Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião|Bolsonaristas odeiam tudo o que é belo


Por Renato Essenfelder
 Foto: Estadão

 

arte:renato essenfelder/sd

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»Eles odeiam a beleza, odeiam tudo o que é belo.

Há algum tempo, escrevi que não existe artista bolsonarista. A conclusão radical derivava de uma reflexão sobre o papel do artista no mundo, que, entre muitas possibilidades, inclui a de "mostrar que a vida é mais do que a vida e que a morte é menos do que a morte".

Como fetichizam a morte e apequenam a vida, os bolsonaristas não podem, portanto, consagrarem-se artistas. Existe algo de muito pequeno, neles, que impede o alargamento de horizontes típico da arte - ao menos da arte que me interessa.

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São, em vez disso, mestres do marketing e dos memes, mestres dos quadros cafonas, da estética patriotária, das balas de fuzil que, juntas, formam bizarras figuras de brochidão, constantemente preocupadas em demonstrar a virilidade perdida.

Mas hoje está claro que não só não podem ser artistas como odeiam artistas, odeiam a arte e odeiam o belo. Não é por acaso que sentem tanta raiva. Não é da esquerda a sua raiva, não é do "comunismo", essa quimera que no Brasil nunca se materializou.

Sua raiva é da beleza que não podem criar - mas podem destruir.

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No Palácio, vandalizam tela de Di Cavalcanti, destroem vitral de Marianne Peretti, sujam escultura de Alfredo Ceschiatti. Violentam, depredam, perfuram tapeçaria, mobiliário, obras de valor cultural, histórico e, por que não, estético, essa palavra desconhecida no coração sujo do bolsonarismo. Conspurcam tudo, como porcos selvagens, sem deixar nada no lugar. Sem deixar uma só imagem de beleza, de esperança de tempos melhores (como a memorável subida da rampa do Planalto, durante a posse, pelo povo brasileiro).

No passado, criticavam ferozmente a destruição de vidraças de agências bancárias durante manifestações e gostavam de reafirmar seu caráter pacífico em contraposição à esquerda "baderneira" e aos "black blocs".

Vitrines, vidraças.

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Hoje, esses mesmos cidadãos de bem babam e repetem teorias alucinadas enquanto depredam o patrimônio cultural brasileiro, o nosso próprio espírito. Telas, esculturas, mobília, cartas, livros, tapetes. E até vidraças.

São mesmo patriotas, mas a sua pátria reduziu-se aos párias tão sonhados: um acampamento de brutos e ignorantes.«

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»Eles odeiam a beleza, odeiam tudo o que é belo.

Há algum tempo, escrevi que não existe artista bolsonarista. A conclusão radical derivava de uma reflexão sobre o papel do artista no mundo, que, entre muitas possibilidades, inclui a de "mostrar que a vida é mais do que a vida e que a morte é menos do que a morte".

Como fetichizam a morte e apequenam a vida, os bolsonaristas não podem, portanto, consagrarem-se artistas. Existe algo de muito pequeno, neles, que impede o alargamento de horizontes típico da arte - ao menos da arte que me interessa.

São, em vez disso, mestres do marketing e dos memes, mestres dos quadros cafonas, da estética patriotária, das balas de fuzil que, juntas, formam bizarras figuras de brochidão, constantemente preocupadas em demonstrar a virilidade perdida.

Mas hoje está claro que não só não podem ser artistas como odeiam artistas, odeiam a arte e odeiam o belo. Não é por acaso que sentem tanta raiva. Não é da esquerda a sua raiva, não é do "comunismo", essa quimera que no Brasil nunca se materializou.

Sua raiva é da beleza que não podem criar - mas podem destruir.

No Palácio, vandalizam tela de Di Cavalcanti, destroem vitral de Marianne Peretti, sujam escultura de Alfredo Ceschiatti. Violentam, depredam, perfuram tapeçaria, mobiliário, obras de valor cultural, histórico e, por que não, estético, essa palavra desconhecida no coração sujo do bolsonarismo. Conspurcam tudo, como porcos selvagens, sem deixar nada no lugar. Sem deixar uma só imagem de beleza, de esperança de tempos melhores (como a memorável subida da rampa do Planalto, durante a posse, pelo povo brasileiro).

No passado, criticavam ferozmente a destruição de vidraças de agências bancárias durante manifestações e gostavam de reafirmar seu caráter pacífico em contraposição à esquerda "baderneira" e aos "black blocs".

Vitrines, vidraças.

Hoje, esses mesmos cidadãos de bem babam e repetem teorias alucinadas enquanto depredam o patrimônio cultural brasileiro, o nosso próprio espírito. Telas, esculturas, mobília, cartas, livros, tapetes. E até vidraças.

São mesmo patriotas, mas a sua pátria reduziu-se aos párias tão sonhados: um acampamento de brutos e ignorantes.«

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»Eles odeiam a beleza, odeiam tudo o que é belo.

Há algum tempo, escrevi que não existe artista bolsonarista. A conclusão radical derivava de uma reflexão sobre o papel do artista no mundo, que, entre muitas possibilidades, inclui a de "mostrar que a vida é mais do que a vida e que a morte é menos do que a morte".

Como fetichizam a morte e apequenam a vida, os bolsonaristas não podem, portanto, consagrarem-se artistas. Existe algo de muito pequeno, neles, que impede o alargamento de horizontes típico da arte - ao menos da arte que me interessa.

São, em vez disso, mestres do marketing e dos memes, mestres dos quadros cafonas, da estética patriotária, das balas de fuzil que, juntas, formam bizarras figuras de brochidão, constantemente preocupadas em demonstrar a virilidade perdida.

Mas hoje está claro que não só não podem ser artistas como odeiam artistas, odeiam a arte e odeiam o belo. Não é por acaso que sentem tanta raiva. Não é da esquerda a sua raiva, não é do "comunismo", essa quimera que no Brasil nunca se materializou.

Sua raiva é da beleza que não podem criar - mas podem destruir.

No Palácio, vandalizam tela de Di Cavalcanti, destroem vitral de Marianne Peretti, sujam escultura de Alfredo Ceschiatti. Violentam, depredam, perfuram tapeçaria, mobiliário, obras de valor cultural, histórico e, por que não, estético, essa palavra desconhecida no coração sujo do bolsonarismo. Conspurcam tudo, como porcos selvagens, sem deixar nada no lugar. Sem deixar uma só imagem de beleza, de esperança de tempos melhores (como a memorável subida da rampa do Planalto, durante a posse, pelo povo brasileiro).

No passado, criticavam ferozmente a destruição de vidraças de agências bancárias durante manifestações e gostavam de reafirmar seu caráter pacífico em contraposição à esquerda "baderneira" e aos "black blocs".

Vitrines, vidraças.

Hoje, esses mesmos cidadãos de bem babam e repetem teorias alucinadas enquanto depredam o patrimônio cultural brasileiro, o nosso próprio espírito. Telas, esculturas, mobília, cartas, livros, tapetes. E até vidraças.

São mesmo patriotas, mas a sua pátria reduziu-se aos párias tão sonhados: um acampamento de brutos e ignorantes.«

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Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

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