Rei do pop, dono do disco mais vendido da história, inventor do videoclipe, maior entertainer vivo. Muitos são os adjetivos para se referir a Michael Joseph Jackson, que morreu em 25 de junho de 2009, aos 50 anos, após sofrer uma parada cardíaca em Los Angeles. O artista, que vendeu 750 milhões de álbuns e venceu 13 prêmios Grammy, encarou os holofotes logo cedo, e teve uma vida marcada por duas constantes, com a mesma grandeza e proporção: sucesso e polêmica.
Precoce, astro viveu o céu e o inferno sob o título de rei do pop, com mais de 750 milhões de discos vendidos
O astro nasceu em 29 de agosto de 1958, em Gary, cidade norte-americana do Estado de Indiana. Ele tinha três filhos: Michael Joseph Jackson Jr., Paris Michael Katherine Jackson e Prince Michael Jackson II. O cantor saiu do anonimato ao lado de seus quatro irmãos - Jackie, Tito, Jermaine, Marlon - à frente do grupo Jackson Five, que emplacou consecutivos sucessos nas paradas durante as décadas de 1960 e 1970. Em 1974, o grupo veio ao País para apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte.
Mas foi sozinho que Jackson viveu o auge e a decadência de sua carreira.
Em 1979, com o lançamento do álbum Off The Wall - o primeiro solo de sua fase adulta, que arrancou elogios da crítica ao combinar R&B, Black Music e Disco - o cantor começou a experimentar uma exposição cada vez maior na mídia, que se culminaria em 1982, com Thriller, até hoje o disco mais vendido do mundo, com cerca de 100 milhões de cópias. Em 23 de março de 1983, Jackson apresentou ao mundo o moonwalk, passo de dança em que o cantor deslizava sobre o palco, durante a canção Billie Jean, em um show em Los Angeles. Estava imortalizada sua marca registrada.
Com Thriller também começou a era de videoclipes na MTV, emissora que acabara de despontar. Em 1984, Jackson recebeu das mãos de Ronald Reagan, então presidente americano, um prêmio por suas ações filantrópicas. No ano seguinte, ele adquiriu, por US$ 47,5 milhões, os direitos sobre as músicas dos Beatles (uma década depois, ele vendeu 50% do catálogo para a Sony Music). O emblemático gesto é visto mais do uma simples demonstração de poder financeiro: era uma lenda pop comprando a obra de outra. Nesta época, o cantor também gravou parcerias com o ex-Beatle Paul McCartney. (The Girl is Mine e Say Say Say).
Antes de lançar seu próximo álbum, Jackson se juntou a 44 celebridades para gravar a canção We Are The World, com o objetivo de levantar fundos para a África. Como resultado, além dos US$ 200 milhões arrecadados para a campanha USA For Africa, o astro levou mais dois Grammys.
Em 1987, entre uma turnê e outra, veio mais um álbum solo, Bad. Apesar de não repetir o sucesso monstruoso do anterior - vendendo "apenas" cerca de 30 milhões de cópias - o disco manteve Jackson em rotação máxima nas rádios e televisões do planeta. Foi nessa época que as especulações sobre quantas cirurgias plásticas o cantor já teria feito começaram a tirar a atenção de sua música. O astro aparecia cada vez mais branco e suas feições já estavam diferentes. As mudanças não passaram batido pela imprensa e anos depois, em 1993, Jackson admitiu na televisão americana que a sua "nova cor" era consequência de vitiligo - explicação que foi contestada por muitos.
Dos palcos aos tribunais
Em 1991, Jackson lançou Dangerous, álbum cujo título parecia prenunciar o perigoso declínio que a carreira do astro estava prestes a enfrentar. Logo no primeiro single, Black Or White, o cantor brincava com a discussão sobre a mudança da cor de sua pele ("Se você estiver pensando em ser minha, não importa se é branca ou preta", dizia o refrão), mas o disco não emplacou no mercado americano da mesma maneira que os anteriores, pelas mudanças trazidas pelo grunge de Nirvana e Pearl Jam, que agora comandavam paradas. Resultado: "só" 7 milhões de álbuns vendidos nos EUA.
Dois anos depois, Jackson estava ocupado na turnê de promoção do disco - que o traria ao País para dois shows em São Paulo, em outubro de 1993 - quando uma denúncia veio à tona. O pai de Jordan Chandler, de 13 anos, afirmava que o cantor havia molestado seu filho no rancho de Neverland, excêntrica residência do artista que contava com seu próprio parque de diversões. Jackson negou veementemente as acusações na televisão americana e fez um acordo judicial de US$ 22 milhões com a família de Chandler para tentar encerrar a polêmica. Não conseguiu: nos próximos anos, mais denúncias de pedofilia iriam obscurecer seu prestígio artístico.
Em 1994, casou-se com Lisa Marie Presley, filha do rei do rock, Elvis, em um matrimônio que durou dois anos e foi visto pela imprensa como uma tentativa de deixar para trás a má fase vivida pelas denúncias do escândalo de pedofilia. Um ano depois, lançou um disco duplo (HIStory: Past, Present and Future) que teve a maior campanha de marketing já usada na indústria fonográfica e, mesmo vendendo cerca de 30 milhões de cópias, decepcionou a gravadora. Um dos clipes do disco (They Don't Care About Us) foi gravado no Pelourinho, em Salvador. Em 1996, casou-se com a dermatologista Deborah Rowe, com quem teve dois filhos: Michael Joseph Jackson Jr e Paris Katherine Jackson. Terminado o relacionamento, Deborah abriu mão da guarda das crianças para Jackson.
Último disco, novas denúncias
Nos anos seguintes, novamente a polêmica tomaria o lugar do sucesso. Em 2001 veio Invincible, disco que resultou numa queda de braço com a Sony, que tomou decisões sobre a divulgação do trabalho a contragosto do cantor. Jackson alegou preconceito por ser um artista negro e o CD vendeu apenas 8 milhões de cópias no mundo todo, tornando-se o menos vendido de sua carreira.
Em 2002, o cantor teve seu terceiro filho, Prince Michael Jackson II, cuja mãe foi mantida em segredo. Um ano depois, outra denúncia de pedofilia: a família do adolescente Gavin Arvizo acusou o astro de ter molestado o filho em Neverland. Em junho de 2005, Jackson foi absolvido pela Justiça americana por falta de provas.
De lá para cá, foram raras as aparições do cantor, embora seu catálogo estivesse sendo amplamente explorado pela Sony, que lançou várias coletâneas. Neste ano, ele anunciou 50 shows em Londres, cujos ingressos se esgotaram em questão de horas. Segundo Jackson, seriam suas últimas apresentações. A morte, porém, não permitiu que o rei do pop se despedisse oficialmente dos palcos, e veio da mesma maneira que seu sucesso: fugaz, precoce e incontestável.
Texto originalmente publicado no 'Estado' em 25 de junho de 2009