Glória Perez foi responsável por algumas das novelas de maior sucesso de TV Globo, como O Clone (2001), América (2005), Caminho das Índias (2009) e A Força do Querer (2017) - e foi com a história da autora, Travessia, que o folhetim das 21h voltou com as gravações diárias depois da covid-19.
A novela envolveu as temáticas de fake news, assexualidade, estupro virtual, DNA duplicado, dependência digital e a polêmica da escalação de Jade Picon, ex-BBB 21 que havia acabado de sair do reality e foi escalada para viver uma das personagens do núcleo principal, a Chiara. A escolha por Jade foi alvo de diversas opiniões, inclusive do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (Sated-RJ), pelo fato de a influenciadora não possuir formação como atriz antes de integrar o elenco do folhetim.
O público, muitas vezes, também ficou confuso sobre como a escritora desenvolveu a história dos personagens e sobre a superficialidade dos temas - tendo em vista que, se muito dos assuntos envolvem tecnologia e atualidade, por que simplesmente o roteiro não trouxe o Google como ferramenta de apoio para desvendar os mistérios?
Quimera humana
Com pontas soltas, a trama cercou a história de Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede). A protagonista foi vítima de uma fake news que a transformou numa sequestradora de crianças - e fez com que ela se afastasse do filho, Tonho (Vicente Alvite), e se envolvesse com o hacker Oto (Rômulo Estrela).
Além de estar envolvida nesse crime, na reta final da novela, a personagem abordou uma característica rara: ela era uma mulher quimera. Isso significa que ela tem no seu organismo duas cadeias de células, cada uma trazendo um DNA diferente - ou seja, acontece quando dois óvulos diferentes se fundem na hora de formar o embrião, como se a pessoa tivesse seu próprio DNA mais o DNA de seu irmão gêmeo que não se formou.
Por isso, durante a disputa da guarda de Tonho, Brisa perde o direito de ficar com seu filho, quando ela alega que Ari não é o pai e eles precisam fazer um exame de DNA para comprovar - e mais de uma vez o resultado é negativo por conta da condição de quimerismo.
Estupro e dependência virtual
Outro tema sensível que foi apresentado na trama foi a história de Karina (Danielle Olímpia), uma adolescente que tinha o desejo de ser artista e acabou conhecendo através da internet um pedófilo (Claudio Tovar), que usava a imagem da atriz Bruna Schuller (Giullia Buscacio) para abusar e chantagear mulheres e crianças. A menina sofreu depressão profunda, começou a se auto agredir e automutilar - mas com o apoio da família e amigos, conseguiu revelar à delegada Helô (Giovanna Antonelli) o que estava passando.
Ainda na esfera tecnológica, a autora trouxe a dependência digital através do personagem Theo (Ricardo Silva), que passa o dia conectado ao computador e, quando é afastado, apresenta comportamentos agressivos, inclusive, quase usou de violência física com o pai, Monteiro (Aílton Graça), e a mãe, Laís (Indira Nascimento).
Assexualidade
As relações foram exploradas em outras esferas quando Glória Perez trouxe um personagem assexual à trama, Caíque (Thiago Fragoso), que não sentia atração sexual por ninguém, independentemente do gênero ou sexo biológico. O rapaz, ao longo da história, tentou ter um relacionamento amoroso com Leonor (Vanessa Giácomo) e Talita (Dandara Mariana) - e ajudou Rudá (Guilherme Cabral), responsável por criar a fake news que prejudicou Brisa no início da história, a também se descobrir assexual.
Por fim, a novela termina com a participação especial de Grazi Massafera, depois de ficar longe dos folhetins desde 2019, como mãe da personagem de Jade Picon, Cássia Kis envolvendo-se em polêmicas fora do ar por conta de falas homofóbicas, e a autora rebatendo críticas do público com “fez o L, é fia?”.