Tenho sono leve. Qualquer barulho mais forte no meio da madrugada é suficiente para me acordar, e depois disso, não consigo mais voltar a dormir. Uma noite mal dormida significa que o dia seguinte será difícil - estarei irritada, cansada e desatenta. Minha função cognitiva despenca. A medicina explica: o sono fortalece o sistema imunológico, recupera os músculos, regenera os tecidos e prepara o cérebro para aprender e memorizar. A falta dele é um suplício.
O cachorro da vizinha
Você deve estar se perguntando: "E o que isso tem a ver com um cachorro, Cris Berger?" Afinal, este espaço é para falar sobre eles. A resposta é: tudo se for o motivo da Carla não gostar de cachorro. Mas antes de explicar quem é essa mulher, deixa eu te contar o que aconteceu sábado passado comigo: o cachorro da minha vizinha latiu um bom tempo durante a madrugada. Então, vocês já sabem: tive insônia.
Se eu não fosse completamente apaixonada por cães, este episódio poderia ter me feito passar a não gostar deles, ainda mais se o latido se repetisse, como anda acontecendo.
Sabe o que eu pensei? Vou me oferecer para cuidar do cachorro quando a minha vizinha não estiver em casa. Isso depois, é claro, de ele estar acostumado comigo, afinal, para os cães, a adaptação é essencial.
Telespectadora do jornal SP1
Bem, a Carla em questão é a telespectadora do jornal SP1 da Globo, que enviou uma pergunta para o programa querendo saber se existe alguma lei que proíbe o barulho de cães. O advogado Marcio Rachkorsk, especializado em direito de condomínio e comentarista do SP1 respondeu com imensa simpatia que ela deveria aquecer o coração e ter um animal de estimação. Até aí, tudo lindo! Então, ele seguiu: "cães latem, crianças choram e objetos caem no chão." A primeira vez que assisti, pensei: "Não, não vamos normatizar a falta de educação e preparo dos cães". Claro que eu estou considerando o caso de um cachorro que lata sem parar, de forma excessiva.
Eu luto tanto pela inclusão pet em todos os locais e momentos, e ela só vai acontecer quando nossos cães tiverem equilíbrio e forem preparados para estar em um ambiente público sem desrespeitar o espaço alheio.
Este recorte do programa foi publicado no Instagram do jornal e viralizou. Os pais de pets tomaram as dores e a Carla se tornou a mais nova vilã da internet brasileira, mas eu tenho uma ideia que pode dar certo.
Bola ao centro
Bola ao centro. Vamos começar de novo. Eu gostaria de mudar a concepção da Carla sobre cachorros. Se ela está buscando refúgio em uma lei que proíba os cachorros de fazerem barulhos com latidos, provavelmente deve ter tido uma má experiência com barulho. Não é mesmo?
A minha proposta como jornalista, mãe de uma cachorra que foi treinada, embaixadora do movimento pet friendly no Brasil e militante por mais espaço para os nossos cães na sociedade é fomentar a cultura da educação para os novos filhos: os nossos cachorros.
Nos 10 anos de vida da Ella eu nunca sofri discriminação. Em nenhuma ocasião, uma pessoa olhou torto para a Ella, fez algum comentário agressivo ou pediu que nos retirássemos. Pelo contrário, ela foi tão amada em hospitais, admirada a bordo dos aviões, elogiada nos restaurantes, hotéis e escritórios. Foi por isso que eu encabecei o movimento pet friendly: pois sei que é possível, e vivi isso intensamente com a minha Ellinha.
Educação canina
Para isso, conversei com o educador canino Paulo Serrati sobre cães que latem excessivamente e o questionei se com treino é possível mudar esse comportamento. Nas palavras dele: "É possível mudar sim. Uma coisa é um ou dois latidos esporádicos e outro é o latido incessante e sem controle. O excesso de latidos acontece em consequência de medo, insegurança, ansiedade ou sensação de abandono. Temos que achar a causa e corrigir. Este comportamento do cão mostra que ele está sofrendo e pode redirecionar o latido para coisas potencialmente perigosas, como se automutilar, destruir e ingerir objetos. O treino promove bem estar para o cão, tutores e pessoas como a Carla".
O que fala a lei
E sobre a lei, o advogado especializado em causa animal doutor Leandro Petraglia, do escritório Furno Petraglia e Pérez, explica: "em um condomínio, o síndico tem o dever de garantir os "3 S" que são segurança, sossego e salubridade, previstos no código civil. No plano do sossego, está em intervir em situações que possam prejudicar o descanso alheio como, por exemplo, o latido de cachorros. A "lei psiu" fixa limites de Dcb a serem medidos."
Ou seja, há lei que fala sobre o barulho e pode ser atrelada a latidos excessivos, portanto, o melhor caminho não seria treinar o cão para dessensibilizá-lo a ruídos e situações que o colocam em pânico? Porque como o Paulo Serrati explicou, este comportamento indica sofrimento e isso a gente não quer para nenhum cão, certo?
Não sabemos o que motivou a Carla a dizer que não gosta de cachorros, mas só consigo pensar em uma situação de barulho extremo, porque sabemos o quão maravilhosos eles são e o quanto fazem bem para as nossas vidas.