‘Abusos morais eram normalizados’, diz ex-paquita que participa de série documental do Globoplay


Assistente de palco da Xuxa, Ana Paula Guimarães, conhecida também como Catuxa, revive encantos e feridas do passado, como a bulimia desenvolvida na adolescência, com a estreia de ‘Pra Sempre Paquitas’

Por Paula Bonelli
Atualização:

Vestir o uniforme curto à la soldadinho de chumbo, com chapéu e botas brancas. Ajudar a controlar as crianças no palco. Dar assistência a Xuxa durante os programas. Obedecer às ordens da diretora Marlene Mattos. Desviar dos beliscões dos baixinhos e das pisadas nos pés. Ao mesmo tempo, cantar, sorrir e dançar. Ser paquita foi um sonho de uma geração de meninas dos anos 90, que deixou marcas profundas nas crianças e adolescentes que alcançaram o cobiçado posto quando elas tinham entre 10 e 17 anos.

Com cinco episódios, a série documental Pra Sempre Paquitas, que estreia nesta segunda, 16, na plataforma Globoplay (veja aqui o trailer), colheu depoimentos e promoveu a reunião de 26 das 28 ex-assistentes de palco de Xuxa. Elas relembram situações de abuso moral que enfrentaram para ser magras ou para aprender a cantar, além do trauma de se sentir excluídas, às vezes, passando por isso sozinhas, sem conversar com os pais. Várias relatam ter enfrentado dificuldades na escola devido à rotina intensa de trabalho nos programas, resultando na perda do ano escolar. Uma delas compartilha ter sofrido até homofobia.

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Ana Paula Guimarães nos tempos de paquita e hoje Foto: @ anapg via Instagram

“A gente fala um pouco sobre os abusos morais, que eram normalizados. É importante não errar no tom, né? A forma de você se expressar e cobrar sobre o corpo de crianças e adolescentes em um momento tão transitório de hormônios e formação de identidade...”, diz Ana Paula Guimarães, ex-paquita e diretora artística da série, que desenvolveu bulimia na adolescência.

A produção também revela os encantos dos programas de Xuxa, primeiro na TV Manchete e depois nas manhãs da TV Globo, entre 1986 e 2002. É impressionante rever como o programa funcionava com uma boa dose de improvisação e espontaneidade. Alda, a mãe de Xuxa, era a responsável por confeccionar os figurinos usados pelas companheiras de palco da filha.

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Xuxa posa com as paquitas Foto: Blad Meneghel

Ana Paula Guimarães, conhecida também como Catuxa, lembra que a relação entre Xuxa e as paquitas era carinhosa, e que ela dava dicas de maquiagem, de produtos para o cabelo. Era um contato próximo que, posteriormente, foi se alterando: “Eu fui a quarta paquita, e conseguimos criar um grupo mais coeso. Acabava se transformando em uma grande família. As primeiras participaram dessa relação mais caseira, até chegar ao boom que virou a Xuxa, com discos de ouro e de platina. Assim, ela passou a fazer mais viagens internacionais, e a carga de trabalho aumentou. Então, isso foi deixando a pessoa sem tempo livre, né?”, comenta.

Amizades e inimizades

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Havia também uma hierarquia implícita entre as paquitas, que precisavam ser ágeis durante as gravações. “Tinha quem cuidava das brincadeiras; essa função exigia mais trabalho, então não era muito disputada. Houve também a responsável por entregar a ficha com as informações para Xuxa e ficar mais próxima dela, fazendo a ponte com Marlene Mattos, que estava na sala de controle. Em cada época, uma delas era a líder. Sempre éramos muito amigas, mas, claro, havia atritos, como em qualquer família”, conta Ana Paula.

No início, todas eram loiras, mas depois surgiram algumas morenas. “A primeira morena foi Tatiana Maranhão, mas aos poucos, acabava que todo mundo virava loira. Não sei… acho que você vai querendo pertencer, né?”, reflete.

“Na primeira geração Roberta e Mariana queriam muito ser paquitas, mas não passaram no teste e eram morenas, aí a Xuxa criou as Irmãs Metralhas para elas poderem fazer parte do grupo”, lembra Ana Paula. A primeira assistente de palco negra nos programas da apresentadora foi Adriana Bombom em 1996.

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Paquitas reviveram uma turnê de ônibus para o documentário

O documentário fez uma viagem de ônibus com as ex-paquitas para São Paulo, como se fosse uma turnê dos velhos tempos, que culminou numa gravação para o programa Altas Horas. Há também abraço e acerto de contas da paquita Heloísa Morgado que sentiu que não houve uma despedida quando Xuxa se mudou da Manchete para a Globo e não continuou no projeto.

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A série ouve também Serginho Groisman, que analisa o contexto dos programas de auditório da época, e a doutora em comunicação Rosane Borges, que fala sobre a falta de diversidade e a promoção da branquitude pelo audiovisual. A atriz Fafy Siqueira discute como a gestão de Marlene Mattos se insere no contexto do machismo dos anos 90. Os episódios passam ainda por fatos marcantes: quando a nave da Xuxa pegou fogo durante uma gravação e até uma tentativa frustrada de sequestrar a Rainha dos Baixinhos.

Há um depoimento da atriz Letícia Spiller, que despontou primeiro como assistente de palco de Xuxa, sobre o sucesso da música das Paquitas, com o refrão “É tão bom / Bom, bom, bom / Quem quer pão / Pão, pão, pão / Bom estar contigo na televisão.”

Cena do Xou da Xuxa  Foto: Reprodução de vídeo/Globo
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Marlene Mattos e outras ausências

Convidada, Marlene Mattos desejou sucesso à série, mas não quis participar. “A Marlene é uma pessoa com fama de durona. A gente fala um pouco disso no documentário. Em outros momentos, há também um sentimento de gratidão pelos aprendizados que tivemos com ela, mas reconhecemos que algumas atitudes não foram adequadas, especialmente no trato com crianças e adolescentes”, afirma Ana Paula. Outras duas paquitas, Vanessa Melo e Diane Dantas, também recusaram o convite, pois não gostam de exposição e não desejam reviver o passado.

Por outro lado, a comunicadora Andréa Sorvetão, que teve desentendimentos com as paquitas e Xuxa por causa de política, se reencontrou com a trupe. Deu um depoimento emocionado. Ela relembrou momentos marcantes, como o disco de ouro que ganharam, e o sucesso do primeiro LP Fada Madrinha. Em seguida, contou sobre sua saída do programa da Xuxa por desgaste com o trabalho e acordos que não estavam funcionando.

A ex-paquita Ana Paula Guimarães, conhecida como Catu ou Catuxa Foto: Rafaela Cassiano/Globo

“O principal, o maior de tudo, é que fizemos história no audiovisual e na televisão brasileira. A Xuxa foi uma grande representante desse universo e estávamos ali juntas. Então, a série é mais para celebrar e contar essa história”, conclui Ana Paula.

Vestir o uniforme curto à la soldadinho de chumbo, com chapéu e botas brancas. Ajudar a controlar as crianças no palco. Dar assistência a Xuxa durante os programas. Obedecer às ordens da diretora Marlene Mattos. Desviar dos beliscões dos baixinhos e das pisadas nos pés. Ao mesmo tempo, cantar, sorrir e dançar. Ser paquita foi um sonho de uma geração de meninas dos anos 90, que deixou marcas profundas nas crianças e adolescentes que alcançaram o cobiçado posto quando elas tinham entre 10 e 17 anos.

Com cinco episódios, a série documental Pra Sempre Paquitas, que estreia nesta segunda, 16, na plataforma Globoplay (veja aqui o trailer), colheu depoimentos e promoveu a reunião de 26 das 28 ex-assistentes de palco de Xuxa. Elas relembram situações de abuso moral que enfrentaram para ser magras ou para aprender a cantar, além do trauma de se sentir excluídas, às vezes, passando por isso sozinhas, sem conversar com os pais. Várias relatam ter enfrentado dificuldades na escola devido à rotina intensa de trabalho nos programas, resultando na perda do ano escolar. Uma delas compartilha ter sofrido até homofobia.

Ana Paula Guimarães nos tempos de paquita e hoje Foto: @ anapg via Instagram

“A gente fala um pouco sobre os abusos morais, que eram normalizados. É importante não errar no tom, né? A forma de você se expressar e cobrar sobre o corpo de crianças e adolescentes em um momento tão transitório de hormônios e formação de identidade...”, diz Ana Paula Guimarães, ex-paquita e diretora artística da série, que desenvolveu bulimia na adolescência.

A produção também revela os encantos dos programas de Xuxa, primeiro na TV Manchete e depois nas manhãs da TV Globo, entre 1986 e 2002. É impressionante rever como o programa funcionava com uma boa dose de improvisação e espontaneidade. Alda, a mãe de Xuxa, era a responsável por confeccionar os figurinos usados pelas companheiras de palco da filha.

Xuxa posa com as paquitas Foto: Blad Meneghel

Ana Paula Guimarães, conhecida também como Catuxa, lembra que a relação entre Xuxa e as paquitas era carinhosa, e que ela dava dicas de maquiagem, de produtos para o cabelo. Era um contato próximo que, posteriormente, foi se alterando: “Eu fui a quarta paquita, e conseguimos criar um grupo mais coeso. Acabava se transformando em uma grande família. As primeiras participaram dessa relação mais caseira, até chegar ao boom que virou a Xuxa, com discos de ouro e de platina. Assim, ela passou a fazer mais viagens internacionais, e a carga de trabalho aumentou. Então, isso foi deixando a pessoa sem tempo livre, né?”, comenta.

Amizades e inimizades

Havia também uma hierarquia implícita entre as paquitas, que precisavam ser ágeis durante as gravações. “Tinha quem cuidava das brincadeiras; essa função exigia mais trabalho, então não era muito disputada. Houve também a responsável por entregar a ficha com as informações para Xuxa e ficar mais próxima dela, fazendo a ponte com Marlene Mattos, que estava na sala de controle. Em cada época, uma delas era a líder. Sempre éramos muito amigas, mas, claro, havia atritos, como em qualquer família”, conta Ana Paula.

No início, todas eram loiras, mas depois surgiram algumas morenas. “A primeira morena foi Tatiana Maranhão, mas aos poucos, acabava que todo mundo virava loira. Não sei… acho que você vai querendo pertencer, né?”, reflete.

“Na primeira geração Roberta e Mariana queriam muito ser paquitas, mas não passaram no teste e eram morenas, aí a Xuxa criou as Irmãs Metralhas para elas poderem fazer parte do grupo”, lembra Ana Paula. A primeira assistente de palco negra nos programas da apresentadora foi Adriana Bombom em 1996.

Paquitas reviveram uma turnê de ônibus para o documentário

O documentário fez uma viagem de ônibus com as ex-paquitas para São Paulo, como se fosse uma turnê dos velhos tempos, que culminou numa gravação para o programa Altas Horas. Há também abraço e acerto de contas da paquita Heloísa Morgado que sentiu que não houve uma despedida quando Xuxa se mudou da Manchete para a Globo e não continuou no projeto.

A série ouve também Serginho Groisman, que analisa o contexto dos programas de auditório da época, e a doutora em comunicação Rosane Borges, que fala sobre a falta de diversidade e a promoção da branquitude pelo audiovisual. A atriz Fafy Siqueira discute como a gestão de Marlene Mattos se insere no contexto do machismo dos anos 90. Os episódios passam ainda por fatos marcantes: quando a nave da Xuxa pegou fogo durante uma gravação e até uma tentativa frustrada de sequestrar a Rainha dos Baixinhos.

Há um depoimento da atriz Letícia Spiller, que despontou primeiro como assistente de palco de Xuxa, sobre o sucesso da música das Paquitas, com o refrão “É tão bom / Bom, bom, bom / Quem quer pão / Pão, pão, pão / Bom estar contigo na televisão.”

Cena do Xou da Xuxa  Foto: Reprodução de vídeo/Globo

Marlene Mattos e outras ausências

Convidada, Marlene Mattos desejou sucesso à série, mas não quis participar. “A Marlene é uma pessoa com fama de durona. A gente fala um pouco disso no documentário. Em outros momentos, há também um sentimento de gratidão pelos aprendizados que tivemos com ela, mas reconhecemos que algumas atitudes não foram adequadas, especialmente no trato com crianças e adolescentes”, afirma Ana Paula. Outras duas paquitas, Vanessa Melo e Diane Dantas, também recusaram o convite, pois não gostam de exposição e não desejam reviver o passado.

Por outro lado, a comunicadora Andréa Sorvetão, que teve desentendimentos com as paquitas e Xuxa por causa de política, se reencontrou com a trupe. Deu um depoimento emocionado. Ela relembrou momentos marcantes, como o disco de ouro que ganharam, e o sucesso do primeiro LP Fada Madrinha. Em seguida, contou sobre sua saída do programa da Xuxa por desgaste com o trabalho e acordos que não estavam funcionando.

A ex-paquita Ana Paula Guimarães, conhecida como Catu ou Catuxa Foto: Rafaela Cassiano/Globo

“O principal, o maior de tudo, é que fizemos história no audiovisual e na televisão brasileira. A Xuxa foi uma grande representante desse universo e estávamos ali juntas. Então, a série é mais para celebrar e contar essa história”, conclui Ana Paula.

Vestir o uniforme curto à la soldadinho de chumbo, com chapéu e botas brancas. Ajudar a controlar as crianças no palco. Dar assistência a Xuxa durante os programas. Obedecer às ordens da diretora Marlene Mattos. Desviar dos beliscões dos baixinhos e das pisadas nos pés. Ao mesmo tempo, cantar, sorrir e dançar. Ser paquita foi um sonho de uma geração de meninas dos anos 90, que deixou marcas profundas nas crianças e adolescentes que alcançaram o cobiçado posto quando elas tinham entre 10 e 17 anos.

Com cinco episódios, a série documental Pra Sempre Paquitas, que estreia nesta segunda, 16, na plataforma Globoplay (veja aqui o trailer), colheu depoimentos e promoveu a reunião de 26 das 28 ex-assistentes de palco de Xuxa. Elas relembram situações de abuso moral que enfrentaram para ser magras ou para aprender a cantar, além do trauma de se sentir excluídas, às vezes, passando por isso sozinhas, sem conversar com os pais. Várias relatam ter enfrentado dificuldades na escola devido à rotina intensa de trabalho nos programas, resultando na perda do ano escolar. Uma delas compartilha ter sofrido até homofobia.

Ana Paula Guimarães nos tempos de paquita e hoje Foto: @ anapg via Instagram

“A gente fala um pouco sobre os abusos morais, que eram normalizados. É importante não errar no tom, né? A forma de você se expressar e cobrar sobre o corpo de crianças e adolescentes em um momento tão transitório de hormônios e formação de identidade...”, diz Ana Paula Guimarães, ex-paquita e diretora artística da série, que desenvolveu bulimia na adolescência.

A produção também revela os encantos dos programas de Xuxa, primeiro na TV Manchete e depois nas manhãs da TV Globo, entre 1986 e 2002. É impressionante rever como o programa funcionava com uma boa dose de improvisação e espontaneidade. Alda, a mãe de Xuxa, era a responsável por confeccionar os figurinos usados pelas companheiras de palco da filha.

Xuxa posa com as paquitas Foto: Blad Meneghel

Ana Paula Guimarães, conhecida também como Catuxa, lembra que a relação entre Xuxa e as paquitas era carinhosa, e que ela dava dicas de maquiagem, de produtos para o cabelo. Era um contato próximo que, posteriormente, foi se alterando: “Eu fui a quarta paquita, e conseguimos criar um grupo mais coeso. Acabava se transformando em uma grande família. As primeiras participaram dessa relação mais caseira, até chegar ao boom que virou a Xuxa, com discos de ouro e de platina. Assim, ela passou a fazer mais viagens internacionais, e a carga de trabalho aumentou. Então, isso foi deixando a pessoa sem tempo livre, né?”, comenta.

Amizades e inimizades

Havia também uma hierarquia implícita entre as paquitas, que precisavam ser ágeis durante as gravações. “Tinha quem cuidava das brincadeiras; essa função exigia mais trabalho, então não era muito disputada. Houve também a responsável por entregar a ficha com as informações para Xuxa e ficar mais próxima dela, fazendo a ponte com Marlene Mattos, que estava na sala de controle. Em cada época, uma delas era a líder. Sempre éramos muito amigas, mas, claro, havia atritos, como em qualquer família”, conta Ana Paula.

No início, todas eram loiras, mas depois surgiram algumas morenas. “A primeira morena foi Tatiana Maranhão, mas aos poucos, acabava que todo mundo virava loira. Não sei… acho que você vai querendo pertencer, né?”, reflete.

“Na primeira geração Roberta e Mariana queriam muito ser paquitas, mas não passaram no teste e eram morenas, aí a Xuxa criou as Irmãs Metralhas para elas poderem fazer parte do grupo”, lembra Ana Paula. A primeira assistente de palco negra nos programas da apresentadora foi Adriana Bombom em 1996.

Paquitas reviveram uma turnê de ônibus para o documentário

O documentário fez uma viagem de ônibus com as ex-paquitas para São Paulo, como se fosse uma turnê dos velhos tempos, que culminou numa gravação para o programa Altas Horas. Há também abraço e acerto de contas da paquita Heloísa Morgado que sentiu que não houve uma despedida quando Xuxa se mudou da Manchete para a Globo e não continuou no projeto.

A série ouve também Serginho Groisman, que analisa o contexto dos programas de auditório da época, e a doutora em comunicação Rosane Borges, que fala sobre a falta de diversidade e a promoção da branquitude pelo audiovisual. A atriz Fafy Siqueira discute como a gestão de Marlene Mattos se insere no contexto do machismo dos anos 90. Os episódios passam ainda por fatos marcantes: quando a nave da Xuxa pegou fogo durante uma gravação e até uma tentativa frustrada de sequestrar a Rainha dos Baixinhos.

Há um depoimento da atriz Letícia Spiller, que despontou primeiro como assistente de palco de Xuxa, sobre o sucesso da música das Paquitas, com o refrão “É tão bom / Bom, bom, bom / Quem quer pão / Pão, pão, pão / Bom estar contigo na televisão.”

Cena do Xou da Xuxa  Foto: Reprodução de vídeo/Globo

Marlene Mattos e outras ausências

Convidada, Marlene Mattos desejou sucesso à série, mas não quis participar. “A Marlene é uma pessoa com fama de durona. A gente fala um pouco disso no documentário. Em outros momentos, há também um sentimento de gratidão pelos aprendizados que tivemos com ela, mas reconhecemos que algumas atitudes não foram adequadas, especialmente no trato com crianças e adolescentes”, afirma Ana Paula. Outras duas paquitas, Vanessa Melo e Diane Dantas, também recusaram o convite, pois não gostam de exposição e não desejam reviver o passado.

Por outro lado, a comunicadora Andréa Sorvetão, que teve desentendimentos com as paquitas e Xuxa por causa de política, se reencontrou com a trupe. Deu um depoimento emocionado. Ela relembrou momentos marcantes, como o disco de ouro que ganharam, e o sucesso do primeiro LP Fada Madrinha. Em seguida, contou sobre sua saída do programa da Xuxa por desgaste com o trabalho e acordos que não estavam funcionando.

A ex-paquita Ana Paula Guimarães, conhecida como Catu ou Catuxa Foto: Rafaela Cassiano/Globo

“O principal, o maior de tudo, é que fizemos história no audiovisual e na televisão brasileira. A Xuxa foi uma grande representante desse universo e estávamos ali juntas. Então, a série é mais para celebrar e contar essa história”, conclui Ana Paula.

Vestir o uniforme curto à la soldadinho de chumbo, com chapéu e botas brancas. Ajudar a controlar as crianças no palco. Dar assistência a Xuxa durante os programas. Obedecer às ordens da diretora Marlene Mattos. Desviar dos beliscões dos baixinhos e das pisadas nos pés. Ao mesmo tempo, cantar, sorrir e dançar. Ser paquita foi um sonho de uma geração de meninas dos anos 90, que deixou marcas profundas nas crianças e adolescentes que alcançaram o cobiçado posto quando elas tinham entre 10 e 17 anos.

Com cinco episódios, a série documental Pra Sempre Paquitas, que estreia nesta segunda, 16, na plataforma Globoplay (veja aqui o trailer), colheu depoimentos e promoveu a reunião de 26 das 28 ex-assistentes de palco de Xuxa. Elas relembram situações de abuso moral que enfrentaram para ser magras ou para aprender a cantar, além do trauma de se sentir excluídas, às vezes, passando por isso sozinhas, sem conversar com os pais. Várias relatam ter enfrentado dificuldades na escola devido à rotina intensa de trabalho nos programas, resultando na perda do ano escolar. Uma delas compartilha ter sofrido até homofobia.

Ana Paula Guimarães nos tempos de paquita e hoje Foto: @ anapg via Instagram

“A gente fala um pouco sobre os abusos morais, que eram normalizados. É importante não errar no tom, né? A forma de você se expressar e cobrar sobre o corpo de crianças e adolescentes em um momento tão transitório de hormônios e formação de identidade...”, diz Ana Paula Guimarães, ex-paquita e diretora artística da série, que desenvolveu bulimia na adolescência.

A produção também revela os encantos dos programas de Xuxa, primeiro na TV Manchete e depois nas manhãs da TV Globo, entre 1986 e 2002. É impressionante rever como o programa funcionava com uma boa dose de improvisação e espontaneidade. Alda, a mãe de Xuxa, era a responsável por confeccionar os figurinos usados pelas companheiras de palco da filha.

Xuxa posa com as paquitas Foto: Blad Meneghel

Ana Paula Guimarães, conhecida também como Catuxa, lembra que a relação entre Xuxa e as paquitas era carinhosa, e que ela dava dicas de maquiagem, de produtos para o cabelo. Era um contato próximo que, posteriormente, foi se alterando: “Eu fui a quarta paquita, e conseguimos criar um grupo mais coeso. Acabava se transformando em uma grande família. As primeiras participaram dessa relação mais caseira, até chegar ao boom que virou a Xuxa, com discos de ouro e de platina. Assim, ela passou a fazer mais viagens internacionais, e a carga de trabalho aumentou. Então, isso foi deixando a pessoa sem tempo livre, né?”, comenta.

Amizades e inimizades

Havia também uma hierarquia implícita entre as paquitas, que precisavam ser ágeis durante as gravações. “Tinha quem cuidava das brincadeiras; essa função exigia mais trabalho, então não era muito disputada. Houve também a responsável por entregar a ficha com as informações para Xuxa e ficar mais próxima dela, fazendo a ponte com Marlene Mattos, que estava na sala de controle. Em cada época, uma delas era a líder. Sempre éramos muito amigas, mas, claro, havia atritos, como em qualquer família”, conta Ana Paula.

No início, todas eram loiras, mas depois surgiram algumas morenas. “A primeira morena foi Tatiana Maranhão, mas aos poucos, acabava que todo mundo virava loira. Não sei… acho que você vai querendo pertencer, né?”, reflete.

“Na primeira geração Roberta e Mariana queriam muito ser paquitas, mas não passaram no teste e eram morenas, aí a Xuxa criou as Irmãs Metralhas para elas poderem fazer parte do grupo”, lembra Ana Paula. A primeira assistente de palco negra nos programas da apresentadora foi Adriana Bombom em 1996.

Paquitas reviveram uma turnê de ônibus para o documentário

O documentário fez uma viagem de ônibus com as ex-paquitas para São Paulo, como se fosse uma turnê dos velhos tempos, que culminou numa gravação para o programa Altas Horas. Há também abraço e acerto de contas da paquita Heloísa Morgado que sentiu que não houve uma despedida quando Xuxa se mudou da Manchete para a Globo e não continuou no projeto.

A série ouve também Serginho Groisman, que analisa o contexto dos programas de auditório da época, e a doutora em comunicação Rosane Borges, que fala sobre a falta de diversidade e a promoção da branquitude pelo audiovisual. A atriz Fafy Siqueira discute como a gestão de Marlene Mattos se insere no contexto do machismo dos anos 90. Os episódios passam ainda por fatos marcantes: quando a nave da Xuxa pegou fogo durante uma gravação e até uma tentativa frustrada de sequestrar a Rainha dos Baixinhos.

Há um depoimento da atriz Letícia Spiller, que despontou primeiro como assistente de palco de Xuxa, sobre o sucesso da música das Paquitas, com o refrão “É tão bom / Bom, bom, bom / Quem quer pão / Pão, pão, pão / Bom estar contigo na televisão.”

Cena do Xou da Xuxa  Foto: Reprodução de vídeo/Globo

Marlene Mattos e outras ausências

Convidada, Marlene Mattos desejou sucesso à série, mas não quis participar. “A Marlene é uma pessoa com fama de durona. A gente fala um pouco disso no documentário. Em outros momentos, há também um sentimento de gratidão pelos aprendizados que tivemos com ela, mas reconhecemos que algumas atitudes não foram adequadas, especialmente no trato com crianças e adolescentes”, afirma Ana Paula. Outras duas paquitas, Vanessa Melo e Diane Dantas, também recusaram o convite, pois não gostam de exposição e não desejam reviver o passado.

Por outro lado, a comunicadora Andréa Sorvetão, que teve desentendimentos com as paquitas e Xuxa por causa de política, se reencontrou com a trupe. Deu um depoimento emocionado. Ela relembrou momentos marcantes, como o disco de ouro que ganharam, e o sucesso do primeiro LP Fada Madrinha. Em seguida, contou sobre sua saída do programa da Xuxa por desgaste com o trabalho e acordos que não estavam funcionando.

A ex-paquita Ana Paula Guimarães, conhecida como Catu ou Catuxa Foto: Rafaela Cassiano/Globo

“O principal, o maior de tudo, é que fizemos história no audiovisual e na televisão brasileira. A Xuxa foi uma grande representante desse universo e estávamos ali juntas. Então, a série é mais para celebrar e contar essa história”, conclui Ana Paula.

Vestir o uniforme curto à la soldadinho de chumbo, com chapéu e botas brancas. Ajudar a controlar as crianças no palco. Dar assistência a Xuxa durante os programas. Obedecer às ordens da diretora Marlene Mattos. Desviar dos beliscões dos baixinhos e das pisadas nos pés. Ao mesmo tempo, cantar, sorrir e dançar. Ser paquita foi um sonho de uma geração de meninas dos anos 90, que deixou marcas profundas nas crianças e adolescentes que alcançaram o cobiçado posto quando elas tinham entre 10 e 17 anos.

Com cinco episódios, a série documental Pra Sempre Paquitas, que estreia nesta segunda, 16, na plataforma Globoplay (veja aqui o trailer), colheu depoimentos e promoveu a reunião de 26 das 28 ex-assistentes de palco de Xuxa. Elas relembram situações de abuso moral que enfrentaram para ser magras ou para aprender a cantar, além do trauma de se sentir excluídas, às vezes, passando por isso sozinhas, sem conversar com os pais. Várias relatam ter enfrentado dificuldades na escola devido à rotina intensa de trabalho nos programas, resultando na perda do ano escolar. Uma delas compartilha ter sofrido até homofobia.

Ana Paula Guimarães nos tempos de paquita e hoje Foto: @ anapg via Instagram

“A gente fala um pouco sobre os abusos morais, que eram normalizados. É importante não errar no tom, né? A forma de você se expressar e cobrar sobre o corpo de crianças e adolescentes em um momento tão transitório de hormônios e formação de identidade...”, diz Ana Paula Guimarães, ex-paquita e diretora artística da série, que desenvolveu bulimia na adolescência.

A produção também revela os encantos dos programas de Xuxa, primeiro na TV Manchete e depois nas manhãs da TV Globo, entre 1986 e 2002. É impressionante rever como o programa funcionava com uma boa dose de improvisação e espontaneidade. Alda, a mãe de Xuxa, era a responsável por confeccionar os figurinos usados pelas companheiras de palco da filha.

Xuxa posa com as paquitas Foto: Blad Meneghel

Ana Paula Guimarães, conhecida também como Catuxa, lembra que a relação entre Xuxa e as paquitas era carinhosa, e que ela dava dicas de maquiagem, de produtos para o cabelo. Era um contato próximo que, posteriormente, foi se alterando: “Eu fui a quarta paquita, e conseguimos criar um grupo mais coeso. Acabava se transformando em uma grande família. As primeiras participaram dessa relação mais caseira, até chegar ao boom que virou a Xuxa, com discos de ouro e de platina. Assim, ela passou a fazer mais viagens internacionais, e a carga de trabalho aumentou. Então, isso foi deixando a pessoa sem tempo livre, né?”, comenta.

Amizades e inimizades

Havia também uma hierarquia implícita entre as paquitas, que precisavam ser ágeis durante as gravações. “Tinha quem cuidava das brincadeiras; essa função exigia mais trabalho, então não era muito disputada. Houve também a responsável por entregar a ficha com as informações para Xuxa e ficar mais próxima dela, fazendo a ponte com Marlene Mattos, que estava na sala de controle. Em cada época, uma delas era a líder. Sempre éramos muito amigas, mas, claro, havia atritos, como em qualquer família”, conta Ana Paula.

No início, todas eram loiras, mas depois surgiram algumas morenas. “A primeira morena foi Tatiana Maranhão, mas aos poucos, acabava que todo mundo virava loira. Não sei… acho que você vai querendo pertencer, né?”, reflete.

“Na primeira geração Roberta e Mariana queriam muito ser paquitas, mas não passaram no teste e eram morenas, aí a Xuxa criou as Irmãs Metralhas para elas poderem fazer parte do grupo”, lembra Ana Paula. A primeira assistente de palco negra nos programas da apresentadora foi Adriana Bombom em 1996.

Paquitas reviveram uma turnê de ônibus para o documentário

O documentário fez uma viagem de ônibus com as ex-paquitas para São Paulo, como se fosse uma turnê dos velhos tempos, que culminou numa gravação para o programa Altas Horas. Há também abraço e acerto de contas da paquita Heloísa Morgado que sentiu que não houve uma despedida quando Xuxa se mudou da Manchete para a Globo e não continuou no projeto.

A série ouve também Serginho Groisman, que analisa o contexto dos programas de auditório da época, e a doutora em comunicação Rosane Borges, que fala sobre a falta de diversidade e a promoção da branquitude pelo audiovisual. A atriz Fafy Siqueira discute como a gestão de Marlene Mattos se insere no contexto do machismo dos anos 90. Os episódios passam ainda por fatos marcantes: quando a nave da Xuxa pegou fogo durante uma gravação e até uma tentativa frustrada de sequestrar a Rainha dos Baixinhos.

Há um depoimento da atriz Letícia Spiller, que despontou primeiro como assistente de palco de Xuxa, sobre o sucesso da música das Paquitas, com o refrão “É tão bom / Bom, bom, bom / Quem quer pão / Pão, pão, pão / Bom estar contigo na televisão.”

Cena do Xou da Xuxa  Foto: Reprodução de vídeo/Globo

Marlene Mattos e outras ausências

Convidada, Marlene Mattos desejou sucesso à série, mas não quis participar. “A Marlene é uma pessoa com fama de durona. A gente fala um pouco disso no documentário. Em outros momentos, há também um sentimento de gratidão pelos aprendizados que tivemos com ela, mas reconhecemos que algumas atitudes não foram adequadas, especialmente no trato com crianças e adolescentes”, afirma Ana Paula. Outras duas paquitas, Vanessa Melo e Diane Dantas, também recusaram o convite, pois não gostam de exposição e não desejam reviver o passado.

Por outro lado, a comunicadora Andréa Sorvetão, que teve desentendimentos com as paquitas e Xuxa por causa de política, se reencontrou com a trupe. Deu um depoimento emocionado. Ela relembrou momentos marcantes, como o disco de ouro que ganharam, e o sucesso do primeiro LP Fada Madrinha. Em seguida, contou sobre sua saída do programa da Xuxa por desgaste com o trabalho e acordos que não estavam funcionando.

A ex-paquita Ana Paula Guimarães, conhecida como Catu ou Catuxa Foto: Rafaela Cassiano/Globo

“O principal, o maior de tudo, é que fizemos história no audiovisual e na televisão brasileira. A Xuxa foi uma grande representante desse universo e estávamos ali juntas. Então, a série é mais para celebrar e contar essa história”, conclui Ana Paula.

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