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Opinião|Avó materna do menino Bernardo Boldrini afirma ter sido vítima de alienação parental e manda carta ao Senado


Por Rita Lisauskas
Jussara Uglione, avó materna de Bernardo Boldrini. Foto: Estadão

Alienação parental não é cometida apenas por mães. Pais também podem ser os alienadores e o médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo assassinado em abril deste ano, cometia alienação parental, segundo a avó do menino, Jussara Uglione. "O pai do Bernardo dizia à justiça, entre outras coisas, que a avó materna do menino era alcoólatra e a afastava dele", afirma o advogado que a representa, Marlon Taborda. Segundo Jussara, se a lei que prevê a guarda compartilhada como regra e não exceção já estivesse em vigor, ela também teria direito à guarda de Bernardo e o assassinato do menino poderia ter sido evitado.

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Eu não tinha pretensões de voltar ao assunto esta semana. Mas depois de ter contado terça passada a história do cineasta Pedro Diniz, que está há dezoito meses sem ver o filho e sem notícias dele, recebi dezenas de emails, principalmente de homens, pedindo ajuda. Todos se dizem, assim como Pedro e Jussara, vítimas de alienação parental. A maioria relata uma coisa em comum: a mãe de seus filhos os acusam de algum tipo de abuso, agressão ou comportamento socialmente condenável. Leia trechos de alguns dos emails que recebi:

"Ela alegava que eu levava meu filho de volta para ela sujo, com fome, assado. Disse também que ele ficava doente durante e depois das visitas comigo. Em março deste ano, após a primeira vez que meu filho dormiu comigo, a mãe dele foi até a delegacia e fez um boletim de ocorrência alegando maus tratos. " Daniel H. analista de sistemas, pai de uma menino de 3 anos.

"A mãe inventa mentiras e se faz valer da lei Maria da Penha para ingressar com medidas protetivas para eu não ter como chegar na casa para buscar o nosso filho." João Vicente Ramos Macedo, pai de um menino de 5 anos.

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"Nas únicas férias que conseguimos passar com o Lucas a mãe ligou depois dizendo que o menino foi maltratado, que foi obrigado a comer coisas que não gostava, que teve que tomar banho frio. Disse que o menino não queria mais vê-lo. Que estava com medo do pai. Que não gostava do pai. Desse dia em diante ele nunca mais ia conseguir falar com Lucas* nem pelo por telefone." Mariana* (nome trocado a pedido) conta um pouco do sofrimento do marido, que não consegue ver o filho de outro casamento, o Lucas*, 11 anos.

A psicóloga jurídica Denise Perissini, que no momento acompanha cerca de 40 casos de alienação parental, é enfática quando perguntada sobre as acusações de abuso (sexual e/ou emocional) e agressão feitas pelas mães que detêm a guarda dos filhos. "A imensa maioria das acusações é falsa. Posso afirmar que, dos 40 casos que acompanho hoje, todas as acusações são falsas. E elas aparecem quando existe algum interesse em afastar o pai do convívio com os filhos e ou quando existe alguma outra pendência como pensão, visita ou partilha de bens", conta.

Segundo ela, a mentira pode ser descoberta na maioria das vezes. Denise cita um caso que acompanhou em que o próprio delegado avisou a mãe que se a acusação de abuso sexual contra o marido não fosse verdadeira, ela poderia ser indiciada por falsa comunicação de crime ou denúncia caluniosa. A mãe desistiu do B.O prontamente dizendo "não ter certeza que o marido abusou da filha". Denise Perissini conta que se diversos entrevistadores (como psicólogos e juízes) conversarem com as crianças vítimas de alienação parental é possível descobrir se uma história foi inventada ou não. E nos casos em que as crianças manifestam sim sintomas de terem sido abusadas sexualmente existe "coerência nos relatos e na sintomatologia das crianças".

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A síndrome de alienação parental foi descrita pela primeira vez em 1985 pelo psiquiatra infantil americano Richard A. Gardner como "um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputa de custódia". Ele afirma que ela "se manifesta pela obstrução do contato, ou seja, o alienador coloca obstáculos para o encontro, por denúncias falsas de abuso de todas as formas que acabam persuadindo a criança a se afastar do não guardião, dizendo que ele abandonou a família, culminando com a reação de medo da criança, que a partir do momento que se torna a protagonista do conflito dos pais se apega a um deles e se afasta do outro."

 Foto: Estadão

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A imensa maioria desses pais que se dizem alienados apóiam e esperam a aprovação no Congresso da PLC 117/2013 que aplica a guarda compartilhada para filhos de pais separados como regra. Ontem, 17/11, Jussara Uglione, avó de Bernardo, manifestou-se pela aprovação da lei da guarda compartilhada em sua versão original, sem a emenda proposta pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) em uma carta enviada ao Senado que quer sensibilizar os parlamentares. Segundo o advogado Marlon Taborda "a alteração ao projeto proposta por Jucá pode criar mecanismos interpretativos genéricos que impedirão que a guarda compartilhada seja a regra e não a exceção, como propõe a lei original".

A psicóloga jurídica Denise Perissini também é a favor da guarda compartilhada. "Seria uma mudança de paradigma, uma forma igualitária e equitativa de lidar com a questão da guarda dos filhos. Afinal, por que o pai deve ser excluído, se ele tem igualdade de condições? A mãe deixa a criança com outros parentes, vizinhos, empregada, por que não pode deixar o filho com o pai? Claro que pai e mãe têm muitas vezes estilos diferentes na criação, mas o pai também pode cuidar, educar e zelar igualmente pelos filhos".

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A próxima audiência pública que irá discutir o assunto está marcada para a próxima quinta-feira, dia 20/11 em Brasília. Dos pais com quem conversei, 50 estão com as malas prontas para ir à capital federal lutar pela ampliação de seus direitos. A avó de Bernardo queria ir, mas tem a saúde frágil e desistiu. Em jogo o futuro de 20 milhões de crianças e adolescentes filhos de casais separados que como Bernardo Boldrini são, sem dúvida, as maiores vítimas dessa briga.

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Leia a íntegra da carta de Jussara Uglione ao Senado:

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

Documento

 

Leia a reportagem sobre alienação parental feita com Pedro Diniz, que procura o filho que está morando com a mãe em local desconhecido: Pai que perdeu a guarda do filho para a mãe do menino se veste de mulher "para ver se a justiça me enxerga".  O outro lado:  Mãe acusada de alienação parental explica por que o pai não sabe em qual cidade ela e o filho moram: "o genitor incomoda muito!" ______________________________________________________________________________ Curta o "Ser mãe é padecer na internet" no Facebook: https://www.facebook.com/padecernainternet Siga Rita Lisauskas no Twitter: https://twitter.com/RitaLisauskas No Instagram: http://instagram.com/ritalisauskas Quer falar com o blog? Escreva para ritalisauskas@gmail.com  

Jussara Uglione, avó materna de Bernardo Boldrini. Foto: Estadão

Alienação parental não é cometida apenas por mães. Pais também podem ser os alienadores e o médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo assassinado em abril deste ano, cometia alienação parental, segundo a avó do menino, Jussara Uglione. "O pai do Bernardo dizia à justiça, entre outras coisas, que a avó materna do menino era alcoólatra e a afastava dele", afirma o advogado que a representa, Marlon Taborda. Segundo Jussara, se a lei que prevê a guarda compartilhada como regra e não exceção já estivesse em vigor, ela também teria direito à guarda de Bernardo e o assassinato do menino poderia ter sido evitado.

Eu não tinha pretensões de voltar ao assunto esta semana. Mas depois de ter contado terça passada a história do cineasta Pedro Diniz, que está há dezoito meses sem ver o filho e sem notícias dele, recebi dezenas de emails, principalmente de homens, pedindo ajuda. Todos se dizem, assim como Pedro e Jussara, vítimas de alienação parental. A maioria relata uma coisa em comum: a mãe de seus filhos os acusam de algum tipo de abuso, agressão ou comportamento socialmente condenável. Leia trechos de alguns dos emails que recebi:

"Ela alegava que eu levava meu filho de volta para ela sujo, com fome, assado. Disse também que ele ficava doente durante e depois das visitas comigo. Em março deste ano, após a primeira vez que meu filho dormiu comigo, a mãe dele foi até a delegacia e fez um boletim de ocorrência alegando maus tratos. " Daniel H. analista de sistemas, pai de uma menino de 3 anos.

"A mãe inventa mentiras e se faz valer da lei Maria da Penha para ingressar com medidas protetivas para eu não ter como chegar na casa para buscar o nosso filho." João Vicente Ramos Macedo, pai de um menino de 5 anos.

"Nas únicas férias que conseguimos passar com o Lucas a mãe ligou depois dizendo que o menino foi maltratado, que foi obrigado a comer coisas que não gostava, que teve que tomar banho frio. Disse que o menino não queria mais vê-lo. Que estava com medo do pai. Que não gostava do pai. Desse dia em diante ele nunca mais ia conseguir falar com Lucas* nem pelo por telefone." Mariana* (nome trocado a pedido) conta um pouco do sofrimento do marido, que não consegue ver o filho de outro casamento, o Lucas*, 11 anos.

A psicóloga jurídica Denise Perissini, que no momento acompanha cerca de 40 casos de alienação parental, é enfática quando perguntada sobre as acusações de abuso (sexual e/ou emocional) e agressão feitas pelas mães que detêm a guarda dos filhos. "A imensa maioria das acusações é falsa. Posso afirmar que, dos 40 casos que acompanho hoje, todas as acusações são falsas. E elas aparecem quando existe algum interesse em afastar o pai do convívio com os filhos e ou quando existe alguma outra pendência como pensão, visita ou partilha de bens", conta.

Segundo ela, a mentira pode ser descoberta na maioria das vezes. Denise cita um caso que acompanhou em que o próprio delegado avisou a mãe que se a acusação de abuso sexual contra o marido não fosse verdadeira, ela poderia ser indiciada por falsa comunicação de crime ou denúncia caluniosa. A mãe desistiu do B.O prontamente dizendo "não ter certeza que o marido abusou da filha". Denise Perissini conta que se diversos entrevistadores (como psicólogos e juízes) conversarem com as crianças vítimas de alienação parental é possível descobrir se uma história foi inventada ou não. E nos casos em que as crianças manifestam sim sintomas de terem sido abusadas sexualmente existe "coerência nos relatos e na sintomatologia das crianças".

A síndrome de alienação parental foi descrita pela primeira vez em 1985 pelo psiquiatra infantil americano Richard A. Gardner como "um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputa de custódia". Ele afirma que ela "se manifesta pela obstrução do contato, ou seja, o alienador coloca obstáculos para o encontro, por denúncias falsas de abuso de todas as formas que acabam persuadindo a criança a se afastar do não guardião, dizendo que ele abandonou a família, culminando com a reação de medo da criança, que a partir do momento que se torna a protagonista do conflito dos pais se apega a um deles e se afasta do outro."

 Foto: Estadão

A imensa maioria desses pais que se dizem alienados apóiam e esperam a aprovação no Congresso da PLC 117/2013 que aplica a guarda compartilhada para filhos de pais separados como regra. Ontem, 17/11, Jussara Uglione, avó de Bernardo, manifestou-se pela aprovação da lei da guarda compartilhada em sua versão original, sem a emenda proposta pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) em uma carta enviada ao Senado que quer sensibilizar os parlamentares. Segundo o advogado Marlon Taborda "a alteração ao projeto proposta por Jucá pode criar mecanismos interpretativos genéricos que impedirão que a guarda compartilhada seja a regra e não a exceção, como propõe a lei original".

A psicóloga jurídica Denise Perissini também é a favor da guarda compartilhada. "Seria uma mudança de paradigma, uma forma igualitária e equitativa de lidar com a questão da guarda dos filhos. Afinal, por que o pai deve ser excluído, se ele tem igualdade de condições? A mãe deixa a criança com outros parentes, vizinhos, empregada, por que não pode deixar o filho com o pai? Claro que pai e mãe têm muitas vezes estilos diferentes na criação, mas o pai também pode cuidar, educar e zelar igualmente pelos filhos".

A próxima audiência pública que irá discutir o assunto está marcada para a próxima quinta-feira, dia 20/11 em Brasília. Dos pais com quem conversei, 50 estão com as malas prontas para ir à capital federal lutar pela ampliação de seus direitos. A avó de Bernardo queria ir, mas tem a saúde frágil e desistiu. Em jogo o futuro de 20 milhões de crianças e adolescentes filhos de casais separados que como Bernardo Boldrini são, sem dúvida, as maiores vítimas dessa briga.

Leia a íntegra da carta de Jussara Uglione ao Senado:

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

Documento

 

Leia a reportagem sobre alienação parental feita com Pedro Diniz, que procura o filho que está morando com a mãe em local desconhecido: Pai que perdeu a guarda do filho para a mãe do menino se veste de mulher "para ver se a justiça me enxerga".  O outro lado:  Mãe acusada de alienação parental explica por que o pai não sabe em qual cidade ela e o filho moram: "o genitor incomoda muito!" ______________________________________________________________________________ Curta o "Ser mãe é padecer na internet" no Facebook: https://www.facebook.com/padecernainternet Siga Rita Lisauskas no Twitter: https://twitter.com/RitaLisauskas No Instagram: http://instagram.com/ritalisauskas Quer falar com o blog? Escreva para ritalisauskas@gmail.com  

Jussara Uglione, avó materna de Bernardo Boldrini. Foto: Estadão

Alienação parental não é cometida apenas por mães. Pais também podem ser os alienadores e o médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo assassinado em abril deste ano, cometia alienação parental, segundo a avó do menino, Jussara Uglione. "O pai do Bernardo dizia à justiça, entre outras coisas, que a avó materna do menino era alcoólatra e a afastava dele", afirma o advogado que a representa, Marlon Taborda. Segundo Jussara, se a lei que prevê a guarda compartilhada como regra e não exceção já estivesse em vigor, ela também teria direito à guarda de Bernardo e o assassinato do menino poderia ter sido evitado.

Eu não tinha pretensões de voltar ao assunto esta semana. Mas depois de ter contado terça passada a história do cineasta Pedro Diniz, que está há dezoito meses sem ver o filho e sem notícias dele, recebi dezenas de emails, principalmente de homens, pedindo ajuda. Todos se dizem, assim como Pedro e Jussara, vítimas de alienação parental. A maioria relata uma coisa em comum: a mãe de seus filhos os acusam de algum tipo de abuso, agressão ou comportamento socialmente condenável. Leia trechos de alguns dos emails que recebi:

"Ela alegava que eu levava meu filho de volta para ela sujo, com fome, assado. Disse também que ele ficava doente durante e depois das visitas comigo. Em março deste ano, após a primeira vez que meu filho dormiu comigo, a mãe dele foi até a delegacia e fez um boletim de ocorrência alegando maus tratos. " Daniel H. analista de sistemas, pai de uma menino de 3 anos.

"A mãe inventa mentiras e se faz valer da lei Maria da Penha para ingressar com medidas protetivas para eu não ter como chegar na casa para buscar o nosso filho." João Vicente Ramos Macedo, pai de um menino de 5 anos.

"Nas únicas férias que conseguimos passar com o Lucas a mãe ligou depois dizendo que o menino foi maltratado, que foi obrigado a comer coisas que não gostava, que teve que tomar banho frio. Disse que o menino não queria mais vê-lo. Que estava com medo do pai. Que não gostava do pai. Desse dia em diante ele nunca mais ia conseguir falar com Lucas* nem pelo por telefone." Mariana* (nome trocado a pedido) conta um pouco do sofrimento do marido, que não consegue ver o filho de outro casamento, o Lucas*, 11 anos.

A psicóloga jurídica Denise Perissini, que no momento acompanha cerca de 40 casos de alienação parental, é enfática quando perguntada sobre as acusações de abuso (sexual e/ou emocional) e agressão feitas pelas mães que detêm a guarda dos filhos. "A imensa maioria das acusações é falsa. Posso afirmar que, dos 40 casos que acompanho hoje, todas as acusações são falsas. E elas aparecem quando existe algum interesse em afastar o pai do convívio com os filhos e ou quando existe alguma outra pendência como pensão, visita ou partilha de bens", conta.

Segundo ela, a mentira pode ser descoberta na maioria das vezes. Denise cita um caso que acompanhou em que o próprio delegado avisou a mãe que se a acusação de abuso sexual contra o marido não fosse verdadeira, ela poderia ser indiciada por falsa comunicação de crime ou denúncia caluniosa. A mãe desistiu do B.O prontamente dizendo "não ter certeza que o marido abusou da filha". Denise Perissini conta que se diversos entrevistadores (como psicólogos e juízes) conversarem com as crianças vítimas de alienação parental é possível descobrir se uma história foi inventada ou não. E nos casos em que as crianças manifestam sim sintomas de terem sido abusadas sexualmente existe "coerência nos relatos e na sintomatologia das crianças".

A síndrome de alienação parental foi descrita pela primeira vez em 1985 pelo psiquiatra infantil americano Richard A. Gardner como "um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputa de custódia". Ele afirma que ela "se manifesta pela obstrução do contato, ou seja, o alienador coloca obstáculos para o encontro, por denúncias falsas de abuso de todas as formas que acabam persuadindo a criança a se afastar do não guardião, dizendo que ele abandonou a família, culminando com a reação de medo da criança, que a partir do momento que se torna a protagonista do conflito dos pais se apega a um deles e se afasta do outro."

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A imensa maioria desses pais que se dizem alienados apóiam e esperam a aprovação no Congresso da PLC 117/2013 que aplica a guarda compartilhada para filhos de pais separados como regra. Ontem, 17/11, Jussara Uglione, avó de Bernardo, manifestou-se pela aprovação da lei da guarda compartilhada em sua versão original, sem a emenda proposta pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) em uma carta enviada ao Senado que quer sensibilizar os parlamentares. Segundo o advogado Marlon Taborda "a alteração ao projeto proposta por Jucá pode criar mecanismos interpretativos genéricos que impedirão que a guarda compartilhada seja a regra e não a exceção, como propõe a lei original".

A psicóloga jurídica Denise Perissini também é a favor da guarda compartilhada. "Seria uma mudança de paradigma, uma forma igualitária e equitativa de lidar com a questão da guarda dos filhos. Afinal, por que o pai deve ser excluído, se ele tem igualdade de condições? A mãe deixa a criança com outros parentes, vizinhos, empregada, por que não pode deixar o filho com o pai? Claro que pai e mãe têm muitas vezes estilos diferentes na criação, mas o pai também pode cuidar, educar e zelar igualmente pelos filhos".

A próxima audiência pública que irá discutir o assunto está marcada para a próxima quinta-feira, dia 20/11 em Brasília. Dos pais com quem conversei, 50 estão com as malas prontas para ir à capital federal lutar pela ampliação de seus direitos. A avó de Bernardo queria ir, mas tem a saúde frágil e desistiu. Em jogo o futuro de 20 milhões de crianças e adolescentes filhos de casais separados que como Bernardo Boldrini são, sem dúvida, as maiores vítimas dessa briga.

Leia a íntegra da carta de Jussara Uglione ao Senado:

 Foto: Estadão
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Leia a reportagem sobre alienação parental feita com Pedro Diniz, que procura o filho que está morando com a mãe em local desconhecido: Pai que perdeu a guarda do filho para a mãe do menino se veste de mulher "para ver se a justiça me enxerga".  O outro lado:  Mãe acusada de alienação parental explica por que o pai não sabe em qual cidade ela e o filho moram: "o genitor incomoda muito!" ______________________________________________________________________________ Curta o "Ser mãe é padecer na internet" no Facebook: https://www.facebook.com/padecernainternet Siga Rita Lisauskas no Twitter: https://twitter.com/RitaLisauskas No Instagram: http://instagram.com/ritalisauskas Quer falar com o blog? Escreva para ritalisauskas@gmail.com  

Jussara Uglione, avó materna de Bernardo Boldrini. Foto: Estadão

Alienação parental não é cometida apenas por mães. Pais também podem ser os alienadores e o médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo assassinado em abril deste ano, cometia alienação parental, segundo a avó do menino, Jussara Uglione. "O pai do Bernardo dizia à justiça, entre outras coisas, que a avó materna do menino era alcoólatra e a afastava dele", afirma o advogado que a representa, Marlon Taborda. Segundo Jussara, se a lei que prevê a guarda compartilhada como regra e não exceção já estivesse em vigor, ela também teria direito à guarda de Bernardo e o assassinato do menino poderia ter sido evitado.

Eu não tinha pretensões de voltar ao assunto esta semana. Mas depois de ter contado terça passada a história do cineasta Pedro Diniz, que está há dezoito meses sem ver o filho e sem notícias dele, recebi dezenas de emails, principalmente de homens, pedindo ajuda. Todos se dizem, assim como Pedro e Jussara, vítimas de alienação parental. A maioria relata uma coisa em comum: a mãe de seus filhos os acusam de algum tipo de abuso, agressão ou comportamento socialmente condenável. Leia trechos de alguns dos emails que recebi:

"Ela alegava que eu levava meu filho de volta para ela sujo, com fome, assado. Disse também que ele ficava doente durante e depois das visitas comigo. Em março deste ano, após a primeira vez que meu filho dormiu comigo, a mãe dele foi até a delegacia e fez um boletim de ocorrência alegando maus tratos. " Daniel H. analista de sistemas, pai de uma menino de 3 anos.

"A mãe inventa mentiras e se faz valer da lei Maria da Penha para ingressar com medidas protetivas para eu não ter como chegar na casa para buscar o nosso filho." João Vicente Ramos Macedo, pai de um menino de 5 anos.

"Nas únicas férias que conseguimos passar com o Lucas a mãe ligou depois dizendo que o menino foi maltratado, que foi obrigado a comer coisas que não gostava, que teve que tomar banho frio. Disse que o menino não queria mais vê-lo. Que estava com medo do pai. Que não gostava do pai. Desse dia em diante ele nunca mais ia conseguir falar com Lucas* nem pelo por telefone." Mariana* (nome trocado a pedido) conta um pouco do sofrimento do marido, que não consegue ver o filho de outro casamento, o Lucas*, 11 anos.

A psicóloga jurídica Denise Perissini, que no momento acompanha cerca de 40 casos de alienação parental, é enfática quando perguntada sobre as acusações de abuso (sexual e/ou emocional) e agressão feitas pelas mães que detêm a guarda dos filhos. "A imensa maioria das acusações é falsa. Posso afirmar que, dos 40 casos que acompanho hoje, todas as acusações são falsas. E elas aparecem quando existe algum interesse em afastar o pai do convívio com os filhos e ou quando existe alguma outra pendência como pensão, visita ou partilha de bens", conta.

Segundo ela, a mentira pode ser descoberta na maioria das vezes. Denise cita um caso que acompanhou em que o próprio delegado avisou a mãe que se a acusação de abuso sexual contra o marido não fosse verdadeira, ela poderia ser indiciada por falsa comunicação de crime ou denúncia caluniosa. A mãe desistiu do B.O prontamente dizendo "não ter certeza que o marido abusou da filha". Denise Perissini conta que se diversos entrevistadores (como psicólogos e juízes) conversarem com as crianças vítimas de alienação parental é possível descobrir se uma história foi inventada ou não. E nos casos em que as crianças manifestam sim sintomas de terem sido abusadas sexualmente existe "coerência nos relatos e na sintomatologia das crianças".

A síndrome de alienação parental foi descrita pela primeira vez em 1985 pelo psiquiatra infantil americano Richard A. Gardner como "um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputa de custódia". Ele afirma que ela "se manifesta pela obstrução do contato, ou seja, o alienador coloca obstáculos para o encontro, por denúncias falsas de abuso de todas as formas que acabam persuadindo a criança a se afastar do não guardião, dizendo que ele abandonou a família, culminando com a reação de medo da criança, que a partir do momento que se torna a protagonista do conflito dos pais se apega a um deles e se afasta do outro."

 Foto: Estadão

A imensa maioria desses pais que se dizem alienados apóiam e esperam a aprovação no Congresso da PLC 117/2013 que aplica a guarda compartilhada para filhos de pais separados como regra. Ontem, 17/11, Jussara Uglione, avó de Bernardo, manifestou-se pela aprovação da lei da guarda compartilhada em sua versão original, sem a emenda proposta pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) em uma carta enviada ao Senado que quer sensibilizar os parlamentares. Segundo o advogado Marlon Taborda "a alteração ao projeto proposta por Jucá pode criar mecanismos interpretativos genéricos que impedirão que a guarda compartilhada seja a regra e não a exceção, como propõe a lei original".

A psicóloga jurídica Denise Perissini também é a favor da guarda compartilhada. "Seria uma mudança de paradigma, uma forma igualitária e equitativa de lidar com a questão da guarda dos filhos. Afinal, por que o pai deve ser excluído, se ele tem igualdade de condições? A mãe deixa a criança com outros parentes, vizinhos, empregada, por que não pode deixar o filho com o pai? Claro que pai e mãe têm muitas vezes estilos diferentes na criação, mas o pai também pode cuidar, educar e zelar igualmente pelos filhos".

A próxima audiência pública que irá discutir o assunto está marcada para a próxima quinta-feira, dia 20/11 em Brasília. Dos pais com quem conversei, 50 estão com as malas prontas para ir à capital federal lutar pela ampliação de seus direitos. A avó de Bernardo queria ir, mas tem a saúde frágil e desistiu. Em jogo o futuro de 20 milhões de crianças e adolescentes filhos de casais separados que como Bernardo Boldrini são, sem dúvida, as maiores vítimas dessa briga.

Leia a íntegra da carta de Jussara Uglione ao Senado:

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Alienação parental não é cometida apenas por mães. Pais também podem ser os alienadores e o médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo assassinado em abril deste ano, cometia alienação parental, segundo a avó do menino, Jussara Uglione. "O pai do Bernardo dizia à justiça, entre outras coisas, que a avó materna do menino era alcoólatra e a afastava dele", afirma o advogado que a representa, Marlon Taborda. Segundo Jussara, se a lei que prevê a guarda compartilhada como regra e não exceção já estivesse em vigor, ela também teria direito à guarda de Bernardo e o assassinato do menino poderia ter sido evitado.

Eu não tinha pretensões de voltar ao assunto esta semana. Mas depois de ter contado terça passada a história do cineasta Pedro Diniz, que está há dezoito meses sem ver o filho e sem notícias dele, recebi dezenas de emails, principalmente de homens, pedindo ajuda. Todos se dizem, assim como Pedro e Jussara, vítimas de alienação parental. A maioria relata uma coisa em comum: a mãe de seus filhos os acusam de algum tipo de abuso, agressão ou comportamento socialmente condenável. Leia trechos de alguns dos emails que recebi:

"Ela alegava que eu levava meu filho de volta para ela sujo, com fome, assado. Disse também que ele ficava doente durante e depois das visitas comigo. Em março deste ano, após a primeira vez que meu filho dormiu comigo, a mãe dele foi até a delegacia e fez um boletim de ocorrência alegando maus tratos. " Daniel H. analista de sistemas, pai de uma menino de 3 anos.

"A mãe inventa mentiras e se faz valer da lei Maria da Penha para ingressar com medidas protetivas para eu não ter como chegar na casa para buscar o nosso filho." João Vicente Ramos Macedo, pai de um menino de 5 anos.

"Nas únicas férias que conseguimos passar com o Lucas a mãe ligou depois dizendo que o menino foi maltratado, que foi obrigado a comer coisas que não gostava, que teve que tomar banho frio. Disse que o menino não queria mais vê-lo. Que estava com medo do pai. Que não gostava do pai. Desse dia em diante ele nunca mais ia conseguir falar com Lucas* nem pelo por telefone." Mariana* (nome trocado a pedido) conta um pouco do sofrimento do marido, que não consegue ver o filho de outro casamento, o Lucas*, 11 anos.

A psicóloga jurídica Denise Perissini, que no momento acompanha cerca de 40 casos de alienação parental, é enfática quando perguntada sobre as acusações de abuso (sexual e/ou emocional) e agressão feitas pelas mães que detêm a guarda dos filhos. "A imensa maioria das acusações é falsa. Posso afirmar que, dos 40 casos que acompanho hoje, todas as acusações são falsas. E elas aparecem quando existe algum interesse em afastar o pai do convívio com os filhos e ou quando existe alguma outra pendência como pensão, visita ou partilha de bens", conta.

Segundo ela, a mentira pode ser descoberta na maioria das vezes. Denise cita um caso que acompanhou em que o próprio delegado avisou a mãe que se a acusação de abuso sexual contra o marido não fosse verdadeira, ela poderia ser indiciada por falsa comunicação de crime ou denúncia caluniosa. A mãe desistiu do B.O prontamente dizendo "não ter certeza que o marido abusou da filha". Denise Perissini conta que se diversos entrevistadores (como psicólogos e juízes) conversarem com as crianças vítimas de alienação parental é possível descobrir se uma história foi inventada ou não. E nos casos em que as crianças manifestam sim sintomas de terem sido abusadas sexualmente existe "coerência nos relatos e na sintomatologia das crianças".

A síndrome de alienação parental foi descrita pela primeira vez em 1985 pelo psiquiatra infantil americano Richard A. Gardner como "um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputa de custódia". Ele afirma que ela "se manifesta pela obstrução do contato, ou seja, o alienador coloca obstáculos para o encontro, por denúncias falsas de abuso de todas as formas que acabam persuadindo a criança a se afastar do não guardião, dizendo que ele abandonou a família, culminando com a reação de medo da criança, que a partir do momento que se torna a protagonista do conflito dos pais se apega a um deles e se afasta do outro."

 Foto: Estadão

A imensa maioria desses pais que se dizem alienados apóiam e esperam a aprovação no Congresso da PLC 117/2013 que aplica a guarda compartilhada para filhos de pais separados como regra. Ontem, 17/11, Jussara Uglione, avó de Bernardo, manifestou-se pela aprovação da lei da guarda compartilhada em sua versão original, sem a emenda proposta pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) em uma carta enviada ao Senado que quer sensibilizar os parlamentares. Segundo o advogado Marlon Taborda "a alteração ao projeto proposta por Jucá pode criar mecanismos interpretativos genéricos que impedirão que a guarda compartilhada seja a regra e não a exceção, como propõe a lei original".

A psicóloga jurídica Denise Perissini também é a favor da guarda compartilhada. "Seria uma mudança de paradigma, uma forma igualitária e equitativa de lidar com a questão da guarda dos filhos. Afinal, por que o pai deve ser excluído, se ele tem igualdade de condições? A mãe deixa a criança com outros parentes, vizinhos, empregada, por que não pode deixar o filho com o pai? Claro que pai e mãe têm muitas vezes estilos diferentes na criação, mas o pai também pode cuidar, educar e zelar igualmente pelos filhos".

A próxima audiência pública que irá discutir o assunto está marcada para a próxima quinta-feira, dia 20/11 em Brasília. Dos pais com quem conversei, 50 estão com as malas prontas para ir à capital federal lutar pela ampliação de seus direitos. A avó de Bernardo queria ir, mas tem a saúde frágil e desistiu. Em jogo o futuro de 20 milhões de crianças e adolescentes filhos de casais separados que como Bernardo Boldrini são, sem dúvida, as maiores vítimas dessa briga.

Leia a íntegra da carta de Jussara Uglione ao Senado:

 Foto: Estadão
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Leia a reportagem sobre alienação parental feita com Pedro Diniz, que procura o filho que está morando com a mãe em local desconhecido: Pai que perdeu a guarda do filho para a mãe do menino se veste de mulher "para ver se a justiça me enxerga".  O outro lado:  Mãe acusada de alienação parental explica por que o pai não sabe em qual cidade ela e o filho moram: "o genitor incomoda muito!" ______________________________________________________________________________ Curta o "Ser mãe é padecer na internet" no Facebook: https://www.facebook.com/padecernainternet Siga Rita Lisauskas no Twitter: https://twitter.com/RitaLisauskas No Instagram: http://instagram.com/ritalisauskas Quer falar com o blog? Escreva para ritalisauskas@gmail.com  

Opinião por Rita Lisauskas

Jornalista, apresentadora e escritora. Autora do livro 'Mãe sem Manual'

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