Gabriel Leone precisou de terapia para viver protagonista de ‘Dom’: ‘É um buraco muito fundo’


Segunda temporada da série nacional estreia no Prime Video nesta sexta, 17; elenco comenta maiores desafios e críticas sociais da produção

Por Julia Queiroz

Dar vida e tornar real algo que existe na ficção é o principal trabalho do ator, mas isso nem sempre é fácil, como atesta Gabriel Leone. Ele vive o protagonista de Dom, série nacional que retorna para sua segunda temporada nesta sexta-feira, 17, com sete episódios lançados semanalmente no Amazon Prime Video.

Na trama, ele interpreta Pedro Dom, um jovem morador do Rio de Janeiro que nasceu com boas condições, mas, movido pelo vício em drogas adquirido ainda criança, se torna um dos criminosos mais procurados da cidade.

“Por mais que a gente esteja em um set de filmagem consciente de que o que a gente está fazendo é uma ficção - você tem um microfone no seu peito, uma câmera na sua cara -, o coração não tem um disjuntor que você liga e desliga dando esse discernimento”, diz Leone em entrevista ao Estadão.

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Das cenas de violências ao uso explícito de substâncias, a produção humaniza o protagonista, mas não tenta amenizar a situação em que ele vive. Por conta disso, o intérprete de Dom precisou achar maneiras de “reduzir ao máximo os danos que vêm do processo e da energia desse personagem”.

“Na primeira temporada, eu mergulhei muito de cabeça e logo em seguida a gente teve a pandemia, então foi assim: eu comecei a fazer terapia [nesse período] e foi um processo muito bonito de autoconhecimento e de me entender dentro desse processo de Dom e desse personagem”, conta o ator.

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Leone diz que tem noção de que é “impossível chegar do set e não reverberar o que aconteceu”, mas que busca fazer coisas que o distraiam, como escutar um bom disco ou assistir a algum esporte que goste.

“Estou entendendo cada vez mais a importância de fazer um esforço mesmo para tentar desconectar e me reconectar com a minha vida, porque é um buraco muito fundo que a gente entra ali”, pontua.

A temática de Dom ainda tem um agravante: a produção é baseada no livro de mesmo nome de Tony Bellotto (que também é guitarrista da banda Titãs), que foi livremente inspiradp na história real de Pedro Machado Lomba, criminoso que ganhou o apelido que dá nome às obras.

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Gabriel Leone retorna ao papel de Pedro Dom na segunda temporada de 'Dom', no Prime Video. Foto: Suzanna Tierie/Divulgação/Prime Video

Luiz Victor Dantas, pai do jovem, há anos abordava o cineasta Breno Silveira para que a história fosse contada nas telas. A ideia foi aprovada pelo Prime Video, que investiu para que a série fosse a primeira produção 100% brasileira da Amazon.

Silveira morreu em 2022 em decorrência de um infarto fulminante, mas dirigiu toda a primeira temporada e parte da segunda. A terceira, já confirmada pela plataforma de streaming, teve as gravações concluídas na última terça-feira, 14, conforme revela Gabriel Leone ao Estadão.

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Por outro lado, a série não agradou a todos. Em 2021, Nídia Sarmento, mãe de Pedro, afirmou que a história contada pelo pai do garoto havia sido muito distorcida e, com isso, abriu um processo contra a produção - à reportagem, a assessoria do Prime Video disse que não comentaria o caso.

Pai e filho

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Por influência disso ou não, na trama, o pai do jovem ganha muito destaque e é tão protagonista quanto Pedro Dom. Victor Dantas é um homem duro, que faz parte do serviço de inteligência policial e luta para tirar o filho das drogas e da criminalidade.

Na segunda temporada, a série continua com a estratégia de contar a história com duas linhas do tempo, com Victor jovem no período da ditadura militar e já mais velho, vendo o filho se envolver com tudo aquilo que ele próprio vai contra.

Os atores Flávio Tolezani e Filipe Bragança, que vivem o personagem adulto e jovem, respectivamente, contam que reassistiram à primeira temporada e aprimoraram o trabalho em conjunto para que as características do personagem fossem comuns entre os dois.

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Filipe Bragança e Flávio Tolezani vivem o mesmo personagem em épocas diferentes na série 'Dom'. Foto: Divulgação/Prime Video

Nesse sentido, a relação entre pai e filho é uma das dinâmicas mais fortes da série. Nesta temporada, segundo Tolezani, Victor percebe que é cada vez mais “incapaz” de impedir que Pedro continue no caminho que está.

“As coisas vão ficando mais intensas e isso faz com que ele tenha menos alcance. Cada vez, o Pedro tem mais autonomia e está se distanciando. Então, as atitudes dele, às vezes desmedidas, já reverberam nele como ‘estou incapaz’”, diz.

Gabriel Leone pontua que, na segunda temporada, pai e filho têm uma quantidade de cenas juntos bem menor do que na primeira, mas isso não diminui a qualidade da produção. “Os poucos encontros que têm entre os dois são de uma potência absurda, porque têm esse caráter de reencontro”, explica.

Flávio Tolezani e Gabriel Leone como Victor e Pedro em cena da segunda temporada de 'Dom'. Foto: Suzanna Tierie/Divulgação/Prime Video

Críticas sociais

“Sempre foi uma intenção do Breno [Silveira] de que a gente estivesse contando essa história, a questão familiar do Pedro com o pai, mas que a gente tivesse como pano de fundo questões sociais muito importantes que são pontuadas ao longo da série”, conta Leone.

Por conta disso, a produção assume esse papel e leva o telespectador a refletir sobre problemas da sociedade. O mais marcante deles talvez seja o racismo estrutural, uma vez que o protagonista “escapa” dos crimes por ser um homem branco.

Nos anos 2000, o Pedro Dom da vida real ficou conhecido no Rio de Janeiro como “bandido gato”. Conscientemente, a produção escolheu abordar isso na trama e mostrar como o tratamento do jovem entre a população, a polícia e a mídia era diferente.

“Ele tem todos esses privilégios”, diz a atriz Raquel Villar, que interpreta Jasmin, personagem que, na primeira temporada, vive um romance perigoso com o protagonista. “Quem é bandido gato hoje em dia? Só você sendo branco de olho azul. Você tem toda uma sociedade que fala quem é bandido e quem vira usuário”.

Isabella Santoni e Raquel Villar vivem Viviane e Jasmin em 'Dom'. Foto: Divulgação / Prime Video

A artista também aponta que a série mostra como a questão do vício é “muito mais complexa de se lidar”. “Ele tinha toda uma estrutura familiar e financeira para tentar resolver [isso] de alguma forma e não conseguiu”, reflete. “Você percebe o quão difícil isso é, e mais ainda se você não tem essa estrutura”.

Para Malu Miranda, diretora de originais da Amazon no Brasil, a trama mostra como pessoas que sofrem com a dependência química são estigmatizadas e, em muitos casos, apagadas.

“Realmente, a série expõe muitas camadas da sociedade que são terríveis e que a gente está muito longe de resolver. É uma série de época, mas a gente consegue ver quão relevantes e urgentes são esses temas ainda hoje”, diz.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Dar vida e tornar real algo que existe na ficção é o principal trabalho do ator, mas isso nem sempre é fácil, como atesta Gabriel Leone. Ele vive o protagonista de Dom, série nacional que retorna para sua segunda temporada nesta sexta-feira, 17, com sete episódios lançados semanalmente no Amazon Prime Video.

Na trama, ele interpreta Pedro Dom, um jovem morador do Rio de Janeiro que nasceu com boas condições, mas, movido pelo vício em drogas adquirido ainda criança, se torna um dos criminosos mais procurados da cidade.

“Por mais que a gente esteja em um set de filmagem consciente de que o que a gente está fazendo é uma ficção - você tem um microfone no seu peito, uma câmera na sua cara -, o coração não tem um disjuntor que você liga e desliga dando esse discernimento”, diz Leone em entrevista ao Estadão.

Das cenas de violências ao uso explícito de substâncias, a produção humaniza o protagonista, mas não tenta amenizar a situação em que ele vive. Por conta disso, o intérprete de Dom precisou achar maneiras de “reduzir ao máximo os danos que vêm do processo e da energia desse personagem”.

“Na primeira temporada, eu mergulhei muito de cabeça e logo em seguida a gente teve a pandemia, então foi assim: eu comecei a fazer terapia [nesse período] e foi um processo muito bonito de autoconhecimento e de me entender dentro desse processo de Dom e desse personagem”, conta o ator.

Leone diz que tem noção de que é “impossível chegar do set e não reverberar o que aconteceu”, mas que busca fazer coisas que o distraiam, como escutar um bom disco ou assistir a algum esporte que goste.

“Estou entendendo cada vez mais a importância de fazer um esforço mesmo para tentar desconectar e me reconectar com a minha vida, porque é um buraco muito fundo que a gente entra ali”, pontua.

A temática de Dom ainda tem um agravante: a produção é baseada no livro de mesmo nome de Tony Bellotto (que também é guitarrista da banda Titãs), que foi livremente inspiradp na história real de Pedro Machado Lomba, criminoso que ganhou o apelido que dá nome às obras.

Gabriel Leone retorna ao papel de Pedro Dom na segunda temporada de 'Dom', no Prime Video. Foto: Suzanna Tierie/Divulgação/Prime Video

Luiz Victor Dantas, pai do jovem, há anos abordava o cineasta Breno Silveira para que a história fosse contada nas telas. A ideia foi aprovada pelo Prime Video, que investiu para que a série fosse a primeira produção 100% brasileira da Amazon.

Silveira morreu em 2022 em decorrência de um infarto fulminante, mas dirigiu toda a primeira temporada e parte da segunda. A terceira, já confirmada pela plataforma de streaming, teve as gravações concluídas na última terça-feira, 14, conforme revela Gabriel Leone ao Estadão.

Por outro lado, a série não agradou a todos. Em 2021, Nídia Sarmento, mãe de Pedro, afirmou que a história contada pelo pai do garoto havia sido muito distorcida e, com isso, abriu um processo contra a produção - à reportagem, a assessoria do Prime Video disse que não comentaria o caso.

Pai e filho

Por influência disso ou não, na trama, o pai do jovem ganha muito destaque e é tão protagonista quanto Pedro Dom. Victor Dantas é um homem duro, que faz parte do serviço de inteligência policial e luta para tirar o filho das drogas e da criminalidade.

Na segunda temporada, a série continua com a estratégia de contar a história com duas linhas do tempo, com Victor jovem no período da ditadura militar e já mais velho, vendo o filho se envolver com tudo aquilo que ele próprio vai contra.

Os atores Flávio Tolezani e Filipe Bragança, que vivem o personagem adulto e jovem, respectivamente, contam que reassistiram à primeira temporada e aprimoraram o trabalho em conjunto para que as características do personagem fossem comuns entre os dois.

Filipe Bragança e Flávio Tolezani vivem o mesmo personagem em épocas diferentes na série 'Dom'. Foto: Divulgação/Prime Video

Nesse sentido, a relação entre pai e filho é uma das dinâmicas mais fortes da série. Nesta temporada, segundo Tolezani, Victor percebe que é cada vez mais “incapaz” de impedir que Pedro continue no caminho que está.

“As coisas vão ficando mais intensas e isso faz com que ele tenha menos alcance. Cada vez, o Pedro tem mais autonomia e está se distanciando. Então, as atitudes dele, às vezes desmedidas, já reverberam nele como ‘estou incapaz’”, diz.

Gabriel Leone pontua que, na segunda temporada, pai e filho têm uma quantidade de cenas juntos bem menor do que na primeira, mas isso não diminui a qualidade da produção. “Os poucos encontros que têm entre os dois são de uma potência absurda, porque têm esse caráter de reencontro”, explica.

Flávio Tolezani e Gabriel Leone como Victor e Pedro em cena da segunda temporada de 'Dom'. Foto: Suzanna Tierie/Divulgação/Prime Video

Críticas sociais

“Sempre foi uma intenção do Breno [Silveira] de que a gente estivesse contando essa história, a questão familiar do Pedro com o pai, mas que a gente tivesse como pano de fundo questões sociais muito importantes que são pontuadas ao longo da série”, conta Leone.

Por conta disso, a produção assume esse papel e leva o telespectador a refletir sobre problemas da sociedade. O mais marcante deles talvez seja o racismo estrutural, uma vez que o protagonista “escapa” dos crimes por ser um homem branco.

Nos anos 2000, o Pedro Dom da vida real ficou conhecido no Rio de Janeiro como “bandido gato”. Conscientemente, a produção escolheu abordar isso na trama e mostrar como o tratamento do jovem entre a população, a polícia e a mídia era diferente.

“Ele tem todos esses privilégios”, diz a atriz Raquel Villar, que interpreta Jasmin, personagem que, na primeira temporada, vive um romance perigoso com o protagonista. “Quem é bandido gato hoje em dia? Só você sendo branco de olho azul. Você tem toda uma sociedade que fala quem é bandido e quem vira usuário”.

Isabella Santoni e Raquel Villar vivem Viviane e Jasmin em 'Dom'. Foto: Divulgação / Prime Video

A artista também aponta que a série mostra como a questão do vício é “muito mais complexa de se lidar”. “Ele tinha toda uma estrutura familiar e financeira para tentar resolver [isso] de alguma forma e não conseguiu”, reflete. “Você percebe o quão difícil isso é, e mais ainda se você não tem essa estrutura”.

Para Malu Miranda, diretora de originais da Amazon no Brasil, a trama mostra como pessoas que sofrem com a dependência química são estigmatizadas e, em muitos casos, apagadas.

“Realmente, a série expõe muitas camadas da sociedade que são terríveis e que a gente está muito longe de resolver. É uma série de época, mas a gente consegue ver quão relevantes e urgentes são esses temas ainda hoje”, diz.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Dar vida e tornar real algo que existe na ficção é o principal trabalho do ator, mas isso nem sempre é fácil, como atesta Gabriel Leone. Ele vive o protagonista de Dom, série nacional que retorna para sua segunda temporada nesta sexta-feira, 17, com sete episódios lançados semanalmente no Amazon Prime Video.

Na trama, ele interpreta Pedro Dom, um jovem morador do Rio de Janeiro que nasceu com boas condições, mas, movido pelo vício em drogas adquirido ainda criança, se torna um dos criminosos mais procurados da cidade.

“Por mais que a gente esteja em um set de filmagem consciente de que o que a gente está fazendo é uma ficção - você tem um microfone no seu peito, uma câmera na sua cara -, o coração não tem um disjuntor que você liga e desliga dando esse discernimento”, diz Leone em entrevista ao Estadão.

Das cenas de violências ao uso explícito de substâncias, a produção humaniza o protagonista, mas não tenta amenizar a situação em que ele vive. Por conta disso, o intérprete de Dom precisou achar maneiras de “reduzir ao máximo os danos que vêm do processo e da energia desse personagem”.

“Na primeira temporada, eu mergulhei muito de cabeça e logo em seguida a gente teve a pandemia, então foi assim: eu comecei a fazer terapia [nesse período] e foi um processo muito bonito de autoconhecimento e de me entender dentro desse processo de Dom e desse personagem”, conta o ator.

Leone diz que tem noção de que é “impossível chegar do set e não reverberar o que aconteceu”, mas que busca fazer coisas que o distraiam, como escutar um bom disco ou assistir a algum esporte que goste.

“Estou entendendo cada vez mais a importância de fazer um esforço mesmo para tentar desconectar e me reconectar com a minha vida, porque é um buraco muito fundo que a gente entra ali”, pontua.

A temática de Dom ainda tem um agravante: a produção é baseada no livro de mesmo nome de Tony Bellotto (que também é guitarrista da banda Titãs), que foi livremente inspiradp na história real de Pedro Machado Lomba, criminoso que ganhou o apelido que dá nome às obras.

Gabriel Leone retorna ao papel de Pedro Dom na segunda temporada de 'Dom', no Prime Video. Foto: Suzanna Tierie/Divulgação/Prime Video

Luiz Victor Dantas, pai do jovem, há anos abordava o cineasta Breno Silveira para que a história fosse contada nas telas. A ideia foi aprovada pelo Prime Video, que investiu para que a série fosse a primeira produção 100% brasileira da Amazon.

Silveira morreu em 2022 em decorrência de um infarto fulminante, mas dirigiu toda a primeira temporada e parte da segunda. A terceira, já confirmada pela plataforma de streaming, teve as gravações concluídas na última terça-feira, 14, conforme revela Gabriel Leone ao Estadão.

Por outro lado, a série não agradou a todos. Em 2021, Nídia Sarmento, mãe de Pedro, afirmou que a história contada pelo pai do garoto havia sido muito distorcida e, com isso, abriu um processo contra a produção - à reportagem, a assessoria do Prime Video disse que não comentaria o caso.

Pai e filho

Por influência disso ou não, na trama, o pai do jovem ganha muito destaque e é tão protagonista quanto Pedro Dom. Victor Dantas é um homem duro, que faz parte do serviço de inteligência policial e luta para tirar o filho das drogas e da criminalidade.

Na segunda temporada, a série continua com a estratégia de contar a história com duas linhas do tempo, com Victor jovem no período da ditadura militar e já mais velho, vendo o filho se envolver com tudo aquilo que ele próprio vai contra.

Os atores Flávio Tolezani e Filipe Bragança, que vivem o personagem adulto e jovem, respectivamente, contam que reassistiram à primeira temporada e aprimoraram o trabalho em conjunto para que as características do personagem fossem comuns entre os dois.

Filipe Bragança e Flávio Tolezani vivem o mesmo personagem em épocas diferentes na série 'Dom'. Foto: Divulgação/Prime Video

Nesse sentido, a relação entre pai e filho é uma das dinâmicas mais fortes da série. Nesta temporada, segundo Tolezani, Victor percebe que é cada vez mais “incapaz” de impedir que Pedro continue no caminho que está.

“As coisas vão ficando mais intensas e isso faz com que ele tenha menos alcance. Cada vez, o Pedro tem mais autonomia e está se distanciando. Então, as atitudes dele, às vezes desmedidas, já reverberam nele como ‘estou incapaz’”, diz.

Gabriel Leone pontua que, na segunda temporada, pai e filho têm uma quantidade de cenas juntos bem menor do que na primeira, mas isso não diminui a qualidade da produção. “Os poucos encontros que têm entre os dois são de uma potência absurda, porque têm esse caráter de reencontro”, explica.

Flávio Tolezani e Gabriel Leone como Victor e Pedro em cena da segunda temporada de 'Dom'. Foto: Suzanna Tierie/Divulgação/Prime Video

Críticas sociais

“Sempre foi uma intenção do Breno [Silveira] de que a gente estivesse contando essa história, a questão familiar do Pedro com o pai, mas que a gente tivesse como pano de fundo questões sociais muito importantes que são pontuadas ao longo da série”, conta Leone.

Por conta disso, a produção assume esse papel e leva o telespectador a refletir sobre problemas da sociedade. O mais marcante deles talvez seja o racismo estrutural, uma vez que o protagonista “escapa” dos crimes por ser um homem branco.

Nos anos 2000, o Pedro Dom da vida real ficou conhecido no Rio de Janeiro como “bandido gato”. Conscientemente, a produção escolheu abordar isso na trama e mostrar como o tratamento do jovem entre a população, a polícia e a mídia era diferente.

“Ele tem todos esses privilégios”, diz a atriz Raquel Villar, que interpreta Jasmin, personagem que, na primeira temporada, vive um romance perigoso com o protagonista. “Quem é bandido gato hoje em dia? Só você sendo branco de olho azul. Você tem toda uma sociedade que fala quem é bandido e quem vira usuário”.

Isabella Santoni e Raquel Villar vivem Viviane e Jasmin em 'Dom'. Foto: Divulgação / Prime Video

A artista também aponta que a série mostra como a questão do vício é “muito mais complexa de se lidar”. “Ele tinha toda uma estrutura familiar e financeira para tentar resolver [isso] de alguma forma e não conseguiu”, reflete. “Você percebe o quão difícil isso é, e mais ainda se você não tem essa estrutura”.

Para Malu Miranda, diretora de originais da Amazon no Brasil, a trama mostra como pessoas que sofrem com a dependência química são estigmatizadas e, em muitos casos, apagadas.

“Realmente, a série expõe muitas camadas da sociedade que são terríveis e que a gente está muito longe de resolver. É uma série de época, mas a gente consegue ver quão relevantes e urgentes são esses temas ainda hoje”, diz.

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Dar vida e tornar real algo que existe na ficção é o principal trabalho do ator, mas isso nem sempre é fácil, como atesta Gabriel Leone. Ele vive o protagonista de Dom, série nacional que retorna para sua segunda temporada nesta sexta-feira, 17, com sete episódios lançados semanalmente no Amazon Prime Video.

Na trama, ele interpreta Pedro Dom, um jovem morador do Rio de Janeiro que nasceu com boas condições, mas, movido pelo vício em drogas adquirido ainda criança, se torna um dos criminosos mais procurados da cidade.

“Por mais que a gente esteja em um set de filmagem consciente de que o que a gente está fazendo é uma ficção - você tem um microfone no seu peito, uma câmera na sua cara -, o coração não tem um disjuntor que você liga e desliga dando esse discernimento”, diz Leone em entrevista ao Estadão.

Das cenas de violências ao uso explícito de substâncias, a produção humaniza o protagonista, mas não tenta amenizar a situação em que ele vive. Por conta disso, o intérprete de Dom precisou achar maneiras de “reduzir ao máximo os danos que vêm do processo e da energia desse personagem”.

“Na primeira temporada, eu mergulhei muito de cabeça e logo em seguida a gente teve a pandemia, então foi assim: eu comecei a fazer terapia [nesse período] e foi um processo muito bonito de autoconhecimento e de me entender dentro desse processo de Dom e desse personagem”, conta o ator.

Leone diz que tem noção de que é “impossível chegar do set e não reverberar o que aconteceu”, mas que busca fazer coisas que o distraiam, como escutar um bom disco ou assistir a algum esporte que goste.

“Estou entendendo cada vez mais a importância de fazer um esforço mesmo para tentar desconectar e me reconectar com a minha vida, porque é um buraco muito fundo que a gente entra ali”, pontua.

A temática de Dom ainda tem um agravante: a produção é baseada no livro de mesmo nome de Tony Bellotto (que também é guitarrista da banda Titãs), que foi livremente inspiradp na história real de Pedro Machado Lomba, criminoso que ganhou o apelido que dá nome às obras.

Gabriel Leone retorna ao papel de Pedro Dom na segunda temporada de 'Dom', no Prime Video. Foto: Suzanna Tierie/Divulgação/Prime Video

Luiz Victor Dantas, pai do jovem, há anos abordava o cineasta Breno Silveira para que a história fosse contada nas telas. A ideia foi aprovada pelo Prime Video, que investiu para que a série fosse a primeira produção 100% brasileira da Amazon.

Silveira morreu em 2022 em decorrência de um infarto fulminante, mas dirigiu toda a primeira temporada e parte da segunda. A terceira, já confirmada pela plataforma de streaming, teve as gravações concluídas na última terça-feira, 14, conforme revela Gabriel Leone ao Estadão.

Por outro lado, a série não agradou a todos. Em 2021, Nídia Sarmento, mãe de Pedro, afirmou que a história contada pelo pai do garoto havia sido muito distorcida e, com isso, abriu um processo contra a produção - à reportagem, a assessoria do Prime Video disse que não comentaria o caso.

Pai e filho

Por influência disso ou não, na trama, o pai do jovem ganha muito destaque e é tão protagonista quanto Pedro Dom. Victor Dantas é um homem duro, que faz parte do serviço de inteligência policial e luta para tirar o filho das drogas e da criminalidade.

Na segunda temporada, a série continua com a estratégia de contar a história com duas linhas do tempo, com Victor jovem no período da ditadura militar e já mais velho, vendo o filho se envolver com tudo aquilo que ele próprio vai contra.

Os atores Flávio Tolezani e Filipe Bragança, que vivem o personagem adulto e jovem, respectivamente, contam que reassistiram à primeira temporada e aprimoraram o trabalho em conjunto para que as características do personagem fossem comuns entre os dois.

Filipe Bragança e Flávio Tolezani vivem o mesmo personagem em épocas diferentes na série 'Dom'. Foto: Divulgação/Prime Video

Nesse sentido, a relação entre pai e filho é uma das dinâmicas mais fortes da série. Nesta temporada, segundo Tolezani, Victor percebe que é cada vez mais “incapaz” de impedir que Pedro continue no caminho que está.

“As coisas vão ficando mais intensas e isso faz com que ele tenha menos alcance. Cada vez, o Pedro tem mais autonomia e está se distanciando. Então, as atitudes dele, às vezes desmedidas, já reverberam nele como ‘estou incapaz’”, diz.

Gabriel Leone pontua que, na segunda temporada, pai e filho têm uma quantidade de cenas juntos bem menor do que na primeira, mas isso não diminui a qualidade da produção. “Os poucos encontros que têm entre os dois são de uma potência absurda, porque têm esse caráter de reencontro”, explica.

Flávio Tolezani e Gabriel Leone como Victor e Pedro em cena da segunda temporada de 'Dom'. Foto: Suzanna Tierie/Divulgação/Prime Video

Críticas sociais

“Sempre foi uma intenção do Breno [Silveira] de que a gente estivesse contando essa história, a questão familiar do Pedro com o pai, mas que a gente tivesse como pano de fundo questões sociais muito importantes que são pontuadas ao longo da série”, conta Leone.

Por conta disso, a produção assume esse papel e leva o telespectador a refletir sobre problemas da sociedade. O mais marcante deles talvez seja o racismo estrutural, uma vez que o protagonista “escapa” dos crimes por ser um homem branco.

Nos anos 2000, o Pedro Dom da vida real ficou conhecido no Rio de Janeiro como “bandido gato”. Conscientemente, a produção escolheu abordar isso na trama e mostrar como o tratamento do jovem entre a população, a polícia e a mídia era diferente.

“Ele tem todos esses privilégios”, diz a atriz Raquel Villar, que interpreta Jasmin, personagem que, na primeira temporada, vive um romance perigoso com o protagonista. “Quem é bandido gato hoje em dia? Só você sendo branco de olho azul. Você tem toda uma sociedade que fala quem é bandido e quem vira usuário”.

Isabella Santoni e Raquel Villar vivem Viviane e Jasmin em 'Dom'. Foto: Divulgação / Prime Video

A artista também aponta que a série mostra como a questão do vício é “muito mais complexa de se lidar”. “Ele tinha toda uma estrutura familiar e financeira para tentar resolver [isso] de alguma forma e não conseguiu”, reflete. “Você percebe o quão difícil isso é, e mais ainda se você não tem essa estrutura”.

Para Malu Miranda, diretora de originais da Amazon no Brasil, a trama mostra como pessoas que sofrem com a dependência química são estigmatizadas e, em muitos casos, apagadas.

“Realmente, a série expõe muitas camadas da sociedade que são terríveis e que a gente está muito longe de resolver. É uma série de época, mas a gente consegue ver quão relevantes e urgentes são esses temas ainda hoje”, diz.

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