Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião|Lições das enchentes, tragédias do capital


Na época da pandemia, surgiu uma tendência meio new wave de atribuir explicações metafísicas ao fenômeno

Por Renato Essenfelder

»Uma espécie de flashback pandêmico me atingiu enquanto assistia ao noticiário sobre o Rio Grande do Sul, nessas últimas semanas. Síndrome pós-traumática engatilhada por imagem e som: famílias desconsoladas, destruição em larga escala, morte. A tragédia, lenta e contínua, sem que se saiba até quando.

Na época da pandemia, surgiu uma tendência meio new wave de atribuir explicações metafísicas ao fenômeno. Alguns insistiam em falar, então, do lado bom da catástrofe. O ser humano sairia daquilo tudo melhorado, evoluído. Menos apegado às pequenas coisas, valorizando mais a natureza e a vida. Aprenderíamos tanto.

Desde o começo fui cético quanto a isso. Lembrava de um cardiologista que havia confessado estar cansado de ouvir dos pacientes, sobreviventes de infarto agudo, que diziam que mudariam radicalmente de estilo de vida. Não mudavam (não por muito tempo). Não mudamos. Com a pandemia, não aprendemos nada: insistimos em soluções fantasiosas, mitos e esperanças. Negamos, negamos, negamos.

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Ver requer um certo tipo de coragem. E o mundo, uma revolução.

O planeta convulsiona e esfrega a verdade nos nossos olhos enevoados. Alerta: ou a gente acaba com o capitalismo, ou eu acabo com ele. Nesse processo, nós, apenas humanos, vamos a reboque.

O fim do capitalismo é inexorável, mas o nosso fim estar conjugado a isso, como lunáticos agarrados ao navio que pega fogo e afunda, deveria soar absurdo. 

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Nada é tão idiota quanto isso, agrilhoados lutam pela honra do feitor.

É claro que a tragédia no Rio Grande do Sul tem culpados, os culpados diretos, prefeitos, governador, e os indiretos: gente deslumbrada por uma máquina que consome e consome, pessoas e natureza, sem parar, sem distribuir o alívio da sua saciedade.

Famintos protegem glutões, agricultores envenenam a terra, médicos velam planilhas.

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Será bizarro, e triste, o relato desta breve era do capital.«

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+redes sociais do autor+

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»Uma espécie de flashback pandêmico me atingiu enquanto assistia ao noticiário sobre o Rio Grande do Sul, nessas últimas semanas. Síndrome pós-traumática engatilhada por imagem e som: famílias desconsoladas, destruição em larga escala, morte. A tragédia, lenta e contínua, sem que se saiba até quando.

Na época da pandemia, surgiu uma tendência meio new wave de atribuir explicações metafísicas ao fenômeno. Alguns insistiam em falar, então, do lado bom da catástrofe. O ser humano sairia daquilo tudo melhorado, evoluído. Menos apegado às pequenas coisas, valorizando mais a natureza e a vida. Aprenderíamos tanto.

Desde o começo fui cético quanto a isso. Lembrava de um cardiologista que havia confessado estar cansado de ouvir dos pacientes, sobreviventes de infarto agudo, que diziam que mudariam radicalmente de estilo de vida. Não mudavam (não por muito tempo). Não mudamos. Com a pandemia, não aprendemos nada: insistimos em soluções fantasiosas, mitos e esperanças. Negamos, negamos, negamos.

Ver requer um certo tipo de coragem. E o mundo, uma revolução.

O planeta convulsiona e esfrega a verdade nos nossos olhos enevoados. Alerta: ou a gente acaba com o capitalismo, ou eu acabo com ele. Nesse processo, nós, apenas humanos, vamos a reboque.

O fim do capitalismo é inexorável, mas o nosso fim estar conjugado a isso, como lunáticos agarrados ao navio que pega fogo e afunda, deveria soar absurdo. 

Nada é tão idiota quanto isso, agrilhoados lutam pela honra do feitor.

É claro que a tragédia no Rio Grande do Sul tem culpados, os culpados diretos, prefeitos, governador, e os indiretos: gente deslumbrada por uma máquina que consome e consome, pessoas e natureza, sem parar, sem distribuir o alívio da sua saciedade.

Famintos protegem glutões, agricultores envenenam a terra, médicos velam planilhas.

Será bizarro, e triste, o relato desta breve era do capital.«

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»Uma espécie de flashback pandêmico me atingiu enquanto assistia ao noticiário sobre o Rio Grande do Sul, nessas últimas semanas. Síndrome pós-traumática engatilhada por imagem e som: famílias desconsoladas, destruição em larga escala, morte. A tragédia, lenta e contínua, sem que se saiba até quando.

Na época da pandemia, surgiu uma tendência meio new wave de atribuir explicações metafísicas ao fenômeno. Alguns insistiam em falar, então, do lado bom da catástrofe. O ser humano sairia daquilo tudo melhorado, evoluído. Menos apegado às pequenas coisas, valorizando mais a natureza e a vida. Aprenderíamos tanto.

Desde o começo fui cético quanto a isso. Lembrava de um cardiologista que havia confessado estar cansado de ouvir dos pacientes, sobreviventes de infarto agudo, que diziam que mudariam radicalmente de estilo de vida. Não mudavam (não por muito tempo). Não mudamos. Com a pandemia, não aprendemos nada: insistimos em soluções fantasiosas, mitos e esperanças. Negamos, negamos, negamos.

Ver requer um certo tipo de coragem. E o mundo, uma revolução.

O planeta convulsiona e esfrega a verdade nos nossos olhos enevoados. Alerta: ou a gente acaba com o capitalismo, ou eu acabo com ele. Nesse processo, nós, apenas humanos, vamos a reboque.

O fim do capitalismo é inexorável, mas o nosso fim estar conjugado a isso, como lunáticos agarrados ao navio que pega fogo e afunda, deveria soar absurdo. 

Nada é tão idiota quanto isso, agrilhoados lutam pela honra do feitor.

É claro que a tragédia no Rio Grande do Sul tem culpados, os culpados diretos, prefeitos, governador, e os indiretos: gente deslumbrada por uma máquina que consome e consome, pessoas e natureza, sem parar, sem distribuir o alívio da sua saciedade.

Famintos protegem glutões, agricultores envenenam a terra, médicos velam planilhas.

Será bizarro, e triste, o relato desta breve era do capital.«

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»Uma espécie de flashback pandêmico me atingiu enquanto assistia ao noticiário sobre o Rio Grande do Sul, nessas últimas semanas. Síndrome pós-traumática engatilhada por imagem e som: famílias desconsoladas, destruição em larga escala, morte. A tragédia, lenta e contínua, sem que se saiba até quando.

Na época da pandemia, surgiu uma tendência meio new wave de atribuir explicações metafísicas ao fenômeno. Alguns insistiam em falar, então, do lado bom da catástrofe. O ser humano sairia daquilo tudo melhorado, evoluído. Menos apegado às pequenas coisas, valorizando mais a natureza e a vida. Aprenderíamos tanto.

Desde o começo fui cético quanto a isso. Lembrava de um cardiologista que havia confessado estar cansado de ouvir dos pacientes, sobreviventes de infarto agudo, que diziam que mudariam radicalmente de estilo de vida. Não mudavam (não por muito tempo). Não mudamos. Com a pandemia, não aprendemos nada: insistimos em soluções fantasiosas, mitos e esperanças. Negamos, negamos, negamos.

Ver requer um certo tipo de coragem. E o mundo, uma revolução.

O planeta convulsiona e esfrega a verdade nos nossos olhos enevoados. Alerta: ou a gente acaba com o capitalismo, ou eu acabo com ele. Nesse processo, nós, apenas humanos, vamos a reboque.

O fim do capitalismo é inexorável, mas o nosso fim estar conjugado a isso, como lunáticos agarrados ao navio que pega fogo e afunda, deveria soar absurdo. 

Nada é tão idiota quanto isso, agrilhoados lutam pela honra do feitor.

É claro que a tragédia no Rio Grande do Sul tem culpados, os culpados diretos, prefeitos, governador, e os indiretos: gente deslumbrada por uma máquina que consome e consome, pessoas e natureza, sem parar, sem distribuir o alívio da sua saciedade.

Famintos protegem glutões, agricultores envenenam a terra, médicos velam planilhas.

Será bizarro, e triste, o relato desta breve era do capital.«

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Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

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