Os americanos trabalham em média 1.836 horas ao ano, ou seja, cerca de 10% a mais do que em 1978, quando trabalhavam 1.687 horas. Os economistas que estudam as relações trabalhistas preveem que este número continuará aumentando, principalmente nos campos em que a competitividade é maior e os salários são mais elevados.
Isto ocorre em parte porque hoje a tecnologia permite disparar mensagens por email no meio da noite diretamente aos trabalhadores, enquanto os pesos pesados do Vale do Silício oferecem aos funcionários refeições orgânicas no trabalho antes de levá-los para as respectivas casas em ônibus habilitados para Wi-Fi.
Quando o trabalho se estende muito além do expediente, todos sofrem. As pessoas perdem o sono, adoecem, deixam de assistir aos jogos das categorias mais jovens e a recitais de piano. O resultado é um esgotamento nervoso.
Entretanto, o problema em geral se torna muito mais profundo para as mães que trabalham, como mostra a pesquisa de uma nova iniciativa sobre Gêneros, da Escola de Administração de Harvard.
Uma mãe trabalhadora costuma fazer um julgamento muito severo de si mesma por passar muito tempo longe da família. E provavelmente ela é julgada também pelas colegas - por trabalhar além do expediente ou por sair do escritório mais cedo.
Os pesquisadores constataram que, quando uma funcionária sai antes do horário considerado aceitável como término do expediente por nossa cultura trabalhista, suas colegas pensam: talvez ela esteja saindo mais cedo para apanhar os filhos. Se um funcionário sai mais cedo, os colegas pensam: saiu mais cedo para encontrar alguns clientes.
Entretanto, os chefes costumam designar homens para determinadas tarefas, como para viagens de negócios, imaginando que as mulheres não gostariam de se separar da família.
Por outro lado, esta situação poderá impedir a ascensão de funcionárias dotadas de grande capacidade, na opinião de Robin Ely, professora da Escola de administração de Harvard que estuda a igualdade dos gêneros no trabalho. E talvez contribua para explicar por que as mulheres são promovidas com menor frequências do que os homens a cargos na alta administração, praticamente em todas as profissões.
"Nós temos fortes ideais culturais aos quais procuramos nos ater", disse Robin. "Acho que o julgamento mais severo que qualquer pessoa teme é que ela não cuida dos filhos como deveria. E este julgamento é muito mais rigoroso em relação às mulheres do que aos homens que trabalham o tempo todo".
A equipe de Robin examinou recentemente uma empresa internacional de consultoria que oferecia generosos benefícios às famílias, na qual 90% dos sócios eram homens e a maioria dos funcionários trabalhava pelo menos 60 horas por semana.
A empresa, cujo nome o estudo não revela, perguntou aos pesquisadores: Como podemos diminuir o número de mulheres que deixam o emprego e aumentar o seu número nos cargos de liderança? Os pesquisadores responderam: Em primeiro lugar, por que vocês acham que as mulheres não são promovidas?
"Praticamente todos os entrevistados - homens e mulheres - reiteraram a versão sobre a questão 'trabalho e família', para explicar por que as mulheres deixam o emprego ou nunca se tornam sócias: o emprego exige um horário de trabalho extremamente prolongado; a dedicação das mulheres (e também dos homens) à família impede que elas consigam trabalhar todas as horas estipuladas, e consequentemente suas carreiras se ressentem disso", escreveram os pesquisadores.
Durante as entrevistas aos funcionários, disse Robin, ficou patente uma inquietante ansiedade entre as funcionárias mais jovens. Elas tinham como exemplo as chefes, que enfrentam as maiores dificuldades para ascender na carreira. Elas as consideravam líderes competentes. Mas levantaram uma questão que os colegas homens jamais mencionaram: será que se eu alcançar um sucesso semelhante, serei uma péssima mãe?
Elas concluíram que esta percepção não coincide com a realidade. Os funcionários de sexo masculino da empresa manifestaram o mesmo desejo de cuidar das respectivas famílias mencionado pelas mulheres. Todos se consideraram culpados por passar muito tempo fora de casa. "A dedicação à família" não conhece gênero.
"A diferença é que as mulheres em geral são beneficiadas pela redução do expediente ... mas, por outro lado, trabalhar por um número menor de horas prejudica suas perspectivas de uma carreira dentro da empresa", segundo a pesquisa.
Robin concluiu que as medidas mais progressistas em relação à família, como a licença maternidade e a licença para tratamento de saúde pagas, não são suficientes para acabar com a desigualdade de gênero num ambiente em que predomina uma filosofia de trabalho de 24 horas, sete dias por semana.
Tradução de Anna Capovilla