Independente e dona do próprio nariz. Assim, Isabela Silvino, neta de Naja Silvino, define a avó. A pianista que expulsou Roberto Carlos, Jorge Ben e Erasmo Carlos de sua casa, e cuja história viralizou nas redes sociais nos últimos dias, tinha amor pela música. Tanto que, na década de 1940, 1950, formou uma banda só de mulheres.
O grupo se chamava Naja Silvino e as Golden Girl’s. A sua formação original contava com oito integrantes. Arminda Cardoso Guedes, no contra-baixo, Nirinha Martins Gonzales, na bateria, Maria Vera Falcão, voz e violão elétrico, Nelly Ferreira Soares, clarinete, Nilza Pereira Bastos e Léa Almira Costa, no ritmo e voz, Maria Thereza Rosa, violino, e, por fim, Naja Silvino, no piano.
“Imagina isso numa época em que mulheres tocando instrumentos era uma coisa de outro planeta”, conta Isabela Silvino, em entrevista para o Estadão.
No YouTube, um vídeo em homenagem à pianista apresenta recortes de matérias que repercutiam a fama da época. Em um deles, o título é: ‘Conjunto feminino faz sensação nos clubes cariocas’.
“A ideia partiu de um sonho”, inicia o repórter. “Um sonho envolto em música e ritmo que para Naja Silvino serviu de orientação. Eis formado Naja Silvino e Golden Girl’s, que se vem apresentando em diversos clubes de Guanabara, fazendo sensação com seu ritmo melodioso, suas vestimentas alegres e de bom gosto(...)”.
O cuidado com o guarda-roupa era realmente uma característica da pianista. “Minha avó era uma figura mítica. Ela tinha um armário em que tudo combinava. Tinha uma coleção gigantesca de óculos. Um pra cada look. Uma verdadeira artista”, conta Isabela.
Os ensinamentos com a música foram passados para frente. Mãe do comediante Paulo Silvino, morto em 2017, Naja ensinou o filho a impostar a voz, o ensinou a cantar. “E ele sempre cantou muito bem, muito afinado. A música está no nosso DNA”, diz.
Torcedora fanática do Botafogo, Isabela conta que Naja fazia questão de uma foto diferente com Túlio Maravilha, jogador ídolo do time, em toda oportunidade em que se encontravam. O apelido, que fez questão de manter em detrimento do nome de nascença, demonstrava traços de sua personalidade. Era “vingativa”, como gostava de falar para a família, diz Isabela.
Uma amostra do seu lado implacável foi a pequena alteração que fez em uma cédula de identidade, emitida após a sua separação. No campo do estado civil, o casado, impresso, aparece riscado. Embaixo, ‘viúva’ é escrito em caneta.
“Na real, meu avô separou dela. E na data de expedição [do documento], ele ainda estava vivíssimo, mas casado com outra. Então ela riscou o documento e escreveu que era viúva. Ela foi uma mulher de fibra, que teve uma separação no casamento quando ainda era um grande tabu, mas seguiu em frente”, conta.