A gente vai fazendo escolhas o tempo todo. E daí, a partir delas, vai pegando rumos na vida. Certo? Todo mundo concorda? Então, vamos supor que você está diante de uma bifurcação de estrada. Só pode pegar uma via.
Do lado esquerdo, temos o caminho do trabalho. Você escolhe abrir mão de tudo por ele. Família, saúde, namorada, cachorro, tudo vai pra escanteio. Você vai conseguir um emprego super-hiper-mega-bom, em um lugar excelente e desafiador. Seu salário será enorme, e como ninguém paga uma fortuna sem esfolar, você vai trabalhar feito jumento (ou jumenta). Catorze horas por dia, pra depois voltar, dez da noite, pro seu inacreditável apê de 270 metros quadrados. A sala parece instalação da Bienal, com grandes vazios encerados e um sofá solitário - quem tem tempo de comprar móveis e quadros trabalhando assim?
Vai sobrar dinheiro: só tem uma pessoa gastando (você). Não haverá muito tempo para trabalhar as relações, porque você estará sempre trabalhando no escritório. É uma opção mais solitária. Qual namorada, qual namorado gosta de estar sempre em segundo plano? Concordo, dinheiro arruma companhia (das discutíveis). Mas é a força da grana que cativa, não seu charme ou simpatia. Deveria ser o contrário. Como disse Arnaldo Antunes: "Dinheiro não tem valor. Valor tem a pessoa que usa o dinheiro". Periga ser uma existência meio vazia, porque mesmo depois de comprar um cometa ou um vulcão, ainda assim vai faltar algo. Sou daqueles que acredita que felicidade tem que ser compartilhada
Do lado direito, temos o caminho do amor. Você vai encontrar sua cara-metade, uma pessoa do bem, que não dará bola pras suas inúmeras e cabulosas histórias pregressas. Dane-se o passado; vamos viver daqui pra frente. Esta relação vai preencher todas as suas entranhas. Será um amorzinho alojado confortavelmente em suas aurículas e ventrículos, perto do lugar onde estão o Chapolin e o Chicabon. Todos os namoros anteriores vão ser diariamente humilhados pela sua alegria infinita. Não importa se o resto das coisas (grana, escoliose, time de futebol) vai mal: você tem Amor, e tudo fica irrelevante diante Dele.
Indo pela direita, pelo rumo afetivo, seu emprego é uma das coisas importantes do dia - mas não a única. Pode ser que falte grana no fim do mês - mas tem mais gente dividindo o fardo. Você não tem cometa nem vulcão - mas tem massagem no pé, tem conversa olhando a lua, tem lugar pra chorar pitangas. Tem alívio. E tem responsabilidades sobre outra pessoa, porque são dois vivendo o mesmo sonho, comprando as mesmas brigas. Amor é torneio de duplas.
E aí? Direita ou esquerda? Amorzinho ou empregão?
Claro que dá pra ter os dois. Existe gente bem-sucedida no amor e no trabalho. Mas estamos brincando aqui de escolher, porque somos feitos de escolhas. Se fosse pra ficar só com um, um só, qual seria? Olha lá; responda com calma. Depois, fica muito longe para voltar lá atrás na bifurcação de novo.