O Brasil será sede de um centro internacional de formação de gestores da área de saúde que vai atender bolsistas de países da América do Sul. O objetivo é tentar reduzir desigualdades regionais na formação dos profissionais. Além disso, o País fará parte de uma rede internacional de combate à dengue. A decisão foi tomada ontem durante reunião do Conselho de Saúde Sul-Americano, realizada em Santiago, no Chile, com a presença de ministros dos 12 países-membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008. Batizado de Escola de Saúde Pública da América do Sul, o centro terá apoio da Fundação Oswaldo Cruz e deve ser instalado no Rio. "O financiamento dos pesquisadores será compartilhado com cada país", disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ao Estado. A formação dos gestores prevê a concessão de cem bolsas de pós-graduação por ano para médicos, enfermeiros e profissionais de saúde dos países sul-americanos. O projeto faz parte de um programa traçado pela Unasul com o objetivo de diminuir desigualdades regionais na formação de gestores capacitados a promover o acesso da população aos serviços de saúde. Hoje, no Brasil, por exemplo, 455 municípios não contam com nenhum médico. A carência de profissionais é maior nas regiões Norte, Sul e Sudeste, onde 25,7%, 25,5% e 24,4% das cidades não têm nenhum médico. Em alguns locais da América do Sul, a situação é ainda pior. Apesar de a região ter 650 mil médicos, 210 mil enfermeiros e 330 mil dentistas, países como Guiana, Suriname e Bolívia não contam com a cobertura mínima de 25 trabalhadores de saúde para cada 10 mil habitantes, segundo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). "A capacitação de gestores e a dificuldade em organizar suas redes de atendimento ainda são um problema na região", disse Temporão. A escola vai oferecer bolsas no valor de U$ 1,5 mil (cerca de R$ 3,4 mil) para profissionais brasileiros e estrangeiros, com financiamento compartilhado entre as agências de fomento à pesquisa de cada país. O orçamento é de U$ 2,4 milhões (R$ 5,37 milhões) por ano e a instalação do centro é de responsabilidade do Brasil. AÇÕES COORDENADAS Esta é a segunda reunião da Unasul para a definição de programas multilaterais - a primeira foi dedicada ao tema da segurança interna e defesa. Do encontro de ontem também resultou a criação do Escudo Epidemiológico Sul-Americano.O programa consiste no monitoramento de doenças recorrentes, como a leishmaniose, a tuberculose e a dengue . Além da formação de profissionais e da criação de um sistema de vigilância mais sensível às possíveis epidemias, o Conselho de Saúde Sul-Americano, da Unasul, prevê ainda a instalação de redes de atendimento universais em todos os países da região, da mesma forma como opera no Brasil o Sistema Único de Saúde (SUS). Completam o programa a atuação em determinantes sociais, como a pobreza e desnutrição, e o acesso universal a medicamentos. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), doenças transmissíveis, como a tuberculose, causam 10,6% das mortes na América do Sul. Os cânceres, 17,1% e doenças do aparelho circulatório, 9,4% dos óbitos. No encontro, Temporão ressaltou a necessidade de consolidar as redes locais e a importância do acesso aos serviços de saúde na fronteira. "Os sistemas são heterogêneos e, com exceção do Brasil, é comum que os migrantes não sejam acolhidos", afirmou.