Para quem tem saudades das músicas, das roupas, dos cenários e das emoções vividas na década de 1970, Daisy Jones & The Six, nova minissérie do Amazon Prime Video, é um prato cheio.
Baseada no livro best-seller de Taylor Jenkins Reid, a produção estreia nesta sexta-feira, 3, com episódios lançados semanalmente até o dia 24 de março, e tem uma missão importante: conquistar os fãs da obra original, que já teve mais de 1 milhão de cópias vendidas ao redor do mundo.
A trama acompanha a ascensão e queda da banda de rock fictícia Daisy Jones & The Six, que, após alcançar um sucesso sem precedentes, anunciou o rompimento depois de um show lotado na cidade de Chicago, nos Estados Unidos.
Vinte anos depois, os membros do grupo estão dispostos a revelar a verdade por trás da separação, incluindo a relação conturbada entre os vocalistas Billy Dunne (Sam Claffin) e Daisy Jones (Riley Keough).
Em entrevista ao Estadão, elenco, produtores e autora revelaram os bastidores e os desafios de trazer os personagens, os visuais e as músicas imaginadas por tantos leitores à vida real.
“Para mim, foi uma decisão fácil. Ver a produtora que estava fazendo, a história em anexo e, claro, é um best-seller. Tinha muita coisa que, desde o início, já me deixava tipo ‘uau, obviamente vai ser uma ótima série’”, diz Josh Whitehouse, que interpreta Eddie Roundtree, baixista da banda.
Uma banda de verdade
Além de dez episódios de cerca de 50 minutos, Daisy Jones & The Six ainda ganhou uma série de músicas originais, escritas, produzidas e interpretadas exclusivamente para a produção. Isso significa que o elenco teve uma missão ainda mais desafiadora: virar uma banda de verdade.
Apesar das origens musicais de Riley Keough - a atriz é neta de ninguém menos que Elvis Presley - ela nunca havia tentado cantar profissionalmente. Suki Waterhouse, que vive a tecladista Karen, não sabia tocar piano. Claffin e Whitehouse também não tinham nenhum conhecimento musical prévio.
“Foi um processo de duas etapas”, lembra Sebastian Chacon, responsável por dar vida ao divertido baterista Warren Rojas. Ele tocava o instrumento quando criança, mas precisou reaprender para o papel.
Por meses, cada um ensaiou a sós com um professor, praticou em casa e ganhou familiaridade com o instrumento. Esse processo acabou tomando mais tempo do que o planejado quando, em 2020, a produção foi adiada por conta da covid-19.
“Isso permitiu que nós tivéssemos um tempo [a mais] em que a música realmente fosse absorvida”, comenta Will Harrison. Ele interpreta Graham Dunne, guitarrista da banda e irmão do vocalista, Billy. Quase um ano depois, o elenco se reuniu novamente para colocar em prática o que havia aprendido.
“Uma parte muito importante foi entrar em uma sala juntos e apenas tocar as músicas como uma banda”, diz Chacon. “Se acostumar a olhar um para o outro logo antes de uma grande transição, nos apoiarmos, não ficarmos rígidos e em nosso próprio mundo, mas sim parecer uma banda de verdade. Isso é algo que leva tempo e exige muito esforço para aprender e ser natural”.
Pode-se dizer que o esforço funcionou. A química do grupo fica clara na tela e não há dúvida de que os seis integrantes do grupo sabem o que estão fazendo. O disco Aurora, lançado pela banda na trama (e agora na vida real), já está disponível em todas plataformas digitais.
Uma história sobre mulheres
Para a escritora Taylor Jenkins Reid, a força de Daisy Jones & The Six está não só nas músicas, no figurino ou década que retrata, mas principalmente nas personagens femininas que conduzem a história.
“Eu queria escrever sobre um período de tempo específico, mas também sobre as mulheres que prosperaram nessa época, apesar dos muitos obstáculos que foram colocados para talvez impedi-las de fazerem isso”, explica.
A protagonista Daisy Jones foi claramente inspirada em ícones dos anos 1970, como Stevie Nicks e Patti Smith. Na trama, a melhor amiga dela é a cantora Simone Jackson, uma pioneira da música disco interpretada pela brasileira Nabiyah Be. Já a tecladista Karen Sirko é, no enredo, uma das primeiras mulheres a integrar uma banda de rock.
Quem também ganha destaque é Camila Dunne, a esposa de Billy, que demonstra muito da resiliência e força feminina ao lidar com a ascensão do marido à fama e a relação dele com Daisy.
“Eu não quero atuar em nada que não seja isso”, diz Camila Morrone, intérprete da personagem. “Acho que isso me mimou enquanto atriz, porque fiquei tipo: ‘Como eu poderia interpretar alguém que seja menos do que uma personagem feminina complexa, lindamente bem escrita e desenvolvida?’”.
Suki Waterhouse, que vive Karen, acredita que elas foram “sortudas” de estarem envolvidas com o projeto. “Como atriz, foi um presente muito grande ter um material tão rico que já estava lá quando lemos o livro e que depois foi transportado para as telas”, aponta.
“Para mim, [a história] é como uma carta de amor para as mulheres que conseguiram encontrar voz em um mundo que não estava tão interessado nisso, mas também para as mulheres que tiveram que fazer sacrifícios que talvez elas não deveriam ter tido que fazer”, completa Taylor.
Das páginas para as telas
A maioria das adaptações literárias começam a ser produzidas quando o livro já é um sucesso de público, mas esse não foi o caso de Daisy Jones & The Six. A produção foi encomendada antes mesmo do livro chegar às livrarias.
Brad Mendelsohn, empresário de Taylor Jenkins Reid, enviou um manuscrito da obra para o roteirista Scott Neustadter ainda em 2017. Ele compartilhou a história com sua esposa, Lauren, que tinha acabado de ser contratada pela produtora Hello Sunshine, fundada pela atriz Reese Witherspoon.
Não demorou muito para que um acordo fosse firmado entre a companhia e a Amazon. Em julho de 2018, a primeira versão do roteiro do episódio piloto estava pronta e, em março do ano seguinte, o livro foi lançado.
Neustadter explica que a primeira decisão que tomaram foi não transformar o livro em um filme. “Fazer um seriado permitiu que nós seguíssemos alguns caminhos e explorássemos coisas que podíamos elaborar mais”, diz.
“Além disso, tem o fato de que o livro é escrito como uma história oral. Tem muitas lacunas na narrativa. Muitos buracos que precisam ser preenchidos. O que realmente aconteceu? Como algo que só foi mencionado aconteceu? Essas oportunidades são ótimas para qualquer um que quer adaptar um livro”, completa.
O roteirista também aponta que o principal objetivo dos produtores era que a série fosse o mais autêntica possível, em especial com tópicos sensíveis que a história aborda, como vício em drogas e alcoolismo. “Nós não glorificamos nada”, diz. “Se algo tivesse que ser contado de forma real, nós o fizemos e demos nosso melhor para não nos esquivarmos dos elementos mais feios daquilo”.
Três anos depois do elenco ser escalado e quase um ano depois do encerramento das gravações, a série finalmente foi lançada. “Quando você vê as fotos do início, nós estávamos em momentos totalmente diferentes das nossas vidas. De certa forma, tivemos nossas jornadas pessoais ligadas a essa série”, diz Suki Waterhouse.
Para Camila Morrone, ver a produção chegar ao público é um momento “assustador”. “É como se eu tivesse segurado esse bebê tão perto do meu coração e sentisse uma posse por essa experiência que tivemos. É um assustador bom, porque não é mais só nosso”, completa.
*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais