Transtornos mentais e suas diferenças entre homens e mulheres

Opinião|Uso de Cannabis em mulheres


Por Dr. Joel Rennó
 Foto: Estadão

Nas próximas semanas, estarei desenvolvendo uma pequena série sobre aspectos gênero-específicos do uso da cannabis nas mulheres, inclusive descrevendo os impactos durante a gravidez e pós-parto.

Diante do número alarmante de usuários de cannabis no Brasil e do impulso e crescimento dos movimentos pró-regulamentação e liberação da cannabis no país, faz-se necessária a discussão e produção científica sobre os impactos dessa substância na população feminina, inclusive levando-se em consideração a questão de gênero.

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As diferenças no consumo de substâncias psicoativas entre os gêneros estão menores a cada ano. Ainda que estudos  epidemiológicos  mostrem  que  mulheres  usam menos substâncias psicoativas do que os homens, o número de mulheres que fazem uso e abuso dessas substâncias aumenta a cada ano. Isso se deve, principalmente, às mudanças do papel social da mulher no mundo. As usuárias de drogas, principalmente as gestantes, sofrem estigma social e preconceito, porém atualmente a aceitação social do consumo de drogas pelas mulheres é muito maior do que há algumas décadas. Existem  importantes  especificidades  que  devem ser consideradas para a prevenção e o tratamento da dependência entre as mulheres. As diferenças de uso entre os gêneros incluem os fatos de a mulher: começar a usar a substância como forma desadaptativa de aliviar sintomas de  problemas  mentais  preexistentes,  como  estresse, sensação  de  alienação,  depressão,  ansiedade  e  estresse  pós-traumático;  progredir  do  uso  para  a  dependência mais rápido que o homem; ser mais reativa aos gatilhos para  uso;  apresentar  maiores  taxas  de  recaída;  sofrer consequências físicas e psicológicas mais severas.

Estudo  representativo  da  população  adulta  dos Estados  Unidos  sobre  diferenças  de  gênero  entre dependentes  de  cannabis  identificou  que  ambos  os gêneros apresentavam transtornos mentais associados (94,16% das mulheres e 95,6% dos homens), baixas taxas de busca por tratamento, mesmos motivos para busca por tratamento, e mesmos tipos de serviços utilizados. As mulheres, por sua vez, apresentavam principalmente transtornosde  humor  e  ansiedade;  possuíam  maior risco para transtornos externalizantes; atendiam menos critérios para abuso; tinham episódios de uso de menor duração; fumavam menos baseados; e paravam de fumar mais cedo que os homens.

O  Instituto  Nacional  de  Ciência  e  Tecnologia  para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) realizou em 2013 o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II LENAD). A partir de entrevista domiciliar com uma amostra de 4.607 indivíduos de 14 anos de idade ou mais, a pesquisa revelou que: 7% dos adultos brasileiros já experimentaram maconha na vida; 3% da população adulta fez uso frequente no último ano; a dependência está presente em 40% dos usuários; mais da metade dos usuários fazem consumo diário; e 60% experimentaram cannabis antes dos 18 anos. Entre os adultos, um a cada três usuários já tentaram parar e não conseguiram, e 27% já vivenciaram sintomas de síndrome de abstinência quando cessaram o consumo. Em relação ao gênero, o II LENAD demonstra que, entre os usuários de maconha, os homens usam três vezes mais a droga do que as mulheres no Brasil. Uma  das  principais  particularidades  que  a  mulher usuária  de  cannabis poderá enfrentar em sua vida é o manejo  do  consumo  dessa  substância  na  gestação  e no puerpério, ao compreender que o uso pode gerar prejuízos não só para si mesma, mas também para o feto e bebê. Sabe-se que a cannabis é a substância ilícita mais utilizada por gestantes e puérperas, porém dados sobre a epidemiologia do consumo nessa população específica são limitados, e é provável que os números divulgados estejam muito abaixo da realidade.

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A gestação, assim como a puberdade e a menopausa, é caracterizada como um dos períodos mais marcantes que compõem o ciclo vital da mulher.

Continuaremos esse assunto no próximo artigo. Até mais.

Fonte:

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Artigo de Revisão da Revista Debates em Psiquiatria da ABP

EFEITOS DO CONSUMO DE CANNABIS NA GRAVIDEZ E NO PERÍODO PÓS-PARTO

EFFECTS OF CANNABIS CONSUMPTION DURING PREGNANCY AND IN THE POSTPARTUM PERIOD

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Autores: Hewdy Lobo Ribeiro; Joel Rennó Jr; Renata Demarque; Juliana Pires Cavalsan; Renan Rocha; Amaury Cantilino; Jerônimo Ribeiro; Gislene Valadares; Antonio Geraldo da Silva

 Foto: Estadão

Nas próximas semanas, estarei desenvolvendo uma pequena série sobre aspectos gênero-específicos do uso da cannabis nas mulheres, inclusive descrevendo os impactos durante a gravidez e pós-parto.

Diante do número alarmante de usuários de cannabis no Brasil e do impulso e crescimento dos movimentos pró-regulamentação e liberação da cannabis no país, faz-se necessária a discussão e produção científica sobre os impactos dessa substância na população feminina, inclusive levando-se em consideração a questão de gênero.

As diferenças no consumo de substâncias psicoativas entre os gêneros estão menores a cada ano. Ainda que estudos  epidemiológicos  mostrem  que  mulheres  usam menos substâncias psicoativas do que os homens, o número de mulheres que fazem uso e abuso dessas substâncias aumenta a cada ano. Isso se deve, principalmente, às mudanças do papel social da mulher no mundo. As usuárias de drogas, principalmente as gestantes, sofrem estigma social e preconceito, porém atualmente a aceitação social do consumo de drogas pelas mulheres é muito maior do que há algumas décadas. Existem  importantes  especificidades  que  devem ser consideradas para a prevenção e o tratamento da dependência entre as mulheres. As diferenças de uso entre os gêneros incluem os fatos de a mulher: começar a usar a substância como forma desadaptativa de aliviar sintomas de  problemas  mentais  preexistentes,  como  estresse, sensação  de  alienação,  depressão,  ansiedade  e  estresse  pós-traumático;  progredir  do  uso  para  a  dependência mais rápido que o homem; ser mais reativa aos gatilhos para  uso;  apresentar  maiores  taxas  de  recaída;  sofrer consequências físicas e psicológicas mais severas.

Estudo  representativo  da  população  adulta  dos Estados  Unidos  sobre  diferenças  de  gênero  entre dependentes  de  cannabis  identificou  que  ambos  os gêneros apresentavam transtornos mentais associados (94,16% das mulheres e 95,6% dos homens), baixas taxas de busca por tratamento, mesmos motivos para busca por tratamento, e mesmos tipos de serviços utilizados. As mulheres, por sua vez, apresentavam principalmente transtornosde  humor  e  ansiedade;  possuíam  maior risco para transtornos externalizantes; atendiam menos critérios para abuso; tinham episódios de uso de menor duração; fumavam menos baseados; e paravam de fumar mais cedo que os homens.

O  Instituto  Nacional  de  Ciência  e  Tecnologia  para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) realizou em 2013 o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II LENAD). A partir de entrevista domiciliar com uma amostra de 4.607 indivíduos de 14 anos de idade ou mais, a pesquisa revelou que: 7% dos adultos brasileiros já experimentaram maconha na vida; 3% da população adulta fez uso frequente no último ano; a dependência está presente em 40% dos usuários; mais da metade dos usuários fazem consumo diário; e 60% experimentaram cannabis antes dos 18 anos. Entre os adultos, um a cada três usuários já tentaram parar e não conseguiram, e 27% já vivenciaram sintomas de síndrome de abstinência quando cessaram o consumo. Em relação ao gênero, o II LENAD demonstra que, entre os usuários de maconha, os homens usam três vezes mais a droga do que as mulheres no Brasil. Uma  das  principais  particularidades  que  a  mulher usuária  de  cannabis poderá enfrentar em sua vida é o manejo  do  consumo  dessa  substância  na  gestação  e no puerpério, ao compreender que o uso pode gerar prejuízos não só para si mesma, mas também para o feto e bebê. Sabe-se que a cannabis é a substância ilícita mais utilizada por gestantes e puérperas, porém dados sobre a epidemiologia do consumo nessa população específica são limitados, e é provável que os números divulgados estejam muito abaixo da realidade.

A gestação, assim como a puberdade e a menopausa, é caracterizada como um dos períodos mais marcantes que compõem o ciclo vital da mulher.

Continuaremos esse assunto no próximo artigo. Até mais.

Fonte:

Artigo de Revisão da Revista Debates em Psiquiatria da ABP

EFEITOS DO CONSUMO DE CANNABIS NA GRAVIDEZ E NO PERÍODO PÓS-PARTO

EFFECTS OF CANNABIS CONSUMPTION DURING PREGNANCY AND IN THE POSTPARTUM PERIOD

Autores: Hewdy Lobo Ribeiro; Joel Rennó Jr; Renata Demarque; Juliana Pires Cavalsan; Renan Rocha; Amaury Cantilino; Jerônimo Ribeiro; Gislene Valadares; Antonio Geraldo da Silva

 Foto: Estadão

Nas próximas semanas, estarei desenvolvendo uma pequena série sobre aspectos gênero-específicos do uso da cannabis nas mulheres, inclusive descrevendo os impactos durante a gravidez e pós-parto.

Diante do número alarmante de usuários de cannabis no Brasil e do impulso e crescimento dos movimentos pró-regulamentação e liberação da cannabis no país, faz-se necessária a discussão e produção científica sobre os impactos dessa substância na população feminina, inclusive levando-se em consideração a questão de gênero.

As diferenças no consumo de substâncias psicoativas entre os gêneros estão menores a cada ano. Ainda que estudos  epidemiológicos  mostrem  que  mulheres  usam menos substâncias psicoativas do que os homens, o número de mulheres que fazem uso e abuso dessas substâncias aumenta a cada ano. Isso se deve, principalmente, às mudanças do papel social da mulher no mundo. As usuárias de drogas, principalmente as gestantes, sofrem estigma social e preconceito, porém atualmente a aceitação social do consumo de drogas pelas mulheres é muito maior do que há algumas décadas. Existem  importantes  especificidades  que  devem ser consideradas para a prevenção e o tratamento da dependência entre as mulheres. As diferenças de uso entre os gêneros incluem os fatos de a mulher: começar a usar a substância como forma desadaptativa de aliviar sintomas de  problemas  mentais  preexistentes,  como  estresse, sensação  de  alienação,  depressão,  ansiedade  e  estresse  pós-traumático;  progredir  do  uso  para  a  dependência mais rápido que o homem; ser mais reativa aos gatilhos para  uso;  apresentar  maiores  taxas  de  recaída;  sofrer consequências físicas e psicológicas mais severas.

Estudo  representativo  da  população  adulta  dos Estados  Unidos  sobre  diferenças  de  gênero  entre dependentes  de  cannabis  identificou  que  ambos  os gêneros apresentavam transtornos mentais associados (94,16% das mulheres e 95,6% dos homens), baixas taxas de busca por tratamento, mesmos motivos para busca por tratamento, e mesmos tipos de serviços utilizados. As mulheres, por sua vez, apresentavam principalmente transtornosde  humor  e  ansiedade;  possuíam  maior risco para transtornos externalizantes; atendiam menos critérios para abuso; tinham episódios de uso de menor duração; fumavam menos baseados; e paravam de fumar mais cedo que os homens.

O  Instituto  Nacional  de  Ciência  e  Tecnologia  para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) realizou em 2013 o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II LENAD). A partir de entrevista domiciliar com uma amostra de 4.607 indivíduos de 14 anos de idade ou mais, a pesquisa revelou que: 7% dos adultos brasileiros já experimentaram maconha na vida; 3% da população adulta fez uso frequente no último ano; a dependência está presente em 40% dos usuários; mais da metade dos usuários fazem consumo diário; e 60% experimentaram cannabis antes dos 18 anos. Entre os adultos, um a cada três usuários já tentaram parar e não conseguiram, e 27% já vivenciaram sintomas de síndrome de abstinência quando cessaram o consumo. Em relação ao gênero, o II LENAD demonstra que, entre os usuários de maconha, os homens usam três vezes mais a droga do que as mulheres no Brasil. Uma  das  principais  particularidades  que  a  mulher usuária  de  cannabis poderá enfrentar em sua vida é o manejo  do  consumo  dessa  substância  na  gestação  e no puerpério, ao compreender que o uso pode gerar prejuízos não só para si mesma, mas também para o feto e bebê. Sabe-se que a cannabis é a substância ilícita mais utilizada por gestantes e puérperas, porém dados sobre a epidemiologia do consumo nessa população específica são limitados, e é provável que os números divulgados estejam muito abaixo da realidade.

A gestação, assim como a puberdade e a menopausa, é caracterizada como um dos períodos mais marcantes que compõem o ciclo vital da mulher.

Continuaremos esse assunto no próximo artigo. Até mais.

Fonte:

Artigo de Revisão da Revista Debates em Psiquiatria da ABP

EFEITOS DO CONSUMO DE CANNABIS NA GRAVIDEZ E NO PERÍODO PÓS-PARTO

EFFECTS OF CANNABIS CONSUMPTION DURING PREGNANCY AND IN THE POSTPARTUM PERIOD

Autores: Hewdy Lobo Ribeiro; Joel Rennó Jr; Renata Demarque; Juliana Pires Cavalsan; Renan Rocha; Amaury Cantilino; Jerônimo Ribeiro; Gislene Valadares; Antonio Geraldo da Silva

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Opinião por Dr. Joel Rennó

Professor Colaborador da FMUSP. Diretor do Programa Saúde Mental da Mulher do IPq-HCFMUSP. Coordenador da Comissão de Saúde Mental da Mulher da ABP. Instagram @profdrjoelrennojr

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