Comportamento, saúde e obesidade

Opinião|Relato de uma recém-explantada


As escolhas e as dores que construíram a minha história

Por Luciana Kotaka
 Foto: Estadão

Faz somente nove dias que passei pela cirurgia de explante do silicone, e à medida que os dias passam ainda  questiono o que me levou a me submeter a uma cirurgia para modificar uma parte do meu corpo. É certo que eu era somente uma mulher muito jovem, rodeada de amigas com lindos peitos naturais, e acredito que além da ditadura da beleza em si e a disseminação do que é bonito e sexy, tinha uma parte de mim que há muito tempo sonhava com isso.

Eu me recordei há alguns dias que quando eu morava em uma cidade do interior por volta dos anos oitenta, uma amiga minha de 11 anos já tinha os seios desenvolvidos, e eu perguntei a ela o que havia feito para isso, e a resposta que recebi era para que eu passasse muito sabonete nas mamas na hora de tomar banho e que tomasse iogurte. Nessa época eu era uma pré-adolescente, mas já sonhava em experimentar as mudanças que estavam prestes a acontecer.

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Mas a verdade é que os meus peitos nunca se desenvolveram o suficiente, ficaram pequeninos e tímidos, e eu não estava feliz com isso. Nessa época não éramos tão expostos às publicidades como na nossa atualidade, então é preciso deixar claro que era algo muito do feminino, queria me sentir mulher com peito para ir para a vida. Também acredito que estava muito ligado também à maternidade, a necessidade de ter um bom peito para nutrir, já que brincar de boneca foi a brincadeira mais marcante da minha infância.

O fato é que eu já adulta me sentia menos feminina, queria colocar uma blusa e ter um contorno mais generoso e nem lembro como foi que a informação sobre a colocação das próteses de silicone chegou até mim, o fato é que eu estava sofrendo e queria muito uma solução. Na sequência realizei o implante, segui a minha vida, fiz uma troca dentro do tempo que me foi orientado e aí tive a primeira decepção, acordei com um par de próteses maior que o dobro do tamanho, mesmo após eu ter sido clara quanto ao que eu queria.

Foi 14 anos insatisfeita com um volume acima do que se harmonizava com a minha estrutura corporal. Saí de um extremo para o outro sem meu consentimento, me senti agredida e desrespeitada, fui violada em meu desejo. Essa é uma questão importante, o paciente tem que ter o poder de escolher o que quer fazer, nunca sonhei com peitos enormes, meu primeiro cirurgião foi maravilhoso nesse aspecto, me deixou com um peito maior sim, mas ainda assim pequeno e harmonioso. A vida foi seguindo até que no ano passado me deparei com um vídeo sobre os malefícios do silicone, os meses foram passando e a ficha começou a cair, todas as minhas queixas de saúde e exames sem diagnóstico começaram a fazer sentido. Foi um choque, passei meses em um estado de angústia e ansiedade, queria tirar de dentro do meu corpo o que um dia achei ser a solução de um problema na minha vida.

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Meu explante aconteceu na semana passada com um excelente médico de Curitiba, me senti segura e respeitada, pois leio muitos relatos de pessoas que não receberam apoio profissional frente ao desejo de retirar as próteses, sendo orientadas somente a trocá-las, minimizando suas dores e percepção dos malefícios que sentem em seus corpos.

É incrível como a vida muda após a retirada das próteses, isso porque estou somente no início da jornada. Já no segundo dia a pele ficou mais bonita, as dores que sentia nos braços e pernas e que me acompanharam nos últimos vinte anos desapareceram, sinto as mamas novamente aquecidas e não mais geladas, um sinal de que eu tomei a decisão mais assertiva da minha vida. Sei que ainda é cedo e que o processo de desintoxicação demora meses, que as doenças autoimunes que adquiri vão necessitar de tratamento, que talvez nem todas desapareçam, mas estou no caminho, aprendendo a me cuidar, a juntar o que sobrou desse processo e seguir em frente.

Em setembro do ano passado o FDA (Food and Drug Administration), agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios, recomendou que as embalagens das próteses venham com tarja preta e com as informações sobre os riscos do silicone. Há algumas semanas publiquei um texto aqui no Blog falando sobre as síndromes e doenças que o silicone provoca, espero que essas informações cheguem até você e para os milhares de pessoas que têm próteses no corpo, sejam homens ou mulheres. Atualmente já temos muitas informações disponíveis, artigos, vídeos, relatos de pacientes e profissionais da área médica falando sobre o assunto, busque se informar, procure um profissional que acredite em você, na sua história, e que aceite tirar as próteses e não simplesmente trocá-las.

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 Foto: Estadão

Faz somente nove dias que passei pela cirurgia de explante do silicone, e à medida que os dias passam ainda  questiono o que me levou a me submeter a uma cirurgia para modificar uma parte do meu corpo. É certo que eu era somente uma mulher muito jovem, rodeada de amigas com lindos peitos naturais, e acredito que além da ditadura da beleza em si e a disseminação do que é bonito e sexy, tinha uma parte de mim que há muito tempo sonhava com isso.

Eu me recordei há alguns dias que quando eu morava em uma cidade do interior por volta dos anos oitenta, uma amiga minha de 11 anos já tinha os seios desenvolvidos, e eu perguntei a ela o que havia feito para isso, e a resposta que recebi era para que eu passasse muito sabonete nas mamas na hora de tomar banho e que tomasse iogurte. Nessa época eu era uma pré-adolescente, mas já sonhava em experimentar as mudanças que estavam prestes a acontecer.

Mas a verdade é que os meus peitos nunca se desenvolveram o suficiente, ficaram pequeninos e tímidos, e eu não estava feliz com isso. Nessa época não éramos tão expostos às publicidades como na nossa atualidade, então é preciso deixar claro que era algo muito do feminino, queria me sentir mulher com peito para ir para a vida. Também acredito que estava muito ligado também à maternidade, a necessidade de ter um bom peito para nutrir, já que brincar de boneca foi a brincadeira mais marcante da minha infância.

O fato é que eu já adulta me sentia menos feminina, queria colocar uma blusa e ter um contorno mais generoso e nem lembro como foi que a informação sobre a colocação das próteses de silicone chegou até mim, o fato é que eu estava sofrendo e queria muito uma solução. Na sequência realizei o implante, segui a minha vida, fiz uma troca dentro do tempo que me foi orientado e aí tive a primeira decepção, acordei com um par de próteses maior que o dobro do tamanho, mesmo após eu ter sido clara quanto ao que eu queria.

Foi 14 anos insatisfeita com um volume acima do que se harmonizava com a minha estrutura corporal. Saí de um extremo para o outro sem meu consentimento, me senti agredida e desrespeitada, fui violada em meu desejo. Essa é uma questão importante, o paciente tem que ter o poder de escolher o que quer fazer, nunca sonhei com peitos enormes, meu primeiro cirurgião foi maravilhoso nesse aspecto, me deixou com um peito maior sim, mas ainda assim pequeno e harmonioso. A vida foi seguindo até que no ano passado me deparei com um vídeo sobre os malefícios do silicone, os meses foram passando e a ficha começou a cair, todas as minhas queixas de saúde e exames sem diagnóstico começaram a fazer sentido. Foi um choque, passei meses em um estado de angústia e ansiedade, queria tirar de dentro do meu corpo o que um dia achei ser a solução de um problema na minha vida.

Meu explante aconteceu na semana passada com um excelente médico de Curitiba, me senti segura e respeitada, pois leio muitos relatos de pessoas que não receberam apoio profissional frente ao desejo de retirar as próteses, sendo orientadas somente a trocá-las, minimizando suas dores e percepção dos malefícios que sentem em seus corpos.

É incrível como a vida muda após a retirada das próteses, isso porque estou somente no início da jornada. Já no segundo dia a pele ficou mais bonita, as dores que sentia nos braços e pernas e que me acompanharam nos últimos vinte anos desapareceram, sinto as mamas novamente aquecidas e não mais geladas, um sinal de que eu tomei a decisão mais assertiva da minha vida. Sei que ainda é cedo e que o processo de desintoxicação demora meses, que as doenças autoimunes que adquiri vão necessitar de tratamento, que talvez nem todas desapareçam, mas estou no caminho, aprendendo a me cuidar, a juntar o que sobrou desse processo e seguir em frente.

Em setembro do ano passado o FDA (Food and Drug Administration), agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios, recomendou que as embalagens das próteses venham com tarja preta e com as informações sobre os riscos do silicone. Há algumas semanas publiquei um texto aqui no Blog falando sobre as síndromes e doenças que o silicone provoca, espero que essas informações cheguem até você e para os milhares de pessoas que têm próteses no corpo, sejam homens ou mulheres. Atualmente já temos muitas informações disponíveis, artigos, vídeos, relatos de pacientes e profissionais da área médica falando sobre o assunto, busque se informar, procure um profissional que acredite em você, na sua história, e que aceite tirar as próteses e não simplesmente trocá-las.

 

 

 

 

 

 

 Foto: Estadão

Faz somente nove dias que passei pela cirurgia de explante do silicone, e à medida que os dias passam ainda  questiono o que me levou a me submeter a uma cirurgia para modificar uma parte do meu corpo. É certo que eu era somente uma mulher muito jovem, rodeada de amigas com lindos peitos naturais, e acredito que além da ditadura da beleza em si e a disseminação do que é bonito e sexy, tinha uma parte de mim que há muito tempo sonhava com isso.

Eu me recordei há alguns dias que quando eu morava em uma cidade do interior por volta dos anos oitenta, uma amiga minha de 11 anos já tinha os seios desenvolvidos, e eu perguntei a ela o que havia feito para isso, e a resposta que recebi era para que eu passasse muito sabonete nas mamas na hora de tomar banho e que tomasse iogurte. Nessa época eu era uma pré-adolescente, mas já sonhava em experimentar as mudanças que estavam prestes a acontecer.

Mas a verdade é que os meus peitos nunca se desenvolveram o suficiente, ficaram pequeninos e tímidos, e eu não estava feliz com isso. Nessa época não éramos tão expostos às publicidades como na nossa atualidade, então é preciso deixar claro que era algo muito do feminino, queria me sentir mulher com peito para ir para a vida. Também acredito que estava muito ligado também à maternidade, a necessidade de ter um bom peito para nutrir, já que brincar de boneca foi a brincadeira mais marcante da minha infância.

O fato é que eu já adulta me sentia menos feminina, queria colocar uma blusa e ter um contorno mais generoso e nem lembro como foi que a informação sobre a colocação das próteses de silicone chegou até mim, o fato é que eu estava sofrendo e queria muito uma solução. Na sequência realizei o implante, segui a minha vida, fiz uma troca dentro do tempo que me foi orientado e aí tive a primeira decepção, acordei com um par de próteses maior que o dobro do tamanho, mesmo após eu ter sido clara quanto ao que eu queria.

Foi 14 anos insatisfeita com um volume acima do que se harmonizava com a minha estrutura corporal. Saí de um extremo para o outro sem meu consentimento, me senti agredida e desrespeitada, fui violada em meu desejo. Essa é uma questão importante, o paciente tem que ter o poder de escolher o que quer fazer, nunca sonhei com peitos enormes, meu primeiro cirurgião foi maravilhoso nesse aspecto, me deixou com um peito maior sim, mas ainda assim pequeno e harmonioso. A vida foi seguindo até que no ano passado me deparei com um vídeo sobre os malefícios do silicone, os meses foram passando e a ficha começou a cair, todas as minhas queixas de saúde e exames sem diagnóstico começaram a fazer sentido. Foi um choque, passei meses em um estado de angústia e ansiedade, queria tirar de dentro do meu corpo o que um dia achei ser a solução de um problema na minha vida.

Meu explante aconteceu na semana passada com um excelente médico de Curitiba, me senti segura e respeitada, pois leio muitos relatos de pessoas que não receberam apoio profissional frente ao desejo de retirar as próteses, sendo orientadas somente a trocá-las, minimizando suas dores e percepção dos malefícios que sentem em seus corpos.

É incrível como a vida muda após a retirada das próteses, isso porque estou somente no início da jornada. Já no segundo dia a pele ficou mais bonita, as dores que sentia nos braços e pernas e que me acompanharam nos últimos vinte anos desapareceram, sinto as mamas novamente aquecidas e não mais geladas, um sinal de que eu tomei a decisão mais assertiva da minha vida. Sei que ainda é cedo e que o processo de desintoxicação demora meses, que as doenças autoimunes que adquiri vão necessitar de tratamento, que talvez nem todas desapareçam, mas estou no caminho, aprendendo a me cuidar, a juntar o que sobrou desse processo e seguir em frente.

Em setembro do ano passado o FDA (Food and Drug Administration), agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios, recomendou que as embalagens das próteses venham com tarja preta e com as informações sobre os riscos do silicone. Há algumas semanas publiquei um texto aqui no Blog falando sobre as síndromes e doenças que o silicone provoca, espero que essas informações cheguem até você e para os milhares de pessoas que têm próteses no corpo, sejam homens ou mulheres. Atualmente já temos muitas informações disponíveis, artigos, vídeos, relatos de pacientes e profissionais da área médica falando sobre o assunto, busque se informar, procure um profissional que acredite em você, na sua história, e que aceite tirar as próteses e não simplesmente trocá-las.

 

 

 

 

 

 

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