Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião|É a civilização, estúpido!


O que está em jogo é mais importante do que qualquer cifra. O sonho mais bonito que ousamos um dia sonhar.

Por Renato Essenfelder
Atualização:
 Foto: Estadão

arte: loro verz

continua após a publicidade

»É a economia, estúpido. Desde que o diretor da campanha de Bill Clinton à presidência dos EUA, em 1992, lançou essa máxima, a frase tornou-se lugar-comum no noticiário político. Há mais de 30 anos, portanto, é "a economia, estúpido", que decide eleições. É a economia, estúpido, que decide todas as decisões: mundialmente multiplicam-se conselhos de investimento, relacionamento, amizade, trabalho, lazer, estudos, assentados na força da grana. Os ventos fortes da dinheirama arrastam crentes e coisas para lá e para cá, sem que nós, mortais, percebamos por quê. (Na internet milhares de economistas fingirão saber o porquê, mesmo sabendo que não sabem.) Na campanha atual, claro, a máxima povoa (ainda vigorosa) mentes e manchetes. Queremos saber da economia, estúpido, da sagrada economia: qual o plano para o emprego, a inflação, os juros, os investimentos? Quem é o Paulo Guedes do Lula? Quem é ortodoxo, quem é heterodoxo, onde estão os chicago boys, os comunistas, os socialistas, os liberais? O que os comediantes da escola austríaca diriam? Não é preciso abrir parênteses para uma nota sobre a relevância de tudo isso, sobre a importância autoevidente da economia, estúpido. Mas o que há além desse horizonte? Existe algo além dele? Ou já não importa? Conheço gente que, em troca de um pibinho, tolera tortura. Gente que, em nome da deflação, dorme em paz com a mentira. Gente que vota em alguns dos seres humanos mais desprezíveis da vida política nacional porque: é a economia, estúpido. Eu não. Espero que você também não, e espero que também não a gente que nos cerca, a gente que nós amamos e que nos amam. Todas as pessoas que, em suma, mantêm a capacidade de amar outras pessoas (e a natureza, e o planeta, e o mistério). Os cristãos e os não-cristãos que não mentem compulsivamente, não debocham, não ameaçam, não armam; amam. O que está em jogo, para a gente, é a civilização, estúpido. Mais importante do que qualquer cifra. O sonho mais bonito que ousamos um dia sonhar. A civilização, estúpidos.«  

_____________________________________________
Facebook: @malescronicos.Instagram: @renatofelder.  _____________________________________________

 Foto: Estadão

arte: loro verz

»É a economia, estúpido. Desde que o diretor da campanha de Bill Clinton à presidência dos EUA, em 1992, lançou essa máxima, a frase tornou-se lugar-comum no noticiário político. Há mais de 30 anos, portanto, é "a economia, estúpido", que decide eleições. É a economia, estúpido, que decide todas as decisões: mundialmente multiplicam-se conselhos de investimento, relacionamento, amizade, trabalho, lazer, estudos, assentados na força da grana. Os ventos fortes da dinheirama arrastam crentes e coisas para lá e para cá, sem que nós, mortais, percebamos por quê. (Na internet milhares de economistas fingirão saber o porquê, mesmo sabendo que não sabem.) Na campanha atual, claro, a máxima povoa (ainda vigorosa) mentes e manchetes. Queremos saber da economia, estúpido, da sagrada economia: qual o plano para o emprego, a inflação, os juros, os investimentos? Quem é o Paulo Guedes do Lula? Quem é ortodoxo, quem é heterodoxo, onde estão os chicago boys, os comunistas, os socialistas, os liberais? O que os comediantes da escola austríaca diriam? Não é preciso abrir parênteses para uma nota sobre a relevância de tudo isso, sobre a importância autoevidente da economia, estúpido. Mas o que há além desse horizonte? Existe algo além dele? Ou já não importa? Conheço gente que, em troca de um pibinho, tolera tortura. Gente que, em nome da deflação, dorme em paz com a mentira. Gente que vota em alguns dos seres humanos mais desprezíveis da vida política nacional porque: é a economia, estúpido. Eu não. Espero que você também não, e espero que também não a gente que nos cerca, a gente que nós amamos e que nos amam. Todas as pessoas que, em suma, mantêm a capacidade de amar outras pessoas (e a natureza, e o planeta, e o mistério). Os cristãos e os não-cristãos que não mentem compulsivamente, não debocham, não ameaçam, não armam; amam. O que está em jogo, para a gente, é a civilização, estúpido. Mais importante do que qualquer cifra. O sonho mais bonito que ousamos um dia sonhar. A civilização, estúpidos.«  

_____________________________________________
Facebook: @malescronicos.Instagram: @renatofelder.  _____________________________________________

 Foto: Estadão

arte: loro verz

»É a economia, estúpido. Desde que o diretor da campanha de Bill Clinton à presidência dos EUA, em 1992, lançou essa máxima, a frase tornou-se lugar-comum no noticiário político. Há mais de 30 anos, portanto, é "a economia, estúpido", que decide eleições. É a economia, estúpido, que decide todas as decisões: mundialmente multiplicam-se conselhos de investimento, relacionamento, amizade, trabalho, lazer, estudos, assentados na força da grana. Os ventos fortes da dinheirama arrastam crentes e coisas para lá e para cá, sem que nós, mortais, percebamos por quê. (Na internet milhares de economistas fingirão saber o porquê, mesmo sabendo que não sabem.) Na campanha atual, claro, a máxima povoa (ainda vigorosa) mentes e manchetes. Queremos saber da economia, estúpido, da sagrada economia: qual o plano para o emprego, a inflação, os juros, os investimentos? Quem é o Paulo Guedes do Lula? Quem é ortodoxo, quem é heterodoxo, onde estão os chicago boys, os comunistas, os socialistas, os liberais? O que os comediantes da escola austríaca diriam? Não é preciso abrir parênteses para uma nota sobre a relevância de tudo isso, sobre a importância autoevidente da economia, estúpido. Mas o que há além desse horizonte? Existe algo além dele? Ou já não importa? Conheço gente que, em troca de um pibinho, tolera tortura. Gente que, em nome da deflação, dorme em paz com a mentira. Gente que vota em alguns dos seres humanos mais desprezíveis da vida política nacional porque: é a economia, estúpido. Eu não. Espero que você também não, e espero que também não a gente que nos cerca, a gente que nós amamos e que nos amam. Todas as pessoas que, em suma, mantêm a capacidade de amar outras pessoas (e a natureza, e o planeta, e o mistério). Os cristãos e os não-cristãos que não mentem compulsivamente, não debocham, não ameaçam, não armam; amam. O que está em jogo, para a gente, é a civilização, estúpido. Mais importante do que qualquer cifra. O sonho mais bonito que ousamos um dia sonhar. A civilização, estúpidos.«  

_____________________________________________
Facebook: @malescronicos.Instagram: @renatofelder.  _____________________________________________

Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.