamento da tatuagem realista da Ella, que diga-se de passagem, já estava linda e ficaria ainda melhor.  Às 16 horas cheguei no estúdio da Beatriz Rezende e; por volta das 18; me despedi dela com um abraço apertado, uma barra de chocolate na bolsa; que ela havia me dado de presente; e agradecida por ter a Ella desenhada no meu antebraço.

A tatuagem da Ella no meu antebraço. Foto: Arquivo pessoal

Como era meu rodízio, segui em direção à minha casa, por ruas internas para fugir dos pardais e na subida de uma delas vejo um homem caminhando lentamente e, de repente, parar. 

Ele parecia bêbado por estar cambaleando, mas o fato é: não se mexia. Eu poderia ter passado com o meu carro pelo lado e deixá-lo lá, no meio da escuridão, à mercê dos carros que desciam rapidamente ou dos que queriam cruzar a rua, como eu, cheios de pressa. 

Vi um grupo de jovens parados na esquina, abri a janela do carro e ordenei: vão ajudá-lo a atravessar. Foram e voltaram com a informação de que ele não queria se mover. 

Então, puxei o freio de mão, desliguei o carro, abri a porta, olhei para o carro que estava atrás de mim buzinando e com a minha mão fiz o movimento para ele esperar. 

Cheguei perto do senhor Edson, que cheirava mal, pois deveria estar há dias sem tomar banho, e, gentilmente, coloquei minha mão nas suas costas e disse: - Posso te ajudar a atravessar a rua? 

Ele respondeu: - não consigo me mover, tenho câncer cerebral. 

E listou mais uma série de doenças, que não lembro o nome. Ele estava voltando do hospital São Paulo, articulava bem as palavras, certamente sentia dor e, possivelmente, estava em pânico.

Eu esqueci que a porta do meu carro estava aberta e minha bolsa dentro dele. Ignorei que estava em São Paulo: a violenta cidade repleta de casos de assaltos, apenas disse: - não temos pressa, como é o seu nome, onde o senhor mora? Vamos no seu tempo. 

Ele começou a chorar e replicou: - Não quero incomodar. 

E, neste momento, falei: - é um prazer poder te ajudar. 

Da onde eu havia tirado isso? Não disse da boca para fora, era real. Eu realmente estava honrada de estar ali ajudando o senhor Edson, uma das tantas pessoas neste país que não têm acesso à saúde de forma digna,  a atravessar a rua.

Sugeri entrarmos no meu carro e disse que eu o levaria até o ponto de ônibus na avenida Indianópolis, como ele havia me dito que desejava ir. Gritei para o meu namorado assumir a direção e aproximar o carro de nós. Coloquei o senhor Edson no banco da frente, que sentou sentindo muita dor. No caminho, perguntei se eu poderia chamar um Uber para levá-lo até a sua casa, mas ele relatou que ficar sentado o fazia sentir ainda mais dor. 

Coloquei na sua bolsa o que eu tinha de dinheiro, a barra de chocolate que eu havia ganhado e anotei em um guardanapo de papel o meu nome e telefone. Fomos até o ponto de ônibus, esperei ele chegar e o ajudei a subir.

Pela primeira vez, desde que a Ella partiu e eu declarei ódio ao universo por ter levado meu grande amor, achei que este encontro com o senhor Edson era um recado e lembrete de quem eu era. Talvez o tal universo falasse. Talvez. 

Não passei reto. Fiz o grupo de jovens ir até ele. Mandei o carro de trás esperar. Fui. Ajudei pouco, quase nada. Mas percebi que existe um desejo dentro de mim de gerar mudança, de não aceitar o não, de querer fazer algo e no meio de tantas tentativas, conseguir alguma coisa. 

Este constante ato de contestação; que tive a vida inteira; meu ímpeto de brigar e exigir que as coisas sejam diferentes pode ser um dom. Quem sabe? Eu não assisto na arquibancada. Não lamento, eu reclamo. Não aceito, eu questiono.

E, ontem, o senhor Edson me fez sentir que estar viva pode ter algum sentido porque depois que a Ella partiu, eu simplesmente existo, sem grande entusiasmo. 

A Ella foi meu combustível para conquistar um mundo pet friendly para todos os cães, na última década, e brilhou lindamente ao meu lado. Por algum motivo; partiu com apenas 10 anos e eu me sinto roubada; mas meu ímpeto em fazer uma mínima diferença na vida do senhor Edson, trouxe um sentido, mexeu comigo. 

Daqui a pouco, vou até o Pet Adoption Weekend, um evento de adoção, que está acontecendo em vários países do mundo e é  promovido pela Mars Petcare. No final de semana passado, entre o México, Reino Unido e Canadá foram 234 animais adotados. Neste sábado, em São Paulo, no Parque Jardim das Perdizes, na rua Marc Chagall, até às 17 horas, terão 16 pets, entre cães e gatos, à procura de um lar. 

 

Espero que eles encontrem pessoas que possam amá-los e deixem de fazer parte do número assustador de 30 milhões de animais abandonados no Brasil, como indica a pesquisa Mars Global Pet Parent Study; realizada em 20 países ao redor do mundo; incluindo o Brasil.

Semana que vem, eu tenho uma call com a Katia Souza, que cuida de políticas públicas para a Mars. A empresa lançou um curso, como parte do Better Cities for Pets, ensinando os municípios a cuidarem melhor dos animais carentes com controle de natalidade, campanhas de posse responsável e gestão dos abrigos. 

Espero que o encontro com o senhor Edson, meu papel de jornalista, escrever para um jornal tão importante e acesso a tanto conhecimento possam ajudar, nem que seja um pouco, o mundo ter menos sofrimento e mais amparo. 

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